Essa sessão é atualizada semanalmente.

ARTIGOS
O medo da tv diante da imagem
(sobre Falcões [Meninos do Tráfico])
por Luiz Carlos Oliveira Jr. (27/03/2006)

Zapping!
por Bolívar Torres (27/03/2006)

Quando a televisão faz montagem
(sobre Barcelona 3, Real Madrid 0, 19/11/2005)
por Luiz Carlos Oliveira Jr. (26/01/2006)

FILMES DA SEMANA
(30 DE JANEIRO A 26 DE MARÇO DE 2006)


Dia 30/01
No Direction Home: Bob Dylan (idem, 2005) surgiu de maneira bem curiosa no final do ano passado. Não tendo tido exibição nos cinemas, aparece de forma relativamente modesta, como um projeto de Martin Scorsese sobre o cantor/compositor. Porém, e isso é importante, o filme não é exatamente um projeto idealizado por Scorsese, mas em que ele entra no meio do processo. Então, surge a suspeita: a adição do nome do cineasta americano mais cinéfilo e cinéfago de sua geração existiria apenas para agregar valor de publicidade ao filme? Não tão rápido: depois que chegou para dirigir o filme, Scorsese teve carta branca, fez uma devassa em todos os arquivos de filme que pudessem ter alguma coisa remotamente relativa a Dylan e, relembrando seus tempos na mesa de montagem de Woodstock, compôs um filme de montagem inteiramente pessoal, milhas além do documentário genérico sobre figuras do mundo pop. O filme é o grande destaque da semana – uma semana não especialmente cheia em atrações – e estréia no Telecine Premium às 22:00. São três horas e meia de filme, então prepare-se bem e siga viagem.
Dia 31/01
Um dos filmes brasileiros mais significativos dos anos 70 é Mar de Rosas (1977), de Ana Carolina. Entrada definitiva no país de um discurso contestador da partilha de papéis entre homem e mulher, num filme raivoso, ácido e confrontativo, que em seu ataque contra a moral de classe média lembra – e muito – alguns filmes de Rainer Werner Fassbinder (O Medo Devora a Alma, O Machão). É possivelmente o melhor filme de Ana Carolina, o que também significa que é possivelmente o melhor longa brasileiro já dirigido por uma mulher. Passa às 20:00 no Canal Brasil. Um pouco mais tarde, às 22:35, a sessão É Tudo Verdade continua exibindo Vladimir Carvalho, dessa vez O Evangelho Segundo Teotônio (1984), filme sobre o político Teotônio Vilela, com presença de Leonel Brizola, Henfil, Miguel Arraes, Carlos Castelo Branco e o nosso atual presidente do Brasil.
Dia 1º/02
Canal não muito presente nessa nossa coluna semanal, a A&E Mundo exibe às 22:00 A Última Sessão de Cinema (The Last Picture Show, 1971), de Peter Bogdanovich, primeiro filme a associar à idéia de fim da época de ouro do cinema uma aura de melancolia, criando um clima que seria utilizado à exaustão por Wim Wenders ao longo desta mesma década em seus melhores filmes (Alice nas Cidades, 1974; No Decurso do Tempo, 1977; O Estado das Coisas, 1980). Curiosamente, o próprio Bogdanovich foi seguir seu caminho próprio sem usar essa melancolia como muleta (fazendo, entre outros, Lua de Papel, de 1973, e o estupendo e cassavetiano They All Laughed, de 1981), e curiosamente Wenders virou o superstar que vemos por aí. Vai entender. Além de tudo isso, o filme é a primeira aparição de Cybill Shepherd no cinema, aos 20 aninhos.
Dia 02/02
Única estréia de maior peso no Telecine Cult essa semana, A Pecadora (Seven Sinners, 1940) passa às 22:00. O filme é dirigido por Tay Garnett e estrelado por Marlene Dietrich e John Wayne. Garnett entrou para a história como um diretor de poucos atributos, impessoal, sem estilo, etc., mas um esforço de reabilitação, pelo menos de alguns filmes mais bem-sucedidos (especialmente A Pecadora, O Destino Bate à sua Porta e Assim É Hollywood), vem sendo encenada aqui e acolá. Já a TV5 vai largando Claude Miller e começa a exibir Eric Rohmer. O primeiro é A Mulher do Aviador (La Femme de l'aviateur, 1981), que o canal exibe às 21:25. A relação Rohmer/Brasil é muito curiosa: seus filmes circulam bem em 35mm, ao menos no circuito das grandes capitais, mas em compensação achar alguma coisa em vídeo ou ver na televisão é impossível... Vai entender...
Dia 03/02
No quadro de uma pequena mostra sobre diversidade cultural patrocinada em 2003 pelo programa Rumos do Itaú Cultural, o Canal Brasil exibe às 14:00 Sertão de Acrílico Azul Piscina (2004), filme de meia-hora de Karim Ainouz e Marcelo Gomes, que passam pelo sertão registrando traços de tradição convivendo com traços de contemporâneo. Nada mal ver o que fazem juntos os diretores de Madame Satã e Cinema, Aspirinas e Urubus, numa espécie de All Star Game do cinema nordestino contemporâneo.
Dia 04/02
Dessa vez, vai ser infrutíero sentar à noite de sábado para ver um filme inédito na programação. Entre Julianne Moore em Os Esquecidos na HBO (às 21:00) e Matt Damon em A Supremacia Bourne no Telecine Premium (às 22:00), entre Joseph Ruben e Paul Greengrass, o melhor é escolher outra coisa para fazer. Como por exemplo ligar a televisão mais cedo para assistir a Paulo Villaça, o Elegante Marginal, episódio da série Retratos Brasileiros dedicado ao eterno bandido da luz vermelha. Dirigido por Luís Carlos Lacerda a partir de unma idéia de Norma Bengell, o filme é centrado nos depoimentos de la Bengell, Marília Pêra e Helena Ignez, que contracenou com ele em O Bandido da Luz Vermelha, interpretando Janete Jane (e posteriormente em A Mulher de Todos, em que Villaça interpretou um toureiro gay). Quanto haverá de precisão e de qualidade é uma incógnita. Mas pressente-se que, havendo um mínimo de cuidado com a carreira de Villaça, n!ão se deve esquecer de sua participação no preciosíssimo Perdidos e Malditos, filme dirigido por Geraldo Veloso em que Paulo Villaça foi protagonista (e que começa com ele gritando "Casaca, Casaca", com a camisa do Vasco, dando tiro em urubus; simplesmente imperdível, e não só para torcedores do Vasco).
Dia 05/02
E, por fim, outra forte estréia recente da semana vai para o Cinemax, que lança Elas me Odeiam, Mas me Querem (She Hate Me, 2004), de Spike Lee. Curiosamente o filme ficou fora do circuito de lançamentos do Brasil, mesmo tendo um elenco bastante digno de nota – Ellen Barkin, Monica Bellucci, Woody Harrelson, John Turturro e o rapper Q-Tip, entre outros – e uma sinopse bastante controversa: um homem negro que recebe muito dinheiro para engravidar mulheres lésbicas. Lançado direto em DVD, o filme ganhou sua crítica em Contracampo, mas não recebeu muito destaque fora do circuito de blogs e da internet em geral. É uma pena, porque goste-se mais ou menos, o cinema de Spike Lee é uma das obars tão singulares que vale a pena sempre correr atrás...
[Essa coluna é dedicada ao criterioso leitor Pierre Willemin, que cobra maior cuidado com a atualização da coluna e será atendido...]
Dia 06/02
Altos e baixos numa semana cheia de destaques mas nada excepcionalmente raro ou invisível. Comecemos então com um diazinho meio vagabundo, e um filme que não deve ser mais do que isso. Quem já viu o infame Kurt and Courtney (1998) sabe do que Nick Broomfield é capaz. Pois bem, em 1992 ele fez um filme sobre o processo de Aileen Wuornos, considerada a primeira assassina em série mulher dos Estados Unidos. Em 2003, depois da execução, Broomfield dirigiu com Joan Churchill outro filme, Aileen: Life and Death of a Serial Killer, que o Cinemax exibe às 10:15. Teremos de Broomfield o que sempre se espera: mirabolantes teorias conspiratórias, narrativa sempre tendenciosa, vestígios ou dados circunstanciais sendo elevados ao nível de provas, e uma onipresença do diretor na tela de dar inveja a Michael Moore. Por outro lado, a história de Aileen Wuornos é para lá de interessante, e inclusive rendeu um filme hollywoodiano, Monster – Desejo Assassino (2003), que rendeu um Urso de Prata em Berlim e o Oscar de melhor atriz para Charlize Theron.
