Essa sessão é atualizada semanalmente.

ARTIGOS
Ser ou não ser
(sobre o reality show Made)
por Luiz Carlos Oliveira Jr. (02/05/2006)

Vencendo Simon
(sobre American Idol)
por Bolívar Torres (24/04/2006)

A doçura dos números
(sobre "I See You, You See Me", clipe dos Magic Numbers)
por Luiz Carlos Oliveira Jr. (24/04/2006)

FILMES DA SEMANA
(
27 DE MARÇO A 28 DE MAIO DE 2006)
Dia 27/03
Levanta-te Meu Amor (Arise My Love, 1940) é um dos filmes mais comentados de Mitchell Leisen, cineasta que, segundo muitos, foi injustamente relegado ao segundo escalão da comédia americana dos anos 30-40 (o primeiro escalão, naturalmente, pertencendo a Ernst Lutisch e Preston Sturges). Hoje, inclusive, Leisen é mais conhecido por ter sido o diretor que enfezou tanto Billy Wilder e Charles Brackett (em A Porta de Ouro) que eles decidiram que daí em diante dirigiriam seus filmes e não mais tolerariam as mudanças em seus roteiros. Levanta-te, Meu Amor foi feito antes disso, num momento em que sae podiam conjugar os talentos de Claudette Colbert e Ray Milland como estrelas, Wilder e Brackett como roteiristas, e um Leisen em estado de graça. O filme passa no Telecine Cult às 19:55, evocando os saudosos momentos em que o ex-Classic exibia incontáveis clássicos e retrospectivas de diretores raros e arejava a programação das tvs a cabo. Já no Canal Brasil, às 22:35, ainda na homenagem a Amácio Mazzaropi, passa O Corintiano, filme dirigido por Milton Amaral em 1966.
Dia 28/03
Enquanto o festival É Tudo Verdade passa no Rio de Janeiro, em São Paulo e em Campinas (com exibição depois em Brasília), no Canal Brasil a seção É Tudo Verdade exibe Carrapateira Não Tem Mais Ciúmes da Apolo XI (2004), um média-metragem de Fabiano Maciel, sobre a relação do município paraibano, em 1969 o mais pobre do Brasil, com a nave espacial americana que levou o homem à Lua. Na época, o Jornal do Brasil mandou um repórter para acompanhar a famosa data na cidade paraibana. Trinta e quatro anos depois, o diretor Fabiano Maciel voltou à cidade para registrar as mudanças ocorridas em Carrapateiras. O filme passa às 22:35. No mesmo canal, às 20:00, começa uma programação especial em homenagem a Nelson Dantas, um dos maiores atores do cinema brasileiro, falecido recentemente. Pena que o primeiro filme exibido não faz jus ao talento do ator: O Que É Isso, Companheiro, de Bruno Barreto. Pano rápido.
Dia 29/03
Curiosamente, aquele que é geralmente o pior dia em destaques da tv nessa semana apresenta uma raridade essencial e uma bela estréia recente. Primeiro, é O Poder da Solidão (The Effect of Gamma Rays on the Man-in-the-Moon Marigolds, 1972), filme dirigido por Paul Newman e estrelado por Joanne Woodward. Curiosamente, filmes de diversos atores-diretores costumam ser mais lembrados (como Desafio no Bronx, de Robert De Niro, ou os filmes de Sean Penn e John Turturro). Esse O Poder da Solidão, inexistente em DVD em qualquer lugar do globo e jamais lançado em VHS no Brasil, passa no Telecine Cult às 20:05. O filme foi simplesmente escolhido por dois críticos importantes, Louis Skorecki e Serge Toubiana, como um dos melhores da década de 1970 numa enquete dos Cahiers du Cinéma. Obrigatório, então. Já às 22:00, o Telecine Emotion estréia em sua programação o filme Huckabees – A Vida É uma Comédia (I Heart Huckabees, 2004), filme de David O'Russell incrivelmente não estreado no país. Estrelado por Isabelle Huppert, Jason Schwartzman, Dustin Hoffman, Lily Tomlin, Jude Law, Mark Wahlberg e Naomi Watts, o filme ganhou crítica na Contracampo quando de seu lançamento em DVD e VHS. Você pode lê-la aqui. Pela homenagem a Nelson Dantas, o Canal Brasil exibe às 20:00 O Casamento, de Arnaldo Jabor.
Dia 30/03
É curioso como a Eurochannel ainda mantém a mesma Sessão Nostalgia, exibindo dois filmes de um grande diretor da história do cinema na última quinta-feira de cada mês. A idéia seria ótima, não fossem os mesmos nomes repetidos à exaustão: Federico Fellini, Luchino Visconti, Claude Chabrol, Vittorio de Sica, Michelangelo Antonioni... e Alain Resnais, que terá tanto Meu Tio da América (Mon Oncle d'Amérique, 1980) quanto A Vida É um Romance (La Vie est un roman, 1983) exibidos nesta quinta, respectivamente às 22:30 e 00:30. Tudo bem que não são filmes pra lá de badalados, que apresentam uma certa dificuldade em ser exibidos, e que essa quinta-feira é especificamente mais especial do que as outras. Mas não poderia haver Sessões Nostalgia dedicadas a cineastas igualmente importantes como Michael Powell, François Truffaut, Eric Rohmer, Robert Bresson, Valerio Zurlini, Hans Jürgen-Syberberg, Rainer Werner Fassbinder, Fritz Lang, Ken Russell, Werner Herzog, F. W. Murnau, Alexander Kluge, Jacques Tati, Georges Franju, entre outros? Enquanto isso, no Canal Brasil, a homenagem a Nelson Dantas aumenta consideravelmente de nível no meio do percurso e exibe Vai Trabalhar Vagabundo (1973), primeiro longa-metragem de Hugo Carvana, mais importante ator-diretor (já que falávamos disso) do cinema brasileiro.
Dia 31/03
À meia-noite de sexta-feira para sábado, o Eurochannel exibe, em seu quadro dedicado ao cinema independente britânico (como se lá houvesse grandes estúdios), o filme AKA (idem, 2002), dirigido pelo anônimo Duncan Roy. O filme é apresentado em split-screen, e o espectador tem que se revezar para acompanhar automaticamente os dois campos visuais e o que acontece neles. Antes dele, Mike Figgis fez o experimento Time Code, em quatro telas simultâneas, só que o filme não vai mais além de uma curiosidade. Resta saber se AKA consegue ir além disso. No último dia dedicado à lembrança do ator Nelson Dantas, o Canal Brasil passa às 20:00 Bar Esperança (1983), novamente dirigido por Hugo Carvana e possivelmente o melhor filme do diretor. Quanto a Nelson Dantas, sente-se muito a falta de O Viajante, uma das interpretações mais fortes de sua carreira, com um diretor, Paulo Cezar Saraceni, com quem ele trabalhou em três ocasiões (além deste, Capitu e A Casa Assassinada). Em todo caso, dois filmes de Hugo Carvana sendo exibidos de um dia para outro não é exatamente uma ocasião para reclamar disso.
Dia 01/04
É possível assistir a um filme de aventura e ação chamado Sahara (2005) e estrelado por Matthew McConaughey? A maioria das pessoas de bom senso responderia que não, mas como o bom senso não é tão bem partilhado quanto Descartes imaginava, taí ele sendo exibido como o grande destaque da semana no Telecine Premium, estreando às 22:00. Escolhe bem que decidir-se pela HBO uma hora antes, pois às 21:00 ela passa Os Incríveis (2004), último furacão da Pixar a passar pelo país (Cars, de John Lasseter, deve estar aparecendo em breve), e um dos poucos filmes de animação americanos dos últimos anos que não se deve deixar passar. Mas o grande destaque do dia mesmo é o programa Retratos Brasileiros dedicado A Marília Pêra, que o Canal Brasil passa às 17:30, e o filme que passa em seguida, O Homem Que Comprou o Mundo (1968), primeiro longa de ficção de Eduardo Coutinho, estrelado por Flávio Migliaccio e Marília Pêra.Da mesma forma, talvez a melhor escolha para um filme em que a atriz está eternizada seria O Viajante, de Saraceni, ou a sugestão mais óbvia, Pixote de Hector Babenco.
Dia 02/04
Por fim, dois clássicos que volta e meia acabam passando aqui e acolá, de dois grandes estilistas e perfeccionistas do plano cinematográfico. Às 16:40, o Cinemax Prime exibe Desejo Humano (Human Desire, 1954), adaptação de A Besta Humana de Émile Zola estrelada por Glenn Ford e Gloria Graheme, que tinham acabado de ser o casal maldito de Os Corruptos (The Big Heat) no ano anterior. O filme não é tão forte quanto o anterior, ou quanto a adaptação de Jean Renoir, mas merece tranqüilamente ser visto. Mais à noite, às 22:00, o Film & Arts exibe Carrie, a Estranha (Carrie, 1976), um dos mais importantes filmes de Brian De Palma, e um dos mais impressionantes retratos de high school na história do cinema americano, além, claro, de uma das seqüências mais perfeitas de todo cinema do diretor: o baile de formatura, espécie de declaração de princípios de que a arte é sobretudo artifício e utilização do espaço cinematográfico.
Dia 03/04
Mais uma vez, a principal atração da segunda-feira pertence à mostra semanal dos filmes de Mazzaropi. Desta vez, o Canal Brasil apresenta Betão Ronca Ferro (1970), título-paródia da célebre novela Beto Rockfeller e primeira aparição de Pio Zamuner, então diretor de fotografia (função que continuou exercendo posteriormente), na direção. Ao longo dos anos 70, Zamuner foi parceiro fiel dos filmes de Mazzaropi. Aqui, ele assina esse filme junto com Geraldo Afonso Miranda – também estreante neste filme –, que faria carreira no Rio, dirigindo comédias eróticas. O filme passa às 22:35. Um pouco antes disso, o Cinemax exibe às 22:00 Naqoyqatsi, terceiro filme da trilogia de Godfrey Reggio com imagens abstratas e música de Phillip Glass. Esses filmes costumam ser cultuados por uma parte das hordas cinéfilas, mas é difícil entender
o porquê. Eles são o mais próximo do que o cinema já chegou da nefasta arte new age, com seu pseudo-hippismo de consumo, ares de arte cult e um resultado que não passa de afetado passando por criativo. Em todo caso, é estréia e não é um filme muito fácil de se ter acesso.
