ARTIGOS
A Sentinela, de Arnaud
Desplechin (exibição na TV5)
por Tatiana Monassa (10/02/2005)
The Road to Memphis,
de Richard Pearce (exibição na GNT)
por Paulo Ricardo de Almeida
(20/01/2005)
Piano Blues, de Clint
Eastwood (exibição na GNT)
por Paulo Ricardo de Almeida
(07/01/2005)
FILMES DA SEMANA
(ABRIL DE 2005)
Dias 1 a 13
A coluna não foi publicada no perído.
Dia 14
Depois de quase um mês sem dar as caras na coluna,
não é que a programação
das tvs a cabo começa a pegar fogo? E nós,
aqui, tentamos dar conta o máximo possível
das novidades. Nesse dia 14, uma estréia é
mais importante do que tudo: Paris nous appartient
(1960), primeiro e raríssimo longa-metragem de
Jacques Rivette que a TV5 exibe às 21:23. Antes
disso, na madrugada de quarta para quinta-feira, a RetrôTV
exibe pela última vez em sua programação
outra raridade, Os Maridos (Husbands,
1970), de outro pilar do cinema moderno: John Cassavetes.
01 da manhã.
Dia 15
Agora no terreno dos filmes da TV5 estreados nas semanas
em que papamos mosca com a seção, está
Pequenas Feridas (Petites Coupures, 2003)
de Pascal Bonitzer, exibido há dois anos na Mostra
de São Paulo (a crítica de Contracampo
à época está aqui.
O filme tem dupla exibição, muito cedo
às 05:25 da manhã e muito tarde às
23:30. Entre essas exibições, um clássico
inevitável que mostra um Hitchcock, como em Psicose,
à beira do puramente experimental Os
Pássaros, The Birds, 1963 no
Telecine Classic às 21:00 e um pequeno clássico
filme de episódios com algumas pérolas
dentro: Boccaccio '70. Atenção,
claro, para As Tentações do Dr. Antônio,
assinado Federico Fellini e estrelado por uma Anita
Ekberg reminiscente de A Doce Vida. Mas não
é a única atração, uma vez
que Visconti também está presente na escalação.
Passa na RetrôTV às 15:30. Provavelmente
sem o episódio de Mario Monicelli, que foi tirado
do filme para não alongar demais as sessões
do filme (junto, daria tudo 3h28min). Ao largo de tudo
isso, um Joseph Losey muito pouco conhecido passa no
Telecine Classic às 23:15: Noite Inolvidável
(The Big Night, 1951).
Dia 16
Como sempre, os sábados são interessantes
na RetrôTV. Mas já houve dias menos previsíveis,
ou com mais filmes raros. Em todo caso, não dá
pra reclamar de um dia que começa com Nosferatu
(idem, Murnau, 1922) às 11:00, depois vai para
Josey Wales, O Fora-da-lei (The Outlaw Josey
Wales, Clint Eastwood, 1976) às 14:00 e que
depois apresenta as curiosidades Golpe dos Eternos
Desconhecidos (dir. Nanni Loy, 1959, e um dos primeiros
papéis de Claudia Cardinale) às 17:50
e o spaghetti-western A Balada de Django
(dir. Demofilo Fidani, 1971, com Klaus Kinski). Mas
as grandes apostas do dia estão nos outros canais,
e não necessariamente nas grandes estréias
do horário nobre (por favor, confiem, não
vão perder nada se não olharem nos cadernos
de programação...): S.O.B. (idem, 1981),
um dos filmes de um diretor muito poucas vezes analisado
criteriosamente mas sempre bastante coerente em seu
projeto de cinema, além de, mais que tudo, extremamente
talentoso em atmosfera e composição de
quadro: Blake Edwards. A conferir às 16:45 no
Cinemax Prime (e rezar para o canal respeitar o quadro
certo do filme). Depois disso, às 19:40 o Telecine
Classic exibe o primeiro longa-metragem de Robert Altman,
Os Delinquentes (The Delinquents, 1957).
Ufa!
Dia 17
A briga agora é no horário nobre. Dogville
chama a atenção no Telecine Emotion às
23:40, e o Cinemax contra-ataca com um alemão
que ganhou bastante bafafá no circuito internacional
de festivais mas foi defenestrado por nossa tribuna
quando de sua exibição na Mostra de São
Paulo anos atrás: Luzes
Distantes (Licher, 2003), de Hans-Christian
Schmid, que o Cinemax passa às 22:00. Mas o fino
da bossa é mesmo o programa duplo que o Telecine
Classic preparou para nós: estréia de
A Mundana (A Foreign Affair, 1948), de
Billy Wilder, às 21:00, e em seguida a obra-prima
Tudo Que o Céu Permite (All That Heaven
Allows, 1950),
de Douglas Sirk, às 23:00. Os fãs de Todd
Haynes vão sentir uma semelhança muito
grande com Longe do Paraíso.