Dia 07/02
Já a terça-feira está cheia de atrações. Começando à tarde, com A Arte Marcial no Cinema (The Art of Action: Martial Arts in Motion Picture, 2002), que o Cinemax exibe às 13:00. Dirigido pelos bem anônimos Keith Clarke e Christopher Sliney, o filme toma um ponto de vista francamente hollywoodocêntrico, mas apresenta informações e, sobretudo depoimentos, inestimáveis para quem se interessa pelo tema (ou seja, todo cinéfilo que se preze): depoem John Woo, Lau Kar-leung, Corey Yuen, Ang Lee, entre outros. Mais tarde, a disputa é boa. A TV5 estréia Cinza Claro (Gris blanc, 2005), filme de Karim Dridi (Bye Bye, Pigalle), diretor que começou bem sólido e depois foi perdendo o gás, apesar de Cléber Eduardo ter visto o recente Fúria na Mostra de São Paulo e defendido o filme aqui nesta tribuna. Cinza Claro é uma produção feita para a televisão e passa às 21:25. Aqueles que se impressionaram com os talentos de diretor de George Clooney em Boa Noite e Boa Sorte mas perderam seu primeiro longa-metragem poderão conferir Confissões de uma Mente Perigosa (Confessions of a Dangerous Mind, 2002) no Cinemax às 22:00. Às 22:30, por sua vez, o Cinemax Prime exibe um dos mais belos filmes já feitos: A Dama de Shangai, de Orson Welles (The Lady from Shanghai, 1947), com o próprio Welles e Rita Hayworth como protagonistas, além de um soberbo Everett Sloane. Muita gente já viu Cidadão Kane e A Marca da Maldade, mas é impressionante o número de pessoas que nunca viu um terceiro Welles. Eis aí a oportunidade, com um filme talvez superior a seus dois filmes mais conhecidos.
Dia 08/02
Depois de bagaceiras do nível de Time Code, Por uma Noite Apenas e A Perda da Inocência Sexual, não é tão mal assim perder a pista de Mike Figgis. Mas se lembrarmos que ele fez o simpático Despedida em Las Vegas, talvez dê vontade de conferir Garganta do Diabo (Cold Creek Manor, 2003), thriller de horror estrelado por Dennis Quaid, Sharon Stone e Juliette Lewis (quantas pessoas cuja pista perdemos, não?) que é a volta de Figgis a um modelo mais convencional de narrativa. O filme passa na HBO Plus às 19:35. Mais tarde, a HBO estréia Outros (Doces) Bárbaros (2002), registro da volta de Caetano Veloso, Gal Costa, Gilberto Gil e Maria Bethânia aos palcos interpretando juntos, filmado por nada mais, nada menos do que Andrucha Waddington, um dos mais interessantes cineastas brasileiros da nova geração e autor do melhor documentário musical brasileiro dos últimos anos, Viva São João. Mas o destaque da semana é mesmo a retrospectiva que o Canal Brasil dedica a Luís Sérgio Person, nascido em 1936 e falecido prematuramente aos 40 anos, num acidente de trânsito. Às 20:00, passa o programa Retratos Brasileiros dedicado a Person e, em seguida, às 20:30, passa seu último longa-metragem, Cassy Jones, o Magnífico Sedutor (1972), com Paulo José, Sandra Bréa, Glauce Rocha, Grande Otelo, entre outros.
Dia 09/02
Então o Telecine Cult escolheu os dias de quinta-feira para fazer suas estréias de filmes clássicos? No momento, em se tratando deste canal, a gente se contenta com pouco mesmo. Às 20:15, o canal estréia em sua programação Cinco Covas no Egito (Five Graves to Cairo, 1943), de Billy Wilder, segundo longa-metragem americano de Wilder, e primeiro filme maior do diretor. Em seguida, às 22:00 passa No Rastro da Bruxa Vermelha (Wake of the Red Witch, 1948), um filme de Edward Ludwig, cineasta de alguma repercussão crítica – sobretudo por The Gun Hawk, de 1963 – mas, no geral, um grande desconhecido. No Rastro da Bruxa Vermelha tem uma grande reputação como uma das maiores atuações de John Waye em toda sua carreira. Bela dobradinha de dois filmes da década de 40, nenhum óbvio, ambos absolutamente interessantes. Se formos brindados toda quinta-feira com escolhas como essa pelo TCC, já está valendo. No Canal Brasil, continuando a retrospectiva dedicada a Person, passa às 20:00 Panca de Valente (1968), uma espécie de paródia do western. Se quando os italianos faziam era spaghetti, será que esse filme é um feijoada-western? Bom, é só não avisar para o Jeferson De. Já na TV5, continuando a programação dedicada a Eric Rohmer, passa O Joelho de Claire (Le Genou de Claire, 1970), uma de suas melhores obras e certamente a mais sensual de todas, junto com Pauline na Praia. Passa às 21:25.
Dia 10/02
Chegamos então ao grande momento da carreira de Luís Sérgio Person, com o filme São Paulo, Sociedade Anônima (1965), um dos mais importantes filmes brasileiros da década de 60. Estrelado por Walmor Chagas e Eva Wilma, o filme trabalha o registro da cidade-título como personagem, e ao mesmo tempo mostra o protagonista como uma figura totalmente inserida e ao mesmo tempo perdida diante do processo de crescimento da cidade. Passa igualmente às 20:00. Curiosamente, esse será o último filme da retrospectiva, deixando de fora um filme de suma importância como O Caso dos Irmãos Naves e o episódio de Trilogia do Terror, além do invisível Marido Barra Limpa. Mais à noite, às 00:30 exatamente, o mesmo Canal Brasil exibe Corpo e Alma de uma Mulher (1983), filme dirigido e estrelado por David Cardoso, que conta com uma inusitada dupla feminina de atrizes: a musa da Boca do Lixo Helena Ramos e Tássia Camargo, uma das maiores musas da Rede Globo na segunda metade dos anos 80. Roteirizado por Ody Fraga, o filme circula entre o drama e o erótico, e se os filmes de David Cardoso não têm muitos atrativos do ponto de vista estilístico, ao menos eles são muito curiosos do ponto de vista da petulância.
Dia 11/02
Enquanto o Telecine Premium aposta na animação infantil da DreamWorks O Espanta-Tubarões (Shark Tale, 2004, dir. Bibo Bergeron, Vicky Jenson e Bob Letterman) como grande estréia do horário nobre semanal, a HBO joga suas cartas no conteúdo explícito e chocante do belo Papai Noel às Avessas (Bad Santa, 2003), filme de Terry Zwigoff que estrela Billy Bob Thornton como um sujeito alcoólatra que trabalha como Papai Noel em lojas de conveniência e usa isso como disfarce para praticar furtos às lojas. Diálogos que são pérolas da grosseria, interpretações pungentes, entrega a um mundo de sujeira e desprezo que poucos sabem filmar (ouviram, Alexander Payne e Todd Solondz?). Mas o destaque da semana, pela segunda vez consecutiva, vai pelo segundo longa-metragem industrial chinês que o Cinemax exibe no horário nobre. Dessa vez trata-se de Éramos Soldados (Caofangzi, 2000), filme que circulou pouco fora de seu país de origem, e segue o tradicional modelo a-História-de-um-país-vista-pelos-olhos-de-uma-criança. O filme do TCP passa às 21:00, enquanto os outros dois estréiam às 22:00.
Dia 12/02
Por fim, na falta de grandes atrações neste domingo, vale a pena acordar cedo e assistir a Meu Problema com as Mulheres (The Man Who Loved Women, 1983), que nada mais é do que a adaptação que Blake Edwards fez para O Homem Que Amava as Mulheres, de François Truffaut. O canal que exibe é o Cinemax Prime, às 11:15.
