ARTIGOS
Telespectador atual ou espectador
virtual
(sobre a campanha publicitária do Pan-Americano)
por Raphael Mesquita (31/07/2006)
A
lição de J.D.
(Elogio de Scrubs)
por Leonardo Levis (31/07/2006)
Atirem
no Pianista, de François Truffaut
(Telecine Cult, dia 30, às 22:00)
por Raphael Mesquita (24/07/2006)
O
cineasta da superação
(Elogio de Luís Felipe Scolari, o Felipão)
por Bolívar Torres
(24/07/2006)
Fim
e balanço de That 70s Show
por Bolívar Torres
(17/07/2006)
Klinsmann,
entre a frustração e o heroísmo
(sobre o técnico da seleção alemã
na Copa 2006)
por Sérgio Alpendre
(17/07/2006)
FILMES DA SEMANA
(17 DE JULHO A 10 DE SETEMBRO DE 2006)
Dia 17/7
Depois de um bom tempo amargando uma programação
com estréias pouco relevantes em sua programação,
finalmente o Eurochannel exibe um filme que o cinéfilo
mais exigente gostaria de ver. E de um cineasta que,
curiosamente, é pouco exibido no Brasil, e nada
exibido em canais a cabo. Trata-se de Raymond Depardon,
documentarista francês de longa carreira, autor
dos elogiadíssimos dois volumes de Profils:
Paysans, 1974: une partie de campagne (sobre
a campanha presidencial de Giscard) e do belíssimo
Dez Minutos de Silêncio para John Lennon.
Às 22:00, o canal exibe Delitos em Flagrante
(Délits Flagrants, 1994), filme que registra
conversas de promotores e defensores públicos
com 14 pessoas detidas em flagrante. Se 1974 aproxima-se
do recente Entreatos de João Moreira Salles,
Delitos em Flagrante suscita comparações
com Justiça, de Maria Augusta Ramos, na
temática e um pouco no processo de filmagem.
Curioso que um cineasta tão referenciado por
alguns de nossos documentários recentes seja
tão pouco conhecido do público geral.
Não deixa de ser curioso que o documentário
hoje viva uma coqueluche de exposição
midiática, exibição em salas de
cinema, pesquisa acadêmica e lançamentos
editoriais, e grande parte dos documentaristas mais
importantes dos últimos 50 anos, como Jean Rouch,
Frederick Wiseman, Johan van der Keuken e o próprio
Depardon, sejam radicalmente desconhecidos e invisíveis
no país. No mesmo horário, o Telecine
Cult exibe um filme de John Farrow com John Wayne, Caminhos
Ásperos (Hondo, 1953), que teve dois
planos filmados por John Ford. Segundo Tag Gallagher,
biógrafo de Ford e um dos maiores críticos
vivos, esses planos parecem duas telas de Delacroix
isoladas numa galeria de fotos de guia de tv. Já
os historiadores e críticos Jean Tulard e Jean-Pierre
Coursodon, autores de obras de referência, são
muito mais generosos com o filme (Tulard chega a chamar
Caminhos Ásperos de obra-prima). Mas talvez
John Farrow seja mais famoso hoje como o pai de Mia
Farrow...
Dia 18
Gostinho de comida requentada na sessão É
Tudo Verdade desta terça-feira. Não de
todo, é certo, mas 25% não faz nem um
mês que foi exibido na mesma sessão. Trata-se
de Brasil Verdade (1968), filme que compila quatro
documentários de média-metragem, e que
inaugura o ambicioso projeto da Caravana Farkas mencionado
nesta mesma coluna semanas atrás. Viramundo,
de Geraldo Sarno; Subterrâneos do Futebol,
dirigido por Maurice Capovilla; Nossa Escola de Samba,
de Manuel Horácio Gimenez; e Memória
do Cangaço, de Paulo Gil Soares, passam às
22:35, acrescidos de uma entrevista com o homem que
concebeu o projeto, Thomaz Farkas. Mais raros, no entanto,
são dois curtas-metragens também documentais
de Luiz Carlos Lacerda que passa à tarde no mesmo
Canal Brasil, Conversa de Botequim (1972) e Dor
Secreta (1980). Ainda que Lacerda não seja
exatamente um cineasta cuja carreira merece ser acompanhada
atentamente, os filmes tratam de duas figuras extremamente
importantes e pouco lembradas da música brasileirao,
respectivamente João da Baiana (que aqui aparece
naquilo que se acredita ser seu único registro
em filme) e Ernesto Nazareth. Os dois passam a partir
das 14:30.
Dia 19
Mais uma quarta-feira deserta de atrações
mais significativas. Entre as ofertas mais regulares
na programação, no entanto, podemos tecer
uma ligeira reflexão acerca de uma forma viciada
de considerar a relevância de certos filmes e
gêneros. O documentário, por exemplo, qualquer
documentário (desde que ostente em cada plano
a aparência de seriedade e investigação)
já ganha uma aura de importância mesmo
que a proposta ou o processo sejam nitidamente vagabundos,
exploratórios ou claramente mal-elaborados (podemos
observar isso tanto em Michael Moore, em Evaldo Mocarzel
ou em filmes como Justiça e A Pessoa
É para o Que Nasce). Em compensação,
uma comédia que não ostente claramente
que é sofisticada (mesmo que precise colocar
livros de Dostoiévski na mão de seu protagonista,
como o recente Match Point), vai passar pela
maioria das "pessoas sérias" como algo
indigno de nota. Pois bem: no começo de noite
passam dois filmes bastante defendidos pela equipe de
Contracampo, duas comédias nada chiques e elegantes,
nada feita segundo os gostos de degustadores de madeleines,
e ainda assim espertos, inteligentes, ácidos
e dignos de nota no panorama do cinema recente. Primeiro
temos As Patricinhas de Beverly Hills (Clueless,
1995), transposição do universo de Jane
Austen para a juventude americana contemporânea.
Amy Heckerling, autora do deslumbrante Picardias
Estudantis, revela uma disposição
muito apropriada para se aproximar do universo de valores
de suas personagens e criar um rico imaginário
de anseios e comportamentos sem criar os juízos
de valor que estamos acostumados a ver nos filmes que
trabalham nessa seara. O filme passa no Telecine Emotion
às 20:10. Já Com a Bola Toda (Dodgeball:
A True Underdog Story) é possivelmente o
filme mais celebrado da frat pack turma
de comediantes da qual fazem parte Ben Stiller, Vice
Vaughn e Will Ferrel, entre outros. Passa quase no mesmo
horário, às 20:20, no Telecine Premium.
E vamos acabar de uma vez por todas com o preconceito
contra o riso.
Dia 20
Amantes de uma Noite (L'Affaire d'une nuit,
1960) é o filme de Henri Verneuil que a TV5 passa
essa semana, quinta-feira às 20:25. Mas o destaque
do dia vai mesmo para o Telecine Cult, que exibe em
seqüência dois filmes românticos de
dois importantes cineastas americanos que são
geralmente mais identificados com a comédia.
O primeiro, que passa às 19:55, é Tarde
Demais para Esquecer (An Affair to Remember,
1957), antepenúltimo filme de Leo McCarey, estrelado
por Cary Grant e Deborah Kerr, e o segundo, às
22:00, é Bonequinha de Luxo (Breakfast
at Tiffanny's, 1960), de Blake Edwards, com Audrey
Hepburn em sua terceira semana seguida no canal. Ainda
que sejam dois filmes bem batidos e fáceis de
se encontrar em DVD ou mesmo reprisados na tv a cabo,
é sempre uma agradável surpresa quando
podemos ter filmes dessa estatura diante de nós.
Dia 21
Entre as estréias da rede Globosat dessa sexta-feira,
temos um filme pouco visto e muito criticado de Elia
Kazan, O Último Magnata (The Last Tycoon,
1976), adaptação do livro de F. Scott
Fitzgerald que o Telecine Cult passa às 19:45,
mas o destaque vai mesmo para Falando de Sexo
(Speaking of Sex, 2001), último filme
de John McNaughton a ser produzido para as salas de
cinema. É uma pena, pois McNaughton tem uma sensibilidade
distintiva em meio ao panorama de cineastas metidos
a autores e realizadores genéricos do cinema
comercial americano. Falando de Sexo tem um notável
descompromisso com o bom tom, e isso acaba se revelando
decisivo em sua problematização dos papéis
sexuais e das políticas do desejo na sociedade
americana. Guerra dos sexos resolvida entre a alcova
e os escritórios de advocacia, o filme tem uma
pegada de screwball ácida que faz lembrar
alguns belos momentos do cinema de Howard Hawks. Exatamente
por esse coquetel de descompromisso e acidez, Falando
de Sexo teve uma carreira comercial tão difícil,
nem chegando, segundo os dados do IMDb, ser lançado
nos EUA, nem cinema, nem em DVD. O filme passa às
22:00 no Telecine Emotion.
Dia 22
O terror banal de Vozes do Além (no Telecine
Premium) ou a insuportável Sandra Bullock em
Miss Simpatia 2 Armada e Perigosa (na
HBO)? Com um pouquinho de bom senso, a única
saída é esperar a meia-noite e assistir
à estréia de Sorte Cega (Przypadek,
1981-7), filme pouquíssimo conhecido de Krzysztof
Kieslowski. Com um pendor pronunciadamente político,
o filme foi proibido por seis anos pelo governo polonês,
e só passou no Festival de Cannes de 1987. Curioso
como Kieslowski, tornado superstar depois de se mudar
da Polônia para a França, tem todo um lado
da carreira ainda obscuro para um público mais
amplo. Pois, ainda que filmes como A Cicatriz e projetos
como o Decálogo tenham sido exibidos, toda a
sua vasta produção em curta-metragem,
assim como alguns longas decisivos (e muito melhores
do que sua obra francesa) ainda permanecem totalmente
invisíveis, como é o caso do excelente
Amador. Tomara que Sorte Cega abra o caminho
para vários outros.
Dia 23
Então, apesar de todas as aventuras e desventuras
amorosas, Antoine Doinel se casa com Christine Darbon.
