TM:
Acho interessante o Ruy ter puxado, enquanto falávamos
de Baixio das
Bestas, o Casa de Alice, porque na verdade tenho uma
opinião oposta. Apesar de o roteiro de Casa
de Alice amarrar os personagens nesse destino, amarrar
esse sentido para eles, eu acho que nas cenas individuais
o filme ganha uma força, em cada cena mesmo, na forma
como as coisas surgem da cena. Como a mãe entra no banheiro,
senta no vaso, levanta, vai na
sala e reclama da tampa mijada...
esse tipo de detalhe. A forma
como aquela pessoa evolui dentro do plano, como se manifesta, como fala... O filme acaba ganhando força em momentos
isolados. A maneira como ele se monta anula o final,
mas acho que ele consegue essas coisas que brotam dentro
do filme mais do que no Baixio das Bestas, em que eu vejo tudo
o tempo inteiro a serviço dessa coisa sufocante do Cláudio
Assis, estilizante ao extremo. Tudo está a serviço de alguma coisa
que é mais do que aquilo mesmo sendo mostrado.
RG: São duas
propostas extremamente diferentes. O Chico Teixeira
aposta num naturalismo extremado, e ele é muito feliz, mas eu digo que ele não é muito feliz do ponto de vista
da dramaturgia. Ele tem um trunfo muito forte, mas que
possivelmente vai acabar virando clichê daqui a dois
anos, e esse trunfo se chama Mauro Pinheiro.
TM: Sim,
a preparação de elenco.
RM: Na verdade
é o Mauro, a Fátima Toledo, o Marcos Pedroso, é um trio.
RG: E por
outro lado tem um trabalho, uma tentativa de entrar
naquele mundo um pouco como Lucrecia Martel em O Pântano.
LCOJr: Tem algo relacionado a isso que eu já
queria trazer para o Cinema Falado este ano. Já existe
um novo gênero no cinema brasileiro que é esse do filme
formatado para circular em festival internacional, festival
europeu, esse filme em que a narrativa é minimalista,
se cola no personagem, tem uma sensibilidade, o que
vale é aquele universo de afetos, não é tanto marcar
uma posição, não existe nenhum tipo de gesto enfático,
existe uma delicadeza no lidar com aquele universo...
RG: Um abuso
das elipses, uma passagem logo da causa para a conseqüência
sem precisar mostrar a metade.
LCOJr: Exatamente. Uma frouxidão narrativa
programada, uma sensibilidade da câmera com o ator,
com o espaço...
BB: Mas aí
parece que você está colocando O
Céu de Suely e Casa de Alice no mesmo gênero.
LCOJr: O
Céu de Suely influenciou esses filmes, é diferente.
Pega os filmes que aconteceram nos festivais internacionais:
Cinema, Aspirinas
e Urubus, O
Céu de Suely, Cidade
Baixa...
BB: Mas não
são filmes diferentes?
DC: São filmes
diferentes, mas eu concordo com o que o Júnior está
falando, existe uma modelização
sim.
RG: É claro
que o talento é diferente, mas de um ponto de vista
do nexo das imagens são filmes que falam o mesmo vocabulário,
que trabalham a montagem de uma forma lacunar, parecida,
que trabalham com uma certa
sensibilidade colada no personagem. Não é que sejam
filmes feitos para imitar Cinema, Aspirinas e Urubus e O
Céu de Suely, mas estes vieram antes e se inserem
nesse tipo de sensibilidade.
LL: Mas quais
os filmes que vieram esse ano?
RG: Dos que
entraram em cartaz, Casa de Alice e Mutum, e dos que não entraram, pelo menos
Deserto Feliz.
EG: E Via Láctea.
RG: Na verdade
eu acho Via Láctea muito mais tradicional de um certo cinema meio realismo fantástico, uma coisa que tem
muito no cinema argentino e que eu detesto.
LCOJr: A própria Lucrecia Martel entra como uma influência forte desse gênero que estou
falando. Ela é uma cineasta que nos primeiros longas-metragens
já estava nas graças dos festivais europeus. Não é uma
coincidência que boa parte desses filmes de que estou
falando sejam sustentados por fundos de investimento
como Hubert Bals ou Cinefondation. São filmes que estão inseridos num código ou
num gênero como outro qualquer. O problema disso é que
justamente o que seria o diferencial desses filmes,
que é essa sensibilidade, essa intensidade, isso se
perde a partir do momento em que vira uma muleta estética
como outra qualquer.