Dia 13/02
De um tempo para cá, o Canal Brasil vem recuperando a memória de alguns curtas-metragens das décadas passadas, fugindo um pouco da idéia de vitrine apenas para o panorama curta-metragista dos últimos dez anos (embora a inclinação geral do canal aponte para a ideologia anestesiante de que o cinema pós-95 é uma espécie de "idade do ouro" do cinema brasileiro, amparada pelas idéias de retomada e do mal-fadado "padrão de qualidade"). Apesar da seleção desses curtas mais antigos ser bastante desinteressante na maior parte (imagina-se que os amigos entraram primeiro na fila...), não impede que isso já constitua um mínimo esforço para ampliar a memória do cinema brasileiro. Nesse espírito, é interessante assistir aos dois primeiros filmes dirigidos por Bruno Barreto, dois curtas-metragens feitos antes que ele sequer fosse maior de idade, Este Silêncio Pode Significar Muita Coisa (1970) e Emboscada (1971), que serão exibidos às 19:30 e 19:42, respectivamente. Mais à noite, o canal exibe um dos últimos longas-metragens de Carlos Manga antes de dedicar-se inteiramente à televisão, O Marginal (1974), estrelado por Tarcísio Meira e Darlene Glória. Na chave dos filmes estrangeiros, o Cinemax Prime exibe às 22:30 o belo As Panteras: Detonando (Charlie's Angels: Full Throttle, 2003). É uma pena que o filme só tenha sido lançado em DVD no formato de tela standard, que corta as laterais. Não só McG é um exímio utilizador das potencialidades lúdicas da montagem, como é um excelente enquadrador de formato panorâmico. Enquanto seu projeto anunciado Hot Wheels não sai do papel, o jeito é assistir mais uma vez ao segundo volume das doces panteras.
Dia 14/02
No dia 17, o cinema Odeon (RJ) começa a exibir uma mostra dedicada ao ator, produtor e diretor Carlo Mossy. São dez filmes em que Mossy é ator, e às vezes diretor. Como ator, representou para o Rio mais ou menos o que David Cardoso representou no cinema paulista: o galã de comédia e outros filmes de gêneros ligeiros com alta carga erótica nos anos 70, o que costuma ser chamado pela denominação um tanto simplista de pornochanchada. Antecipando um dos filmes que serão exibidos, o Canal Brasil exibe As Massagistas Profissionais (1976), segundo loniga-metragem dirigido por Mossy, à 00:30. Estrelando, além do próprio Mossy, Wilza Carla, Adele Fátima, Hugo Bidet, entre outros. Mas a grande atração do dia é o suntuoso O Trem de Zhou Yu (Zhou Yu de huo che, 2002), produção oficial da China continental, direção de Sun Zhou e protagonizado por Gong Li e Tony Leung Ka-fai, também conhecido como "o outro" Tony Leung, já que não é o ator de 2046 e Flores de Xangai, entre outros. Ë o Cinemax alternando o lançamento de suas estréias chinesas dos domingos para as terças-feiras. Passa às 22:00.
Dia 15/02
Nesta semana, o Canal Brasil abandona suas retrospectivas de realizadores e dedica parte de sua programação a um especial de carnaval, com documentários feitos exclusivamente para o canal, além de curtas e longas-metragens sobre carnaval e samba em geral. Entre os destaques dessa seleção estão Quem Roubou Meu Samba? (1959), filme de José Carlos Burle com Ankito como protagonistas, e números de Ângela Maria, Marlene e Virginia Lane; e Natal da Portela (1988), de Paulo Cezar Saraceni, com Milton Gonçalves, Grande Otelo, Zezé Mota, Adele Fátima e sambistas como Almir Guineto, Jamelão, Monarco e João Nogueira. Os filmes passam respectivamente às 17:30 e 20:00, mas sarapintados na programação do Canal Brasil há vários filmes interessantes nessa série, especialmente um filme feito por marco Altberg sobre os 90 anos de Jamelão. Para conferir, http://globosat.globo.com/canalbrasil/.
Dia 16/02
Novamente a quinta-feira é o dia das estréias de filmes clássicos do Telecine Cult. Dessa vez, o canal propõe Romance Inacabado (Blue Skies, 1946), de Stuart Heisler, comédia musical com Fred Astaire e Bing Crosby, às 20:05. Em seguida, às 22:00, o prato principal: Depois do Vendaval (The Quiet Man, 1952), um dos grandes momentos da obra de um diretor cuja obra está repleta de grandes momentos, John Ford. Enquanto isso, a TV5 continua atacando de Rohmer, e passa às 21:25 As Noites de Lua Cheia (Les Nuits de la pleine lune, 1984), quarto filme de sua série "Comédias e provérbios". Pensa que acabou? Então saiba que o Eurochannel finalmente estréia alguma coisa de um mínimo interessa cinefílico, passando dois filmes de Fatih Akin, diretor alemão que encantou boa parte da crítica internacional com Contra a Parede, embora esta tribuna tenha ficado muito pouco impressionada com algo além da beleza exótica de Sibel Kekilli. Às 22:00, passa Em Julho (Im Juli, 2000), e às 23:30 passa Rápido e Indolor (Kurz und schmerzlos, 1998). Ufa!
Dia 17/02
Se a quinta-feira é um dia cheio em atrações, chegamos à sexta-feira com nada além da reprise de O Joelho de Claire (Le Genou de Claire, 1970), de Rohmer, que a TV5 exibe às 19:15 e às 04:10 da noite de sexta para sábado. Ou, então, conferir três filmes em seguida e tentar entender como cada um deles entra no conceito "cult" de uma maneira muito particular, tão particular que chega próximo até da falta de sentido total. Às 19:50, passa A Noite (La Notte, 1961) de Michelangelo Antonioni, com Jeanne Moreau, Alain Delon e Monica Vitti. Às 22:00, passa Gatinhas e Gatões (Sixteen Candles, 1980), de John Hughes, com Molly Ringwald. Mais tarde, às 23:40, passa Ken Park (idem, 2002), de Larry Clarke. Entre o cultxploitation teen e a comédia romântica teen, entre a elegância de Antonioni e a trivialidade poética de John Hughes, entre o escândalo compartilhado de A Noite e Ken Park, como inserir os três numa mesma carapaça cult? Estranho, mas de certa forma é assim que a economia do cinema funciona. E, em todo caso, são três filmes que carregam projetos pessoais importantes e que merecem bastante atenção.
Dia 18/02
E já que estamos em chave "reprises de Rohmer", A Mulher do Aviador na TV5 é realmente a melhor coisa para fazer nessa noite de sábado em matéria de tv a cabo. Por que, honestamente, escolher entre Sideways no Telecine Premium (22:00) e Mar de Fogo na HBO (21:00) é algo inglório demais até para ironizar. Do filme de Alexander Payne, a única coisa realmente engraçada do filme foi o incrível mal gosto do distribuidor nacional que associou um "Entre umas e Outras" como subtítulo. Muito mais engraçado, na verdade, do que qualquer coisa do filme. E mais comovente também, de certa forma (os múltiplos caminhos da estupidez humana, saca?). Em todo caso, a Film & Arts exibe às 22:00 Dançando no Escuro (Dancer in the Dark, 2000), primeira provocação de Lars Von Trier à sociedade americana, e primeira e única participação em longas-metragens da cantora Björk, que se sentiu tão insultada nas filmagens que jurou jamais voltar às telas novamente. Graças ao grande gênio dinamarquês. De qualquer forma, o filme cria fricções entre fantasia e realidade que são muito mais interessantes do que ele repetiu em Dogville. E eis um filme que não perde muito quando vertido à telinha de televisão. Ao contrário, parece até ser pensado para ela.