Domicílio Conjugal (Domicile conjugal,
1970) narra essa fase da vida do personagem de Truffaut
interpretado por Jean-Pierre Léaud, em que o
agora jovem adulto Doinel está longe de sentir-se
como um bem instalado pai de família: "Antoine
Doinel, ainda ligado à juventude, não
pode ser integrado a uma sociedade normal. Adulto, ele
se tornou um personagem impossível", diria
Truffaut. O produto dessa impossibilidade pode ser visto
às 22:00 no Telecine Cult. Mais cedo no mesmo
canal, às 13:50, passa Golpe Baixo (The
Longest Yard, 1974), filme de Robert Aldrich premiado
com o Globo de Ouro de melhor musical ou comédia.
O filme ganhou um remake dirigido no ano passado por
Peter Segal e estrelado por Adam Sandler (com um papel
especial dado a Burt Reynolds, protagnosta do original
de Aldrich). Muito curioso como Robert Aldrich, que
fazia vibrar até parte da crítica mais
conformada até o começo da década
de 60, saiu do radar da maioria da crítica em
geral, talvez exatamente porque os filmes dos seus quinze
últimos anos de carreira não fossem exatamente
de bom tom para os admiradores do cinema sério,
culto. E já que essa coluna está encontrando
várias recorrências temáticas, por
que não fechar ligando Truffaut a Aldrich? Quando
crítico, François Truffaut declarou que
1955, mesmo antes de terminar, já era o ano de
Robert Aldrich. Não era para menos: nesse ano,
estreavam Vera Cruz, O Último Bravo,
A Grande Chantagem e, principalmente, A Morte
num Beijo. E eis como tudo se comunica!
Dia 24
Tem filme raro passando no Canal Brasil. É O
Pão Que o Diabo Amassou (1957), dirigido
por Maria Basaglia, roteirista, assistente de direção
e realizadora do cinema italiano que, com seu marido
Marcelo Albani, teve uma passagem rápida pelo
Brasil e dirigiu dois filmes (o outro é Macumba
na Alta, de 1958), que rapidamente foram destinados
ao status do anonimato. Aproveitando que os anos 50
vêm recebendo uma nova visão por parte
de pesquisadores como Arthur Autran e nosso contracampista
Luiz Alberto Rocha Melo, que tal tentar descobrir mais
um longa-metragem deste período que é
tão mal-conhecido e geralmente "explicado"
através do rótulo de "independentes"?
O filme passa às 22:35. Antes disso, aproveitando
que Miami Vice será uma das apostas do
verão hollywoodiano, a HBO exibe O Informante
(The Insider, 1999), de Michael Mann. Filme elegante
e muito bem trabalhado visualmente como sempre
em Mann , O Informante acabou dando o tom
para uma série de thrillers políticos
de conspirações transnacionais, como Traffic
e Syriana (e pode-se dizer que também
é o mais bem-realizado entre eles), mas, como
eles, não parece tão bem preparado estética
e politicamente para vôos mais densos. A conferir
às 21:00
Dia 25
Lado Selvagem (Wild Side, 2004), de Sébastien
Lifshitz, entrou em cartaz ano passado em São
Paulo e no Rio de Janeiro só passou na UFF e
no CCBB, em pleno carnaval, numa mostrinha de inéditos
no Rio. Repercussão ligeiramente positiva
apesar de ter tido crítica negativa aqui na revista
, o filme vem respaldado pela colaboração
no roteiro de Stéphane Bouquet, um dos críticos
mais importantes dos anos 90 dos Cahiers du Cinéma,
e pela ponta que faz o cantor Antony, que se apresenta
logo no início do filme. O filme estréia
na programação do Telecine Cult às
22:00. Já na habitual seção É
Tudo Verdade, no Canal Brasil, teremos mais filmes da
Caravana Farkas, tida como o primeiro momento em que
o documentário descobriu o Brasil (claro, a esse
tipo de preocupação totalizante poderemos
sempre perguntar "que Brasil?"). Dessa vez,
Amir Labaki terá o realizador Sérgio Muniz
como convidado, e passarão os filmes Casa
de Farinha (dir. Geraldo Sarno, 1972), O Rastejador
(dir. Muniz, 72), Erva Bruxa (Paulo Gil Soares,
72), Jaramataia (idem, 72) e Padre Cícero
(Sarno, 72). Apesar de uma arrogância sociológico-desbravadora
um tanto incômoda, a sessão tem filmes
interessantes e raros, e é um destaque forte
da programação.
Dia 26
Nova quarta-feira sem maiores destaques ou estréias,
em que podemos recorrer a um filme que a Eurochannel
passa já há mais de um ano, La più
bella serata della mia vita (1973), de Ettore Scola
(às 19:45), ou a mais um dos diretores que são
expectativa para o verção hollywoodiano.
Dessa vez é Manoj Night Shyamalan, que em breve
lança Lady in the Water, e que na HBO
Plus aparece com seu filme anterior, A Vila (The
Village, 2004), às 00:25 de quarta para quinta.
Informes das cabines de imprensa nos EUA indicam que
o filme agradará em cheio àqueles que
apostam em MNS como grande artista, mas que tanto a
mídia quanto o público ficarão
inteiramente decepcionados. Confiando no talento de
Shyamalan, esperamos que seu filme consiga números
de público que lhe permitam continuar filmando
regularmente. Pois A Vila é desde já
um dos mais belos filmes americanos da década.
Dia 27
Mais uma vez a inflação de destaques desvia
da quarta para cair inteira na quinta-feira. Comecemos
pela mais humilde, O Dia em Que o Brasil Esteve Aqui
(2006), documentário de Caíto Ortiz e
João Dornelas sobre o imperialismo mulato que
o Brasil exerceu sobre o Haiti através do jogo
da seleção brasileira de futebol realizado
no país em 2004. O filme teve um rápido
lançamento em circuito comercial ainda esse ano,
e já é catapultado rapidamente para a
tv a cabo, onde fará sem dúvida muito
mais público (também, não é
lá muito difícil bater um público
pagante de 678 espectadores...). Pena, porque o documentário
parece bastante interessante... Já o Telecine
Cult estréia dois filmes meio batidos em sua
programação, mas de interesse garantido.
O primeiro é Chaga de Fogo (Detective
Story, 1951), de William Wyler, com Kirk Douglas
e Eleanor Parker, que passa às 20:05. Em seguida,
continuando o morno ciclo dedicado a Audrey Hepburn,
o canal exibe às 22:00 Quando Paris Alucina
(Paris When It Sizzles, 964), comédia
romântica de Richard Quine com William Holden
e la Hepburn. Quine em seu terreno de predileção,
com duas estrelas incrivelmente cativantes e Paris de
fundo... como não alucinar? Mas a maior atração
do dia é mesmo a dose dupla que o Eurochannel
dedica a filmes de Roberto Rossellini, Europa 51
(idem, 1952) às 22:00 e Francisco, Arauto
de Deus (Francesco, giullare di Dio, 1950).
Naturalmente, são filmes que volta e meia aparecem
na programação do canal, mas com uma diferença
tão grande entre uma exibição e
outra que dá até saudades. Filmes de uma
sensibilidade cativante, relativamente pouco comentadas
dentro da obra de Rossellini eclipsadas pelo
marco que é Roma, Cidade Aberta, ainda
que este nem esteja entre os melhores filmes de RR ,
estes dois momentos expressam um dos patamares mais
altos em que o cinema pode chegar.
Dia 28
Duas apostas. A primeira é musical: passa às
22:00 na HBO Plus a atração Kanye West:
Live from Abbey Road, filme sobre o conceituado
rapper americano (fala-se "caniê") que
sampleou Shirley Bassey e seus "Diamonds"
para fazer um dos melhores hits do ano passado. Nada
em especial justifica cinematograficamente esse programa,
mas West é uma das figuras mais interessantes
surgidas na música pop americana dos últimos
anos, e merece todo o destaque que se puder dar. Na
madrugada, TV5 passa Les Revenants (2004), primeiro
longa-metragem de Robin Campillo, sujeito que é
mais conhecido como montador (todos) e roteirista (Recursos
Humanos, Rumo ao Sul) dos filmes de Laurent
Cantet. O filme circulou pelos festivais internacionais
mas não chegou ao Brasil, e teve uma repercussão
misturada por onde passou. É um filme de zumbis,
porque trata da volta à vida dos mortos, mas
não em chave de terror: eles voltam mas só
querem sua vida de volta. A conferir às 3:10
da madrugada de sexta para sábado.
Dia 29
Atrações no mínimo simpáticas
ocupam o horário nobre da semana, com Sr.
e Sra. Smith (Mr. and Mrs. Smith, 2005),
de Doug Liman, passando no Telecine Premium às
22:00 e A Lenda do Tesouro Perdido (National
Treasure, 2004), de Jon Turtletaub, passa na HBO
às 21:00 para aqueles que entraram na coqueluche
decifratória pós-Código Da Vinci.
Mais interessante, claro, é A Conversação
(The Conversation, 1974), obra intimista realizada
por Francis Ford Coppola entre os dois suntuosos primeiros
chefões. Os três são considerados
momentos ápices não só da carreira
de FFC, mas do cinema dos anos 70 (e, para muitos, do
cinema, ponto final). Muito também se malhou
esses filmes, mais por assumirem o papel que assumiram
do que exatamente por sua estética (não
que ela seja inquestionável). O filme passa às
22:00 e pede visão e revisão, mesmo porque
Francis Ford Coppola é sempre um caso aberto:
diretor problemático, carreira com grandes sucessos
e vultosos fracassos, filmes apaixonantes e filmes medianos,
uma sensibilidade não muito fácil de desencavar
da diversidade temática e estilística
dos filmes. Um caso aberto e estimulante. Mas o verdadeiro
destaque do dia é Carmen (idem, 2005),
filme de Jean-Pierre Limosin (Olhares de Tóquio,
Novo, além de alguns Cinéma
de notre temps, inclusive o de Kiarostami) que o
Cinemax estréia em sua programação
sem fazer qualquer frisson, sem nem colocar como estréia
na programação. Curiosamente, nem no IMDb
o filme consta, mas sua existência e autoria já
está muito bem estabelecida em outros sites e
bancos de dados. Em tempo: não é mais
uma reapropriação do universo de Prosper
Mérimée, a não ser muito de longe...
com um macaco!