Dia 04/04
Outro tipo de estréia "o filme é uma abominação, mas está estreando e tem algum tipo de interesse, então...". Trata-se de O Pesadelo de Darwin (Darwin's Nightmare, 2004), documentário de Hubert Sauper sobre a exploração e conseqüente destruição ambiental e econômica de uma cidade da Tasmânia pela industrialização da perca, um peixe que depreda todo o ecossistema dos lagos em que vive. Narrado assim, parece um libelo ecológico e contra o capitalismo corporativo em alta escala, sobretudo porque o filme faz questão de mostrar como as ajudas dos órgãos mundiais não surtem o mínimo efeito nessa exploração destruidora. Mas o filme tem uma forma de se construir que se molda prêt-à-porter para aquele olhar europeu pronto a se indignar com qualquer coisa sobre o Terceiro Mundo. Miserabilismo à vontade, visão exoticizante e ainda por cima auto-promoção humanitária quando o diretor se gaba de não mostrar uma cena relativa à morte de uma prostituta (esse uso promocional do "não-mostrar" como lição ética autoproclamada). Em todo caso, o filme estréia na HBO às 21:00. Para quem quiser fugir, sempre há opções: a eventual exibição de Enigma do Poder (New Rose Hotel, 1997), de Abel Ferrara, na AXN, e a reestréia de Horizonte Perdido (Lost Horizon, 1937), de Frank Capra, no Cinemax Prime, às 21:30.
Dia 05/04
A maior atração do dia não é um longa-metragem, mas um curta: B2 (2002), filme que Rogério Sganzerla montou a partir de sobras de O Bandido da Luz Vermelha, seu longa de estréia. Encomendado para a mostra Cinema Marginal e Suas Fronteiras, o filme tem colaboração de Sylvio Renoldi (creditado como co-diretor por Mr. Sganz) e conta, entre outras coisas, com imagens de um show de Gal Costa, mas sem o áudio. É a primeira exibição desse filme na televisão, então é melhor ficar esperto. Ainda mais porque tem mais Sganzerla na semana... O filme passa às 19:30 no Canal Brasil. Mais à noite, às 23:00, o Cinemax exibe Chris Rock: Sem Medo (Chris Rock: Never Scared, 2004), dirigido por Joel Gallen. O filme é basicamente um show de humor de Chris Rock, terreno em que ele geralmente consegue ser mais interessante do que interpretando personagens.
Dia 06/04
Numa semana em que nem a rede Telecine nem a TV5 apresenta atrações dignas desse nome, a quinta-feira anda bem morna. Assim como o programa Brasil Cult, que em seu começo trouxe novos filmes à programação do Canal Brasil e agora fica simplesmente regurgitando aquilo que já estreou na programação anteriormente e geralmente aparece, mesmo que de dois em dois meses ou algo do tipo. O filme do dia, em todo caso, é ilustre: A Noite do Espantalho (1974), de Sérgio Ricardo, estrelado por Alceu Valença e Geraldo Azevedo, fotografado por Dib Lutfi (irmão de Sérgio Ricardo), montado por Sylvio Renoldi e com mãos de Maurice Capovilla e Jean-Claude Bernardet no roteiro. Às 22:35, como sempre.
Dia 07/04
Muito se fala da renovação do cinema alemão, a partir de diretores como Tom Tykwer, Wolfgang Becker e Fatih Akin. E, embora os três (e mais alguns) demonstrem eficiência técnica e narrativa, é patente a falta de uma densidade maior no trato da imagem, uma rendição meio triste ao cinema "de mercado" que curiosamente lembra o próprio cinema brasileiro corrente (embora ele nos pareça mais estagnado que corrente). Em 1997, Tykwer e Becker assinaram um roteiro, que foi dirigido só por Becker. É A Vida É Tudo o Que Temos (Das Leben ist eine Baustelle, 1997), que o Eurochannel estréia às 22:00. Pode ser que não seja grande coisa, mas ao menos o Eurochannel faz seu papel, que é o de nos familiarizar com a produção cinematográfica dos países europeus. Outro filme que se enquadra no "pode ser que não seja grande coisa..." é Os Quatro Filhos de Adão (Adam Had Four Sons, 1941), filme do diretor genérico Gregory Ratoff estrelado por três pesos pesados da icnonografia feminina em Hollywood: Ingrid Bergman, Susan Hayward e Fay Wray. O filme passa no Cinemax Prime às 09:45.
Dia 08/04
Dois pesos pesados da empulhação no duelo de titãs para ver quem domina o horário nobre do sábado à noite. Na HBO, estréia Closer – Perto Demais (Closer, 2004), filme em que Mike Nichols tenta traçar o quadro de um quadrilátero amoroso mas acaba caindo na própria teia de relações que deveria filmar e faz simplesmente um teatrinho filmado com cenários chiques e situações afetadas, curiosamente deixando a personagem de Natalie Portman como um peixe fora d'água no meio de tanta empáfia. Como Ponto Final, Closer quer ganhar quando envolve os personagens no glamour de um estilo de vida e também quer ganhar quando se trata de dizer que esse estilo de vida é vazio. Consegue no máximo o prêmio de cara-de-pau. Já Código 46 (Code 46, 2004) é a mesma mediocridade assinada por Michael Winterbottom: um arremedo de forma que é diferente o suficiente para os menos escolados acharem ousado e algum tema quente para fazer as hordas alternativas criarem fila para ver o filme. Dir-se-ia um Soderbergh do outro lado do Atântico? Pode até ser, mas descontando o fato de que Soderbergh tem alguns filmes bons, ao contrário de Winterbottom, cujo talento está mais próximo de outro Berg: Vinterberg. Assim, o caminho fica muito livre para recomendarmos o melhor filme brasileiro dos últimos anos: O Signo do Caos (2003), de Rogério Sganzerla. Lançado ano passado, quase dois anos depois de sua morte, o filme teve uma recepção de público muito além do que o filme merecia, mas talvez isso seja mesmo o resultado da maldição do cinema brasileiro à qual o próprio Sganzerla se referia várias vezes, em entrevistas, em textos e inclusive nos filmes. O Signo do Caos passa às 23:00 no Canal Brasil, na seção "Seleção Brasileira": finalmente um filme que justifica o nome que a seção ostenta!
Dia 09/04
Por fim, será que o cinema independente americano ainda tem futuro? No que depender de Dandelion (idem, 2004), parece que não. O filme apenas repete uma série de procedimentos e temas sobre jovens cheios de sensibilidade e dificuldades de enfrentar a vida, daquela maneira completamente clichezada que a gente está acostumado depois de assistir a uma infinidade de filmes e de algumas séries que tentaram copiar o clima (a mais famosa é Dawson's Creek). Podem dizer que é simples falta de criatividade, mas também pode-se creditar isso ao grande mal que J. D. Salinger fez na cabeça dos jovens com seu O Apanhador no Campo de Centeio, que acabou se tornando uma espécie de bíblia alternativa de jovens tímidos e sensíveis. Burp! Dirigido por Mark Milgard, Dandelion passa na Cinemax às 22:00.

Dia 10/04
Com o fim dos canais dedicados exclusivamente à produção dos anos 60 para trás, como Telecine Classic e a RetrôTV
, o panorama daquilo que se chama geralmente "filmes antigos" mingua definitivamente e a exibição de filmes de destaque torna-se cada vez mais rarefeita. É uma pena, porque nenhum dos canais que existem hoje nas principais redes de tv a cabo consegue criar uma diversidade de alto padrão em sua produção, meramente jogando seus filmes na programação. Mesmo os canais que ainda exibem filmes "velhos" não o fazem com um padrão de qualidade interessante. Em alguns anos, saímos de um panorama excelente para uma panelinha triste,que por vezes até questiona a validade de uma coluna semanal sobre filmes da semana, quando os destaques semanais poderiam ser apenas uns três ou quatro filmes, por vezes no mesmo dia. Mas, bom, o trabalho é esse e gostamos de fazê-lo. Se não é motivo para soltar fogos, é pelo menos simpática a estréia de O Papai Playboy (The Pleasure of His Company, 1961), de George Seaton, na programação do Telecine Cult, às 22:00. Se Seaton é uma dessas figuras totalmente anônimas no que diz respeito a estilo, ao menos o filme é protagonizado por Fred Astaire e Debbie Reynolds, e cativa pelo magnetismo de suas estrelas. Mais tarde, no Telecine Premium, estréia Adorável Julia (Being Julia, 2004), versão do livro de Somerset Maugham dirigida por Istvan Szabó. Szabó teve seu nome alçado à condição de diretor cultuado nos anos 80, quando fez Mephisto e Coronel Redl, tornando-se o diretor mais famoso da Hungria depois de Miklos Jancsó. Seu trabalho foi se tornando cada vez mais insosso com o passar dos anos, e o academicismo já percebido em seus trabalhos mais celebrados assume dimensões enormes, como no vergonhoso Sunshine. Talvez a pompa de uma ficção literária de época como Adorável Júlia se preste mais à seara do diretor. A conferir às 22:00. Já no Canal Brasil, às 22:35, continua a homenagem a Amácio Mazaroppi, desta vez com O Jeca Macumbeiro (1975), direção de Pio Zamuner e Mazaroppi. O filme foi a maior renda do ano de 1975, com 2,5 milhões de espectadores.
Dia 11/04
Tudo Sobre Minha Mãe (Todo sobre mi madre, 1999), um dos mais belos filmes de Pedro Almodóvar, entra na programação do Telecine Cult às 22:00. Seu novo filme, Volver, acaba de ser exibido em pré-estréia na Espanha, mas aqui provavelmente só poderemos vê-lo na época dos festivais. Mas o destaque do dia é bem mais raro e pouco visto. Trata-se da dupla de filmes de curta-metragem que Ivan Cardoso fez sobre a obra de Helio Oiticica, HO (1980) e Heliorama (2003), que passam no Canal Brasil às 14:30 e às 14:45, respectivamente. Ótima oportunidade para se familiarizar com um dos maiores nomes do filme curto brasileiro, formato em que fez possivelmente o melhor de sua produção. Seria conveniente exibir, junto com esses dois, aquele que possivelmente é seu trabalho mais vigoroso, À Meia-Noite com Glauber (1997), onde Oiticica se mescla com Glauber Rocha e Zé do Caixão para produzir uma figura híbrida da vanguarda brasileira. Se Heliorama não apresenta grandes desafios, em contrapartida HO é puro esplendor e talento.