Dia 19/02
Aproveitando que Munique de Steven Spielberg está em cartaz, vale muito a pena assistir a Intervenção Divina (Yadon ilaheyya, 2002), segundo longa-metragem de Elia Suleiman, em que o conflito entre palestinos e israelenses é tomado em chave cômica discreta, em metáforas que são ao mesmo tempo leves e duras, e um grande vigor de resistência. Esse vigor é substituído pela desorientação em Munique, pela falta de projeto. Mas em ambos o desespero é o mesmo, representado neste filme palestino pela panela de pressão ao final do filme. Lindo. Uma nota curiosa é que Elia Suleiman quis inscrever o filme no Oscar como pertencendo ao Estado da Palestina. Como os Estados Unidos não reconheciam om país até aquele momento, o filme foi recusado. Um verdadeiro ato político de cinema que acaba complementando o filme. Passa às 20:15 no Telecine Cult. Em seguida, às 22:00, estréia Henry & June (idem, 1990), de Phillip Kaufman, a partir da relação entre Anais Nin e Henry Miller. Para ser bastante sincero: não dá para entender como o sujeito que dirigiu Os Eleitos e A Insustentável Leveza do Ser pôde ser capaz de assinar bobagem tamanha, que seria continuada com o igualmente inpeto Contos Proibidos do Marquês de Sade alguns anos depois. É incrível como alguns diretores não se dão ao respeito.
Dia 20/02
Às 22:00, o Telecine Premium exibe o filme Reencarnação. Mas, alto lá!, não é o filme de Jonathan Glazer com esplêndida fotografia de Harris "Gus van Sant" Savides e Nicole Kidman que vai passar, mas outro filme intitulado Reencarnação que veio direto para o vídeo e o cabo. Esse é dirigido por Simon Fellows, chama-se Blessed no original (o de Glazer é Birth), é um filme de terror e tem Heather Graham como protagonista. Mais vale, então, colocar no Cinemax e assistir à comemoração do 25º aniversário de Pink Flamingos (idem, 1972), o antológico filme de John Waters estrelando a igualmente mítica Divine. Pode até nem ser o melhor filme de John Waters – Desperate Living e Female Trouble competem em pé de igualdade pelo tútlo –, mas é possivelmente o mais provocador.
Dia 21/02
Para Sempre Lilya (Lilja 4-Ever, 2002), de Lukas Moodysson, é a estréia da terça-feira no Telecine Cult, às 22:00. É um filme que se resolve até muito bem na primeira parte, mas que começa a obedecer uma lógica meio miserabilista-lacrimejante quando sai da Rússia que acaba comprometendo a dramaturgia. O estilo é o famoso "o personagem vale mais quanto mais o personagem sofre", muito comum em figuras como William Wyler e Lars Von Trier. Mais interessante é Os Saqueadores (Trespass, 1992), de Walter Hill, que o Telecine Action exibe às 20:10. Hill é um dos cineastas mais menosprezados de sua geração, com uma voga discreta, reservada aos cultores dos westerns ou do badalado Warriors (que é uma espécie de western urbano). Seu cinema é para o faroeste um pouco o que o cinema de John Carpenter é para o cinema fantástico: um misto de frontalidade clássica, nostalgia da forma, poesia da abstração e fuga dos vícios da moda. Na madrugada, o Canal Brasil propõe uma sessão dupla muito da interessante: à 00:30, A Super Fêmea (1973), um filme de Aníbal Massaini Neto estrelado por Perry Salles e Vera Fischer, com participação especial de Adoniran Barbosa. Isso, no entanto, não impede o filme de ter um dos níveis de votação mais baixos do IMDb: 2,8 de 10. Em seguida, às 02:15, passa Já Não se Faz Amor como Antigamente (1976), filme em episódios dirigidos por Anselmo Duarte ("Oh! Dúvida Cruel"), John Herbert ("O Noivo") e Adrian Stuart ("Flor de Lys"), e baseados em Lygia Fagundes Telles. Mas talvez a pérola do dia seja no mesmo Canal Brasil, só que mais cedo, às 20:00, quando, ainda na chancela da programação especial de carnaval, vai passar O Vampiro de Copacabana (1976), filme um tanto raro de Xavier de Oliveira, uma comédia dramática com Marcos Valli, Ângela Valério e Rossana Ghessa nos papéis principais.
Dia 22/02
A quarta-feira também terá como destaque um dos filmes da programação pré-carnavalesca do Canal Brasil, dessa vez com O Flagrante (1975), de Reginaldo Faria, em que cinco maridos deixam as mulheres em casa e vão aproveitar o carnaval, até que uma das esposas se rebela e decide revidar. O filme passa às 20:00 e segue a lógica das outras comédias cariocas mulherengas de Reginaldo Faria, como Os Paqueras e Os Machões. À 00:30, no horário designado pelo Canal Brasil para a produção erótica-soft dos anos 70, passa As Mulheres Que Fazem Diferente (1974), filme em episódios dirigidos por Claudio MacDowell ("Flagrante de Adultério", com Perry Salles e Vera Fischer em dobradinha na semana), Lenine Otoni ("A Bela da Tarde", com Sandra Barsotti no papel título) e Adnor Pitanga ("Flagrante de Adultério", com Íris Bruzzi e Palo César Pereio).
Dia 23/02
E eis que a quinta-feira mais uma vez traz atrações concomitantes que são por vezes mais interessantes que o resto da semana inteira. Dessa vez a TV5 exibe seu quarto filme do ciclo dedicado a Eric Rohmer, e é um de seus melhores filmes: A Árvore, o Prefeito e a Mediateca (L'Arbre, le maire e la médiathèque, 1993), um filme que trabalha com alguns dos temas perpétuos de Rohmer, como o conflito entre o velho e o novo, o poder do acaso no destino das pessoas (no que, aliás, dá de dez a zero no novo Ponto Final de Woody Allen) e, naturalmente, o culto à naturalidade da vida que está no cerne de cada um de seus filmes (a luz como um "banho de vida" na película). O filme passa às 20:30. Prestem atenção que a TV5 exibe seus filmes uma hora mais cedo quando termina o horário de verão. Às 22:00, disputa entre dois filmes. De um lado, a Eurochannel tira das prateleiras As Amigas (Le Amiche, 1955), de Michelangelo Antonioni, e depois exibe à meia-noite o filme que é possivelmente sua obra-prima, O Deserto Vermelho/O Dilema de uma Vida (Il deserto rosso, 1964), um dos mais impressionantes usos de cor na história do cinema, e também o filme que rendeu a Antonioni o Leão de Ouro em Veneza. Às mesmas 22:00, o Telecine Cult tem seu dia de Telecine Classic e exibe Hatari! (idem, 1962), que talvez não seja o melhor filme de Howard Hawks, mas é certamente o filme em que ele faz sua ars poetica, faz sua declaração mais direta do que deve ser o cinema para ele. Dá até dó que filmes tão sensacionais sejam exibidos quase na mesma hora (e nem dá pra fazer sessão dupla, pois Hatari! tem uma duração de duas horas e quarenta). O jeito é ver apenas um e ir catando o resto nas repescagens...
Dia 24/02
Se a quinta-feira é o paraíso do cinéfilo, o fim-de-semana está bem mais morno do que de costume (e cada vez mais a falta da RetrôTV é mais sentida). Nessa sexta-feira, na falta de grandes estréias ou atrações raras, podemos nos fartar com um filme que vem sendo exibido há algum tempo pela rede Telecine. Trata-se de Amar Foi Minha Ruína (Leave Her To Heaven, 1945), clássico do film noir em cores, com Cornel Wilde e Gene Tierney como atores principais, e John M. Stahl na direção. Stahl é mais famoso como um diretor de melodramas em preto e branco, inclusive tendo feito alguns filmes que 20 anos depois seriam refeitos, em cores, por Douglas Sirk (Imitação da Vida, Sublime Obsessão). Mas, como podemos conferir às 20:00 no Telecine Cult, o talento dele ia além da chancela em que se tornou célebre.