Dia 30
Raros são os atores a atingir a estatura que
alcançou Gérard Depardieu. Sim, podemos
falar que de um tempo para cá só as produções
caríssimas e esteticamente nulas são capazes
de tê-lo como ator em seus filmes, que ele passou
uma boa década ou mais só fazendo porcaria,
mas ele ainda é o ator de Pialat, Ferreri, Resnais,
Duras e de bons Blier. O Eurochannel lhe dedica um especial
dirigido por Jean-Claude Guidicelli, que passa às
22:00. Produção de 2000, filmado na época
em que Dépardieu filmava Os Miseráveis
e mais três filmes, Depardieu, vivre aux éclats
promete mais do que um simples documentário sobre
um ator renomado. Tomara. No mesmo horário, o
Telecine Cult continua sua retrospectiva François
Truffaut, mas dessa vez, ao invés de continuar
a pentalogia dedicada a Antoine Doinel, ela resolveu
passar o segundo longa-metragem de Truffaut, o nonchalante
Atirem no Pianista, deliciosa molecagem que, bela notícia,
volta a ganhar texto específico em nossa seção
de televisão, e por isso é destaque absoluto
da semana (ainda que os Rossellinis...). Que venham
outros (textos e filmes)!
Dia 31
Mais um raro filme de Maria Basaglia passa no Canal
Brasil, na verdade o único outro filme realizado
por ela no Brasil, Macumba na Alta (1958), que
também representa o final de sua carreira no
cinema. Passa no Canal Brasil às 22:35, como
na semana anterior. Pouco antes disso, dois belos filmes
passam em diferentes canais do Telecine: no Cult, às
22:00, passa O Rio das Almas Perdidas (River
of no Return, 1954), filme famoso por ser estrelado
por Marilyn Monroe e Robert Mitchum, mas o que brilha
mesmo é a maestria de Oto Preminger em seu primeiro
trabalho compondo para a tela panorâmica do CinemaScope
que lhe ajudaria a melhor organizar sua estética
baseada num certo distanciamento elegante e não-intervencionista
que restitui a ambigüidade moral dos personagens
e das tramas em que eles estão situados; já
no Emotion, passa O Apóstolo (The Apostle,
1997), terceiro longa-metragem do ator e diretor bissexto
Robert Duvall, O Apóstolo pode ser considerado
a primeira ficção propriamente dita de
Duvall, uma vez que seu primeiro filme é um documentário
e o segundo é uma espécie de docudrama.
Um longa em 1975, outro em 1983, e em 1997 surge esse
belíssimo filme de entrega, que se não
é uma obra-prima ao menos chega muito perto,
que é esse O Apóstolo, triunfo
de uma certa opacidade e carisma de personagem,
e um retrato bastante, repetiremos a palavra porque
aqui é também disso que se trata, ambíguo
de uma vida religiosa entre salvação e
comércio que chega a lembrar outra obra-prima
do gênero, Elmer Gantry de Richard Brooks.
Dia 01/8
A sessão É Tudo Verdade do Canal Brasil
deixa a Caravana Farkas pra lá e agora exibe
mais um conjunto de curtas-metragens, dessa vez três
raros filmes de uma série de pelo menos
duas dúzias que David Neves fez em parceria
com Fernando Sabino sobre escritores brasileiros. Filmes
que participam de um primeiro momoento da obra de David
Neves, quase contemporâneos a seus dois primeiros
longas, Memória de Helena e Lúcia
McCartney Garota de Programa. Foram selecionados
Pedro Nava Em Tempo de Nava (1974), Afonso
Arinos de M. F. O Escritor na Vida Pública
(1974) e Rubem Braga O Dia de Braga (1971).
Complementa a sessão um filme feito pelo filho
de Sabino, Bernardo Sabino, que selecionou trechos de
vários filmes caseiros e fez com Encontro
Marcado com Fernando Sabino (2005) um retrato do
escritor em sua intimidade. Muito a ver com a fase posterior
de David Neves, ironicamente. Passa no Canal Brasil
às 22:35, como sempre.
Dia 02
Quarta-feira, dia de Sessão Cineclube no Odeon,
dia de futebol na televisão, para que recomendar
filmes? Não é a opinião desta tribuna,
mas deve ser a opinião das programadoras, uma
vez que parece impossível escolher algum destaque
mais raro ou pelo menos algo que não seja a programação
regular dos canais. Dessa vez, mais uma vez, é
impossível, mas pelo menos o horário nobre
tem bons filmes, mesmo que já mais batidos, a
destacar. Um é Toda Nudez Será Castigada
(1973), um dos melhores momentos da irregular carreira
de cineasta de Arnaldo Jabor (sua de polemista não
é tão irregular, infelizmente), e certamente
sua melhor incursão no universo de Nelson Rodrigues.
O filme passa às 21:00, sempre no Canal Brasil.
Uma hora mais tarde, passa na AXN O Mariachi
(El mariachi, 1992), primeiro longa-metragem
de Robert Rodriguez, que catapultou o cineasta à
fama mais pelo bafafá de ser um filme de orçamento
reduzidíssimo do que propriamente pelo valor
cinematográfico da obra. RR é um caso
para estudo, alternando entre filmes de grande interesse
e filmes de interesse reduzido, brincando com formas
e gêneros considerados menores pela crítica
mais convencional, mas dono de uma personalidade admirável
ao fazer força para manter o perfil de cineasta
do it yourself que lhe rendeu o convencimento de Frank
Miller para fazer Sin City. Há mais do
que mídia na maneira com a qual Robert Rodriguez
faz seus filmes, e só falta um filme que se destaque
mais para começar o estardalhaço. Mesmo
que O Mariachi não seja o filme mais apropriado
para perceber esse talento, é este o filme que
passa às 22:00 no AXN...
Dia 03
Desova de Kieslowski? Mais um filme do controverso cineasta
polonês, dessa vez A Cicatriz (Blizna,
1976), primeiro longa-metragem depois de uma década
inteira devotada ao formato do curta, quase sempre documental.
O filme tem lá seu interesse, mas não
agrada totalmente nem aos fãs da época
polonesa, nem aos devotos dos frufrus da fase francesa.
Sua década de 70 já foi mais interessantes
antes (os curtas) e depois (Amador, que muitos
consideram seu melhor filme) de A Cicatriz. E
quando vão trazer esses filmes para as pessoas
verem? Em todo caso, o filme estréia na programação
do Telecine Cult às 22:00 e em seguida passa
Lição de Cinema Kieslowski
(1994), que o canal diz ser um documentário sobre
a trilogia das cores da bandeira francesa.
Dia 04
OK, a quarta-feira é o dia sem maiores destaques,
a quinta é um dia que sempre surpreende trazendo
por vezes mais de uma estréia importante na programação,
e a sexta-feira é o dia híbrido, podendo
nos dar tanta alegria quanto tristeza. Dessa vez, quatro
filmes interessantes, ainda que nenhum deles possa ser
alçado á categoria de imperdível
que deriva da equação entre disponibilidade,
acessibilida de e excelência da obra. Pânico
2 (Scream 2, 1997) de Wes Craven é o filme menos
interessante da série, mas ainda assim bastante
interessante, e estréia na programação
do Telecine Action às 22:00. Já no Telecine
Cult, no mesmo horário, passa o admirável
Alcatraz Fuga Impossível (Escape
from Alcatraz, 1979), antepenúltimo filme
de Don Siegel, certamente o mais interessante do lote,
mas também disponível em dvd em qualquer
locadora ou baratinho em lojas de conveniência.
Como apostas, aparecem dois filmes sobre os quais se
pode esperar coisas interessantes. um é High
School Musical (idem, 2006), filme feito para a
Disney Channel e dirigido por Kenny Ortega, realizador
com carreira toda montada em séries de televisão.
O filme alcançou um boca-a-boca grande, e podemos
conferir se ele vale a aposta às 20:00. Já
o FX, canal masculino da Fox que se queria como grande
inaugurador de um novo filão na segmentação
dos canais a cabo e falhou em sua proposta, exibe A
Lenda de Gingko (Danjeogbiyeonsu, 2000),
raro caso de filme coreano de gênero (ou seja,
não entrando na seara do cult em que estão
Park Chan-Wook e Kim Ki-Duk)
a ser exibido na televisão brasileira. É
que as programadoras ainda não descobriram a
comédia romântica coreana, que é
capaz de criar um culto e tanto... O filme é
o primeiro do diretor Park Je-Hyeon, que depois fez
mais dois filmes, nenhum de maior repercussão
entre os cinéfilos...
Dia 05
Muita gente, como o titular dessa coluna, não
suportou nem o trailer de Em Busca da Terra do Nunca
(Finding Neverland, 2004), filme de Marc Forster
sobre a vida do criador de Peter Pan que parece seboso
e metido a cinema de bom gosto o suficiente e
o boca-a-boca entre amigos corajosos confirmou a impressão
inicial , mas quem perdeu no cinema poderá
ter a chance de perder de novo, porque é a estréia
da HBO às 21:00. Já a rede Telecine estréia
no canal Cult o soporífero Pão e Rosas
(Bread and Roses, 2000), filme de Ken Loach que,
como sempre, se nutre de boas intenções
no retrato de exploração e reivindicações
de faxineiras latinas nos EUA, mas se perde numa narrativa
que abusa da chantagem emocional e do esquematismo dos
valores e da moral. Já o Premium exibe Cão
de Briga (Danny the Dog, 2005), incursão
do cinema francês na ação americana
por intermédio de Luc Besson, produtor, e Louis
Leterrier, diretor que outrora tinha aprendido a fazer
filme de ação com um mestre do gênero,
Corey Yuen. Como quase sempre nesses canais da Globosat,
os filmes estréiam às 22:00. Mas o destaque
mesmo é um pequeno filme, um curtinha obscuro
dirigido pelo ator Paulo Villaça, grande figura
do cinema marginal (O Bandido da Luz Vermelha,
Perdidos e Malditos, A Mulher de Todos),
sobre o processo criativo do ator. O Transformista
(1979) conta com participação de Paulo
Autran e passa no Canal Brasil às 02:30, madrugada
de sábado para domingo.