RG: Isso
é basicamente o que em música há vinte anos se chama
de uma estética indie, que é um determinado conjunto
de procedimentos que são repetidos como se fosse o diferente,
mas na verdade não é, apenas
compõe um outro tipo de repertório.
LL: O cinema
de Sundance se encaixaria
aí...
RG: Mas Sundance
é diferente, porque o independente americano se caracteriza
por um outro tipo de procedimento, ele é muito mais
narrativo e envolve uma questão sociológica muito mais
forte do que esses filmes.
LCOJr: Uma mordacidade também, um tipo de acidez
no trato com a sociedade, com os estereótipos da sociedade
americana, que é o contrário dessa corrente estética
do cinema brasileiro que estou destacando, fundada num
certo cálculo da sua distância em relação aos personagens
que é justamente esse cálculo de não ultrapassar a barreira
do julgamento. Isso gera um jogo fácil com a afetividade.
TM: Exatamente.
Virou uma generalidade que a gente precisa discutir
de alguma maneira. Mas o que eu acho particular do Mutum
é a forma como ele trabalha com um universo pré-existente
a ele e como ele ficcionaliza
a partir desse universo, e junto com esse universo,
na verdade. Como aquele menino está interpretando a
si mesmo, e nisso eles próprios citam o Kiarostami.
Uma certa dramaturgia, um certo trabalho com o espaço, com
os ambientes, com, digamos assim, formas de existência.
E eu acho na verdade bastante interessante que ele faça
esse trabalho de dramaturgia partindo de uma adaptação
literária. E como ele na verdade vai ao encontro desse
universo existente e não tenta partir da literatura
para moldar uma coisa fechada, mas tentar se alimentar
dessas coisas. Existem atores no filme, estão mesclados
àquelas pessoas, mas na verdade, o filme se alimenta
daqueles meninos. São meninos que estão interpretando
a eles mesmos, passaram por uma oficina, mas que, na verdade, a relação com aquele espaço e com as atividades que
eles fazem no filme já é uma relação que eles carregavam
consigo e, inclusive, já que a gente estava falando
de performance, a própria disposição de performance
já era algo que eles carregavam. E eu acho isso
um caso muito interessante no cinema brasileiro, e dessa
própria dinâmica de preparação de elenco, eu acho um
caso um pouco diferenciado. Eu concordo que o Mutum tem vários pontos de contato lá
com o Casa de Alice, nessa questão do novo gênero,
esse movimento do cinema brasileiro, mas eu acho que
o Mutum tem uma especificidade de trabalho pra além da questão de preparação
de elenco, que eu acho também muito visível no Casa de Alice.
RG: Pela
questão do naturalismo eu concordo, até, que faz diferença. Mas, tirando o modo de interpretação
dos atores...
BB: Fiquei
sabendo que algo que ela quis usar como referência no
filme foi exatamente o Straub,
ela queria que as pessoas da equipe vissem os filmes
dele. Mas, não sei, de certa
forma eu gosto muito do trabalho com os atores. A partir
dessa moda “oficina de atores da Fátima Toledo”, a partir
do método que ela criou, acho que a Sandra Kogut foi um pouco mais longe.
TM: O que
eu queria dizer com isso não é só a questão do trabalho
com os atores, de um naturalismo, mas a questão de criação
de universo ficcional, porque na verdade ela plantou
aquele universo ficcional, e enfim foi se relacionar
com aquele universo. Acho que não é só uma pura defesa
do naturalismo.
RG: O filme
tem uma certa sensibilidade,
que me bateu, até interessante. Mas, fora a seqüência
final, é algo que já vi muitas vezes em muitos outros
filmes. Alguns brasileiros, outros não. Acho que ela
usa o laconismo como o Júnior falou, um pouco por essa
desconfiança da idéia de narrativa que cativa
tanto esse novo cinema, esse novo gênero.