Dia 25/02
Um sábado como esse é um grande presente para o folião, que sai tranqüilo de casa sem a paranóia de precisar gravar um filme imperdível. É uma pena que nenhum canal tenha decidido fazer o que a TVE fazia alguns carnavais atrás, criando uma programação especial de filmes de dar água na boca e de entreter completamente o espectador mais avesso ao carnaval (e criando uma escolha de Sofia para o folião porque tinha mais coisa interessante do que uma fita de 6h podia gravar). Dessa vez, o Telecine Premium estréia Com as Próprias Mãos (Walking Tall, 2004), estrelado por Chris "The Rock" Vaughn e Johnny Knoxville, e o Telecine Cult exibe em seqüência (estreando o segundo) os dois filmes da série tailandesa As Damas de Ferro sobre um time GLS de vôlei masculino (OK, nada pode ser mais "cult" que isso). Já a HBO estréia o que talvez seja o filme mais interessante do dia, Matadores de Velhinhas (The Ladykillers, 2004), remake do famoso filme de Alexander Mackendrick. O filme é bastante curioso porque, como em toda obra frustrada de diretores com notório conhecimento do métier, os autores são colocados a nu, e conseguimos ver o esqueleto dos artistas e as principais atrações de suas estéticas. Aqui, enquanto quase nada parece funcionar, as flexões de fala dos atores, a maneira de pausar, dar ênfase, os sotaques são a única coisa que criam uma atmosfera bastante interessante. O resto é masturbação perfeccionista, infelizmente, como eles já vem fazendo desde O Grande Lebowski.
Dia 26/02
Se a grande atração do carnaval carioca se dá no sábado bem de manhãzinha (o Cordão da Bola Preta), a grande atração do domingo de carnaval também passará de manhã, na Eurochannel, às 10:00. É Francisco, Arauto de Deus (Francisco, giullare di Dio, 1950), um dos mais comoventes filmes de Roberto Rossellini, e uma espécie de estranho precursor para outra obra-prima, O Evengelho Segundo São Mateus de Pasolini. Em seguida, o canal exibe o documentário Roberto Rossellini (idem, 2001), dirigido por Laura e Silvia Pettini, sobre o cineasta italiano. Às 14:30 o Cinemax Prime exibe Punhos de Serpente/A Revanche do Dragão (Se ying diu sau, 1978), primeiro filme dirigido por Yuen Woo-ping, e um dos filmes que consolidaram o então emergente talento de Jackie Chan como rei da comédia de ação. Às 22:00, o Telecine Cult estréia o filme A Seita (Los sin nombre, 1999), dirigido por Jaume Balagueró, que com esse filme foi "descoberto" por produtores americanos e trilhou o caminho de Guillermo del Toro, indo fazer um filme nos Estados Unidos (Darkness/A Sétima Vítima, 2002) com Anna Paquin. O resto é skindô, skindô.
SEMANA DE CARNAVAL
Em semana de carnaval, os cinéfilos se dividem. Parte junta-se às hordas foliãs que tomam as ruas, parte enfurna-se numa sala de cinema ou em sua sala de estar com várias fitas ou anotações de programação. Para os últimos, as informações não são boas. A programação é pífia em estréias e destaques, e possivelmente constitui a semana mais fraca do ano até agora – o que é meio inimaginável, porque a televisão sempre soube aproveitar a chancela "cinema X carnaval". Como fazer a programação diária seria uma pequena forçação de barra, daremos apenas os destaques de cada canal na semana, isso quando há alguma coisa a se falar...
CANAL BRASIL: as inventivas programações temáticas das semanas anteriores desaparece aqui num sem-fim de reprises e filmes conhecidos. Destaque para a programação da sessão É Tudo Verdade desta terça-feira, em que passam três curtas pouco conhecidos (mas alguns de muito renome) de Vladimir Carvalho. O programa começa às 22:35 com A Bolandeira (1966) e segue com Incelências para um Trem de Ferro (1972) e termina com Brasília Segundo Feldman (1979)
EUROCHANNEL: Crepúsculo Vermelho (Dans le rouge du couchant, 2003) é um filme de Edgardo Cozarinsky com um time transnacional superstar do cinema de autor: Bruno Putzulu, Marisa Paredes, Féodor Atkine... E Cozarinsky é uma figura de respeito, tendo feito o notável documentário Cidadão Langlois, sobre a mítica figura da Cinemateca Francesa, pai, junto com André Bazin, da nouvelle vague. Crepúsculo Vermelho, que passa às 22:00 do dia 2/3, quinta-feira, reflete a própria posição existencial de Cozarinsky como figura de duas pátrias e de nenhuma, mas é pouco eficiente na criação de uma dramaturgia para expôr esse sentimento. Ainda assim, é digno de nota.
CINEMAX PRIME: No sábado, às 08:00, o canal exibe um dos filmes mais belos de John Ford, A Paixão de uma Vida (The Long Gray Line, 1955). Não é uma estréia, mas já que o Telecine Cult abdicou do status de lançador de clássicos nas quintas-feiras, vale a pena prestigiar um dos canais que têm mais pérolas de mais de 40 anos atrás para nos prestigiar. Pena que ele geralmente use esses filmes para encher horários menos nobres da programação, como a manhã e o começo da tarde. Ainda assim, os prós superam os contras de longe...
TELECINE PREMIUM: Por fim, o que até os outdoors das cidades já anunciam – e vamos atribuir valor a quem merece, a imagem de fato está sensacional: Menina de Ouro, de Clint Eastwood, no sábado, dia 4, às 22:00. Muito já se falou sobre o filme, a favor e contra, e as polarizações tornaram a discussão até um pouco chata, e certamente não se cristalizaram no estilo do diretor e na expressividade do filme, preferindo as fanfarronices temáticas e o "conteúdo" polêmico do ato final do filme. Ver o filme na televisão compromete, porque o filme é em formato scope, 1:2,35, e o Telecine Premium, como sempre, deve passar quadrado. Mas, na verdade, nem o dvd se esmerou para fazer jus à elegância do filme, lançando o filme em 1:1,66 e ainda se dando o direito de dizer que estava lançando uma edição de colecionador... Pífio. Em todo caso, assistir a Menina de Ouro no sábado é muito melhor do que ver aquela festa cafona, sem-graça e insuportável que vai acontecer no domingo, que cativa tanta mídia e significa tão pouco para o cinema de um ponto de vista artístico...
Dia 06/03
Já é um costume dizer que no Brasil o ano começa depois do carnaval. Mas, no que diz respeito à programação de filmes na tv a cabo, não há muita diferença de qualidade desta semana para as outras de 2006 até agora. Ao contrário, ela inclusive é bastante modestinha, sem o peso de uma estréia forte ou a raridade de um filme invisível. Alguns destaques, é certo, mas nada especial. Vamos aos filmes:
O Canal Brasil inicia nesta segunda-feira uma homenagem a Amácio Mazaroppi, grande figura da comédia brasileira, eternizado com um personagem recorrente, o matuto do interior (geralmente chamado Jeca). Ator, produtor, roteirista e eventualmente diretor, Mazaroppi fez seu nome e, apesar da irregularidade ou pouca força da maioria dos filmes, continua presente no imaginário cinematográfico brasileiro, reconhecido como a figura que obteve mais sucesso de público no cinema brasileiro. Às 22:40, passa o documentário de média-metragem Mazaroppi, o Cineasta das Platéias (2002), produzido pelo Instituto Amácio Mazaroppi (ou seja, será retratada a visão oficial) e dirigido por Luiz Otávio de Santi. Em seguida, às 23:40, passa Zé do Periquito (1960), primeira incursão de Mazaroppi pela direção, aqui dividida com Ismar Porto. O Festival terá continuidade na semana que vem com O Lamparina (1964), de Glauco Mirko Laurelli. Já na TV5, às 22:40, passa Boda Branca (Noce blanche, 1989), filme de Jean-Claude Brisseau com muitas referências a O Último Dia de Tranqüilidade, de Valerio Zurlini, centrando-se na relação entre um professor de filosofia e sua aluna prematuramente adulta e perturbada (e linda, naturalmente). Mas ambos os filmes têm sensibilidades totalmente diferentes.
