|
Antes de tudo, é necessário pedir desculpas
ao leitor fiel que freqüentemente consulta esta página
para ver se houve atualização. Afinal, estamos
no final de março e essa é apenas a segunda
edição deste ano. Resultado de uma reformulação
de equipe já anunciada na edição anterior,
mas principalmente um questionamento interno sobre a prática
da equipe e a maneira de melhor dar conta de tudo que nos
interessa dentro do universo do cinema. Renovações
de equipe acabam sendo necessárias na vida interna
de uma revista, e principalmente numa revista como Contracampo,
que abriga tantas concepções diferentes de cinema,
tantas formas diversas de responder aos filmes, maneiras de
dar vazão ao amor pelo cinema. Quanto aos novos redatores
da revista, eles já apareceram escrevendo críticas
ou cobrindo a seção de dvd/vhs. Quanto à
prática interna, esperamos que ao longo das próximas
edições já se perceba um funcionamento
mais orgânico e constante de todas as seções
da revista, renovando, quem sabe, uma vontade de viver o cinema
24h por dia e fazendo da revista o espaço de inscrição
desse desejo. Como todos sabem, sangue novo revigora organismos
cansados, e reoxigena os ânimos.
Discussões internas à parte, essa edição
celebra a obra de um dos diretores mais importantes do cinema
brasileiro, Andrea Tonacci, que volta com um dos filmes mais
audaciosos e preciosos do cinema brasileiro recente, Serras
da Desordem. Ocasião, então, para cobrir
os pontos altos mais importantes de sua obra, no que fomos
ajudados pela colaboração do diretor e montador
Ricardo Miranda e pela Mostra do Filme Livre, que organizou
sessões retrospectivas da obra do diretor (ainda que
a maioria dos filmes tenham passado deformados em virtude
de erros de projeção). Cineasta conhecido geralmente
por apenas um longa-metragem de 1971, Bang-Bang, Tonacci
é uma sensibilidade distintiva do cinema brasileiro
e tem uma trajetória das mais apaixonantes dentre os
cineastas ainda em atividade. Um cinema de aventura, que em
muitos aspectos lembra o percurso de pioneiros como Mário
Peixoto e o Major Thomaz Reis, e ao mesmo tempo mostra algumas
preocupações semelhantes a seus companheiros
de geração, como Rogério Sganzerla, Julio
Bressane e Elyseu Visconti, entre outros.
Volta e meia o ambiente de nosso cinema se presta a polêmicas
tão inúteis e parece encetar quase sempre o
mesmo tipo de discussão inócua. Já que
não estamos num famoso momento de "tensão
pré-edital" época em que os coronéis
do cinema brasileiro aparecem nas páginas de jornal
reclamando de falta de democracia e dirigismo , agora
volta a se falar na velha distinção falaciosa
entre filmes que o público gosta e os filmes que a
crítica gosta, ou então na importância
do cinema documentário como uma espécie de "prática
da cidadania". Sorte que o nosso panorama é outro,
povoado por artistas genuínos que buscam um constante
esforço de superação e travam um diálogo
freqüente com o desconhecido e com os terrenos ainda
não pisados. Artistas do quilate de Beto Brant, de
Andrea Tonacci, de Edgard Navarro, que ainda devem aparecer
um bocado nas páginas html dessa revista. Graças
ao vigor de poucos verdadeiros criadores, o cinema brasileiro
também se renova e se revigora.
|
|