DC: A cena
final é uma cena linda. E é a nostalgia da narrativa.
Porque é a cena final, onde o garoto põe os óculos,
está se despedindo da casa, e aí ele olha tudo e você
percebe que ele está impressionado porque vai ver pela
última vez tudo de uma maneira
que ele nunca viu. Essa cena é linda, vale o filme!
TM: O filme
tem uma relação interessante com a visualidade, em como
trabalha o olhar distante, em como se preocupa em focar
tudo que é próximo, que tem
a ver com a miopia do menino, em como ela trabalha essa
aproximação da câmera com esse universo ficcional. Agora,
eu concordo, sim, que o resultado final se aproxima
muito, acho que até na montagem, desses novos padrões
de narrativa aqui mencionados.
LARM: Acho
que é muito mais captar o espectador pela emoção, por
uma empatia com o personagem, mas uma empatia que não
nasce de uma compreensão desse personagem, nasce de
você comprar aquele personagem, de você chegar perto
dele.
RM: Nesse
sentido, é onde ela mais se aproximou do Guimarães Rosa:
são personagens encantadores, que te cativam de alguma
forma, seja por estranhamento, por identificação, por
sentimentos variados. Mas há uma espécie de fascínio
qualquer por eles. Mas se isso é derivado da Fátima
Toledo, a questão é que ela adotou um método que resulta
específico e com que cada diretor sabe ou não trabalhar.
Por isso acaba que algumas vezes se sobressai um trabalho
da Fátima Toledo que salta aos olhos enquanto o filme
está passando, que começou a ficar mais forte, por exemplo,
no Cidade Baixa, e depois você começa a reconhecer
aquele mesmo método.
LCOJr: Preparação de elenco se tornou uma espécie
de avatar do cinema brasileiro.
TM: Começou
com o Cidade de Deus.
RM: Mas o
Cidade de Deus ainda tinha uma coisa que não movia tanta gente...
TM: Vê o
making of
da preparação de atores do Cidade de Deus... Não sei quantos
meses de oficina de ator.
RM: Mas o
que eu estou falando desse método que no
Cidade Baixa é muito forte é o que você vai reconhecer
nos filmes depois.
LARM: Mas
voltando praquela discussão do – não sei se a gente
pode dizer – naturalismo... Você acredita, você diz "olha só, parece que estou vendo a
realidade".
RG: Definitivamente,
é uma questão que diz única e exclusivamente respeito
ao naturalismo.
LARM: E isso
parece, inclusive, definir uma corrente que está no
documentário, na ficção, seja lá onde for. É uma coisa
que você pode transportar tanto pra um filme vietnamita,
brasileiro ou argentino-brasileiro.
RG: De certa
forma esse naturalismo caminha muito junto a essa idéia
do cinema como o buraco da fechadura, de acesso a um
mundo ao qual a gente não está acostumado,
mas que existe. É uma espécie de exotismo que você pode
transportar pelo método para qualquer lugar que existe.
LCOJr: É a globalização de um certo olhar.
Por isso digo que esse novo gênero do cinema brasileiro
é destinado a festival internacional.
LARM: Mas
o Mutum tem a ver com o Jogo de
Cena nesse sentido. Aquela personagem da senhora
que fuma um cachimbo, no Mutum... Tem uma seqüência em que são planos
separados das pessoas sofrendo a morte do garoto. Parece
uma série de "depoimentos"... Aquela seqüência
é muito parecida com todo o filme Jogo de Cena no aspecto que, se você não
conhece a pessoa, tem ali alguém que você acha que
não é um ator, alguém que é extraído da "realidade",
você se relaciona diferente do que com alguém que você
tem certeza que é um ator interpretando. Até
isso o filme cria em termos de estranheza. Há personagens
ali com que você se relaciona tranquilamente como personagens
de ficção. Você diz "esse é um ator que está se
fazendo de alguém" ou "esse é alguém que está
se fazendo de ator". É muito claro e até grosseiro,
isso. E tudo bem, mas não tem nada a ver com Straub...
Quero falar agora do Ó Pai, Ó, todo mundo fala dos atores, mas
é um filme curioso, muito diferente.
LL: Muito
estranho.