Dia 07/03
Enquanto o Festival É Tudo Verdade não começa (as retrospectivas são de salivar: Werner Herzog na internacional e Jorge Bodanzky na nacional), a seção É Tudo Verdade do Canal Brasil exibe um documento bastante raro e precioso do ponto de vista da memória da música brasileira: Saravah (1972), filme de Pierre Barouh, mais famoso por sua atuação no filme Um Homem, Uma Mulher (que já contava com o "Samba da Bênção" e seu famoso saravá...), de Claude Lelouch. Saravah conta com participações de Paulinho da Viola, Baden Powell, Maria Bethânia, João da Baiana e Pixinguinha, este último em provavelmente seu único registro colorido. O filme é fotografado por João Carlos Horta, que fez o inesquecível Pixinguinha em 1969. O compromisso é obrigatório e está firmado: 22:35, no Canal Brasil.
Dia 08/03
Na falta de uma atração mais digna desse nome, chamamos a atenção para Torrente – O Braço Errado da Lei (Torrente, el brazo tonto de la ley, 1998), grande hit do cinema espanhol e dirigido por uma das figuras mais curiosas dos últimos tempos, Santiago Segura. Misto de Ed Wood, Roger Corman e artista mambembe, Segura vai em todos os programas da televisão espanhola para divulgar seus filmes, aparece como ator em uma série de filmes de gênero (inclusive hollywoodianos) e cria em torno de si um imenso culto de personalidade (Torrente 3, por exemplo, não chegou nem a ter sua sinopse divulgada para fazer frisson). Como diretor, Santiago Segura não é nada digno de nota, bebendo na veia de Alex de la Iglesia, outro que, como diretor, também deixa a desejar. Mas como o dia está fraco demais e, em todo caso, trata-se de uma estréia, quem sabe haja tempo ocioso para se ligar no Telecine Cult às 22:00.
Dia 09/03
Para variar, o dia mais concorrido da semana é a quinta-feira. O Telecine Cult vem com sua dupla de estréias: às 19:20 passa O Fantástico Dr. Dolittle (Doctor Dolittle, 1967), de Richard Fleischer, e às 22:00 passa E Sua Mãe Também (Y tu mamá también, 2001), de Alfonso Cuarón. Esse último é carregado de sensualidade e tem seu quinhão de sensibilidade para tratar de um tema que é em alguma medida tabu, ao passo que o filme de Fleischer tem o que se imagina dele: senso visual, uma certa elegância de tom e composição. Nenhum é exatamente uma atração imperdível, mas não dá pra dizer que se perde tempo com algum desses filmes. Às 20:30, a TV5 exibe A Falsa Servente (La Fausse suivante, 2000), filme de Benoît Jacquot, adaptado da conhecida peça de Marivaux, intepretado por Isabelle Huppert, Sandrine Kiberlain e Mathieu Amalric, entre outros. A obra de Jacquot é bastante celebrada em certos círculos, mas os filmes exibidos no Brasil (Sétimo Céu, A Escola da Carne, Sade e Tosca) são realmente de amargar. Em todo caso, travar contato com esse filme não é exatamente fácil e, no mais, há os atores para compensar. Mas a verdadeira curiosidade do dia é Há Motivo (¡Hay motivo!, 2004), filme dirigido por 32 diretores espanhóis (entre eles Vicente Aranda, Julio Medem, Isabel Coixet e Imanol Uribe), aproveitando, em março de 2004, a campanha eleitoral para refletir sobre a situação política e social da Espanha naquele momento. Cada um fez seu filmete de 3 minutos e o epílogo narra o ataque terrorista de 11 de março. É o tipo de esforço que, se carregado com seriedade e fugindo do populismo fácil (coisa que em geral os filmes coletivos sobre política não fazem, basta conferir 11 de Setembro), faz de um filme nota de referência histórica. Ruim ou bom, um filme a se ver.
Dia 10/03
O Cinemax estréia em sua programação às 22:00 o filme Stan Lee: Mutantes, Monstros e Quadrinhos (Stan Lee's Mutants, Monsters, And Marvels, 2002, dir.: Scott Zakarin), documentário sobre o criador da Marvel Comics, celeiro de uma infinidade de super-heróis que hoje estão disseminados no cinema (X-Men, Homem-Aranha, Hulk, Demolidor, Elektra), dominando grande parte do cinema de aventura feito atualmente. O filme é uma grande entrevista com Kevin Smith, argumentista de quadrinhos e cineasta sem talento, mas que se revela uma escolha interessante, justamente por sua procedência.
Dia 11/03
Num sábado meio deserto em atrações (ou Rei Arthur na HBO é sequer digno de nota?), o Telecine Premium salva o dia estreando O Âncora – A Lenda de Ron Burgundy (Anchorman: The Legend of Ron Burgundy, 2004), dirigido por Adam McKay e interpretado por Will Farrell, Steve Carell, Paul Rudd e Christina Applegate, entre outros. Apesar de McKay ser egresso da televisão (dirigiu alguns dos episódios da série Saturday Night Live), ele se revela possivelmente como o mais interesssante diretor a trabalhar com a frat pack que de uns anos para cá tomou de assalto a comédia americana. São filmes que parecem se comprazer em suas irregularidades, e O Âncora não foge da regra. Crítica do savoir-faire levada ao próprio modo de construção do filme (o que nem as paródias do tipo Todo Mundo em Pânico fazem), esses filmes acabam obrigando a um tipo de postura um tanto diferente em relação às comédias comuns. Então, apertem os cintos, o humor reapareceu (ainda que a turma ainda não tenha conseguido achar o diretor que vai transformar esses filmes em obras duradouras – mas será essa uma crítica válida nos termos que esses filmes apresentam?), e passa às 21:00 no Telecine Premium.
Dia 12/03
Uma Ponte entre Dois Rios (Un Pont entre deux rives, 1999), direção de Gérard Depardieu e Frédéric Auburtin. Ambos são ex-atores de Maurice Pialat e ambos estão entre os diretores de Paris, je t'aime, filme coletivo que conta com os nomes de Nobuhiro Suwa, Gus Van Sant, irmãos Coen, Wes Craven, Olivier Assayas, Bruno Pdalydès e a duplinha Walter Salles/Daniela Thomas. Enquanto o filme não fica pronto, a TV5 exibe Uma Ponte entre Dois Rios às 20:30. Mas as verdadeiras atrações do dia passam no Telecine Cult, e são duas estréias fortes. A primeira é Sem Lei, Sem Alma (Gunfight at the O.K. Corral, 1957), uma das melhores adaptações da famosa rixa entre Wyatt Earp e Doc Holiday contra a turma dos Clanton, dirigida com elegância e intensidade por John Sturges. O filme passa às 15:40. Mais à noite, às 22:00, o mesmo canal estréia Blackout (The Blackout, 1997), filme de Abel Ferrara que apresenta um de seus mais altos índices de desorientação, com o personagem de Matthew Modine preso entre a imagem de uma morena fatal (Béatrice Dalle), uma loira vital (Claudia Schiffer) e uma imagem-fantasma, a memória de uma mulher de quem ele pode ser o assassino. Vício (todos os tipos), confusão, incerteza, incapacidade de se instalar e a "visão moral" instalada em todas as atitudes: Blackout é um dos filmes que mais explora o buraco negro que se abre quando se começa a decifrar o cinema de Ferrara.
Dia 13/03
No Canal Brasil, continua a homenagem a Amácio Mazaroppi, com a exibição de O Lamparina (1964), direção de Glauco Mirko Laurelli. Laurelli foi acima de tudo montador, deixando sua assinatura em mais de 30 longas-metragens, mas também dirigiu uma meia-dúzia de filmes, e quatro desses para Mazaroppi. O Lamparina passa às 22:35. Mais cedo no Canal Brasil passa O Choro Dele (1975), curta-metragem sobre Jacob do Bandolim dirigido por Leilany Fernandes, que contém as únicas imagens em movimento de Jacob, nada mais do que sete segundos. De madrugada, uma rara dobradinha de curta e longa-metragem, e dois monumentos do cinema novo. O primeiro é Arraial do Cabo (1959), curta-metragem de Mário Carneiro e Paulo Cezar Saraceni que, segundo várias fontes, inaugura junto com Aruanda, de Linduarte Noronha, o cinema novo. Em seguida, passa O Desafio (1965), também de Saraceni, também deflagrador de um outro momento na história do movimento, criando o protagonista intelectual interiorizado tentando se refazer do golpe ditatorial (e assim influenciando Terra em Transe, O Bravo Guerreiro, entre outros). A dobradinha passa no nada cristão horário de 04:00, madrugada de segunda para terça-feira.