Dia 12/04
Num dia sem nenhuma atração particularmente interessante, o jeito é destacar uma comédia dirigida por um realizador que fez carreira no gênero, Arthur Hiller, mas que ficou mais conhecido não por seu talento, mas por ter feito o chorador Love Story e por ter sido presidente da Academia (sim, aquela que concede o Oscar) na década de 90. Em todo caso, Particularidades do Casamento (Married to It, 1991) tem ao menos um casting curioso, com Stockhard Channing, Cybill Shepherd, Beau Bridges e Mary Stuart Masterson, entre outros. O filme estréia na programação do Telecine Emotion às 20:00.
Dia 13/04
Já viu Sonatine? Naturalmente o filme que entrou para a nossa memória foi o de Takeshi Kitano, de 1994. Mas dez anos antes, a atriz e diretora Micheline Lanctôt realizou um filme com esse nome, e com ele ganhou o prêmio para melhor diretor estreante no Festival de Veneza (o equivalente ao Caméra d'or de Cannes). O filme ficou relativamente esquecido por bastante tempo e eis que agora a TV5 faz uma exibição às 20:30. No mínimo uma curiosidade, no máximo uma pepita esquecida pelo tempo. Vale "dar uma conferida", como diria um personagem de Pedro Cardoso. Depois disso, muito mais confiável é passar para o Canal Brasil e assistir a Lúcia McCartney, uma Garota de Programa (1971), segundo longa-metragem de David Neves, que a seção Brasil Cult exibe às 22:35.
Dia 14/04
Mais um dia em que temos que improvisar os destaques, já que não há nada que faça abrir os olhos passando ou estreando. Por um Triz (Out of Time, 2003), de Carl Franklin, é um dos poucos casos recentes de um thriller que responde a todos os desafios que o gênero coloca, mas responde com estilo e inteligência meio incomuns no cinema de hoje. Precisamos esperar ansiosamente por um 24 Horas ou um O Plano Perfeito para reavivar esse gosto particular. E isso, o filme de Carl Franklin faz com mestria. Para quem não acredita, é só ligar no Telecine Action às 20:00. Quase no mesmo horário, às 20:10, passa Um Encontro com Seu Ídolo! (Win a Date with Tad Hamilton!, 2004), no Telecine Premium. O filme é dirigido por Robert Luketic, que, se não tem um currículo invejável, ao menos dirigiu um eficiente e simpaticíssimo veículo de Reese Witherspoon, o primeiro Legalmente Loira (2001). Aqui, ele não tem Reese, mas a muito menos expressiva Kate Bosworth, mas quem sabe a eficiência possa apresentar índices semelhantes...
Dia 15/04
Parece que HBO e Telecine Premium combinaram de fazer deste fim-de-semana uma espécie de férias para o espectador, já que a primeira lança às 21:00 Dirty Dancing 2: Noites de Havana e a segunda lança às 22:00 Wimbledon: O Jogo do Amor. Tem níveis em que não dá para escolher o menos pior. Ou então, talvez o menos pior seja Encontro com Vênus (Meeting Venus, 1992), do mesmo Istvan Szabó que comentávamos no começo. O filme passa às 21:30 no Cinemax Prime. Se, como diz a canção, todo mundo espera alguma coisa de um sábado à noite, nessa semana a data fornece algo próximo de uma frustração total...
Dia 16/04
Por fim, o Cinemax começa a monopolizar as atrações inéditas no domingo, com filmes que, se não são essenciais ou imperdíveis, ao menos dão um gás novo aos lançamentos de filmes recentes que não são blockbusters, ou seja, independentes americanos (como em Dandelion na semana passada) ou de outras cinematografias (como é o caso agora). Borboleta Púrpura (Zi hudie, 2003), dirigido por Lou Ye, não é o que se esperava de seu diretor depois do singelo e cativante Rio Suzhou. A grandiosidade da produção e os tons de romance histórico água-com-açúcar mostra, sim, que o diretor tem estilo, mas dessa vez ele se entrega a uma assinatura que elimina os toques pessoais e ousados de seu filme anterior, em prol de uma obra oficial (já que sweu filme anterior foi feito de forma clandestina) não só nas autorizações, mas na forma. Em todo caso, a pompa do filme cria alguns belos momentos de romance e cor que podem lembrar um ou outro do cinema de um David Lean. Aliás, no filme inteiro, Lou está mais para um lean do que para um Zeffirelli. O filme estréia na programação do Cinemax às 22:00.

Dia 17/04
A boa notícia da semana é que as estréias voltam a aparecer nas programações dos canais, sobretudo os da rede Telecine. Se em geral os filmes que estréiam não são decisivos ou incrivelmente raros, ao menos eles imprimem uma arejada necessária às grades de programação – e enchem essa coluna do que falar. A novidade desta segunda-feira é a volta do saudoso programa Canal 100, antigo cinejornal poético sobre esportes que freqüentou por anos e anos as salas de cinema antes do longa-metragem. Agora, a série ressurge no Canal Brasil, com um episódio de estréia comentado pelo crítico e pesquisador Muniz Sodré, às 19:15. Resta saber se o novo Canal 100 manterá o frescor de seus áureos tempos ou será apenas o pálido produto nostálgico que ressurgiu nos anos 90, numa tentativa frustrada de fazer renascer o formato. Mais à noite, novamente temos Amácio Mazzaropi com suas aventuras do Jeca. Às 22:35, passa O Jeca Contra o Capeta (1976), dirigido por Pio Zamuner e pelo próprio Mazaroppi. O filme é uma paró
dia a O Exorcista, o famoso filem de William Friedkin, e participa de um momento bem prolífico dos anos 70 que reeditava aquele da chanchada metalingüística de um Carlos Manga, debochando à moda tupiniquim dos sucessos americanos. Vale a pena lembrar que Mazzaropi é uma das figuras mais bem representadas do cinema brasileiro em termos de internet, com um enorme site dedicado à sus obra, www.museumazzaropi.com.br. Nele, por exemplo, se encontra um excelente texto escrito por Zulmira R. Tavares sobre O Jeca Contra o Capeta, aqui. Quem diria, a fortuna crítica de Mazzaropi está mais disponível do que a de Nelson Pereira dos Santos, Humberto Mauro, e em certa medida até Glauber Rocha...
Dia 18/04
Começou no dia 16 o Cine PE, certamente o mais importante festival de cinema brasileiro depois da tradicional dupla Gramado-Brasília. E já desde a semana passada o Canal Brasil vem passando em sua programação alguns dos filmes que foram lá exibidos e premiados nos últimos anos. Nada tão especial assim, mas nesta terça-feira passa Vinil Verde (2004), um dos melhores filmes da safra recente de curtas-metragens brasileiros. O filme é dirigido por Kléber Mendonça Filho, crítico do Jornal do Commercio de Pernambuco e do site Cinemascópio, e conhecido dos leitores da Contracampo por participar do quadro de cotações da revista. mas recomendar o filme não é brodagem nenhuma, porque o filme tem o ritmo e o vigor que apenas uma parte ínfima da produção audiovisual brasileira tem. Basta conferir, às 20:00. Mais tarde, às 22:00, no Telecine Cult, estréia Zelary (idem, 2003), filme da República Tcheca dirigido por Ondrej Trojan que concorreu ao Oscar de melhor filme estrangeiro. O que se espera é o mesmo dos filmes que volta e meia aparecem no Oscar: produção cara e esmerada, mensagem de bravura e esperança diante da ameaça (invariavelmente o nazismo), e uma certa qualidade de "suplemento de alma" que geralmente os americanos pedem das produções "estrangeiras" mas não da própria. Em todo caso, trata-se de um filme que não entrou em cartaz, não veio para os festivais, e que tem sua chance de ser descoberto por fãs do gênero na tv a cabo mesmo. Faz parte.
Dia 19/04
Monica Vitti é imediatamente reconhecida como atriz de Michelangelo Antonioni na primeira metade dos anos 60, culminando com o magnânimo Deserto Vermelho/O Dilema de uma Vida, que volta e meia o Eurochannel reprisa. Mas, posteriormente, ela estreou em filmes de inclinação pop, que faziam dela uma espécie de figura pop inimaginável na densidade psicológica dos personagens angustiados de Antonioni. Filmes como A Moça com a Pistola e, sobretudo, Modesty Blaise (a famosa personagem dos quadrinhos, levada às telas por Joseph Losey), fizeram essa passagem, assim como A Dama Escarlate (La Femme écarlatte, 1968), filme dirigido por Jean Valère e roteirizado por Paul Gégauff, um dos parceiros mais célebres de Claude Chabrol àquele momento. Quem passa é o Eurochannel, às 22:00. Em seguida, veremos a enésima reprise de As Corças (Les Biches, 1968), filme de Claude Chabrol do mesmo ano, também roteirizado por Gégauff, mas dessa vez a musa-cult que aparece na frente da tela é Stéphane Audran. À meia-noite. Obrigatório para quem (ainda) não viu.
Dia 20/04
Muitas atrações nesta quinta-feira gorda véspera de feriado de Tiradentes. Uma das mais interessantes vem da TV5, que estava devendo coisas interessantes em sua programação desde que parou de exibir os quatro filmes de Rohmer do ciclo que fez. Nô (idem, 1998) é o terceiro longa-metragem de Robert Lepage, mais famoso por seu trabalho de diretor teatral do que pelo ofício de cineasta. A julgar por A Face Oculta da Lua, seu filme mais recente (2003), não há muitos motivos para torná-lo célebre. Mas não é sempre que um de seus filmes se torna tão disponível. Passa às 20:25. Já na rede Telecine, estréiam dois filmes no Cult (Can-Can, de Walter Lang, às 19:30, e O Mundo Perdido, de Irwin Allen, às 22:00 – ambos são de 1960) e um no Premium, Kinsey (2004), dirigido por Bill Condon, às 22:00. Condon não é um cineasta com uma pegada de grande artista, mas seus filmes têm uma delicadeza no tratamento dos sentimentos que o diferencia tanto da produção genérica de Hollywood quanto da produção independente exibida no Sundance (tão ou mais genérica do que a de Hollywood). Kinsey, junto com Deuses e Monstros anteriormente, não são grandes filmes, mas são retratos contundentes sobre convivência e sexualidade, bem mais do que a tão propalada sensibilidade de um filme bem convencional como O Segredo de Brokeback Mountain. Mas o grande destaque do dia fica para A Grande Feira (1961), marco do ciclo baiano do cinema novo, que o Canal Brasil passa às 22:35 na seção Brasil Cult. Dirigido por Roberto Pires, o filme conta em seu elenco com duas musas do período, Luiza Maranhão e Helena Ignez. Pode não ser nenhuma estréia, mas é certamente o filme obrigatório do dia.