RG: Começa
como um filme musical e termina com assassinato de criança.
LARM: Eu
comparei esse filme, comparei não, eu acho que ele tem
a ver, com outro filme que não tem nada a ver, que é
o Intervalo Clandestino.
São os dois filmes mais herdeiros do cinema novo. Um
é o herdeiro do Glauber Rocha e o outro é o herdeiro
do Cáca Diegues. Eles começam
lá no alto, e é uma grande armadilha, porque eles não
sabem para onde ir. Os dois são uma resposta para um
tipo de cinema que é espetacular. É claro que o Eryk
Rocha não é o Glauber Rocha, mas a matriz dele é o Glauber.
É uma maneira de ver o Brasil, da forma de uma totalidade,
é uma grande massa de vasos se comunicando, então tudo
está interligado. Na verdade você tem grandes diferenças,
no Ó Pai, Ó
você discute racismo, homossexualidade, diferença de
classes. No entanto, você só sente isso no final. Cáca
Diegues é assim, falar da luta dos escravos e fazer
disso a luta do Brasil. A luta dos escravos não é a
luta do Brasil. O carnaval baiano não significa as cores
brasileiras naquela multifacetada civilização. No entanto,
o filme joga para isso. E ao mesmo tempo ele tenta afirmar
uma série de diferenças, de repente você coloca discussões
seríssimas, e isso passa batido.
LL: A alegoria
totalizante.
LCOJr: No caso da Monique Gardenberg, tem uma idéia de carnavalização que ela importa
– concordo – do
Cáca Diegues, de uma vertente
do cinema novo meio reciclada, mas que vem também de
um multiculturalismo, que
é construído lá fora em cima da idéia que eles têm da
cultura terceiro-mundista. Você lembra do primeiro filme
dela, o Jenipapo,
já é exatamente isso.
LARM: O filme
do Eryk Rocha parte de uma
crença louca de que aquilo é a voz do Brasil. “Há uma
multiplicidade de vozes”. Não há uma multiplicidade
de vozes, há uma voz só. Não sei se é uma resposta a
uma determinada questão que vem de fora, que é uma interpretação
global, alegórica do país.
LCOJr: Que está fora de moda.
LARM: Está
totalmente fora de moda, totalmente marginalizada. Eles
acabam tendo uma carta de coragem, ou de “esses são
filmes que contribuem”, eles têm que repor determinadas
coisas num âmbito totalizante.
RG: Acaba
um guindaste. Ou porque de um lado eles não foram realizados
de uma forma tão rigorosa, ou porque de certa forma
a gente ainda se ressente de um exagero desse procedimento.
Tem um filme que se tornou ícone nesse nível de totalização,
o Central do Brasil.
LCOJr: E aquela nova forma de sucesso que a
gente estava apontando do filme brasileiro internacionalmente
aceito hoje em dia não tem nada disso, de alegórico.
Talvez tenha algo de alegórico, mas não de totalizante.
Saneamento Básico
também. Parte de um porte de comunidade, específico
– numa chave totalizante.
RG: É um
filme muito mais esperto, já que a palavra de urgência
começou e voltou, ele pega uma urgência, muito mais
pra quem está familiarizado com o modus
operandi do cinema brasileiro, e acho que quem sabe os mecanismos
de produção do cinema brasileiro vai ter uma relação
de certa forma mais complexa com o filme. Mas morre
no roteiro. Uma ficção...
DC: Preguiçosa?
RG: Mais
ou menos. Cansada, uma ficção cansada. O contrário do
Jogo de Cena,
onde tudo começa quando a câmera é ligada. O Furtado
cada vez mais se fecha no ponto final do roteiro, e
a filmagem é só uma atualização.
DC: Ele se
concentra nos atores.
RM: Ele confia
muito nos atores e isso não funciona.
LL: É um
filme feito muito mais pros atores brilharem.
LCOJr: Eu não sei... Acho que um pouco do cansaço
da mise en
scène do Furtado, e o
mesmo ocorre em Caixa
Dois do Bruno Barreto, está de
acordo com uma idéia de Brasil totalmente totalizante
e que, por sua vez, é uma visão de Brasil preguiçosa,
profundamente preguiçosa.