Dia 18
Voltando ao terreno das reprises derradeiras da TV5:
de manhãzinha às 05:25 o canal exibe Une
Vie (1958), terceiro longa-metragem de Alexandre
Astruc. Astruc, que cunhou o termo caméra-stylo
e foi um dos primeiros defensores do cinema de autor,
é um precursor da nouvelle vague infelizmente
bastante pouco rememorado hoje. Às 03:20 de segunda
para terça-feira, o canal dá a última
chance para quem quiser assistir a Week-end à
Francesa (Week-end, 1967), possivelmente
o filme mais apocalíptico de Jean-Luc Godard,
e para vários seu melhor filme (se não
o preferido, o filme do coração do redator
destas linhas). Entretanto, nos horários em que
geralmente se passa acordado, algumas atrações
bem dignas de nota. A começar com a estréia
na programação do excelente Looney
Tunes: De Volta à Ação (Looney
Tunes Back in Action, 2003), de Joe Dante, na HBO
às 21:00. O Telecine Classic propõe uma
mostra dedicada a John Farrow, cineasta pouco conhecido
mas que tem alguns fortes admiradores. Amarga Ironia
(You Came Along, 1945) é tido como um
de seus melhores filmes, e não se recomenda perdê-lo.
Mais detalhes no parágrafo do dia 19. Somente
como terceira opção de estréia
às 21:00 poderíamos considerar Dirigindo
no Escuro (Hollywood Ending, 2002), filme
claudicante de um Woody Allen que hoje em dia se compraz
em repetir filmes simpáticos mas irrelevantes.
Uma opção para o pós-21:00: Quanto
Mais Quente Melhor (Some Like it Hot, 1959),
para acompanhar a sessão de A Mundana e fazer
dessa uma semana Billy Wilder. Uma das melhores comédias
do mundo, que o Telecine Classic passa às 23:00
Dia 19
Para fazer dessa uma semana Joseph Losey, vale conferir
Cerimônia Secreta (Secret Ceremony,
1968), filme que passa no Film&Arts às 13:00
e depois às 20:00. Para uma geral na mostra John
Farrow no Telecine Classic, sempre às 21:00:
dia 19, A Hiena dos Mares (Two Years Before
the Mast, 1946); dia 20, A Noite Tem Mil Olhos
(The Night Has a Thousand Eyes, 1948); dia
21, O Enviado de Satanás (Alias Nick
Beal, 1949); dia 22, Brasa Viva (Red,
Hot and Blue, 1949); dia 23, O Vale da Ambição
(Copper Canyon, 1950); e por fim dia 24, A
Nau dos Condenados (Botany Bay, 1953). As
recomendações maiores vão para
O Enviado de Satanás. Bom ver o Telecine
Classic voltando a propor mostras de cineastas com a
obra invisível no país. Bravo!
Dia 20
Que tal fazer uma maratona de cinema começando
às 03:00? Esquisito? Sem dúvida, mas o
Cinemax não deixa outra opção.
Às 03:00, ele exibe O Diabo Riu por Último
(Beat the Devil, 1954), filme de John Huston
com Humphey Bogart e Jennifer Jones; em seguida, às
04:30, é a vez de Star 80 (idem, 1983), de Bob
Fosse; mas a atração realmente formidável
da madrugada é Escravas do Medo (Experiment
in Terror, 1962), filme de Blake Edwards indisponível
em vídeo de qualquer formato no Brasil, e há
anos ausente das telas da televisão. O Cinemax
nos faz o favor, e exibe o filme às 06:30. Enquanto
amanhece, convém mudar a operadora e o canal,
e zapear para o Telecine Classic, que passa dois belos
filmes de Luis Buñuel: O Fantasma da Liberdade
(Le Fantôme de la liberté, 1974),
às 08:40, e O Diário de uma Camareira
(Le Journal d'une femme de chambre, 1964),
às 10:25. Depois a gente pode dormir. Ou, em
todo caso, gravar tudo e ver depois. Ufa novamente.
Dia 21
Já dizia o filósofo da boca grande que
nem sempre podemos ter o que queremos. OK, a semana
passada estava particularmente cheia de atrações.
