ARTIGOS
O medo da tv diante da
imagem
(sobre Falcões [Meninos do Tráfico])
por Luiz Carlos Oliveira
Jr. (27/03/2006)
Zapping!
por Bolívar Torres
(27/03/2006)
Quando
a televisão faz montagem
(sobre Barcelona 3, Real Madrid 0, 19/11/2005)
por Luiz Carlos Oliveira
Jr. (26/01/2006)
FILMES DA SEMANA
(30 DE JANEIRO A 26 DE MARÇO DE 2006)
Dia 30/01
No Direction Home: Bob Dylan (idem, 2005)
surgiu de maneira bem curiosa no final do ano passado.
Não tendo tido exibição nos cinemas,
aparece de forma relativamente modesta, como um projeto
de Martin Scorsese sobre o cantor/compositor. Porém,
e isso é importante, o filme não é
exatamente um projeto idealizado por Scorsese, mas em
que ele entra no meio do processo. Então, surge
a suspeita: a adição do nome do cineasta
americano mais cinéfilo e cinéfago de
sua geração existiria apenas para agregar
valor de publicidade ao filme? Não tão
rápido: depois que chegou para dirigir o filme,
Scorsese teve carta branca, fez uma devassa em todos
os arquivos de filme que pudessem ter alguma coisa remotamente
relativa a Dylan e, relembrando seus tempos na mesa
de montagem de Woodstock, compôs um filme
de montagem inteiramente pessoal, milhas além
do documentário genérico sobre figuras
do mundo pop. O filme é o grande destaque da
semana uma semana não especialmente cheia
em atrações e estréia no
Telecine Premium às 22:00. São três
horas e meia de filme, então prepare-se bem e
siga viagem.
Dia 31/01
Um dos filmes brasileiros mais significativos dos anos
70 é Mar de Rosas (1977), de Ana Carolina.
Entrada definitiva no país de um discurso contestador
da partilha de papéis entre homem e mulher, num
filme raivoso, ácido e confrontativo, que em
seu ataque contra a moral de classe média lembra
e muito alguns filmes de Rainer Werner
Fassbinder (O Medo Devora a Alma, O Machão).
É possivelmente o melhor filme de Ana Carolina,
o que também significa que é possivelmente
o melhor longa brasileiro já dirigido por uma
mulher. Passa às 20:00 no Canal Brasil. Um pouco
mais tarde, às 22:35, a sessão É
Tudo Verdade continua exibindo Vladimir Carvalho, dessa
vez O Evangelho Segundo Teotônio (1984),
filme sobre o político Teotônio Vilela,
com presença de Leonel Brizola, Henfil, Miguel
Arraes, Carlos Castelo Branco e o nosso atual presidente
do Brasil.
Dia 1º/02
Canal não muito presente nessa nossa coluna semanal,
a A&E Mundo exibe às 22:00 A Última
Sessão de Cinema (The Last Picture Show,
1971), de Peter Bogdanovich, primeiro filme a associar
à idéia de fim da época de ouro
do cinema uma aura de melancolia, criando um clima que
seria utilizado à exaustão por Wim Wenders
ao longo desta mesma década em seus melhores
filmes (Alice nas Cidades, 1974; No Decurso
do Tempo, 1977; O Estado das Coisas, 1980).
Curiosamente, o próprio Bogdanovich foi seguir
seu caminho próprio sem usar essa melancolia
como muleta (fazendo, entre outros, Lua de Papel,
de 1973, e o estupendo e cassavetiano They All Laughed,
de 1981), e curiosamente Wenders virou o superstar que
vemos por aí. Vai entender. Além de tudo
isso, o filme é a primeira aparição
de Cybill Shepherd no cinema, aos 20 aninhos.
Dia 02/02
Única estréia de maior peso no Telecine
Cult essa semana, A Pecadora (Seven Sinners,
1940) passa às 22:00. O filme é dirigido
por Tay Garnett e estrelado por Marlene Dietrich e John
Wayne. Garnett entrou para a história como um
diretor de poucos atributos, impessoal, sem estilo,
etc., mas um esforço de reabilitação,
pelo menos de alguns filmes mais bem-sucedidos (especialmente
A Pecadora, O Destino Bate à sua Porta
e Assim É Hollywood), vem sendo encenada
aqui e acolá. Já a TV5 vai largando Claude
Miller e começa a exibir Eric Rohmer. O primeiro
é A Mulher do Aviador (La Femme de
l'aviateur, 1981), que o canal exibe às 21:25.