Dia 21/04
Mais estréias do Telecine Cult nessa sexta-feira: A Rainha Tirana (The Virgin Queen, 1955), de Henry Koster, às 19:30, e A Difícil Arte de Amar (Heartburn, 1986), de Mike Nichols, às 22:00. No primeiro, o maior interesse é Bette Davis, e, no segundo, o famoso talento de Mike Nichols em trabalhar com os atores, que neste filme são Meryl Streep e Jack Nicholson. Mas talvez a maior atração do dia seja um documentário obscuro chamado Touch the Sound (2004), dirigido por Thomas Riedelsheimer. O filme recebeu uma tradução porca em português, "Sinta o Som", que não dá conta da natureza de sua protagonista, Evelyn Glennie, que ficou surda aos 12 anos e produz música percussiva a partir do toque. Entre os músicos que participam do filme se destaca Fred Frith, figura decisiva no panorama da música experimental dos últimos 30 anos. O filme passa às 22:00 no Cinemax.
Dia 22/04
E finalmente um fim-de-semana com grandes destaques. Aproveitando que o Telecine Premium lança O Vôo da Fênix (The Flight of the Phoenix, 2004, dir. John Moore) às 22:00, o Telecine Cult exibe o filme original, dirigido por Robert Aldrich em 1965, às 19:30. Ótima dobradinha e uma excelente oportunidade para renovar contato com esse filme, indisponível no Brasil, e com um grande cineasta infelizmente esquecido por grande parte do público cinéfilo. Às 22:00, passa Drugstore Cowboy (idem, 1989), filme que tornou Gus Van Sant famoso. Com Van Sant, se dá o fenômeno oposto. Queridinho do público alternativo no começo de carreira, o diretor saiu do radar de grande parte da imprensa internacional ao longo da década de 90 para retornar apenas quando Elefante (2003) ganhou a Palma de Ouro em Cannes. Duas faces de uma mesma moeda: Aldrich era o queridinho dos anos 50, e Kiss Me Deadly figurava nas listas de todo mundo...
Dia 23/04
Falando em Henry Koster, o Telecine Cult estréia em sua programação O Manto Sagrado (The Robe, 1953), filme que se tornou famoso não por seu diretor ou por sua excelência técnica e/ou artística, mas pelo fato de ter sido o primeiro filme feito em CinemaScope a chegar nas salas de cinema (na verdade, é o segundo filme feito em CinemaScope, o primeiro tendo sido considerado tecnicamente insuficiente pelo próprio estúdio da Fox e nunca tendo tido exibição). Será que o Telecine Cult vai respeitar o formato original em 1:2,55 que tornou o filme lendário? A resposta estará visível na tela às 12:30. Mas o grande destaque do dia é O Pistoleiro (The Stranger Wore a Gun, 1953), filme de André de Toth com Randolph Scott e vários extras distintivos (Lee Marvin, Ernest Borgnine). O filme foi originalmente feito em 3D, o que invariavelmente se perde quando o filme vai para a televisão, mas ainda assim resta a sensibilidade flagrante de de Toth para flagrar um mundo sujo em que a violência sai dos gestos dos personagens e das ações e é dirigida, pelo estilo, direto ao espectador. Quem viu uma pérola como Crime Wave, um dos melhores filmes dos anos 50, sabe disso perfeitamente. O Pistoleiro não carrega a fama dos melhores filmes de André de Toth, mas considerando sua quase invisibilidade no mundo inteiro, é um filme a não se perder de forma alguma. Quem exibe é o Cinemax Prime, às 21:30.

Dia 24/04
Continuando a saga semanal de filmes de Mazzaropi, o Canal Brasil exibe Jecão... Um Fofoqueiro no Céu (1976), direção de Pio Zamuer e do próprio Amácio Mazzaroppi. No filme, o Jeca ganha na loteria esportiva e entra em conflito com o fazendeiro da região, que quer tirar-lhe o dinheiro. Numa das tentativas, Jecão é assassinado, mas engana os anjos e desce de volta à Terra para proetger sua família e colocar o assassino atrás das grades. Com apenas meio milhão de espectadores, não foi um dos grandes sucessos do ator-diretor-produtor, que vinha de grandes êxitos de 2,3 milhões de espectadores registrados. Passa às 23:35. Mais à noite, Marco Altberg seleciona A Lenda de Ubirajara (1976), segundo longa-metragem de André Luiz Oliveira – o primeiro é o mítico Meteorango Kid, Herói Intergalático –, para o Cineclube do canal, às 02:15.
Dia 25/04
Aproveitando que Clube da Lua está aí nos cinemas, o Telecine Cult exibe O Mesmo Amor, a Mesma Chuva (El mismo amor, la misma lluvia, 1999), primeira colaboração entre o diretor Juan José Campanella – que se divide entre dirigir filmes argentinos e seriados americanos como Law and Order – e o ator Ricardo Darín, um trabalho conjunto que dera antes o eficiente e lacrimejante O Filho da Noiva (2001), muito bem-sucedido entre o público cult do Rio e de São Paulo. O filme passa às 22:00. Mas o verdadeiro destaque do dia é A Condessa de Hong Kong (A Countess from Hong Kong, 1967), que o Film & Arts passa às 20:00. Último filme de Charles Chaplin, A Condessa... fecha um ciclo de vinte anos de incompreensão e comparações inapropriadas com as obras anteriores de seu realizador. como uma série de grandes realizadores que pertenceram intimamente à moda da época e se desligaram dela, o desprezo e a facilidade de se livrar da obra sem um maior cuidado é impressionante, e só torna a visão desses filmes em algo mais necessário e emocionante.
Dia 26/04
Novamente Marco Altberg seleciona outra pérola obscurecida da década de 70. Dessa vez, é Perdida, uma Mulher da Vida (1976), de Carlos Alberto Prates Correia. Prates teve uma carreira sólida nos anos 70 e 80, com direito a prêmios nos principais festivais nacionais, mas fazendo filmes que estavam longe do convencional e apresentando uma estética nada consensual. Infelizmente, ele não consegue rodar nada desde Minas Texas, ou seja, há 17 anos, enquanto tantos outros empulhadores sem talento têm livre acesso a nosso mercado cinematográfico. É como as coisas funcionam. Independente disso, resta o esplendor de Perdida, possivelmente o melhor filme de Prates Correia, que brilha acima de toda a laia. O filme passa às 22:35.
Dia 27/04
A Noite Nostalgia do Eurochannel, que acontece a cada última quinta-feira do mês, desta vez não é dedicada a um cineasta, mas a uma atriz. Não qualquer atriz, mas uma das mais preciosas, belas e talentosas estrelas do cinema, Claudia Cardinale. Nessa dose dupla, o primeiro filme é A Moça com a Valise (La ragazza con la valigia, 1961), de Valerio Zurlini, já destacado aqui mais cedo neste ano. Em seguida, o canal passa um filme ainda inédito em sua programação, A Tenda Vermelha (Krasnaya palatka, 1971), dirigido por Mikhail Kalatozov, realizador soviético famoso por ter feito Soy Cuba e Onde Voam as Cegonhas. A Tenda Vermelha é o último filme do diretor, e uma co-produção entre União Soviética e Itália, co-estrelada por Sean Connery, com uma versão original de 3h15 e uma versão
internacional, explorada comercialmente, de 2h01, e é essa, infelizmente, que o canal vai exibir. Ainda assim, seja pelo diretor, pela atriz, pelo ator, e pela peculiaridade do projeto, é um filme digno de não se perder (Há também de se mencionar que o filme foi rodado no curioso processo Sovoscope 70, um Scope soviético, com um formato de 1:2,20, para depois ser reformatado em 35mm e 1:1,66). A Moça com a Valise, um Zurlini obrigatório, passa às 22:30, e A Tenda Vermelha, um raro Kalatozov (ou Kalatozishvili, como prefere o IMDb), à 00:30. Nos outros canais, temos o Telecine Cult estreando Lili, Minha Adorável Espiã (Darling Lili, 1971), notório e controverso filme de Blake Edwards, em que o diretor brigou com o estúdio pelo corte final e, anos depois, lançou uma versão "director's cut" inabitualmente reduzida no tamanho em cerca de meia-hora. A versão que o TCC exibe também não é considerada a versão "do diretor", mas a do estúdio. Fechando um dia cheio, vale a menção de Caingangue – A Pontaria do Diabo (1973), filme de Carlos Hugo Christensen que ocupa a seção Brasil Cult. Faroeste brasileiro, tentando entrar na onda dos filmes italianos, o filme é mais uma incursão de Christensen numa área que ele quase sempre habitou, a do gênero estiloso, tentando misturar os gêneros que trabalhava com um toque mais ornamental, só que infelizmente sem a abstração genial de figuras como Seijun Suzuki, Jean-Pierre Melville e, claro, Sergio Leone. O filme passa às 22:35.
Dia 28/04
Num dia sem maiores atrativos para ficar em casa em frente à televisão à espera de bons filmes na programação a cabo, aparece uma curiosidade que, no mínimo, diz respeito a um belo filme de um grande autor, Nicholas Ray. Trata-se de Algemas Partidas (Let No Man Write My Epitaph, 1960), filme de Philip Leacock baseado em livro de Willard Motley, e espécie de "continuação" de O Crime Não Compensa (Knock on any Door, 1949), que Ray realizara com Bogart no começo de sua carreira. Se isso não é atrativo o suficiente, basta adicionar que este é o único filme em que você poderá ver ao mesmo tempo Shelley Winters, Jean "New York Herald Tribune" Seberg e a cantora Ella Fitzgerald. Não é a maior das inutilidades. Algemas Partidas passa às 18:30, no Cinemax Prime.