Mas nada justifica o impressionante desnível
em relação a essa semana. Mas nada, no
entanto, que essa quinta-feira comprove, pelo contrário:
nessa quinta, parece que a semana anterior continua,
e temos às 21:20 a estréia na programação
da TV5 de Hiroshima mon amour (1959), primeiro
longa-metragem de Alain Resnais, e um dos pilares da
renovação do cinema no final dos anos
50, com a eclosão da nouvelle vague e
dos novos cinemas ao redor do mundo. Como unir França
e Japão em relação à Segunda
Guerra, como fazer um discurso sobre o amor e sobre
a guerra, como falar do extermínio em massa fugindo
da abjeção do espetáculo? Resnais,
com seu filme, responde uma a uma as perguntas, de forma
brilhante. Zapeamos, e caímos na continuação
da retrospectiva dedicada a John Farrow no Telecine
Classic, sempre às 21:00. A agenda: dia 21, O
Enviado de Satanás (Alias Nick Beal,
1949); dia 22, Brasa Viva (Red, Hot and Blue,
1949); dia 23, O Vale da Ambição
(Copper Canyon, 1950); dia 24, A Nau dos Condenados
(Botany Bay, 1953).
Dia 22
Adorável surpresa na Rede 21. Tudo bom, podem
me dizer que ver um filme nas condições
que eles apresentam (quase sempre dublado, em formato
errado, tudo verdade), mas é encorajador ver
Lili Minha Adorável Espiã
(Darling Lili, 1970) sendo exibido de qualquer
forma na televisão brasileira. Blake Edwards
é um desses cineastas que, olhando retrospectivamente
para o conjunto da obra, merece bastante mais atenção
do ponto de vista artístico do que foi dada ao
longo de sua carreira. Dúvidas? Alugue A Corrida
do Século, em CinemaScope, na locadora mais
próxima. Minha Adorável Espiã,
estrelado por Julie Andrews e Rock Hudson, passa às
22:30. Este filme é também um dos poucos
casos em que a versão do diretor é menor
do que a versão original. Tomara que passe a
de 107min. Para quem ainda não viu, uma atração
imperdível é a estréia de As
Panteras: Detonando (Charlie's Angels: Full Throttle,
2003), de McG, na programação do HBO Plus.
O filme, apressadamente considerado apenas como um veículo
para atrizes bonitas, é um dos momentos altos
da produção americana contemporânea,
com inúmeros delírios formais e plásticos.
Comparável a Frank Tashlin em seu tempo. 22:05,
programa marcado.
Dia 23
Outra recente pérola pop igualmente desprezada
foi Era uma Vez no México (Once Upon
a Time in Mexico, 2003), filme de Robert Rodriguez.
O caso Rodriguez é interessante: autor cult por
sua filiação com Tarantino e pelo bafafá
de filme feito com baixíssimo orçamento,
transformado em diretor desprezado por suas esquisitices.
O fenômeno Sin City, hypado por trazer
para a tela uma HQ cultuada e assinar o filme junto
com seu autor, Frank Miller, deve colocar RR de volta
no circuito in. Quanto antes melhor: para nós,
ele já era in por ter nos dado no mesmo ano essa
saga mexicana e o terceiro episódio, em 3-D,
de Spy Kids. Era uma Vez no México
não é exatamente uma homenagem ao
estilo de Leone, mas apenas a determinados procedimentos
estilísticos anti-realistas e maneiristas. Na
verdade, onde Leone dilata o tempo, Rodriguez acelera:
duas práticas distintas, senão completamente
opostas. Conferir na HBO às 21:00. Uma experiência
interessante: Assistir à recente versão
de Uma Saída de Mestre (The Italian
Job, 2003, dir. F. Gary Gray), que estréia
no Telecine Premium às 21:00, e...
Dia 24
...no dia seguinte ver a versão original (The
Italian Job, 1969, dir. Peter Collinson), numa homenagem
que a RetrôTV faz a Michael Caine,
às 22:30. Antes, o canal passa O Homem Que
Queria Ser Rei (dir. John Huston, 1975) às
20:00, e depois passa o mais raro Funeral em Berlim
(Funeral in Berlin, 1966, dir. Guy Hamilton),
na meia-noite de domingo para segunda. Mas a atração
principal do dia é Do Outro Lado da Lei
(El Bonaerense, 2002), segundo longa-metragem
de Pablo Trapero, que junto com Lucrecia Martel compõe
o que há de mais interessante no cinema argentino
contemporâneo. O filme estréia no Cinemax
às 22:00, e filma de forma muito seca o cotidiano
e os rituais de uma chefatura de polícia num
distrito de Buenos Aires. Rigor invejável.