A relação Rohmer/Brasil é muito
curiosa: seus filmes circulam bem em 35mm, ao menos
no circuito das grandes capitais, mas em compensação
achar alguma coisa em vídeo ou ver na televisão
é impossível... Vai entender...
Dia 03/02
No quadro de uma pequena mostra sobre diversidade cultural
patrocinada em 2003 pelo programa Rumos do Itaú
Cultural, o Canal Brasil exibe às 14:00 Sertão
de Acrílico Azul Piscina (2004), filme de
meia-hora de Karim Ainouz e Marcelo Gomes, que passam
pelo sertão registrando traços de tradição
convivendo com traços de contemporâneo.
Nada mal ver o que fazem juntos os diretores de Madame
Satã e Cinema, Aspirinas e Urubus,
numa espécie de All Star Game do cinema nordestino
contemporâneo.
Dia 04/02
Dessa vez, vai ser infrutíero sentar à
noite de sábado para ver um filme inédito
na programação. Entre Julianne Moore em
Os Esquecidos na HBO (às 21:00) e Matt
Damon em A Supremacia Bourne no Telecine Premium
(às 22:00), entre Joseph Ruben e Paul Greengrass,
o melhor é escolher outra coisa para fazer. Como
por exemplo ligar a televisão mais cedo para
assistir a Paulo Villaça, o Elegante Marginal,
episódio da série Retratos Brasileiros
dedicado ao eterno bandido da luz vermelha. Dirigido
por Luís Carlos Lacerda a partir de unma idéia
de Norma Bengell, o filme é centrado nos depoimentos
de la Bengell, Marília Pêra e Helena Ignez,
que contracenou com ele em O Bandido da Luz Vermelha,
interpretando Janete Jane (e posteriormente em A
Mulher de Todos, em que Villaça interpretou
um toureiro gay). Quanto haverá de precisão
e de qualidade é uma incógnita. Mas pressente-se
que, havendo um mínimo de cuidado com a carreira
de Villaça, n!ão se deve esquecer de sua
participação no preciosíssimo Perdidos
e Malditos, filme dirigido por Geraldo Veloso em
que Paulo Villaça foi protagonista (e que começa
com ele gritando "Casaca, Casaca", com a camisa
do Vasco, dando tiro em urubus; simplesmente imperdível,
e não só para torcedores do Vasco).
Dia 05/02
E, por fim, outra forte estréia recente da semana
vai para o Cinemax, que lança Elas me Odeiam,
Mas me Querem (She Hate Me, 2004), de Spike
Lee. Curiosamente o filme ficou fora do circuito de
lançamentos do Brasil, mesmo tendo um elenco
bastante digno de nota Ellen Barkin, Monica Bellucci,
Woody Harrelson, John Turturro e o rapper Q-Tip,
entre outros e uma sinopse bastante controversa:
um homem negro que recebe muito dinheiro para engravidar
mulheres lésbicas. Lançado direto em DVD,
o filme ganhou sua crítica
em Contracampo, mas não recebeu muito destaque
fora do circuito de blogs e da internet em geral. É
uma pena, porque goste-se mais ou menos, o cinema de
Spike Lee é uma das obars tão singulares
que vale a pena sempre correr atrás...
[Essa coluna é dedicada ao criterioso leitor
Pierre Willemin, que cobra maior cuidado com a atualização
da coluna e será atendido...]