Dia 06
Como a semana está marcada pelo estigma da repetição,
ou até da redundância em relação
às semanas anteriores (só faltou mais
Audrey Hepburn na quinta-feira), temos nesse domingo
mais um Truffaut, e um Truffaut maravilhoso: Uma
Mulher para Dois (Jules et Jim, 1962), terceiro
longa-metragem do diretor e, para muitos, sua obra-prima.
produto da fascinação de Truffaut pela
obra singular do escritor Henri-Pierre Roché
de quem depois iria também filmar Duas
Inglesas e o Amor , Jules e Jim captura
Jeanne Moreau e seus dois pretendentes em momentos de
autenticidade cativante e de um amor respeitoso porém
impossível. Impossível não se comover
com a canção que Jeanne Moreau canta no
filme, nos fazendo entrar no "turbilhão
da vida" de que ela canta. Se um clássico
absoluto está marcado para as 22:00. às
20:15 teremos uma aposta: Hustle A Decadência
de Pete Rose (Hustle, 2004), mais recente
filme de Peter Bogdanovich e, como seus últimos,
produzido para a televisão. Nem os comentários
a respeito de Hustle nem a visão de alguns
de seus filmes recentes são muito entusiasmantes,
mas não dá para descartar o homem que
dirigiu A Última Sessão de Cinema,
Lua de Papel e Muito Riso e Muita Alegria.
O filme passa na HBO Plus.
Dia 07
À exceção da rede Telecine, os
canais esta semana estão todos muito pouco inspirados
em suas programações de filmes. Poucas
ou nenhuma estréia, nada especialmente digno
de nota, apenas a reprodução de uma lógica
repetitiva que é alimentada pela ausência
de canais destinados a públicos mais específicos.
Com a transformação do Telecine Classic
em Telecine Cult e o fim do contrato da RetrôTV
com a DirecTV, além da visível queda de
qualidade e de novidades nas programações
de canais como o Eurochannel e o Film & Arts (e,
numa medida menor, até os da rede Telecine),
temos cada vez opções mais restritas de
programação em se tratando de filmes na
tv a cabo. À guisa de reflexão de meio-de-ano.
Mas valos lá, essa segunda-feira nem está
mal assim. Temos três estréias, todas no
mesmo horário, todas nos Telecines. Nenhuma terrivelmente
ousada ou difícil de encontrar, mas ainda assim
filmes dignos de nota e atenção. No Premium,
estréia Três Vidas e um Destino
(Head in the Clouds, 2004), mais recente filme
de John Duigan, diretor nascido na Inglaterra mas com
uma carreira algo sólida construída na
Austrália. Seu filme mais famoso é provavelmente
Inocência Rebelde (Lawn Dogs, 1997),
no qual consegue tirar uma surpreendente interpretação
de Mischa Barton ainda pré-adolescente. Falta
ao filme, no entanto, algo que supere o esquema "pequena
psicologia, pequena profundidade" dos personagens
e da relação de ponto-de-vista que o filme
constrói com seus espectadores. Três Vidas
e um Destino não tem Mischa, mas tem as belas
Charlize Theron e Penélope Cruz. Já é
alguma coisa. No TC Emotion, passa Desde Que Otar
Partiu (Depuis qu'Otar est parti..., 2003),
convencional mas bem realizado filme de Julie Bertucelli
que circulou por festivais e circuitinho de arte no
país nos últimos dois anos. Mas o grande
destaque do dia passa mesmo no TC Cult: A Vingança
do Pistoleiro (Ride in the Whirlwind, 1965),
que está apontado como "estréia"
muito embora tenha sido exibido ano passado no mesmo
canal, quando ainda se chamava "classic".
Meio feio da parte do canal ficar exagerando a versatilidade
de sua programação, mas isso de forma
alguma tira o mérito do grande filme que é
Ride in the Whirlwind, do magistral Monte Hellman,
com roteiro, produção e atuação
de Jack Nicholson em sua melhor fase, quando filmava
com Hellman e Rafelson e extraiu de Henry Miller o epíteto
de "primeiro ator dostoievskiano".
Dia 08
Talvez Lila Diz (Lila dit ça, dir.
Ziad Doueiri, 2004) tenha um interesse maior apenas
para aqueles que se apaixonaram pela ninfeta Vahina
Giocante em A Menina da Baía dos Anjos (Marie
Baie des Anges, 1997). Não é o mais
espúrio dos sentimentos, e parece que Lila
Diz aproveita exatamente essa expectativa para criar
uma personagem que é a pura expressão
da voloúpia e de sexualidade. O filme passou
no Festival do Rio último, sem muito estardalhaço,
inclusive dos fãs da moçoila, mas numa
semana morna, talvez a menina Giocante seja uma boa
pedida para esquentar a temperatura. O filme estréia
na programação do Telecine Cult às
22:00. Já a sessão É Tudo Verdade
do Canal Brasil apresenta a única maior atração
do canal essa semana, mas uma atração
continuada. Às 22:35, veremos mais quatro dos
filmes que David Neves fez em parceria com Fernando
Sabino sobre escritores brasileiros na primeira metade
dos anos 70. Veremos Carlos Drummond de Andrade
O Fazendeiro do Ar (1974), Manuel Bandeira
O Habitante de Pasárgada (1974), João Cabral
de Melo Neto O Curso do Poeta (1974) e Vinícius
de Moraes Música, Poesia e Amor (1974). O
quarteto é considerado por muitos o que melhor
se fez de poesia no país no século XX,
o que só aumenta o interesse no programa. E semana
que vem tem mais...
Dia 09
O que faz um autor? Primeiro, o talento distintivo,
claro. Mas não é tão simples assim.
É preciso, em seguida, que saiba perceber um
estilo, delimitá-lo e destacá-lo do seio
das outras produções mais regulares, convencionais
ou genéricas. Muitos autores, sobretudo aqueles
formados na escola do gênero (Jack Arnold, Jacques
Tourneur, Budd Boetticher), inicialmente são
vistos como figuras de comportamento exótico
até que alguém resolva levar a coisa a
sério e chamar a atenção para a
singularidade do estilo do cineasta. Fala-se tudo isso
por quê? Porque segundo Carlos Reichenbach, um
dos maiores diretores brasileiros e também
crítico, dono de um apetite voraz para filmes
obscuros , Anthony Hickox é certamente
um realizador digno de atenção, até
um autor. Britânico, filho de Douglas Hickox e
diretor de filmes que geralmente entrarm direto em vídeo,
Hickox dificilmente será o autor mais importante
a ter as iniciais AH, mas vale a pena conferir Blast!
(2004), um de seus filmes mais recentes, e saber se
a veemência de Carlão é idiossincrasia
de crítico é normal, acontece
ou se é pura lucidez de quem sabe olhar imagens.
O filme estréia na programação
do Telecine Premium às 22:00
Dia 10
E não é que finalmente vão exibir
Amador (Amator, 1979)? Provavelmente o
melhor filme de Krzysztof Kieslowski, Amador parte de
uma situação banal, casual, para em seguida
afrontar suas conseqüências psicológicas,
morais e filosóficas. A empatia é dada
pela inocência e pelo medo diante de uma realidade
tornada absurda, sem sentido. No caso, a passagem de
um registro mais cotidiano e familiar para a entrada
no terreno burocrático e oficial do oficialato
polonês. Mais tarde, o que parecia com Kafka acabou
ficando mais próximo dos frufrus de Claude Lelouch,
mas Amador é um filme de primeira linha, austero
e preciso como os melhores filmes poloneses de Kieslowski.
Como sempre, o filme será exibido às 22:00.
Em seguida, à meia-noite, o filme passa Kieslowski,
Cineasta Polonês, documentário de meia-hora
realizado por Luc Lagier falando da trajetória
de KK em seu país natal e no contexto do nascimento
da Film Polski e da escola de Lodz. Esse filme foi originalmente
lançado no DVD importado de A Dupla Vida de
Véronique. Curioso: será que agora
o que fará o TCC "cult" serão
as exibições de extras ao fim do filme?
Veneno, veneno...
Dia 11
Semana de vacas magras na rede HBO-Cinemax.
Uma pena, porque eles já nos deram estréias
ousadas, raros filmes dos anos 40 e 50, além
de filmes pouco conhecidos de proveniências as
mais diversas possíveis (sobretudo, naturalmente,
os dois canais Cinemax). Se não há nenhum
destaque especial nessa semana, ao menos é o
Cinemax Prime que salva essa noite de sexta-feira, exibindo
um programa duplo curioso. às 21:30, passa Perseguidor
Implacável (Dirty Harry, 1971), filme
de Don Siegel que inicia o franchise do personagem
vivido por Clint Eastwood (retomado depois em mais quatro
ocasiões, uma delas dirigido pelo próprio
Eastwood). Dirty Harry, o personagem, tem hoje a fama
que a gente sabe, uma reputação de filme
fascistóide e um elogio da justiça pelas
próprias mãos. Tentando tirar tudo que
já ouvimos e o que vimos dos outros filmes da
cabeça e focando especificamente neste Perseguidor
Implacável, o que vai se ver não é
um filme em que o espectador ávido por sangue
e pelo assassinato de "marginais" ganha tranqüilamente
a sua recompensa voyeurística e fica feliz com
o que vê. Há aí um ligeiro e sutil
deslocamento moral que desencoraja uma explicação
mais rasteira do filme. Esse quase sub-reptício
questionamento moral sobre a responsabilidade, assim
como a clareza e o rigor, foram as maiores heranças
que Diegel deixou para Eastwood como diretor. Futuramente,
Clint Eastwood faria do questionamento moral, quase
sempre associado à idéia de responsabilidade
"paterna" (não só pai, literalmente,
mas representantes do estado de alto a baixo, patriarcas
de cidades, além dos próprios justiceiros),
a motivação profunda de seu cinema. Mas
isso não dá para ver tanto em Rookie,
um Profissional do Perigo (Rookie, 1990),
que é provavelmente o pior filme da carreira
de Eastwood como diretor, e a única vez que Clint
dirigiu algo que não fosse no mínimo muito
bom na década de 90. Até os grandes autores
dão bola fora às vezes... O filme passa
logo em seguida a Perseguidor Implacável,
às 23:15.