Dia 29/04
Já é comum aparecerem dias de sábado em que a maior atração não é nenhum dos filmes que passam no "horário nobre" de sábado à noite. Mas dessa vez temos atrações de luxo fora dos grandes canais de lançamento, mas também dentro deles. A começar por A Vila (The Village, 2004), um dos grandes filmes feitos nessa década até agora, que a HBO exibe às 21:00. O filme assume uma relação quase terrorista com seu espectador, mostrando um suspense que se realiza lá pela metade do filme e, em seguida, nos fazendo acompanhar uma fábula política muito mais pungente, a necessidade (ou não) do isolacionismo para criar uma sociedade sã e não-violenta. Mensagem que atinge diretamente os EUA e sua política externa, mas também atinge intimamente a natureza das relações entre dentro e fora, em nível individual, familiar, profissional, etc. Ao invés de criar um mostro que está do lado de fora, talvez seja sempre olhar para o evil within, como dizem os americanos. Enquanto isso, o Telecine Premium estréia um filme que está entre "aqueles que não podemos mencionar", mas no Telecine Cult teremos uma dose dupla de Jet Li e um dos mais belos filmes de Spike Lee, Crooklyn – Uma Família de Pernas pro Ar (Crooklyn, 1994), este último às 22:00. Mais cedo, passa Nascido para Vencer (Zhong hua ying xiong, 1986), único filme dirigido por Jet Li até a presente data. O filme não conta entre os filmes mais celebrados pelos fãs do ator ou do gênero, mas vale como uma curiosidade. Já O Mestre (Long xing tian xia, 1989) é o primeiro trabalho de colaboração entre Tsui Hark como diretor e Jet Li como protagonista, o que iria culminar na épica saga de Wong Fei-Hung com os seis episódios de Era uma Vez na China (sendo que Tsui dirigiu apenas os três primeiros). Como todo filme de Tsui Hark, é um filme para se ver pela incrível agilidade da montagem que por várias vezes ultrapassa nosso entendimento (mas não é feita apenas para parecer "dinâmica", como a maioria). Então, vamos de programa triplo para o sábado: Nascido para Vencer às 18:30, O Mestre às 20:15 e Crooklyn às 22:00.
Dia 30/04
Das quatro versões cinematográficas de O Grande Gatsby, nenhuma delas ganhou voga suficiente para fazer parte da memória do cinema mundial. Aliás, a própria carreira de Scott Fitzgerald em Hollywood, como colaborador não-creditado em uma série de filmes ao longo dos anos 30, tampouco deu obras que ficaram na memória das multidões ou dos círculos cinéfilos (à exceção talvez de The Women, de George Cukor [1939], e, claro, de Three Comrades [1938], roteiro assinado por Fitzgerald e dirigido por Frank Borzage). Em todo caso, o Telecine Cult exibe a segunda versão de O Grande Gatsby (The Great Gatsby, 1949), filme dirigido pelo bastante anônimo Elliott Nugent, estrelando Alan Ladd. Uma curiosidade: no Brasil, o filme se chamou Até o Céu Tem Limites. Lírico, não?

Dia 01/05
Raoul Peck aparecera anteriormente com certos filmes políticos, focando especialmente em países africanos (dois filmes sobre Lumuba, por exemplo) e no Haiti (também dois filmes), seu país de origem. Abril Sangrento (Sometimes in April, 2005) é um filme de ficção, mas que tenta trazer à luz de um público mais amplo uma série de informações sobre o genocídio de Ruanda em 1994. O filme passa na HBO às 21:00 e, supõe-se, deve apresentar mais do que um formato ecoturístico de veemência prêt-à-porter como a bobagem que é O Jardineiro Fiel. Já no Canal Brasil, continuando a maratona em homenagem a Mazzaropi, o canal quebra a corrente cronológica e sai da década de 70 para voltar aos anos 50, exibindo Chico Fumaça (1958), dirigido por Victor Lima. Oitavo filme de Mazzaropi, em que nosso herói salva um trem de descarrilar e adquire notoriedade imediata, indo para a cidade grande, transformando-se em pol
ítico e sendo assediado por uma infinidade de mulheres bonitas. O filme passa às 22:35.
Dia 02/05
Para grande parte dos detratores, e até mesmo dos admiradores, de Louis Malle, a parte mais rica de sua filmografia são os documentários. Assim como Werner Herzog, Malle dividiu-se entre ambos, e seus filmes de ficção costumam ser apenas as facetas mais conehcidas de um trabalho mais complexo. A TV5, que já realizou outrora um ciclo com alguns dos documentários de Malle, nos dá uma chance de flagrar o primeiro episódio de uma série que o diretor fez sobre a Índia, L'Inde fantôme, em 1968. O filme passa às 14:20. Mais à noite, o Telecine Cult estréia um filme que, se bobear, ainda está passando em cartaz por algum canto do país. Trata-se de As Chaves de Casa (Le chiavi di casa, 2004), de Gianni Amelio. Cineasta da contenção, resvalando por vezes num academicismo e numa certa entrega à convenção, Amelio é capaz de realizar filmes de uma secura exemplar (Golpe no Coração, sobretudo, mas também As Portas da Justiça ou Lamerica). As Chaves de Casa é bem mais seco do que um filme com essa temática – um pai redescobre depois de anos a possibilidade de amar seu filho com paralisia cerebral – poderia ser, mas ainda assim resvala numa obrigação de estrutura ficcional meio banal, que não faz bem nenhum ao filme (o momento em que o filho some tira o filme do ritmo e não faz com que se ganhe nenhuma tensão; pode-se dizer o mesmo da infame cena de natação em Diários de Motocicleta). Ainda assim, o filme é capaz de algumas cenas bastante fortes, e é dono de uma trilha sonora bela e delicada como não se vê há muito no cinema de circuito comercial. O filme passa às 22:00.
Dia 03/05
Dira Paes, uma das atrizes mais talentosas de sua geração, escolhe A Lira do Delírio (1978) para passar no Canal Brasil nessa quarta-feira, às 22:35. O filme de Walter Lima Jr. participa de um momento de grande vitalidade do cinema brasileiro, em que os diretores preferiam uma urgência que convivia com uma atuação fortemente física por parte dos atores (Ato de Violência, Bar Esperança, Tudo Bem e sobretudo Muito Prazer). Resulta que Walter Lima Jr. fez um de seus filmes mais poderosos, em que a velocidade supera a delicadeza. É também o filme da vida de Anecy Rocha, irmã de Glauber e esposa de WLJr., tragicamente falecida num acidente de elevador. Pena que no cinema brasileiro recente ninguém ainda teve a idéia de dar um papel semelhante para Dira Paes, que ainda pede um grande personagem. Enquanto se distrai com os menores, como em O Casamento de Louise, continua dando de dez e valendo o filme. Mais tarde, no mesmo canal, temos dois filmes de Claudio Cunha passando em seqüência. À 00:30, passa Sábado Alucinante (1979), já comentado nesta tribuna há algum tempo atrás, a respeito de suas peculiaridades geracionais. Em seguida, às 02:20, passa o menos exibido Gosto do Pecado (1980), em que também estrela Simone Carvalho, uma das starlets do começo dos anos 80 e por longa data esposa do diretor, com quem rodou o Brasil inteiro com a peça O Analista de Bagé. Diretor de pérolas como Oh! Rebuceteio e Snuff, Vítimas do Prazer, Claudio Cunha é um dos poucos diretores da pornochanchada que ainda merecem uma reavaliação
à altura de sua obra (considerando que Jean Garret e Ody Fraga, mal ou bem, já têm seu quinhão de respeito)
Dia 04/05
Dupla de estréias no Telecine Cult. A primeira, às 20:00, é O Morro dos Ventos Uivantes (Wuthering Heights, 1939)
, na versão de William Wyler. O filme teve mais de uma dúzia de adaptações para o cinema, passando por diretores importantes, como Luis Buñuel e Jacques Rivette. A versão de Wyler com Laurence Olivier como Heathcliff é a mais famosa de todas, mas de Wyler sabemos esperar toda a pompa e o peso, ainda mais quando se trata de uma obra da literatura universal. Em seguida, às 22:00, passa O Último Tango em Paris (Ultimo tango a Parigi, 1972), de Bernardo Bertolucci, que, tomadas as devidas proporções, bem poderia receber atribuições semelhantes às de Wyler, filtrando uma matriz clássica para uma moderna. Mas o peso na construção, a dramaticidade construída par sentir prazer na privação dos personagens, um ligeiro gosto perverso que é logo devorado pela necessidade de normalidade, isso tudo une esses dois cineastas de maneira pouco previsível mas efetiva. Preferível aos dois é Sem Essa Aranha (1970), um dos petardos lançados por Rogério Sganzerla na Belair para destruir as bases do cinema convencional e explodir por dentro a lógica do "cinema sério" brasileiro. O filme passa na sessão Brasil Cult às 22:30.
Dia 05/05
O Mar por Testemunha (Dead in the Water, 2002) é um filme do brasileiro Gustavo Lipsztein, apenas exibido aqui no país em mostras (para uma crítica do filme, clique aqui). Entre as polêmicas, o fato do filme ter um formato muito próxmo do gênero americano foi a única possível discussão sobre o filme, jogando uma cortina de fumaça para os menores aspectos de construção do filme. Quem sabe a tv a cabo é a oportunidade de travar contato com o filme em outras bases, para bem e para mal. Passa no Cinemax às 22:00. À 00:30, no Canal Brasil, passa Karina, Objeto do Prazer (1981), filme de Jean Garret com Angelina Muniz e uma série de técnicos e diretores da boca como atores: Claudio Cunha, Rajá de Aragão e Claudio Portioli. Considerando que é um filme que não está entre as fiugurinhas fáceis da programação softporn do canal, vale a pena o registro.