Dia 06/02
Altos e baixos numa semana cheia de destaques mas nada
excepcionalmente raro ou invisível. Comecemos
então com um diazinho meio vagabundo, e um filme
que não deve ser mais do que isso. Quem já
viu o infame Kurt and Courtney (1998) sabe do
que Nick Broomfield é capaz. Pois bem, em 1992
ele fez um filme sobre o processo de Aileen Wuornos,
considerada a primeira assassina em série mulher
dos Estados Unidos. Em 2003, depois da execução,
Broomfield dirigiu com Joan Churchill outro filme, Aileen:
Life and Death of a Serial Killer, que o Cinemax
exibe às 10:15. Teremos de Broomfield o que sempre
se espera: mirabolantes teorias conspiratórias,
narrativa sempre tendenciosa, vestígios ou dados
circunstanciais sendo elevados ao nível de provas,
e uma onipresença do diretor na tela de dar inveja
a Michael Moore. Por outro lado, a história de
Aileen Wuornos é para lá de interessante,
e inclusive rendeu um filme hollywoodiano, Monster
Desejo Assassino (2003), que rendeu um Urso
de Prata em Berlim e o Oscar de melhor atriz para Charlize
Theron.
Dia 07/02
Já a terça-feira está cheia de
atrações. Começando à tarde,
com A Arte Marcial no Cinema (The Art of Action:
Martial Arts in Motion Picture, 2002), que o Cinemax
exibe às 13:00. Dirigido pelos bem anônimos
Keith Clarke e Christopher Sliney, o filme toma um ponto
de vista francamente hollywoodocêntrico, mas apresenta
informações e, sobretudo depoimentos,
inestimáveis para quem se interessa pelo tema
(ou seja, todo cinéfilo que se preze): depoem
John Woo, Lau Kar-leung, Corey Yuen, Ang Lee, entre
outros. Mais tarde, a disputa é boa. A TV5 estréia
Cinza Claro (Gris blanc, 2005), filme
de Karim Dridi (Bye Bye, Pigalle), diretor
que começou bem sólido e depois foi perdendo
o gás, apesar de Cléber Eduardo ter visto
o recente Fúria na Mostra de São
Paulo e defendido o filme aqui nesta tribuna. Cinza
Claro é uma produção feita
para a televisão e passa às 21:25. Aqueles
que se impressionaram com os talentos de diretor de
George Clooney em Boa Noite e Boa Sorte mas perderam
seu primeiro longa-metragem poderão conferir
Confissões de uma Mente Perigosa (Confessions
of a Dangerous Mind, 2002) no Cinemax às
22:00. Às 22:30, por sua vez, o Cinemax Prime
exibe um dos mais belos filmes já feitos: A
Dama de Shangai, de Orson Welles (The Lady from
Shanghai, 1947), com o próprio Welles e Rita
Hayworth como protagonistas, além de um soberbo
Everett Sloane. Muita gente já viu Cidadão
Kane e A Marca da Maldade, mas é impressionante
o número de pessoas que nunca viu um terceiro
Welles. Eis aí a oportunidade, com um filme talvez
superior a seus dois filmes mais conhecidos.
Dia 08/02
Depois de bagaceiras do nível de Time Code,
Por uma Noite Apenas e A Perda da Inocência
Sexual, não é tão mal assim
perder a pista de Mike Figgis. Mas se lembrarmos que
ele fez o simpático Despedida em Las Vegas, talvez
dê vontade de conferir Garganta do Diabo
(Cold Creek Manor, 2003), thriller de horror
estrelado por Dennis Quaid, Sharon Stone e Juliette
Lewis (quantas pessoas cuja pista perdemos, não?)
que é a volta de Figgis a um modelo mais convencional
de narrativa. O filme passa na HBO Plus às 19:35.
Mais tarde, a HBO estréia Outros (Doces) Bárbaros
(2002), registro da volta de Caetano Veloso, Gal Costa,
Gilberto Gil e Maria Bethânia aos palcos interpretando
juntos, filmado por nada mais, nada menos do que Andrucha
Waddington, um dos mais interessantes cineastas brasileiros
da nova geração e autor do melhor documentário
musical brasileiro dos últimos anos, Viva
São João. Mas o destaque da semana
é mesmo a retrospectiva que o Canal Brasil dedica
a Luís Sérgio Person, nascido em 1936
e falecido prematuramente aos 40 anos, num acidente
de trânsito. Às 20:00, passa o programa
Retratos Brasileiros dedicado a Person e, em seguida,
às 20:30, passa seu último longa-metragem,
Cassy Jones, o Magnífico Sedutor (1972),
com Paulo José, Sandra Bréa, Glauce Rocha,
Grande Otelo, entre outros.