Dia 14/03
Electric Shadows (Meng ying tong nian, 2004) é mais um da leva de recentes filmes chineses que o Cinemax estréia. Primeiro longa de Xiao Jiang, o filme passa por alguns terrenos já bastante conhecidos e esgotados ao ponto do clichê: a Revolução Cultural como pano-de-fundo, o "amor do cinema" unindo os personagens à Cinema Paradiso, os destinos diferentes de dois personagens que cresceram juntos, etc. Tudo anuncia o tipo de filme lacrimejante e edificante que vem de um lugar longínquo. Mas, em compensação, é uma maneira de travar contato com uma cinematografia que só raramente chega ao país, via lançamento comercial, festivais e exibições na tv. Electric Shadows passa às 22:00. Já no Canal Brasil, a sessão É Tudo Verdade dessa semana presta uma homenagem a Antônio Carlos da Fontoura, diretor dos nada prestigiosos Uma Aventura do Zico e Gatão de Meia-Idade, mas outrora realizador de documentários vigorosos em curta-metragem. Esses três filmes, feitos nos anos 60, passam juntos a partir das 22:35: Ver Ouvir (1967), Heitor dos Prazeres (1965) e Os Mutantes (1970). Os dois primeiros são filmes de uma sensibilidade impressionante, e o terceiro é uma rara oportunidade de ver um título bastante desconhecido, com filmagens raras de um dos conjuntos mais importantes da música brasileira. Mas o grande destaque do dia vai mesmo para Desejo (Desire, 1936), filme de Frank Borzage que o Film & Arts exibe às 22:00. Desejo, como qualquer filme de Borzage exceto seu Adeus às Armas, é peça de raridade no país, e merece atenção ultraespecial. O filme é estrelado por Marlene Dietrich, Gary Cooper e John Halliday e, como se não bastasse, Ernst Lubitsch dirigiu algumas cenas antes de Borzage chegar no set do filme.
Dia 15/03
A um dia cheio de atrações, segue-se um dia cheio de coisas de pouco interesse. Ocasião, então, para dedicar dois dedos de prosa a Richard Linklater, realizador prolífico (já seis longas lançados nessa década, além de um curta e um piloto para televisão) e autor de vários projetos bastante diferentes, mas sempre tentando entender um determinado tipo de sensibilidade contemporânea, especialmente a do jovem universitário americano. Para isso, todos os caminhos são possíveis, do filme-de-grupo (Suburbia, Dazed and Confused) ao passa-o-bastão como estratégia narrativa (Slacker), passando pelo filme romântico (os dois Antes do...) e chegando à animação, como o recente A Scanner Darkly (ainda a estrear) e, mais especialmente Waking Life, espécie de remake animado de Slacker. Linklater divide os entusiasmos em Contracampo, com francos admiradores e iguais detratores. Em todo caso, há de se concordar ao menos que cada projeto seu vai ter sempre um pouquinho de imprevisível. E isso já é melhor do que, digamos, Joel Schumacher ou Woody Allen. Waking Life passa na Fox às 22:00.
Dia 16/03
Sonho de Valsa (1987) fecha uma ácida trilogia de Ana Carolina sobre a condição feminina, iniciada com Mar de Rosas e continuada com Das Tripas Coração. É lícito dizer que a acidez vai se atenuando de filme a filme, embora progressivamente os filmes tendam mais à loucura e a uma anarquia inicial na imagem, que vai aos poucos se desfazendo no lugar-comum (o final "foi tudo um sonho" de Das Tripas Coração ou a repetição no vazio dos jogos de linguagem em Sonho de Valsa). Ainda assim, Sonho de Valsa guarda uma estranheza e uma sensibilidade que não são as de qualquer filme, uma energia e um inconformismo que são bem os da índole de Ana Carolina. Sonho de Valsa é o destaque da sessão Brasil Cult, e passa às 22:35.
Dia 17/03
Na ausência completa de coisas interessantes para mencionar (curioso como não há nada interessante passando nem em canais que costumam aparecer bastante por aqui, como a TV5), vale a pena dar uma olhada no que o TCM Classic Hollywood anda exibindo: duplinha John Huston/Humphrey Bogart com O Falcão Maltês (22:00) e Garras Amarelas (23:45). Infelizmente, é praxe do canal exibir os filmes dublados e colorizados, no caso de filme feito originalmente em preto e branco. Nesse caso, é de se perguntar se realmente ficamos tristes ou não com o fato de nenhuma das grandes redes de tv a cabo ter colocado o canal na programação. Mal ou bem, já era alguma coisa. Pelo menos para dias horríveis como esse...
Dia 18/03
Simpática dobradinha a que a rede Telecine propõe para este sábado, exibindo a primeira versão de Sob o Domínio do Mal (The Manchurian Candidate, 1962), de John Frankenheimer, estrelado por Frank Sinatra e Janet Leigh, às 19:40 no Telecine Cult, e em seguida, às 22:00, exibindo a nova versão do filme, dirigida por Jonathan Demme e estrelada por Denzel Washington, desta vez no Telecine Premium. Mesmo que o filme de Demme não seja exatamente uma estréia de peso, ao menos é melhor do que o bobalhão Celular – Um Grito de Socorro, que a HBO estréia em seu horário nobre de 21:00. Para os colecionadores de títulos nacionais recentes, o Canal Brasil exibe Procuradas (2004), longa-metragem exibido na Mostra Internacional de São Paulo e lançado comercialmente apenas no sul do país. Nova oportunidade, então, para ver o filme, dirigido por Zeca Pires e José Frazão e estrelado por Larissa Bracher, Paula Burlamaqui, Rita Guedes e Claudia Liz, entre outras. Às 23:00, na sessão "Seleção Brasileira" do Canal Brasil. Sorte nossa que a escalação da Copa é outra.
Dia 19/03
Fechando a semana, duas curiosidades passando no Cinemax uma atrás da outra. A primeira é Atonik Circus (Atomik Circus - Le retour de James Bataille, 2004), dirigido pelos irmãos Didier e Thierry Poiraud, e estrelado por Vanessa Paradis, ex-cantora infantil, modelo e atriz (Boda Branca). Aparentemente, o filme é um coquetel de ficção científica com toques de todos os outros gêneros cinematográficos no mundo, criando um OVNI que a alguns interessa e a outros enche o saco. Estréia às 22:00. Em seguida, passa Immortel (Immortel (ad vitam)), dirigido por Enki Bilal, mais conhecido como desenhista de histórias em quadrinhos do que como o eventual diretor de cinema que é (Bunker Palace Hotel, 1989; Tykho Moon, 1996). Pode-se dizer de Bilal que seu cinema nunca será além de uma curiosidade, de uma extravagância interessante. Em todo caso, isso já é muito mais do que a maioria da produção de cinema fantástico contemporânea, chafurdada que está em fórmulas de apelo fácil, sejam essas fórmulas novas (Jogos Mortais) ou velhas (A Chave Mestra). Immortel passa às 23:45.
Dia 20/03
Último musical de Stanley Donen (Cantando na Chuva, Procura-se uma Estrela, Sete Noivas para Sete Irmãos, Cinderela em Paris, entre outros), Movie-Movie, a Dupla Emoção (Movie Movie, 1978) passa no Film & Arts à meia-noite de segunda para terça-feira. É um filme que não teve lançamento em vídeo e tampouco em dvd (nem lá nos EUA) e, portanto, depende unicamente da televisão como oportunidade de exibição. Como os últimos filmes de Donen, Movie Movie foi bastante mal-recebido em sua estréia, mas ganhou acolhida dos fãs do diretor, que se não colocam o filme em pé de igualdade com sua produção dos anos 50, ao menos o consideram como um filme vigoroso e digno do autor. Curioso é que o filme, nos cinemas, foi exibido com a primeira parte em preto e branco e a segunda em cores, mas a televisão costuma colorir tudo. Pela raridade da exibição, Movie Movie não deve ser perdido. Antes disso, no Canal Brasil, continua a retrospectiva dedicada a Amácio Mazaroppi de todas as segundas-feiras. Às 22:35, passa O Puritano da Rua Augusta (1965), filme atribuído a Mazaroppi nos créditos, mas dirigido na verdade por John Doo, que recebeu o crédito de assistente de direção. O filme é uma brincadeira com os valores modernos dos jovens paulistas dos anos 60, e Mazaroppi aqui faz Pundoroso, um industrial que tenta pregar sua nova religião. Como curiosidade, a participação de Marly Marley, hoje jurada de Raul Gil, que no filme interpreta Carmen, a fogosa segunda esposa de Pundoroso.