Dia 06/05
A disputa entre as principais estréias da semana no horário nobre de sábado fica dividida entre filmes com algum interesse e só: a HBO passa Espanglês (Spanglish, 2004), de James L. Brooks, às 21:00, enquanto o Telecine Premium exibe Entrando Numa Fria Maior Ainda (Meet the Fockers, 2004), de Jay Roach, às 22:00. Dois perfis de comédia de costumes, uma no ramo mais sofisticado (Brooks), outro de feito mais comercial (Roach), mas nenhuma das duas com aquilo de distintivo suficiente para fazer de um filme algo imperdível. Melhor mesmo é esperar um pouco e zapear até o Film & Arts, que à meia-noite de sábado para domingo exibe Cerimônia Secreta (Secret Cerimony, 1968), filme de Joseph Losey estrelado por um trio da pesada: Elizabeth Taylor, Robert Mitchum e Mia Farrow. Curioso que ninguém mais mencione a carreira de Losey, cineasta que ficou conmhecido apenas por ter entrado na lista negra americana e ter feito alguns dos filmes dos "angry young men" britânicos, principalmente O Criado (The Servant), mas Losey é bem maior do que isso.
Dia 07/05
Numa semana regular no que diz respeito a estréias e a filmes de difícil acesso, a maior raridade fica para o domingo, quando a TV5 exibe Macadam (1946), último longa-metragem de Jacques Feyder, que cede a co-direção a Marcel Blistène. Feyder morreria dois anos depois, tendo deixado alguns filmes renomados – entre eles La Kermesse héroïque – e gravado seu nome junto com Carné na chancela do realismo mágico francês. Macadam conta com uma das primeiras damas desse gênero, Françoise Rosay, e com a presença quase juvenil de Simone Signoret,que contava então com 25 aninhos. O filme passa às 20:25. Um pouco antes, às 19:40, o Telecine Cult estréia A Cicatriz (Blizna, 1976), primeira experiência de Krzysztof Kieslowski no longa-metragem, depois de uma série grande de filmes curtos para a televisão e para o cinema. O nexo entre falta de sentido e o ambiente político da Polônia naquele momento é flagrante, e a secura do filme garante seu interesse. Kieslowski na Polônia e Kieslowski na França são como duas pessoas diferentes fazendo obras diferentes. Na França, a sensibilidade de KK assume ares de uma banailidade pseudo-existencialista que na realidade é exasperantemente de sacristia.
Dia 08/05
Sexto filme de Mazzaropi, Fuzileiro do Amor (1956) participa de um momento diferente daquele que o eternizou como o Jeca dos anos 60 e 70. Neste filme, produzido entre Rio e São Paulo por diretor e roteirista que trabalhavam no Rio (Eurides Ramos e Victor Lima), nosso herói vai para o exército para agradar o pai de sua namorada, e instaura o caos dentro do quartel. O filme conta com a participação especialíssima da cantora Ângela Maria, que canta um número, dos atores Wilson Grey, Daniel Filho e Agildo Ribeiro, e conta com produção musical de Radamés Gnattali. O filme passa no aparentemente vitalício ciclo que o Canal Brasil dedica aos filmes de Amácio Mazzaroppi todas as segundas-feiras às 22:35. Bom que dedica, porque há muito tempo que não tem atração nenhuma além dessa nas segundas-feiras...
Dia 09/05
Sidney Lumet e Willilam Friedkin partilham uma repercussão crítica semelhante. Ambos são donos de carreiras coerentes e coesas, mas ao mesmo tempo de uma espécie de distinção discreta na mise-en-scène e na escolha de seus temas. Não há maneirismos de câmera, fotografia ou montagem que revelem de primeira um efeito de assinatura, e tampouco uma postura breakthrough que busque levar o gênero para um novo patamar (seara em que geralmente entram os grandes impostoresda vida). A carreira de ambos os cineastas é, em comparação, quase anônima, daí a freqüente denominação deles mais como artesãos competentes do que como autores, embora alguns sinais um tanto evidentes os coloquem numa categoria acima. Então, é curioso e sintomático que Friedkin tenha filmado, em 1997, o primeiro filme que Sidney Lumet dirigiu, Doze Homens e uma Sentença (Twelve Angry Men, 1997), filme que o Telecine Emotion exibe às 22:00. Curioso, já que as preocupações de um não necessariamente refletem as do outro. No mesmo horário, o Telecine Cult estréia em sua programação 800 Balas (idem, 2002), filme de Álex de la Iglesia feito entre A Comunidade e O Crime Ferpeito, que não chegou a ser nem lançado nem estreado em festivais no Brasil. Quem já viu um filme dele sabe o que esperar: algumas piadas referenciais, alguma medida de apuro visual barroco, e uma trivialidade que pode desagradar a alguns e agradar a outros. Como Peter Jackson antes de ser um autor multimilionário, Álex de la Iglesia mostra um carinho muito grande pelo cinema de gênero de baixo orçamento, mas esse carinho se transforma rapidamente em uma apologia trash que tem um interesse bastante reduzido.
Dia 10/05
Um diretor que precisou ficar velhinho para que todo mundo visse nele mais do que um entertainer, Blake Edwards
tem sua carreira dentro de Hollywood sobretudo como um diretor de comédias, cujas obras mais famosas seriam os filmes com Peter Sellers como o Inspetor Clouseau. É bastante curioso que parte de seus filmes, entretanto, não circule muito – sobretudo quando não se trata de comédias. É o caso de Escravas do Medo (Experiment in Terror, 1962), filme estrelado por Glenn Ford e Lee Remick, num jogo de gato e rato em que o ladrão chantageia a secretária a ajudá-lo num roubo a banco, e ela conta com a ajuda da polícia para que ele não faça mal a sua irmã que é refém dele. No Brasil, o filme está indisponível em qualquer formato, só sendo visível quando passa no Cinemax Prime. E, embora no ano passado esse filme já tenha sido recomendado, não custa chamar a atenção para ele novamente. Escravas do Rancor passa às 12:45. Num dia como essa quarta-feira, que não tem nada de muito relevante a destacar, uma figurinha repetida está de bom tamanho.
Dia 11/05
Para compensar a quarta-feira sem estréias, duas estréias da pesada nesta quinta-feira. Às 19:20, o Telecine Cult relembra seu passado de Classic e exibe um dos cineastas retrospectados quando o canal dava mais atenção a filmes de 1970 para trás. O diretor é Joseph L. Mankiewicz e o filme em questão é Eles e Elas (Guys and Dolls, 1955), com Marlos Brando, Jean Simmons e Frank Sinatra. A década de 50 é o período em que o cinema de JLM está no auge, começando com A Malvada, passando por A Condessa Descalça e terminando em De Repente, no Último Verão (com outras pérolas menos conhecidas entre estes filmes, como Dizem Que É Pecado e Um Americano Tranqüilo). Pena que o TCC não vai exibir o filme no formato correto (como o filme aliás já tinha passado na época em que quem programava o canal gostava de cinema e se preocupava com a maneira correta de exibir os filmes), preferindo um full-screen que destrói a elegância e o senso de enquadramento de Joseph L.Mankiewicz, mostrando apenas 50% do 1:2,55 do CinemaScope original. Já na TV5, passa um filme de Barbet Schroeder que também é indisponível no Brasil, Os Trapaceiros (Tricheurs, 1984). O filme é estrelado por Jacques Dutronc, famoso como cantor popular na França, mas também ator em filmes como A Teia do Chocolate de Chabrol e sobretudo Van Gogh de Maurice Pialat, e também conta com Bulle Ogier, grande atriz do teatro e do cinema (sobretudo com Rivette) francês. Já Schroeder pode ir do mais desbravador (More, Nossa Senhora dos Assasinos) ao mais convencional (Antes e Depois, Cálculo Mortal), sendo que um não necessariamente produz melhores filmes do que os outros. Os Trapaceiros passa às 20:30.
Dia 12/05
Em 1989, quem era Stephen Sommers? Era simplesmente um sujeito que dirigia seu primeiro filme a partir de um roteiro original seu, Tudo ou Nada (Catch Me If You Can), uma comédia de colégio secundarista misturada com corridas de carros. Quase vinte anos depois, Stephen Sommers é uma grife e um diretor-produtor que se empenha em reatualizar um certo imaginário de filmes-de-aventura-à-moda-antiga, revitalizando filmes de terror (A Múmia), de aventura (O Escorpião Rei), pérolas da literatura infanto-juvenil (Huckleberry Finn) e heróis do cinema de ficção científica (um de seus próximos projetos é Flash Gordon). Dentro desse cenário, um projeto como o de Tudo ou Nada assume outros ares, prestando referência a filmes como Juventude Transviada e American Graffiti (talvez ele veja em George Lucas uma espécie de modelo a seguir, e ambos são muito coerentes em seus amores nostálgicos pelo cinema de outrora). O filme passa no Telecine Cult às 22:00.
Dia 13/05
Um sábado cheio de atrações meia-boca. Bob Esponja – O Filme estréia às 16:00 no Telecine Premium, como numa espécie de horário nobre da criançada (o Telecine não tem um canal como o HBO Family para um público infantil), e Mar Adentro (idem, dir. Alejandro Amenábar, 2004) estréia no horário nobre adulto, às 22:00. Já na HBO, a estréia mais chamativa da semana é Blade Trinity (idem, dir. David S. Goyer, 2004), às 21:00. Se nenhuma dessas opções sustenta um interesse, a saída pela direita é mergulhar no Disney Channel e, já tendo visto o belo e irregular O Novo Mundo de Terence Malick, assistir a Pocahontas (às 20:00) e a Pocahontas 2 – Viagem a um Novo Mundo (às 21:30) para compreender melhor alguns aspectos de como cada diretor dá ênfase a algum dos aspectos de uma das histórias mais conhecidas e repetidas da história americana (embora naquele momento "América" fosse apenas um território sem nome). [continua]
Dia 14/05
E, em seguida, é bom emendar com Flechas Flamejantes (Captain John Smith and Pocahontas, dir. Lew Landers, 1953), mais um filme que relata o encontro do conquistador dos mares com a nativa indígena que deu o primeiro romance interracial da América do Norte e o feriado norteamericano de Ação-de-Graças. O filme estréia no Telecine Cult às 14:30. Mas, em mais um domingo morno, talvez a maior atração seja mesmo Ninguém me Ama (Personne ne m'aime, 1994), primeiro longa-metragem de Marion Vernoux – o que não quer dizer grande coisa – com um elenco composto por pilares do cinema de autor francês, como Bernadette Lafont (Eustache, Chabrol), Bulle Ogier (Rivette) e Jean-Pierre Léaud (Truffaut, Godard, Eustache) – o que já é alguma coisa. O filme estréia na programação da TV5 às 20:25.