Dia 25
Dia de pouquíssimas atrações, o
jeito é partir para a aposta descarada: The
Life, da diretora canadense Lynne Stopkewich, que
o Cinemax exibe às 22:00. Ela ganhou renome por
seu filme Kissed (idem, 1996), filme sobre necrofilia
e estrelado por Molly Parker, que hoje interpreta Alma
Garret no (excelente) seriado Deadwood. Em The
Life, filme feito para a televisão, é
sobre o mundo das drogas e sobre os dilemas humanos
dos dois lados da lei.
Dia 26
E então começa a verdadeira atração
principal da semana: a exibição, em quatro
partes, do filme Shoah (1985), mítico
filme de Claude Lanzmann composto de depoimentos com
sobreviventes e familiares da Shoah, nome que designa
o extermínio de judeus pelos alemães nazistas
na Segunda Guerra Mundial. Em quase dez horas de duração,
Lanzmann criou um monumento à história
do século XX, e um dos objetos cinematográficos
mais singulares destes 110 anos de história da
arte. Resta dizer que exibições deste
filme, nos cinemas ou em tv, sempre tiveram caráter
muito restrito. Dizer que é imperdível
é o mínimo. TV5, a partir das 21:30, na
terça, na quarta, na quinta e na sexta. Cada
uma das exibições com pouco menos que
duas horas e meia.
Dia 27
E não é que novamente aparece em nossa
grade de programação algum filme interessante
sendo exibido na Eurochannel? É Casanova de
Fellini (Casanova, 1977). Momento dos mais
excessivos do lirismo felliniano, o filme espanta os
mais acostumados com seus filmes centrados em personagens
e em blocos narrativos (A Doce Vida, Os
Boas Vidas, Noites de Cabíria).
Pós-8½, e definitivamente depois
de Amarcord e Roma, Fellini entra em seu
período mais pessoal e rico. A conferir às
22:00 no Eurochannel.
Dia 28
Até na Noite Nostalgia, último reduto
da cinefilia e das raridades na grade da Eurochannel,
a reciclagem está em operação.
Assim, repete-se o programa dedicado a Pier Paolo Pasolini,
com filmes que sim, vale a pena passar e reexibir, mas
que não impedem de deplorar a atuação
recente do canal. Ainda assim, para aqueles que não
viram na primeira exibição, é interessante
assistir ao documentário que, às 21:00,
precede a exibição de Mamma Roma
(idem, 1962), uma hora depois. Mesmo porque não
tem muito mais coisa digna de nota passando...
Dia 29
... e isso é algo que se prolongará ao
longo da semana, e ao longo do mês. Excetuando
alguns casos isolados, não há muitas atrações
pintando. O que acaba sendo uma chance para conferir
filmes que não são geniais ou inevitáveis,
mas que podem interessar aos admiradores. Peter Segal
foi bastante elogiado nesta tribuna quando do lançamento
de Como Se Fosse a Primeira Vez (50 First
Dates, 2004), filme que chegou a ser listado em
mais de uma lista de dez preferidos de fim-de-ano. O
filme anterior de Segal, Tratamento de Choque
(Anger Management, 2003), está longe de
ser desinteressante. A HBO exibe às 22:30.
Dia 30
O único dia cheio da semana começa com
uma obra-prima assinada Sergio Leone. Único de
seus grandes filmes que não faz parte de um projeto
de mais de um filme ("nenhum "era uma vez",
nenhum "dólares"), Quando Explode
a Vingança (Giù la testa, 1970)
vem recebendo um reconhecimento tardio como um dos grandes
e, na opinião deste titular, o
grande filmes de Leone. A Conferir às
14:00 na RetrôTV. Mais à noite, estréia
de Legalmente Loira 2 (Legally Blonde 2,
2003, dir. Charles Herman-Wurmfeld), momento particularmente
feliz da comédia mainstream americana não
saída dos circuitos Saturday Night Live. O filme
é uma retomada do princípio que fez um
dos clássicos de Frank Capra, A Mulher Faz
o Homem (Mr. Smith Goes to Washington, 1939),
naturalmente com retoques do think pink que contrasta
uma nova ordem comportamental (as patricinhas cheias
de apetrechos) com a sisudez da política. Quem
sabe Reese Witherspoon não consiga mesmo arejar
um pouco os ares da política americana, tão
necessitada de um pensamento da alteridade. O filme
estréia às 21:00 no Telecine Premium.
À noite, madrugada na verdade, passa Duas
Mulheres, Dois Destinos (L'une chante, l'autre
pas, 1977), de Agnès Varda, delicado retrato
feminino em dois pequenos exemplos de dois processos
de vida distintos como óleo e água. Como
sempre na obra de Varda, uma rara mistura de doce e
seco que emociona e coloca em perspectiva. À
01:25 na TV5.
Ruy
Gardnier
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