Dia 12
Já armou o programa para sábado à
noite? Se ainda náo, é melhor se preparar,
porque não há nada muito interessante
sendo lançado neste sábado. Dos highlights,
o Telecine Premium estréia Quarteto Fantástico
(Fantastic Four, 2005), filme de super-herói
que passou em brancas nuvens, às 22:00, e a HBO
exibe o tão celebrado quanto tedioso Herói
(Ying xiong, 2002), tentativa de Zhang Yimou
em reavivar a tradição do filme de artes
marciais da tradição chinesa, com uma
imponência da mise-en-scène que refletisse
a nobreza da situação retratada. Mas o
que se consegue pode ser caracterizado mera e simplesmente
como mão pesada. Mão pesada de um diretor
acadêmico demais para repetir as proezas de Sergio
Leone ou King Hu (junto com Einsenstein, provavelmente
as maiores influências) e sem nada mais pessoal
que caracterize um estilo. Ou seja, estamos diante de
todas as características daquilo que convencionalmente
chamamos de um elefante branco, quando o vistoso e o
afetado toma o lugar do visual e do sensível.
Para piorar tudo, a HBO ainda faz o favor de exibir
a cópia picotada pelas mãos de Harvey
Weinstein, e não a original de Zhang Yimou. Em
todo caso, o filme passa às 21:00 na HBO. No
Telecine Cult, não temos melhores prognósticos.
Passa um filme de Jane Campion, diretora que não
pode ser menosprezada, mas Fogo Sagrado (Holy Smoke,
1999) certamente não é o filme que vai
fazer dela uma presença obrigatória no
panteão cinematográfico contemporâneo.
Melhor mesmo é assistir pela enésima vez
a De Salto Alto (Tacones lejanos, 1991),
de Pedro Almodóvar, que a A&E Mundo exibe
ás 22:00.
Dia 13
Duelo de franceses na noite de domingo. Às 20:25,
a TV5 nos dá o ar da graça exibindo um
filme pelo qual realmente esperamos, e exibe Rendez-vous
(1985), de André Techiné, estrelado por
Lambert Wilson e Juliette Binoche. Já no Telecine
Cult, o compromisso semanal com François Truffaut
chega ao fim e às 22:00 passa A Noiva Estava
de Preto (La Mariée était en noir,
1968), que, se não é exatamente um filme
memorável do diretor de Jules e Jim ainda
mais se lembrarmos que 1968 é o mesmo ano do,
esse sim, memorável Beijos Proibidos ,
é ao menos um dos mais raros e obscuros filmes
de Truffaut. Baseado num livro de Cornell Woolrich e
protagonizado por Jeanne Moreau, o filme tem lá
seus méritos, mas pertence à parte de
baixo na hierarquia dos filmes do diretor. Em seguida,
como uma espécie de bônus, passa à
meia-noite o episódio de O Amor aos 20 Anos
que Truffaut dirigiu e que constitiu a segunda parte
da pentalogia de Antoine Doinel. O nome é Antoine
e Colette, é bom que se diga, uma vez que
o canal parece designá-lo unicamente pelo nome
do longa, e isso engana tanto aqueles que querem ver
Antoine e Colette quanto aqueles que esperam
ter uma chance de ver o filme completo, uma vez que
diretores importantes como Andrzej Wajda e Marcel Ophüls
também fizeram seus episódios.
Dia 14 a 20
A coluna não
foi publicada
Dia 21
Inicialmente, pedimos desculpas àqueles que acompanham
semanalmente esta colun e e que se sentiram órfãos
pela ausência de recomendações na
semana passada. Mas sem maiores delongas passemos às
recomendações da semana que, se não
estão exatamente apetitosas no quesito raridade,
pelo menos trazem algumas opções bem interessantes
de travar ou retravar contato com filmes decisivos.
A começar por esta segunda-feira cheia que passa
quase ao mesmo tempo três filmes distintivos no
cinema americano dos últimos dez anos: Três
É Demais de Wes Anderson (Rushmore,
1998) às 21:30 no Cinemax Prime, Vivendo no
Limite de Martin Scorsese (Bringing Out the Dead,
1999) às 19:30 no Cinemax e Sobre Meninos
e Lobos de Clint Eastwood (Mystic River,
2003) às 22:00, também no Cinemax. Três
filmes que negociam sua condição de espetáculo
de gênero com uma certa necessidade de intransigência
artística, traçando não apenas
uma lógica temática, mas acima de tudo
criando liberdades de narrativa e encenação
que fazem com que esses filmes tenham sensibilidades
únicas e todas próprias. É nessa
difícil negociação entre produto
e sensibilidade que reside aquilo que chamamos de autor
a impressão na película de uma
personalidade definível, de um estilo singular,
de uma disposição particular em relação
ao mundo e que algumas pessoas parecem ter tanta
dificuldade de entender (talvez porque estão
tentando apenas acompanhar a história e não
percebem o trabalho da câmera, a instalação
do ponto-de-vista, etc.). Discussões à
parte, são três belos filmes que vão
constar na memória cinematográfica do
período. Passando do cinema recente ao cinema
já muito bem instalado na história, o
Telecine Cult estréia em sua programação
Rio Grande (idem, 1950), western de John Ford
num período particularmente rico de sua filmografia
(Sangue de Heróis, Legião Invencível
imediatamente antes, Caravana de Bravos imediatamente
depois). Ford já foi defendido como o homem que
levou um gênero à sua perfeição.
Hoje, nu outro momento do cinema que é também
um outro momento da crítica, ele é defendido
por aquilo que conseguimos perceber em suplemento
ao que o gênero diz. Bom, acontece que ele
é genial em ambas as aproximações.
O filme passa às 22:00.
Dia 22
Várias estréias dignas na semana, e acabaram
deixando dois filmes novos de alguma importância
estreando no mesmo momento. A Menina Santa (La
niña santa, 2004) de Lucrecia Martel foi
muito elogiado em toda parte, mesmo aqui, em Contracampo,
onde ocupou garbosamente o sexto lugar como melhor filme
exibido no país em 2005. O filme chegou até
a ser considerado um passo à frente da estréia
em longa, O Pântano (qunto melhor de 2004),
mas, tomada a devida distância, podemos tecer
algumas restrições ao filme, à
forma como toma emprestado com facilidade demais um
certo clima bressoniano de perda do sagrado, e sobretudo
na maneira como termina o filme de forma meio fácil,
acenando com um clímax desnecessário (o
que é um problema) e terminando o filme antes
que ele aconteça (o que é menos problemático).
Com Zatoichi (2003), filme menos celebrado de
Takeshi Kitano, também há problemas: falta
coesão, fata um espírito forte que ordene
aquilo que vemos, e embora o filme tenha diversos momentos
inventivos, como um todo ele deixa um pouquinho a desejar
muito longe da mestria e da contundência
de filmes como Boiling Point, Sonatine ou
da obra-prima Hana-Bi. Ainda assim, bem bom de
se ver. Lucrecia Martel estréia no Telecine Cult,
Kitano no Cinemax. Ambos às 22:00. Já
na tradicional É Tudo Verdade, passarão
também alguns filmes já batidos, mas ótimos
e essenciais. Aproveitando a onda de filmes em curta-metragem
que a sessão anda exibindo, dessa vez teremos
um programa dedicado à produção
gaúcha: passarão Ilha das Flores
(1989) e Esta Não É a Sua Vida
(1991), ambos de Jorge Furtado, e Memória
(1990), de Roberto Henkin. Curiosamente, um filme muito
mais raro e pouco visto de Furtado, Veja Bem
(1994), passa no mesmo Canal Brasil, em outro horário,
00:40 da madrugada de terça para quarta-feira.
Na verdade, é quase logo depois...
Dia 23
Nova quarta-feira sem estréias ou exibições
mais significativas. Mas para evitar o discurso de disco
quebrado, chamemos a atenção para As
Feras (1995), filme de Walter Hugo Khouri que passou
por um longo processo de brigas sobre o controle dos
direitos de exibição e só foi entrar
em cartaz mais de cinco anos depois. O filme tem as
típicas preocupações da obra de
WHK, o ar forçadamente intelectual, as intrigas
vagabundas revestidas de aparente sofisticação,
as mulheres lindas posando para a câmera. Ele
já teve produções mais bem cuidadas
e acabamento melhor, mas a dificuldade em ver o filme
acaba compensando o destaque que damos aqui a esse filme
que é, no máximo, curioso. Passa no Canal
Brasil às 21:30. Antes disso, um filme interessante
é Urgh! A Music War (dir. Derek Burbidge,
1981), que passa no Cinemax Prime às 19:30. Trata-se
de um documentário sobre a cena musical alternativa
do período, entre pós-punk e new-wave,
e contém mais significativamente o registro de
shows dessas bandas, um atrás do outro. Nada
de relevância especificamente cinematográfica
aqui, mas resta um interesse pronunciado para quem gosta
de certos dos grupos (Gang of Four, Cramps, Devo, The
Police, UB40, Pretenders, XTC) e sobretudo um interesse
como documento, porque é impressionante como,
vendo essas bandas uma depois da outra, percebemos como
cada uma independente da qualidade ou falta de
qualidade dos grupos tinha uma identidade cênica
muito forte e direta, e a imagem no palco interagia
de forma impressionante com a música. E isso
é algo muito distante do final dos anos 80-começo
dos 90, em que uma banda alternativa precisava mostrar
uma autenticidade, uma luta contra a pose (respondendo,
provavelmente, à superexposição
e à elevação do artista como estrela
mundial), e a postura pouco visual no palco era para
chamar a atenção para a própria
música. Essas mudanças são mesmo
muito curiosas de se notar.