Dia 15/05
Norman Z. McLeod é um desses diretores que provavelmente nunca terá um estudo mais detido, embora tenha trabalhado com uma série de comediantes considerados de ponta na Hollywood dos anos 30 e 40. O Valente Treme-Treme (The Paleface, 1948) é o segundo dos cinco filmes que McLeod fez com Bob Hope como protagonista. Para cinéfilos, no entanto, o maior interesse deste projeto é que nos créditos de roteirista consta Frank Tashlin, que dirigiria a continuação quatro anos depois e receberia seu primeiro crédito de diretor de um filme que não fosse de animação. O filme estréia no Telecine Cult às 22:00. Já no Canal Brasil, continua a "horário Mazzaropi" da segundas-feiras à noite, dessa vez com O Noivo da Girafa (1957), dirigido por Victor Lima, em mais uma parceria entre a Cinelândia Filmes carioca e a Cinedistri paulista. No filme, Mazzaropi trabalha no jardim zoológico e tem na girafa do parque sua maior confidente. Além da girafa, a co-protagonista do filme é uma Glauce Rocha ainda bem moça, antes de completar os 30 anos. Mais à noite, Dira Paes seleciona Dias de Nietzsche em Turim (2001) de Julio Bressane para passar no Cineclube do canal, às 02:15. Dá água na boca imaginar um projeto de Bressane com a musa Dira como atriz...
Dia 16/05
Kirk Douglas e George C. Scott como protagonistas, além de aparições disfarçadas de Burt Lancaster, Robert Mitchum, Frank Sinatra e Tony Curtis. É A Lista de Adrian Messenger (The List of Adrian Messenger, 1963), filme bastante obscuro de John Huston que o Film & Arts exibe às 13:00 e às 20:00 nesta terça-feira. Ainda que o filme não tenha boa reputação entre os maiores admiradores de Huston (trata-se provavelmente de um dos "one for them" da filosofia hustoniana), é uma oportunidade um tanto rara para se deixar passar assim facilmente. Ao fim do filme, pode-se zapear para o Telecine Cult, que estréia em sua programação o filme Mayrig (idem, 1993), último longa-metragem de Henri Verneuil, diretor mais conhecido por seus filmes com pouca personalidade e com muito potencial comercial. Mayrig é seu projeto mais ambicioso, adaptado de um livro escrito por ele mesmo sobre o genocídio que os turcos impuseram sobre os armênios em 1915. Além do filme, estrelado por Claudia Cardinale e Omar Sharif, o projeto rendeu uma versão duas vezes maior, transformada em mini-série. É bom se precaver para o academicismo exacerbado, mas é sempre um prazer encontrar-se com la Cardinale... assim como é também ótimo passar um tempo com o trabalho de "fotojornalismo arte" de Evandro Teixeira, a quem Paulo Fontebelle dedicou um honesto e eficiente documentário, Evandro Teixeira – Instantâneos da Realidade (2004). O filme passa na sessão É Tudo Verdade, às 22:35.
Dia 17/05
Hell – A Ira Está à Solta
(In Hell, 2003) é o terceiro longa-metragem americano de Ringo Lam, e o terceiro com Jean-Claude Van Damme como protagonista. Ainda que Lam não seja um inventor como Tsui Hark, ele é um notável encenador e um eficiente artesão. É uma pena que, em três anos, ele não tenha feito filmes nem nos EUA nem em Hong Kong. Hell passa no Telecine Action às 20:10.
Dia 18/05
Último filme de Anselmo Duarte – e possivelmente seu filme menos conhecido –, Os Trombadinhas (1979) passa no Canal Brasil às 10:00 da manhã. A partir de uma idéia original de Pelé (que tem participação no filme), com um roteiro de Carlos Heitor Cony e estrelado por Kátia D'Ângelo (além de Neuza Amaral, Raul Cortez, Paulo Villaça, Sérgio Hingst, Alberto Ruschell...), o filme retrata o drama de meninos de rua, como Favela antes dele e Pixote depois. Mais à noite, o Telecine Cult estréia em sua programação Moulin Rouge (idem, 1952), em que John Huston (olha ele aqui mais uma vez) faz uma cinebiografia do pintor e desenhista Toulouse-Lautrec, encarnado aqui por José Ferrer. O filme nada tem a ver com o filme de Baz Luhrmann, a não ser o nome. A conferir às 19:45. Mas o verdadeiro destaque do dia é a volta aos melhores dias da TV5, que lança em sua programação Tilai (idem, 1990), filme de Idrissa Ouedraogo premiado com o Grande Prêmio do Júri em Cannes 90. Junto com Abderrahmane Sissako (Mauritânia), Souleymane Cissé (Mali) e Ousmane Sembene (Senegal), Ouedraogo é um dos poucos cineastas africanos a adquirir renome internacional e participação em festivais. E o acesso a algum filme deles é algo tão difícil quanto aparecer um novo filme desses realizadores (Cissé, por exemplo, não filma desde 1995). Tilai passa às 20:30.
Dia 19/05
Um dia dedicado a Jean-Luc Godard. Primeiro é no Telecine Cult, que reexibe Alphaville às 19:30. Por um misto de poesia naif e uma intriga de ficção científica orwelliana, esse é um filme que costuma ser admirado pelos detratores do cineasta e, por uma conseqüência um tanto afetada, menosprezado pelos godardianos. Naturalmente, o filme não está entre os melhores trabalhos de Godard, mas o uso do preto-e-branco para abstrair os lugares e tornar tudo "futurístico" é um dado muito inteligente, além do quê a apropriação do cinema de gênero aqui realizada alcança surte todos os efeitos desejados. E, claro, Anna Karina para variar está em estado de graça. Mas o grande destaque se passa na alta madrugada de sexta-feira para sábado: é Salve-se Quem Puder – A Vida (Sauve qui peut (La Vie), 1980), filme que representa a volta de Godard ao cinema de orçamentos e estrelas de cinema (no caso, Isabelle huppert, Nathalie Baye e Jacques Dutronc) e lançamentos comerciais, algo que não acontecia desde Week-End (1967). O resultado é um Godard completamente diferente do que tinha sido visto até então, com um tipo de reflexão mais serena, fiapos de história cada vez mais tênues e o hermetismo (quase um misticismo, na verdade) que freqüentemente é empunhado contra ele pelos amantes do "Godard anos 60". O filme passa às 03:10 e, que se saiba, é coisa inédita na televisão brasileira. Mesmo que não seja, é obrigatório da mesma forma.
Dia 20/05
Os canais de filmes mais poderosos apostamsuas fichas na empatia de certos galãs em filmes que não são nada além de veículos de ambição artística quase nula. A HBO vai de Pierce Brosnan e Ladrão de Diamantes (After the Sunset, 2004, dir. Brett Ratner), ainda que alguns tenham interesse em ver o filme para contemplar as curvas poderosas de Salma Hayek, enquanto o Telecine Classic decide cativar o público feminino mais jovem com Ashton Kutcher e A Família da Noiva (Guess Who, 2005, dir. Kevin Rodney Sullivan). Mas a verdadeira atração do dia está na Seleção Brasileira do Canal Brasil, e é a estréia de Garotas do ABC (2003), de Carlos Reichenbach, na programação do canal. Generosa visão do mundo, precisão cirúrgica na mise-en-scène e vitalidade de garoto povoam este filme que, se não é distintivo dentro da obra do cineasta, é ao menos distintivo dentro do painel do cinema brasileiro contemporâneo. Passa às 23:00.
Dia 21/05
Três curiosidades. Por ordem de horário, a primeira é À Boire (2004), mais recente filme de Marion Vernoux, com Emmanuelle Béart de protagonista, tendo como tema o alcoolismo. O filme não foi lá muito bem recebido em lugar nenhum, e mal teve carreira internacional, apesar de ser estrelado por uma atriz muito famosa. Passa agora na TV5 às 20:30 para conferirmos. Às 21:30, a HBO Family exibe Confissões de uma Adolescente em Crise (Confessions of a Teenage Drama Queen, 2004), simpático veículo para a beldade adolescente da ruivinha Lindsay Lohan. Além de encantadora, ela é uma excelente atriz para a tipificação dos personagens que ela encarna. Apesar da liçãozinha de moral e do final mão pesada (cortesia da diretora Sara Sugarman, que fora disso apresenta um trabalho até mais do que eficiente), é um filme agradável de se ver. Às 22:00, a Cinemax estréia em sua programação Stupeur et Tremblements (que se traduziria por "estupor e tremedeiras"), filme do desaparecido – felizmente, para alguns – Alain Corneau, que fez a festa do circuitinho cult nos anos 90 com Todas as Manhãs do Mundo. Nesse filme de 2003, a grande atração é Sylvie Testud, uma das principais atrizes da atualidade, vivendo uma mulher ocidental que trabalha como tradutora para uma corporação japonesa. O filme lida com dificuldades de se adaptar a outras tradições, e revela humoristicamente certos traços da tradição japonesa. Ou seja, são traços semelhantes demais para não iniciar uma comparação possível com Encontros e Desencontros, de Sofia Coppola (ou ao menos a visão dos detratores do filme da filha de Francis Ford). Em todo caso, vale pela discussão da temática (ao menos é um filme que entra num terreno do qual não se tem muitos exemplares) e pela magnífica atriz.

Dia 22/05
Irônico, não? Na primeira segunda-feira em alguns meses que não há seção Mazzaropi no Canal Brasil, a programação do primeiro dia da semana fica absolutamente sem atrações especiais ou seções mais dignas de nota. Chance então para reciclar e assistir a um filme chamado Sangue em Sonora (The Appaloosa, 1966), realizado por um diretor que pode no máximo ser considerado um bom artesão, Sidney J. Furie, e protagonizado por um dos maiores ícones do cinema americano, Marlon Brando. Figura controversa nas atitudes e nas atuações, longe da mestria que geralmente o situam, Brando foi acima de tudo um rosto com significação imediata (daí o notável talento para a tipificação que se observa em O Poderoso Chefão) que sugeria um vulcão prestes a explodir (uma fisicalidade extrema misturada sabe-se como a uma doçura distante). Se excetuarmos A Face Oculta (One-Eyed Jacks, 1961), único longa-metragem dirigido por Brando, Sangue em Sonora é a outra única ocasião em que o ator pôde interpretar um personagem de western. A conferir no Telecine Cult às 22:00.