Dia 09/02
Então o Telecine Cult escolheu os dias de quinta-feira
para fazer suas estréias de filmes clássicos?
No momento, em se tratando deste canal, a gente se contenta
com pouco mesmo. Às 20:15, o canal estréia
em sua programação Cinco Covas no Egito
(Five Graves to Cairo, 1943), de Billy Wilder,
segundo longa-metragem americano de Wilder, e primeiro
filme maior do diretor. Em seguida, às 22:00
passa No Rastro da Bruxa Vermelha (Wake of
the Red Witch, 1948), um filme de Edward Ludwig,
cineasta de alguma repercussão crítica
sobretudo por The Gun Hawk, de 1963
mas, no geral, um grande desconhecido. No Rastro
da Bruxa Vermelha tem uma grande reputação
como uma das maiores atuações de John
Waye em toda sua carreira. Bela dobradinha de dois filmes
da década de 40, nenhum óbvio, ambos absolutamente
interessantes. Se formos brindados toda quinta-feira
com escolhas como essa pelo TCC, já está
valendo. No Canal Brasil, continuando a retrospectiva
dedicada a Person, passa às 20:00 Panca de
Valente (1968), uma espécie de paródia
do western. Se quando os italianos faziam era spaghetti,
será que esse filme é um feijoada-western?
Bom, é só não avisar para o Jeferson
De. Já na TV5, continuando a programação
dedicada a Eric Rohmer, passa O Joelho de Claire
(Le Genou de Claire, 1970), uma de suas melhores
obras e certamente a mais sensual de todas, junto com
Pauline na Praia. Passa às 21:25.
Dia 10/02
Chegamos então ao grande momento da carreira
de Luís Sérgio Person, com o filme São
Paulo, Sociedade Anônima (1965), um dos mais
importantes filmes brasileiros da década de 60.
Estrelado por Walmor Chagas e Eva Wilma, o filme trabalha
o registro da cidade-título como personagem,
e ao mesmo tempo mostra o protagonista como uma figura
totalmente inserida e ao mesmo tempo perdida diante
do processo de crescimento da cidade. Passa igualmente
às 20:00. Curiosamente, esse será o último
filme da retrospectiva, deixando de fora um filme de
suma importância como O Caso dos Irmãos
Naves e o episódio de Trilogia do Terror,
além do invisível Marido Barra Limpa.
Mais à noite, às 00:30 exatamente, o mesmo
Canal Brasil exibe Corpo e Alma de uma Mulher (1983),
filme dirigido e estrelado por David Cardoso, que conta
com uma inusitada dupla feminina de atrizes: a musa
da Boca do Lixo Helena Ramos e Tássia Camargo,
uma das maiores musas da Rede Globo na segunda metade
dos anos 80. Roteirizado por Ody Fraga, o filme circula
entre o drama e o erótico, e se os filmes de
David Cardoso não têm muitos atrativos
do ponto de vista estilístico, ao menos eles
são muito curiosos do ponto de vista da petulância.
Dia 11/02
Enquanto o Telecine Premium aposta na animação
infantil da DreamWorks O Espanta-Tubarões
(Shark Tale, 2004, dir. Bibo Bergeron, Vicky
Jenson e Bob Letterman) como grande estréia do
horário nobre semanal, a HBO joga suas cartas
no conteúdo explícito e chocante do belo
Papai Noel às Avessas (Bad Santa,
2003), filme de Terry Zwigoff que estrela Billy Bob
Thornton como um sujeito alcoólatra que trabalha
como Papai Noel em lojas de conveniência e usa
isso como disfarce para praticar furtos às lojas.