Dia 24
Mais Kieslowski nessa quinta-feira. Dessa vez, é
o filme que tornou ele mais conhecido e abriu caminho
para aqueles que viriam em seguida: Não Amarás
(Krótki film o milosci, 1988), um dos dois filmes
da série Decálogo que viraram longa-metragem
(o outro é Não Matarás).
Seco, direto, complexo sem ser piegas, o filme espanta
pela incrível precisão como filma, muito
atento aos sentimentos e impasses humanos, e consegue
não cair na armadilha frouxa de uma compaixão
fácil demais (armadilha em que ele cairia ao
deixar o país natal). O filme passa às
22:00. Outras atrações bastante interessantes
são Dia de Festa (1978), esquecido filme de Paulo
Porto que será exibido na sessão Brasil
Cult do Canal Brasil, sempre às 22:35, e Ouro
Nazista na Argentina (Oro nazi en Argentina,
2004), documentário de Rolo Pereyra sobre a participação
da Argentina, e especialmente de Peron, nas negociações
com a Alemanha nazista e o posterior transporte de grandes
fortunas e de altos membros do partido nazista, com
Menguele, para o país. No rolo até o Vaticano
aparece exercendo papéis. Como trabalho de investigação
e como interesse histórico, vale a menção.
Estréia no Cinemax às 22:00.
Dia 25
Está aí.
Para quem esperava filmes mais difíceis, essa
sexta-feira é o dia. Tudo bem que não
é com filmes altamente esperados, mas, em se
tratando do estado de nossa programação
de filmes na tv a cabo, não podemos ser muito
exigentes. Primeiro, às 18:15, passa na TV5 Jaula
Amorosa (Les Félins), de René
Clément, que conta com Alain Delon e Jane Fonda
como protagonistas. Junto com Verneuil, que o canal
estava exibindo nas semanas anteriores, Clément
foi uma espécie de continuação
do antigo sistema de "qualidade francesa"
adaptado aos gêneros mais na moda, com o ideário
de fazer um cinema distanciado e a trabalhar a linguagem
do cinema como uma espécie de normas a preceitos
aos quais se deve obedecer. Naturalmente, Clément
foi o oposto da nouvelle vague, e, ainda que acertadamente
tenham sido estes últimos aqueles que ficaram
para a posteridade, o cinema do realizador de O Sol
por Testemunha, apesar de toda a pompa, não
é despido de interesse. Em seguida, o Telecine
Cult reestréia Mamãezinha Querida
(Mommie Dearest, 1981) em sua programação.
Dirigido por Frank Perry, um diretor que em seus começos
ganhou prêmio em Veneza e foi indicado ao Oscar
por David and Lisa, e que depois viria a ser lembrado
por ter sido o diretor do "pior filme da década
de 80" segundo a Framboesa de Ouro. O tal pior
filme é justamente Mamãezinha Querida,
protagonizado por Faye Dunaway, que evoca em modo camp
o suposto comportamento da atriz Joan Crawford com
sua filha (o filme é feito a partir do livro
autobiográfico de Christina Crawford). Os acadêmicos
da Framboesa não entraram no jogo e arrasaram
o filme. Mas já que eles também arrasaram
o belo Showgirls, isso não acabaria sendo um
elogio? O filme passa às 22:00.
Dia 26
Dois filmes considerados entre o mainstream e o cult
na verdade, são ambos mainstream até
a medula que receberam inúmeros elogios
ano passado: Crash No Limite (2005), de
Paul Haggis, e Batman Begins (2005), de Christopher
Nolan. O primeiro passa às 22:00 no Telecine
Premium e o segundo, às 21:00, na HBO. O filme
de Nolan é recheado de coisas para deslumbrar
o espectador que faz o gênero exigente-mas-nem-tanto,
mas pelo menos é inócuo. Já Crash,
sabe-se lá como, conseguiu até ganhar
Oscar de melhor filme, apresentando um dos roteiros
mais engana-otário de que já se teve notícia.
Quem conseguiu equacionar isso da melhor forma foi Jean-Marc
Lalanne, que já foi redator-chefe dos Cahiers
du Cinéma e hoje está na Les Inrockuptibles
(cuja cobertura de Cannes recente foi melhor do que
a da CdC). Eis a prova: "De Crash de Paul
Haggis a Babel de Iñárritu, uma mesma fascinação
de mau roteirista pelo acaso, as trajetórias que se
cruzam, os efeitos-borboleta. O planeta inteiro torna-se
o cenário de uma grande sitcom globalizada, em que o
destino ataca cegamente. Cada um paga um preço alto
pelo erro que não cometeu, ou então um preço sem relação
com a gravidade da sanção. A comiseração por todos os
males do mundo (os suicídios e os acidentes dos ricos,
a repressão e a injustiça que acontecem com os pobres...)
dá lugar a um canto esganiçado filmado como uma propaganda
de seguros.". Está dito. Se não dá
pra confiar sua noite de sábado a nenhum dos
dois, o que fazer? Ver As Luzes de um Verão,
do vietnamita Tran Anh Hung, que o Telecine Cult exibe
à meia-noite de sábado para domingo? Bem,
apesar de tocar duas das mais belas músicas já
feitas em todos os tempos, "Coney Island Baby"
e "Pale Blue Eyes", ambas de Lou Reed, o filme
tem um clima contemplativo-exótico que dá
uma certa enchida de saco, por confiar muito confortavelmente
no registro de um cinema-de-autor tornado auto-suficiente
e acadêmico. O leitor fica melhor acompanhado
se arriscando com Intriga Mortal (Poodle Springs,
1998), filme de Bob Rafelson feito diretamente para
a televisão. Além das credenciais de Rafelson,
autor dos seminais Five Easy Pieces e O Dia
dos Loucos, temos Tom Stoppard no roteiro e Raymond
Chandler no material original. É verdade que
a produção de Rafelson nõ manteve
o mesmo nível de excelência da década
de 70 para cá, mas ainda assim ele é um
cineasta que se merece acompanhar e ver o que puder.
Passa no Cinemax Prime às 20:00.
Dia 27
É domingo. Saudades de Truffaut? Pois o Telecine
Cult não fez nada para colocar alguma coisa mais
significativa no lugar. Claro, Má Educação
está longe de ser algo dispensável,
mas o filme está aí, já estreou
no cabo, tem em dvd, passou há pouco no cinema,
etc. Mas se o TCC não nos oferece nenhuma alternativa,
podemos ficar tranqüilos porque o Telecine Action
exibe um dos filmes mais deliciosos e delirantes da
década de 90: Fuga de Los Angeles (Escape
from L.A., 1996), com Kurt Russell e seu Snake Plissken
passeando por uma Los Angeles tornada ilha-prisão-lixão
tentando reaver uma maquininha que pode alterar definitivamente
o destino do mundo e definir quem detém o poder
sobre ele. Digamos que a resolução do
filme é totalmente pró alter-globalização.
E que é um dos finais de filme mais apocalípticos
da história do cinema, comparável a Videodrome
e Week-End. Mas pra quem quiser ele também
pode ser apenas um bom filme de ação e
um passatempo para o final do fim-de-semana. O filme
estréia na programação do TCA às
22:00.
Dia 28
Jim McBride talvez seja mais conhecido por ter feito
a adaptação americana de Acossado, o primeiro
longa-metragem de Jean-Luc Godard. As reações
a esse filmes são muito engraçadas, porque
no mais das vezes é gente que habitualmente não
dá a mínima para os aspectos artísticos
do cinema e de repente começam a tratar o filme
de McBride como uma espécie de heresia à
verdadeira arte (curiosamente, essas mesmas pessoas
nem fazem idéia, ou malham violentamente, o cinema
que Godard fazia na mesma época). Pois bem, A
Força de um Amor é um belo filme
e Godard também acha , assim como A
Fera do Rock (Great Balls of Fire, 1989),
cinebiografia de Jerry Lee Lewis. Entre os dois, Jim
McBride realizou Acerto de Contas (The Big
Easy, 1987), que o Telecine Action estréia
em sua programação às 13:40 desta
segunda. Juntos, são filmes que trabalham a idéia
do casal em movimento, e McBride consegue sempre imprimir
um quê de vertigem e liberdade do velho tema do
"amor louco" que o tornam distintivo, seja
nas produções independentes do começo
de sua carreira, seja nos filmes hollywoodianos que
viria a fazer posteriormente. Mais à noite, o
Cinemax estréia Eterno Amor (Un long
dimanche de fiançailles, 2004), filme de
Jean-Pierre Jeunet que deu prosseguimento a sua carreira
depois do grande sucesso de O Fabuloso Destino de
Amélie Poulain. Sabe-se das deficiências
gritantes de Jeunet, um homem que confunde desde o começo
de sua carreira perfeccionismo na direção
de arte com verdadeiro estilo. O escriba não
assistiu a seu filme mais recente, mas os comentários
são de que Eterno Amor até tem seu interesse.
Passa às 22:00.
Dia 29
Mais um filme importante estreando na programação
do Telecine Action, e num horário bizarro. Dessa
vez é O Casal Osterman (The Osterman
Weekend, 1983), último longa-metragem de
Sam Peckinpah, que passa às 14:00. O filme geralmente
não aparece entre os preferidos dos maiores admiradores
do cineasta, mas Peckinpah é um desses cineastas
para se ver tudo o que puder... Mais à noite,
o Film&Arts exibe Dr. Fantástico (Dr.
Strangelove or: How I Learned to Stop Worrying and Love
the Bomb, 1964), em que Stanley Kubrick explora
mais uma vez seu tema preferido: a estupidez da racionalidade
humana, uma racionalidade que é transformada
em seu oposto pelo excesso de lógica e procedimento.
Daí a visão clínica, asséptica
e distanciada de seu cinema, que nesse filme é
aplicada à questão da Guerra Fria e da
paranóia de uma hecatombe nuclear derivada da
intolerância e competição das nações.