Dia 23/05
A grande atração da semana é a exibição de No Tempo de Glauber (1985) na sessão É Tudo Verdade do Canal Brasil, às 22:35. O filme nada mais é de uma compilação de trechos descartados de A Idade da Terra, que Glauber encaminhara ao amigo e colega de trabalho Roque Araújo com a indicação que fossem transformados em vassoura. O material foi guardado e posteriormente remontado por Araújo junto com alguns outros materiais, compondo um notável instrumento de pesquisa para aqueles interessados no cinema e no pensamento de Glauber Rocha, principalmente a série de mistérios que ronda a feitura do majestoso A Idade da Terra (1980). Ainda no Canal Brasil, começa nesta terça um pequenino ciclo dedicado ao rock brasileiro, naturalmente para fazer casa à estréia de Cazuza – O Tempo Não Pára no sábado. Sempre às 20:00, o canal passará filmes famosos dos anos 80. E o primeiro é Areias Escaldantes (1985), de Francisco de Paula. Já o Telecine Cult aposta no franco-libanês Sob o Céu do Líbano (Le Cerf-volant, 2003), dirigido por Randa Chahal Sabag, que ganhou o Grande Prêmio do Júri em Veneza 2003. Não há muito a esperar do filme além da poesia melosa evocada pelas situações emocionais de personagens pegos num redemoinho pela tradição e pelos conflitos religiosos e políticos do Oriente Médio. Sensibilidade naif, cinema cheio de bom-mocismo, dá e passa. Estréia às 22:00.
Dia 24/05
Joh Huston é uma figura controversa entre os defensores do cinema de autor. Se todos são unânimes em concordar que ele é um hábil encenador e um realizador de filmes ágeis e que, em alguma medida, definiram padrões para certos gêneros, ao mesmo tempo ele é tido – não sem razão – como um diretor sem uma sensibilidade distintiva e uma visão de mundo próprias. Em todo caso, a última fase de seu cinema parece caminhar para o sentido contrário, fazendo filmes de uma agudez impressionantes, sobretudo seus três últimos, À Beira do Vulcão (1984), A Honra do Poderoso Prizzi (1985) e Os Deuses e os Mortos (1987). Esse último, adaptado de um conto de James Joyce publicado em Dublinenses, será exibido pelo Film & Arts às 17:00 e à meia-noite de quarta para quinta-feira. Momento alto do diretor em sua carreira,e um dos momentos altos de uma década de transição e instabilidade na história do cinema. Já no Canal Brasil, o filme do dia na "sessão memória" do rock Brasil é Menino do Rio (1982),de Antonio Calmon.
Dia 25/05
Quinta-feira cheia de atrações,embora algumas melhores que as outras. A começar pela mais rara: Um Encontro com Tonino Guerra (La farina del diavolo, 2002), filme-entrevista com um dos maiores roteiristas da história do cinema, tendo trabalhado com Michelangelo Antonioni (quase tudo depois de A Aventura), Theo Angelopoulos (também quase tudo), Andrei Tarkovski, irmãos Taviani, Federico Fellini, Francesco Rosi, Marco Bellocchio, entre outos, além de ser também romancista e poeta. É o Eurochannel que exibe, na enésima homenagem que presta a Michelangelo Antonioni em sua "Noite Nostalgia". O filme passa às 22:30 e em seguida o canal exibe O Dilema de uma Vida/Deserto Vermelho (Il deserto rosso, 1964), de Antonioni. Já no Telecine Cult o filme Testemunha de Acusação (Witness for the Prosecution, 1957) volta à programação do canal, com seu elenco estelar (Charles Laughton, Tyrone Power, Marlene Dietrich) e seu diretor de uma precisão de relógio suíço e de uma mordacidade como poucos, Billy Wilder. O filme é possivelmente a única adaptação de Agatha Christie que entrou para a história por méritos cinematográficos próprios, e ocupa até entre os pouco criteriosos votantes do IMDb a posição de 216º filme de todos os tempos. O filme passa às 19:45 no TCC. Na TV5, que já exibiu uma pequena mostra dedicada ao cineasta-cigano Tony Gatlif, estréia Exílios (Exils, 2004), filme que foi lançado exatamente há dois anos, no Festival de Cannes de 2004. o Filme passa às 20:25.Por fim, o filme de rock-brasileiro-anos-80 do dia é Garota Dourada (1985), de Antonio Calmon.
Dia 26/05
Filme muito oportuno e polêmico, Os Melhores Anos das Nossas Vidas (The Best Years of Our Lives, 1946) foi um dos primeiros filmes a revelar uma certa perda da inocência por parte da sociedade americana a partir do film da Segunda Guerra Mundial. Filme sobre a trajetória de três soldados que voltam para sua terra natal, Os Melhores Anos de Nossas Vidas mostra aos poucos a vida de cada um desses ex-combatentes perder sentido uma vez que eles não podem mais ocupar as funções que ocupavam antes da guerra, ou não podem mais se comportar como se simplesmente voltassem à rotina de cidade pequena novamente. O filme tem tantos méritos quanto incômodos – esses últimos partindo de um pendor pronunciado de William Wyler pelo miserabilismo dos personagens, como se a profundidade de um filme fosse relativa à humilhação e ao fosso existencial a que os personagens se submetem. Em todo caso, o filme ainda conta com notáveis interpretações de Myrna Loy, Fredric March (Oscar pela atuação), Dana Andrews, Virginia Mayo, Teresa Wright, entre outros. O filme passa no Telecine Cult às 19:00. Agora, sobre ex-combatentes voltando para suas aprazíveis cidadezinhas pequenas americanas, o grande filme não é esse, mas O Franco-Atirador, de Michael Cimino. Última atração da mini-mostra de rock anos 80 no cinema brasileiro, Um Trem para as Estrelas (1987) de Carlos Diegues passa no Canal Brasil às 20:00.
Dia 27/05
O Telecine Premium está de brincadeira. É só assim que dá pra conceber como um filme como O Dia Perfeito (Employee of the Month, 2004) pode ser elevado à categoria de estréia da semana. Não que o filme seja ruim ou bom, já que o autor dessas linhas nem chegou a ver o filme. Simplesmente porque é um filme sem projeção alguma, sustentando-se apenas na muito questionável fama de Matt Dillon e de Christina Applegate como estrelas de cinema. Num momento, a rede Telecine era responsável por grande parte das atrações da televisão a cabo brasileira. Aos poucos, ela foi abdicando dos filmes clássicos, dos filmes mais ousados, das comédias antigas, e agora até as estréias mais esperadas não aparecem para o canal. Ah, o destino... Em todo caso, o filme estréia às 22:00. Em compensação, no mesmo horário o Telecine Cult coloca na programação Arizona Nunca Mais (Raising Arizona, 1987), filme de uma época em que os irmãos Coen se divertiam dirigindo seus filmes mas também nos faziam rir junto. Hoje parece que tudo que eles fazem é piada interna deles, ou no máximo piada de membro do clubinho (infelizmente A Vida Marinha de Wes Anderson aponta para um caminho semelhante). Às 21:00, a HBO dá de dez estreando Doze Homens e Outro Segredo (Ocean's Twelve, 2004), de Steven Soderbergh, e no Canal Brasil estréia às 23:00 o tão esperado Cazuza – O Tempo Não Pára (2005), encantador por momentos, irregular sob qualquer aspecto, e pelego em comparação à vida do artista. Mas o filme carrega um charme comunicativo que faz valer a pena ver o filme, e que provavelmente foi observado para se fazer 2 Filhos de Francisco, outro filme que cria uma empatia quase que imediata. Mas talvez a graça do dia seja mesmo assistir a Lua de Fel (Lunes de fiel, 1992), que o Film & Arts exibe às 22:00. Polanski é definitivamente um caso sério, alternando bons e maus filmes, entre o filme-de-cineasta-espertinho e entre a verdadeira sensibilidade. Na espera de uma retomada de fôlego de sua carreira, assistamos um de seus pontos mais altos.
Dia 28/05
A grande estréia do dia é Bola de Fogo (Ball of Fire, 1942), típica e deliciosa comédia de Howard Hawks em que a mulher aparece para quebrar a seriedade estétil do homem e jogar tudo pro ar. Naturalmente a matriz é Levada da Breca (1938), mas Bola de Fogo tem um charme todo particular e é tranqüilamente uma das comédias mais ácidas de Hawks. O filme passa na matinê: 14:15 no Telecine Cult. Já a TV5 estréia Loucuras de uma Primavera (Milou en mai, 1990), a ser visto apenas por fãs ardorosos de Louis Malle, uma vez que sempre que o diretor toca em temas políticos ele não consegue fugir de uma visão de mundo medíocre e pequeno-burguesa, utilizando a veemência apenas para fazer verter uma lágrima (o infame Adeus, Meninos). Mas como não é o filme mais fácil de se ter acesso, a gente avisa mesmo assim: o filme passa às 20:30. Por fim, duas curiosidades de fim de noite. A primeira é Princesa Maria (Princesse Marie, 2004), filme feito para a televisão em dois episódios por Benoît Jacquot com Catherine Deneuve interpretando Maria Bonaparte. O filme já foi mencionado nesta coluna, mas desta vez as duas partes passam juntas, facilitando o trabalho daqueles que quiserem ver tudo de uma vez ou deixar gravado (se é que ainda são muitos os que ainda utilizam o videocassete). É bom avisar que juntas as duas partes têm 3h10. Ou seja, é bom se preparar. Passa no Eurochannel às 22:00. Já no Cinemax passa Uma Canção de Amor para Bobby Long (A Love Song for Bobby Long, 2004), primeiro filme de ficção de Shainee Gabel, focando na descoberta da amizade entre uma linda jovem (Scarlett Johansson) e um senhor chegando aos cinqüenta (John Travolta). Ring any bell? Pode até ser que não tenha tido nada a ver com Encontros e Desencontros, mas o que parece muito é que se trata de um daqueles filmes edificantes que nos ensinam como a amizade é importante, com um roteiro em que pessoas estranhas vão criando laços e percebendo que há certos mistérios que as unem profundamente. Ugh. Em todo caso, é uma oportunidade para os completistas de Johansson riscarem mais um filme da lista de não-vistos. Passa às 22:00.
Ruy Gardnier

 

 
No Tempo de Glauber (1985), de Roque Araújo, passa no Canal Brasil nessa terça-feira, às 22:35.

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