RG: No Saneamento Básico eu nem vejo isso da totalização. Concordo que isso
da totalização é preguiçoso, mas ele se ancora num procedimento
que virou o procedimento oficial de capitação, que tem
várias contradições que são claras, e ele coloca isso
num filme que faz uma tabelinha com o filme do Cezar
Migliorin, Ação e Dispersão.
É claro que em termos de realização o do Cezar Migliorin vai até o final, e tem uma outra envergadura que
o Saneamento Básico
não tem.
LARM: E tem
uma coisa muito ruim no filme do Jorge Furtado, pra
representar o que é ruim, ele vai no passado, ele vai
pra um tipo de representação que, mesmo como caricatura,
você só vai ver no cinema mudo, no cinema dos anos 10.
Eu acho que não é possível honestamente você tentar
criticar alguma coisa que está ruim no cinema brasileiro
e se fechar dessa forma, fazendo um filme que claramente
ninguém faz. O que há de pior no cinema brasileiro é
o que o Furtado fez nesse filme, não aquele filme que
ele representou, mas o filme que ele fez.
EG: Parece
que é como o Sal de Prata. É a mesma coisa.
DC: Acho
quase tão ruim quanto.
TM: Eu acho
interessante, e perigoso, esse elogio do cinema naïf.
E aí fica complicado quando o Lázaro Ramos chega para
perverter isso, mas acho que não chega a acontecer.
DC: O que
eu mais gosto do filme é aquela parte justamente do
filme dentro do filme, que é a parte mais improvisada,
mais solta. O filme não tem um certo rigor, uma certa
impressão de algo ruim. A não ser naquela parte que
parece ser uma brincadeira.
LCOJr: Eu diria que o grande trunfo de Saneamento Básico é a cena onde era para
haver a reviravolta furtadiana
e o filme, na verdade, segue o caminho oposto. Que é
quando você vai ver a arte montada, e ele sai para fumar
um cigarro.
RG: Melhor
momento do filme.
LCOJr: Eu acho bonito isso, jogar pro fora
de campo.
RG: O discurso
final, quando todo mundo discursa, é quando você vê
o cinema como pretexto.
LCOJr: É o melhor comentário dele sobre o cinema
brasileiro.
GS: Via Láctea pode não ser um filme totalizante, mas é completamente
pretensioso.
DC: Via Láctea é um filme bastante emocionado. Aquele momento em que o
cara fica irritado com o garoto e o mendigo, na mão
de qualquer figura má seria usado pra fazer uma denúncia
social, algo Sérgio Bianchi. Só que o filme muda isso,
ele coloca como um retrato emocional. Isso acontece
em alguns momentos. E nesses momentos isso dá certo.
GS: Retrato
sentimental de uma relação em que você não acredita?
Um filme que muita gente não gosta, falando do trânsito
de São Paulo, mas que eu acho interessante, mesmo sendo
muito calculado, é o Não
por Acaso. Que dentro desse calculado que o Philippe
Barcinski tenta construir,
ele ainda constrói uma coisa bonita, emocionante, principalmente
a parte do Léo Medeiros.
RG: O clímax
final eu acho uma coisa tétrica.
GS: A paralisação
do trânsito? Eu não acho o pior. Eu entendo o ponto
de vista do Ruy, que é uma coisa meio brega, mas que
não me incomoda como um todo. O que me interessa é uma
utilização visual dramática da geografia da cidade,
como tenho visto pouco no cinema brasileiro. Uma geografia
urbana de forma dramática.
RG: Definitivamente
o Phillippe Barcinski tem um domínio
visual que a Lina Chamie
não tem. Ao mesmo tempo eu acho essa idéia de uma paisagem
sentimental desabitada onde muita gente vive, mas pouca
gente se conhece, um deserto super habitado, acho um
clichê monumental.
Parte 1: Sociedade
em descontrole: Tropa de Elite, o filme e o fenômeno
Parte 2: Universos
sob controle: Baixio das Bestas e Santiago
Parte 3: Jogo
de Cena
Parte 5: Cão
Sem Dono
Parte 6: A juventude
brasileira não se pertence
Parte 7: Justo uma
conversa: Conceição
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