O resultado à época foi um choque que
não poderia ser medido hoje, quando o mundo não
vive mais a tensão bipolar entre americanos e
soviéticos, mas a contundência do filme
permanece toda lá. Mas as verdadeiras raridadas
do dia estão na rigorosa seleção
de curtas-metragens de Ivan Cardoso que compõem
a sessão É Tudo Verdade às 23:30:
Moreira da Silva (1973), Dr. Dyonélio
(1978), HO (1979) e À Meia-Noite
com Glauber (1997). Todos eles estão entre
as melhores coisas que ele já fez, e é
uma pena que esses filmes não tenham tido a projeção
que outros filmes divertidos, mas não tão
interessantes, quanto As Sete Vampiras ou Os
Bons Tempos Voltaram... tiveram. Há autores
que se realizam mais integralmente no long-metragem,
mas há aqueles, como Ivan Cardoso, Jorge Furtado
e Arthur Omar, que são muito mais completos nos
filmes de curta-metragem. Para finalizar o dia, uma
excelente iniciativa: Simone Zuccolotto entrevista figuras
da pornochanchada numa nova série do Canal Brasil
chamada "Foi bom pra você, benzinho?"
que passa à 01:00 da madrugada de terça
para quarta-feira. Quer saber? Tomara que seja ótimo.
Dia 30
Um mundo separa A Vila (The Village, 2004),
dirigido por M. Night Shyamalan, de Crash
No Limite (Crash, 2005), dirigido por Paul
Haggis. O primeiro é erroneamente visto como
apenas um filme de gênero e o segundo é
visto como um filme importante, que aborda questões
políticas agudas da sociedade americana. O primeiro
foi ridicularizado por grande parte da imprensa e do
público, ao passo que Crash ganhou o Oscar.
O primeiro é um dos melhores filmes americanos
da década, e o segundo um dos piores. E a seriedade
dos filmes é inversa à pompa de questionamento:
Shyamalan cria a partir de um veículo de gênero
um grande questionamento sobre as raízes da violência
e sobre a utopia do isolamento que tornaria todos inocentes
(com apoio, claro, das mentiras úteis de monstros
de mentira) ao passo que Haggis se utiliza de uma série
de questões sociais americanas para criar um
painel espetaculoso, repleto de golpes de roteiro vagabundos
vendidos como audaciosos, e acima de tudo um jogo de
manipulações emocionais que destrói
qualquer possibilidade de questionamento sério.
Enquanto esperamos por A Dama no Lago,
a HBO passa A Vila às 18:30 (ou na HBO2
às 23:30), enquanto Crash passa no Telecine
Pipoca (!), ou seja, dublado, às 19:55. Para
algo mais inacessível, a curiosidade pode ser
Todos Sâo Criminosos (Pour le plaisir,
2004), filme do diretor belga Dominique Deruddere, mais
conhecido pela baboseira que é Fama para Todos.
Esse filme não parece mais interessante, mas
em todo caso é sempre louvável e digno
de nota quando um canal de tv a cabo exibe um filme
de acesso mais difícil, que não tenha
sido exibido em festivais, entrado em cartaz ou seja
americano (uma vez que a procedência ianque por
si só parece ser um crédito de exibição).
Assim, parabéns para o Telecine Emotion, que
passa o filme à 00:20 de quarta para quinta-feira.
E já que estamos nessa, quem sabe não
seja legal a turma do Telecine dar uma olhada nas obras
de gente como Hong Sang-Soo, Jia Zhangke e Apichatpong
Weerasethakul? Certamente criariam um outro interesse
no panorama de filmes exibidos na tv a cabo.
Dia 31
Novamente teremos Krzysztof Kieslowski na quinta-feira
do Telecine Cult, dessa vez com A Dupla Vida de Véronique
(La Double Vie de Véronique, 1991), filme
que faz a transição de KK da Polônia
para a França, e instala esse regime de dupla
identidade na trama de duas mulheres, ou uma, que vivem
em lugares diferentes, naturalmente a Polônia
e a França, e vivem vidas paralelas. O filme
passa às 22:00. Já no Eurochannel, como
toda última quinta do mês, teremos mais
uma Noite Nostalgia. Como o leque do canal é
sempre mínimo, eles dedicarão essa sessão
mensal pela enésima vez a Michelangelo Antonioni.
Não que ele não mereça, mas essa
repetição dos mesmos três ou quatro
nomes pega muito mal para o canal, e prova aquilo que
há muito, desde 2001, já pressentíamos:
de filmes o canal anda muito mal das pernas. Abri-las
demais dá nisso. Em todo caso, quem não
há de recomendar um programa que começa
com um documentário sobre o diretor às
22:00, passa para As Amigas (Le amiche,
1955) às 23:00 e culmina com O Dilema de uma
Vida/Deserto Vermelho (Il deserto rosso,
1964) à 01:00? Tudo bom, é ótimo,
mas custava correr atrás de outros filmes? O
documentário que Antonioni fez sobre a China
é raríssimo e seria uma excelente opção,
Ou Zabriskie Point, que não passa na tv
há muito, mas muito tempo mesmo.
Dia 01/9
Não estamos acostumados a ver recomendações
de filmes passando no canal FX, correto? Também,
era de se esperar. O canal entrou cheio de pompa, querendo
se vender em pacote separado, com preço separado,
oferecendo programação diretamente destinada
ao público masculino. A estratégia falhou
e hoje é apenas mais um canal na programação
das redes que oferecem esse tipo de serviço.
Mas volta e meia aparece alguma coisa interessante e
digna de ressaltar. Dessa vez, é Heroes Among
Heroes (Su qi er, 1993), filme de Hong Kong
dirigido por Yuen Woo-ping e estrelado por Donnie Yen.
Tanto um quanto outro só ficariam famosos no
ocidente nesta década, Yuen por ter sido o coreógrafo
de ação da trilogia Matrix e de Kill Bill,
entre outros, e Yen por ter participado de alguns filmes
americanos, como Bater ou Correr em Londres e
Blade II, e de alguns filmes orientais que tiveram
maior repercussão, como Herói.
O filme passa às 20:00.
Dia 02
Depois das bombásticas estréias de dois
filmes de grande interesse por parte do público
na semana passada, essa vem com uma pompa sensivelmente
menor. O mais famoso é O Chamado 2 (Ring
Two, 2005), continuação de Hideo Nakata
para o remake americano de Gore Verbinski. Quem esperava
algo mais interessante em relação ao primeiro
se frustrou, uma vez que o diretor do original japonês
não mostrou nem mais desinvoltura, nem mais criatividade
ou liberdade em relação ao material tratado,
e o convencionalismo se uniu inclusive a uma patente
falta de jeito. Em todo caso, quem quiser conferir,
nem que seja para matar as saudades da bela Naomi Watts,
pode conferir no Telecine Premium às 22:00. Uma
hora antes, a HBO exibe Golpe Baixo (The Longest
Yard, 2005), em que Adam Sandler desempenha o papel
que era de Burt Reynolds na versão original de
1974, dirigida por Robert Aldrich. O encarregado da
direção é Peter Segal, que pelo
jeito já se tornou o fiel companheiro de Sandler,
já que este é o terceiro longa seguido
em que dirige o comediante. Os anteriores, Tratamento
de Choque e Como Se Fosse a Primeira Vez,
são bem recomendáveis (o segundo mais
que o primeiro). Já no Canal Brasil teremos Espelho
d'Água Uma Viagem no Rio São Francisco
(2004), filme dirigido por Marcos Vinícius Cezar
que teve uma passagem meteórica pelo circuito
comercial. O título do filme, deve-se dizer,
não é daqueles que pode atrair hordas
ao cinema. Tampouco o material de divulgação.
E quem viu o filme teve a certeza de que não
se tratava de nenhuma pérola a ser descoberta
e valorizada. Em todo caso, para quem quiser tirar a
prova ou simplesmente tiver interesse em ver o filme,
é só ligar no Canal Brasil às 23:30.
Dia 03
Domingo, A Dama na Água já terá
estreado e, se as suspeitas se confirmarem, o filme
vai frustrar o público da mesma forma que Sinais
e A Vila antes dele (alguns apontam que frustrará
ainda mais). Ao mesmo tempo, M. Night Shyamalan já
consolidou em poucos longas-metragens uma carreira singular
e um rigoroso círculo de admiradores, seja pela
precisão de linguagem, seja pela audácia
em relação aos padrões mais convencionais
de organização visual e narrativa no cinema.
Em Sinais, ele se apropria de um subgênero célebre
da ficção científica, os filmes
de invasão extra-terrestre, para se questionar
sobre algo que não vende muitos ingressos: a
fé. Não exatamente qual fé, mas
simplesmente a fé. Veremos se A Dama na Água
cria uma operação semelhante. Sinais
passa no Film&Arts às 19:00. Já às
20:30, a TV5 exibe um filme de Georges Lautner, Tira
ou Ladrão (Flic ou voyou, 1978), cujo
maior interesse é mesmo matar saudades de Jean-Paul
Belmondo, uma vez que Lautner é um desses realizadores
de filmes conerciais franceses que nunca ninguém
chamou atenção especialmente, seja no
quesito inventividade, seja no mero bom artesanato.
Já no Canal Brasil, na madrugada de domingo pra
segunda-feira, às 02:35, passa Os Marginais
(1969), raríssimo filme em dois episódios
de Carlos Alberto Prates Correia e Moisés Kendler.
No de CAPC, "Guilherme", temos um repeteco
dos protagonistas de O Padre e a Moça, Paulo
José e Helena Ignez, enquanto no filme de Kendler
temos Grande Otelo e Cartola. Mais recomendação
que isso, impossível.
Dia 04
No mesmo ano que Robert Rodriguez lançou em Cannes
o bombástico Sin City, ele fez também
o pouquíssimo comentado As Aventuras de Sharkboy
e Lavagirl em 3-D (The Adventures of Sharkboy
and Lavagirl 3-D, 2005), mais um de seus projetos
caseiros caseiros mesmo, feitos na maior parte
na casa do cineasta para crianças, na
seqüência dos três Spy Kids.