Dia 21/03
E o Film & Arts, canal sempre muito criterioso em sua programação (pena que eles se pautem quase sempre pela idéia de "filme de bom gosto" em sua programação), revela-se como a melhor opção da semana. Neste terça-feira, eles exibem Duas Semanas de Prazer (Holiday Inn, 1942), de Mark Sandrich, filme que para o canal chama-se Holiday Inn – Véspera de Natal. Estrelado por Bing Crosby, Fred Astaire e Marjorie Reynolds, o filme levou o Oscar de melhor canção para "White Christmas", de Irving Berlin (que também é roteirista do filme). Sandrich sempre foi um fiel artesão, responsável nos orçamentos e prazos, além de ter se revelado o diretor por excelência de Fred Astaire e Ginger Rogers, simplesmente submetendo sua câmera aos movimentos dos dois. O filme passa às 20:00. No mesmo dia, o mesmo canal exibe, às 16:00 e às 23:00, um programa semanal chamado Música para o Cinema. Para começar, nada menos que Bernard Herrmann, figura das mais importantes na história da música para o cinema, compositor para filmes como Cidadão Kane, Um Corpo Que Cai, Psicose e diversos outros Hitchcocks, Taxi Driver e Irmãs Diabólicas, entre outros. Nas semanas seguintes, o programa continuará com atrações imperdíveis, como Joseph Kosma, Toiru Takemitsu e Georges Delerue. Na falta de filmes franceses interessantes na TV5 essa semana, o espectador pode ficar com o também pouco interessante Betty Fischer e Outras Histórias (Betty Fischer et autres histoires, 2001), filme de Claude Miller que o Telecine Cult estréia às 22:00.
Dia 22/03
No marasmo costumeiro das quartas-feiras, se não valem os filmes, vale ao menos uma reflexão sobre dois filmes interessantes que passam na HBO Plus. Dois filmes que diferem em tudo, mas se refletem numa preocupação com o gênero, e uma preocupação específica: a de tentar atualizar a forma para restituir no espectador um velho sentimento de adesão ao gênero. Tarefa um tanto ingrata, mas que diz respeito ao estado atual do cinema: a necessidade de conjugar um grau avançado de técnica e imprimir ao mesmo tempo o tipo de adesão mágica com o cinema de antigamente. A seu modo, tanto Tiro e Queda (The Big Hit, 1998) de Che Kirk-Wong (HBO Plus, 12:30) quanto Hellboy (idem, 2004) de Guillermo del Toro (HBO Plus, 14:20) tentam equacionar tradição e modernidade, ambos em países que não são os seus, mais chamados como artesãos do que como autores, e daí um interesse a mais: o de como novamente tentar aprender dos grandes nomes do passado (Jacques Tourneur, John Ford, Howard Hawks) que mantinham uma grande autonomia de criação mesmo quando os produtores exigiam simplesmente um veículo.
Dia 23/03
Henry Levin fez reputação no cinema como uma figura de estilo totalmente anônimo, dado aos excessos costumeiros de dramaticidade e à obedi6encia dos códigos mais desinteressantes de representação em Hollywood. Mas há mais de um motivo para se assistir a O Sentenciado (Convicted, 1950), filme sobre prisões e reabilitação estrelado por Glenn Ford, Broderick Crawford e Dorothy Malone, que o Cinemax Prime exibe às 06:45. Além dos atores, o filme se presta muito a uma comparação com Fúria, de Fritz Lang, Crime Verdadeiro, de Clint Eastwood, e até com o asqueroso À Espera de um Milagre, de Frank Darabont. À Noite, no Canal Brasil, passa Parceiros da Aventura (1980), único longa-metragem dirigido por José Medeiros, prolífico diretor de fotografia do cinema brasileiro (A Falecida, Viagem ao Fim do Mundo, Xica da Silva, Memórias do Cárcere). O filme passa na seção Brasil Cult, às 22:35.
Dia 24/03
É verdade que o Eurochannel até tenta arejar sua programação, mas geralmente é com coisas que não são exatamente de fazer os olhos darem aquela arregalada. Há algumas semanas, o destaque foi o diretor Fatih Akin. Agora, é uma mostra de filmes independentes britânicos, nenhum exatamente muito bem recomendado pelas fontes mais confiáveis. A mostrinha abre com Crossmaheart (idem, 1998), que tem a reputação de ser o primeiro filme rodado em locação na Irlanda do Norte em vinte anos, mas cujo interesse não passa disso. Em todo caso, não é só de filmes bons que se faz o cinema, e, de fato, para alguém interessado no "lado B" da produção britânica, a mostra é de interesse inestimável. Pena que o cinema britânico em geral não seja exatamente estimável...
Dia 25/03
Duas Vezes com Helena (2001), de Mauro Farias, é o filme do mês (opinião deles, não nossa) no Canal Brasil e passa no sábado às 23:00. Adaptação do romance Três Mulheres de Três PPP, de Paulo Emílio Salles Gomes. Aproveitando que o livro/roteiro também teve uma versão cinematográfica assinada por Paulo Cezar Saraceni em 1981, Ao Sul do Meu Corpo, o canal passa também o filme de Saraceni, às 21:00. Nenhum dos filmesé completamente bem sucedido, mas uma dose dupla dessas é uma oportunidade interessante para ver que aspectos da narrativa original cada um dos diretores deu preferência. No Telecine Premium, a estréia do sábado às 22:00 é O Amigo Oculto (Hide and Seek, 2005), filme de John Polson estrelado por Robert De Niro e a menina Dakota Fanning. Objeto de críticas devastadoras, sabe-se lá por quê, o filme tem um artesanato para lá de cuidadoso, e trabalha a questão da paranóia contra o outro de uma forma bastante interessante, com um final passado numa caverna-útero que utiliza um potencial metafórico muito em desuso nos dias de hoje. Ainda assim, a estréia do dia é Hitch – Conselheiro Amoroso (Hitch, 2005), um dos melhores filmes do ano passado, uma das comédias americanas mais interessantes dos últimos tempos e um belo questionamento sobre identidade masculina no mundo contemporâneo (no que faz uma ótima tabelinha com o recente remake de Alfie). Andy Tennant na direção atrapalha em alguns momentos (os atores poderiam ficar mais controlados, e o fim do filme poderia ser melhor talhado), mas no geral conduz seu filme com um ritmo para lá de interessante. Estréia na HBO às 21:00.
Dia 26/03
Já que os sábados ficam povoados das grandes estréias, os filmes "cult" encontram sua plataforma de lançamento nos domingos. É o caso de A Comunidade (La comunidad, 2000), a comédia meio chinfrim de Álex de la Iglesia que o Telecine Cult exibe às 22:00, e de Kung Fu Futebol Clube (Siu lam juk kau/Shaolin Soccer, 2001), filme que fez a fama internacional de Stephen Chow e seu uso inteligente e surpreendente da computação gráfica para criar humor. É uma pena que a versão lançada aqui não tenha sido a original, de 110 minutos, mas a americana, picotada pela Miramax, de 87 apenas. Em todo caso, para quem se deslumbrou com o também ótimo Kung Fusão (Kung Fu/Kung Fu Hustle, 2004), primeiro filme de Chow lançado nos cinemas do Brasil, o programa é imperdível.
Ruy Gardnier

 

 
Desejo, de Frank Borzage, é o destaque do Film & Arts nessa terça às 22:00 (foto: Marlene Dietrich).

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