Antes
do filme, uma rápida contextualização:
originalmente concebido para ser dirigido por um de
seus diretores de contrato, como fora o primeiro Máscara
Negra, um dos primeiros filmes com Jet Li a ganhar
espaço internacional, em que Tsui mais ou menos
coordena o filme. Após o fiasco financeiro de
The Legend of Zu, filme para o qual a Miramax
havia liberado uma fortuna para Hark filmar e não
recuperando nada , ele resolve assumir o projeto de
Máscara Negra 2, tentando provar que poderia
fazer um filme mais comerciável. Normal então
o sentimento de se ir esperando pouco do filme, mas
o fato é que Tsui tem como seu melhor trunfo
saber filmar de uma maneira única, e mesmo em
um projeto nada pessoal como este, sua marca vai muito
além da simples autoralidade, dá forma
e conteúdo ao filme que a princípio (argumento,
roteiro) não se poderia aguardar.
Efeitos baratos e roteiro picareta se espalham por todos
os lados: os criadores do Máscara Negra (Andy
On, que substitui Jet Li) querem capturá-lo,
ao mesmo tempo que uma organização que
controla uma espécie de centro de luta livre
começa a fazer experimentos com mutações
de DNA de animais nos lutadores (!), até que
um deles o iguano perde controle, causando um
estardalhaço com mortes e a imprensa, sendo detido
pelo Máscara Negra. A partir daí, uma
chuva de efeitos baratos mas sempre presentes serão
pano de fundo para que Tsui explore o envolvimento do
herói com os lutadores e sua luta sempre ambígua
entre enfrentarem Moloch, o criador das mutações,
ou seguirem seus planos, que levariam a criação
de uma bomba de DNA que causaria uma mutação
em massa para a raça humana ainda a espaço
para Tsui desenvolver um divertido romance entre Máscara
Negra e uma médica que irá ajuda-lo, a
amizade que nasce entre o herói e o filho de
um dos lutadores que fora hospitalizado, e dar vazão
para uma estranha ligação com os X-Men
(seja quadrinhos, desenho ou filme), principalmente
pelo filme ir no caminho oposto de certa forma no tratamento
do tema, que surge de maneira muito diferente aqui.
Parece um grande caldeirão, mas é importante
para o filme essa estrutura enorme e cheia de personagens
em alguns momentos se fica em dúvida se o Máscara
Negra seria mesmo o protagonista onde se há
espaço para que o filme não caia numa
vaga repetição, onde Hark pode explorar
os mais variados tipos de confrontos e relacionamentos.
Impressiona também que Hark consiga ir além
de um uso inteligente do scope para as cenas de ação,
sua capacidade de não trair suas próprias
crenças mesmo nas cenas mais simples como as
de alivio cômico ou que pareçam estar ali
apenas para que a trama possa continuar (como as várias
cenas onde os lutadores desconfiam de seu chefe, ou
do criador de MN dando as mesmas ordens pela segunda
vez, cena em que Tsui ainda usa o maior número
de efeitos especiais do filme, dando margem até
à uma alusão direta aos cartuns). Não
se trata de um dos grandes feitos de Tsui, fica claro
em diversos momentos que por maiores que sejam os esforços
do cineasta, nada é muito pessoal, quase que
um trabalho de diretor de contrato (só que um
contratado de si mesmo), mas fica claro neste filme
as diferenças de quando Tsui simplesmente coordena
estes filmes que produz (em caso mais recente vale olhar
Caçadores de Vampiros de Tsui Hark, chegado
nas locadoras há alguns poucos meses), para quando
ele de fato está no comando sua maneira de
olhar (conseqüentemente de filmar) se faz presente,
mudando até mesmo as relações de
seus personagens que a priori soavam óbvios,
como a Camaleoa de Traci Lords, os inserindo direto
na proposta do filme.
O clímax do filme, fragmentado em mais de um
ponto onde ação ocorre mostra que Tsui
mesmo sendo um cineasta que se preza de estar pouco
necessitado de uma narrativa mais presente, é
totalmente capaz de exibir controle sobre o aspecto
narrativo, montando o filme e vale dizer que ele faz
questão de ter total controle sobre a montagem
de todos os seus filmes de forma a qual a narrativa
não soe quebrada, e que os fortes momentos não
acabem danificados. Ele imprime força e carisma
ao seu protagonista, que aqui é tão ou
mais interessante que no filme anterior, indo aos poucos
se embaraçando nas subtramas, se deixando envolver
naquilo em que se interessa, tal qual Tsui vai aos poucos
se interessando cada vez mais pelo filme. Máscara
Negra 2 então se situa numa posição
bastante curiosa, distante de ser um dos melhores de
Tsui Hark, mas um de seus mais interessantes, e reafirmadores
da maestria do cineasta.
Guilherme Martins
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