RR tem uma visão bastante pessoal de cinema,
e uma postura que o distingue muito claramente dos realizadores
costumeiros. Seus melindres com o gênero são
ainda mais radicais do que aqueles de Tarantino, e o
alinhamento com as formas tidas como não-nobres
é total, de forma que é impossível
seguir a carreira de Rodriguez apenas vendo os filmes
"importantes" com Sin City e Era
uma Vez no México. Enquanto esperamos para
ver o que sai de Grind House, projeto conjunto com Tarantino,
podemos ver As Aventuras de Sharkboy e Lavagirl em
3-D na HBO às 21:00. Enquanto isso, os admiradores
de Claude Lelouch podem se rejubilar, porque um filme
seu entra em cartaz no Telecine Cult. Trata-se de
Outro Homem, Outra Mulher (Un autre homme, une
autre chance, 1977), adaptação de
seu filme mais famoso, Um Homem... Uma Mulher...
para o velho oeste. OK, pra começar se trata
de Claude Lelouch, e em segundo lugar fazer remake em
forma de western de seu próprio filme
de sucesso nos EUA é uma idéia de gerico
e um nível de picaretagem que ultrapassa a vagabundagem
lelouchiana costumeira. Por isso mesmo, quem sabe seja
interessante. Ademais, é um filme indisponível
em qualquer outra mídia no Brasil. 22:00. Não
faz do filme uma atração imperdível,
mas mesmo assim...
Dia 05
Os curtas de Ivan Cardoso Parte 2 A Missão.
Os documentários e ensaísticos passam
na sessão É Tudo Verdade do Canal Brasil,
e os outros na programação normal. Às
23:35, poderemos ver o raro Museu Goeldi (1974),
o excelente O Universo de Mojica Marins (1978),
além dos mais recentes (e menos interessantes)
Hi-Fi (1999) e Heliorama (2004), espécie
de duas releituras interessantes sobre a vanguarda brasileira
dos anos 60, mas redundantes em relação
ao que o próprio Ivan Cardoso já tinha
feito antes. Em seguida, à 01:45, passa Sexo,
Drogas e Rock'n'roll (1999), dentre os curtas de
Cardoso certamente o que menos circulou. Entre os cinco
filmes de IC, o mesmo canal exibe o segundo episódio
de "Foi bom pra você, benzinho?", programa
de reportagens de Simone Zuccoloto sobre os filmes e
os atores da pornochanchada. Dessa vez, Matilde Mastrangi
e Helena Ramos são entrevistadas. Bela idéia.
À 01:00 da manhã de terça pra quarta.
Dia 06
A aridez de ofertas que sempre ronda as quartas-feiras
permaneceria, se não fosse a oportuna reprise
que o Canal Brasil faz num horário aceitável,
o de 23:35, do único longa-metragem de ficção
de um de nossos mais valorosos diretores de fotografia
do cinema brasileiro (e também pintor), Mário
Carneiro. Trata-se de Gordos e Magros (1976),
uma comédia que nunca teve a devida atenção,
talvez exatamente por vir de uma turma a do cinema
novo de quem não se esperava um filme
do gênero. E é um bocado triste ver que
um bom filme como este, mesmo passando algumas vezes
na tv a cabo não tenha sequer cinco votos no
IMDb ou comentários de leitores nos sites brasileiros.
Acontece...
Dia 07
Mais um mês, mais quatro vezes que Krzysztof Kieslowski
domina as 22:00 das quintas-feiras no Telecine Cult.
Dessa vez, é com A Liberdade É Azul
(Trois couleurs: Bleu, 1993), filme que marcou
sua época e virou um fenômeno do cinema
cult de uma forma muito semelhante do Wim Wenders pós-Paris
Texas. Entre Kieslowski e Wenders, uma trajetória
semelhante: um cinema ligeiramente afrouxado, um humanismo
que era seco e se torna sentimental/piegas, os "grandes
temas" da incomunicabilidade e da liberdade no
mundo contemporâneo, o sentido de viver, tudo
isso ilustrado com imagens de uma beleza ostentatória
meio vazia. Tem quem goste. Como tem quem goste também
de Diários de Motocicleta, produção
multinacional (mas o Brasil não entra no rachuncho)
de Walter Salles sobre a juventude de Ernesto "Che"
Guevara antes de aderir à militância política.
Cinema oficial, genérico, sem uma sensibilidade
particular, e com uma série de problemas tanto
do ponto de vista dramático quanto do ponto de
vista do sentido político/existencial que cria,
Diários... (2004) é o típico
produto feito para satisfazer a má vontade do
público rico e chique que ostenta os valores
humanistas de esquerda mais porque pega bem do que por
uma verdadeira crença. Assim, o destaque do dia
é mesmo O Leão de Sete Cabeças
(Der Leone Have Sept Cabeças, 1970), filme
de Glauber Rocha filmado no Congo com Jean-Pierre Léaud,
Hugo Carvana e atores italianos, alemães, brasileiros
e africanos. Junto com Cabezas cortadas e Claro,
faz parte dos longas-metragens que Glauber Rocha filmou
fora do Brasil e que são dificílimos de
se ver, e que no entanto representam passos decisivos
na passagem dos filmes dos anos 60 até chegar
em A Idade da Terra. Curiosamente, a maior parte
dos teóricos que se debruçam sobre os
filmes do cineastas só parece se interessar pelo
que foi feito nos anos 60. Der Leone... passa no Canal
Brasil às 23:40.
Dia 08
Mais uma vez o destaque da sexta-feira cabe ao FX, que
depois de nos oferecer um raro filme de Hong Kong, agora
nos oferece um raro (aqui) filme coreano, Poderosa
Chefona (Jopog manura/My Wife Is a Gangster,
2001), grande sucesso
nacional que em 2003 rendeu uma continuação
e que terá uma terceira parte lançada
na Coréia do Sul ainda esse ano. Como boa parte
da produção mais comercial coreana, o
filme mescla com eficiência diversos gêneros
(comédia, filme de máfia, ação
de artes marciais) e tem produção que
nada deixa a dever em relação aos production
values americanos. Aliás, recentemente é
mais interessante ver filmes anônimos aquele
em que o diretor desempenha um papel meio genérico,
sem sensibilidade particular vindo da Coréia
ou de Hong Kong do que os americanos, cada vez mais
reiterativos e banais. O filme passa às 20:00.
Quase no mesmo horário, às 20:15, o Telecine
Cult coloca em sua programação um dos
clássicos de Woody Allen, Noivo Neurótico,
Noiva Nervosa (Annie Hall, 1977), filme que
faz a passagem do cinema de Allen de um registro mais
escrachado à irmãos Marx para a comédia
sofisticada, no limite tendendo pra o drama existencialista.
O filme rendeu a Woody Allen tudo que poderia, e começou
a estabelecer o papel do cineasta como uma das figuras
centrais do cinema de autor dos anos 80 (pricipalmente)
e dos anos 90. Mas a importância da obra de WA,
vista em retrospecto, é muito menor do que gostariam
seus fãs mais aguerridos, com uma tendência
à verborragia e a uma auto-complacência
fashionable que em muitos momentos torna o estilo
insuportável. Mas alguns filmes conseguem se
safar, e Annie Hall é um desses.
Dia 09
Vamos combinar: tanto HBO quanto Telecine Premium estão
de sacanagem ao programar em suas sessões mais
esperadas filmes como, respectivamente, Um Natal
Muito, Muito Louco (Christmas with the Kranks,
2004, dir. Joe Roth, com Jamie Lee Curtis e Dan Aykroyd)
e Coach Carter Treino para a Vida (Coach
Carter, 2005, dir. Thomas Carter, com Samuel L.
Jackson), um filme que até poderia ser interessante
se lançado próximo do Natal e outro que
era no máximo para um lançamento de terça-feira
à tarde. Bom, na verdade, se fossem, nós
nem comentaríamos aqui. Então, pano rápido,
passemos para o único verdadeiro destaque do
dia, que é o belíssimo Carne Trêmula
(Carne trémula, 1997), um dos melhores
filmes de Almodóvar, senão o melhor. Se,
comparando com a trajetória de Woody Allen, a
mudança de registro vem com o anterior A Flor
do Meu Segredo, Carne Trêmula é
aquele que consegue resolver à perfeição
os desafios trazidos com a nova fase de sua carreira.
O filme estréia na programação
do Telecine Cult às 22:00.
Dia 10
Phil Karlson dirigindo Elvis Presley? James Gray dirigindo
Mark Wahlberg, Joaquin Phoenix e Charlize Theron? Os
registros são inteiramente diferentes, sabemos:
Karlson é um diretor que teve poucas oportunidades
para mostrar um estilo singular fora dos filmes de gênero
mais rotineiros que dirigia com habilidade mas sem maior
distinção. Talhado para Campeão
(Kid Galahad, 1962) é acima de tudo um
veículo para Elvis Presley, e o filme não
consegue superar as dificuldades geradas pelo esquematismo
dos filmes desse tipo de fatura. Já Caminho
Sem Volta (The Yards, 2000) faz parte do
tipo de diretor que inevitavelmente marca os filmes
que faz com uma singularidade impossível de não
notar, e que acaba fazendo do diretor uma espécie
de pária dentro da indústria quando os
filmes não conseguem números expressivos.
De fato, Caminho Sem Volta é apenas o
segundo longa-metragem de Gray, e o terceiro só
deve vir em 2007 (também protagonizado por Wahlberg
e Phoenix, que se juntam a Robert Duvall e Eva Mendes).
Até agora, Gray só tem dois filmes, mas
o estilo e a densidade dos filmes já fazem o
diretor figurar numa seleta lista dos diretores jovens
mais decisivos do cinema americano hoje. A conferir
no Telecine Action às 22:00 (aliás, o
filme fica deslocado no canal). Já o filme de
Presley, que podia tranqüilamente estar no Action,
passa no Telecine Cult claramente porque é
"filme velho" às 15:50. Ambos
são estréias.
Ruy Gardnier
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