Diálogos que são pérolas da grosseria,
interpretações pungentes, entrega a um
mundo de sujeira e desprezo que poucos sabem filmar
(ouviram, Alexander Payne e Todd Solondz?). Mas o destaque
da semana, pela segunda vez consecutiva, vai pelo segundo
longa-metragem industrial chinês que o Cinemax
exibe no horário nobre. Dessa vez trata-se de
Éramos Soldados (Caofangzi, 2000),
filme que circulou pouco fora de seu país de
origem, e segue o tradicional modelo a-História-de-um-país-vista-pelos-olhos-de-uma-criança.
O filme do TCP passa às 21:00, enquanto os outros
dois estréiam às 22:00.
Dia 12/02
Por fim, na falta de grandes atrações
neste domingo, vale a pena acordar cedo e assistir a
Meu Problema com as Mulheres (The Man Who
Loved Women, 1983), que nada mais é do que
a adaptação que Blake Edwards fez para
O Homem Que Amava as Mulheres, de François
Truffaut. O canal que exibe é o Cinemax Prime,
às 11:15.
Dia 13/02
De um tempo para cá, o Canal Brasil vem recuperando
a memória de alguns curtas-metragens das décadas
passadas, fugindo um pouco da idéia de vitrine
apenas para o panorama curta-metragista dos últimos
dez anos (embora a inclinação geral do
canal aponte para a ideologia anestesiante de que o
cinema pós-95 é uma espécie de
"idade do ouro" do cinema brasileiro, amparada
pelas idéias de retomada e do mal-fadado "padrão
de qualidade"). Apesar da seleção
desses curtas mais antigos ser bastante desinteressante
na maior parte (imagina-se que os amigos entraram primeiro
na fila...), não impede que isso já constitua
um mínimo esforço para ampliar a memória
do cinema brasileiro. Nesse espírito, é
interessante assistir aos dois primeiros filmes dirigidos
por Bruno Barreto, dois curtas-metragens feitos antes
que ele sequer fosse maior de idade, Este Silêncio
Pode Significar Muita Coisa (1970) e Emboscada
(1971), que serão exibidos às 19:30 e
19:42, respectivamente. Mais à noite, o canal
exibe um dos últimos longas-metragens de Carlos
Manga antes de dedicar-se inteiramente à televisão,
O Marginal (1974), estrelado por Tarcísio
Meira e Darlene Glória. Na chave dos filmes estrangeiros,
o Cinemax Prime exibe às 22:30 o belo As Panteras:
Detonando (Charlie's Angels: Full Throttle,
2003). É uma pena que o filme só tenha
sido lançado em DVD no formato de tela standard,
que corta as laterais. Não só McG é
um exímio utilizador das potencialidades lúdicas
da montagem, como é um excelente enquadrador
de formato panorâmico. Enquanto seu projeto anunciado
Hot Wheels não sai do papel, o jeito é
assistir mais uma vez ao segundo volume das doces panteras.
Dia 14/02
No dia 17, o cinema Odeon (RJ) começa a exibir
uma mostra dedicada ao ator, produtor e diretor Carlo
Mossy. São dez filmes em que Mossy é ator,
e às vezes diretor. Como ator, representou para
o Rio mais ou menos o que David Cardoso representou
no cinema paulista: o galã de comédia
e outros filmes de gêneros ligeiros com alta carga
erótica nos anos 70, o que costuma ser chamado
pela denominação um tanto simplista de
pornochanchada. Antecipando um dos filmes que serão
exibidos, o Canal Brasil exibe As Massagistas Profissionais
(1976), segundo loniga-metragem dirigido por Mossy,
à 00:30. Estrelando, além do próprio
Mossy, Wilza Carla, Adele Fátima, Hugo Bidet,
entre outros. Mas a grande atração do
dia é o suntuoso O Trem de Zhou Yu (Zhou
Yu de huo che, 2002), produção oficial
da China continental, direção de Sun Zhou
e protagonizado por Gong Li e Tony Leung Ka-fai, também
conhecido como "o outro" Tony Leung, já
que não é o ator de 2046 e Flores de Xangai,
entre outros. Ë o Cinemax alternando o lançamento
de suas estréias chinesas dos domingos para as
terças-feiras. Passa às 22:00.
Dia 15/02
Nesta semana, o Canal Brasil abandona suas retrospectivas
de realizadores e dedica parte de sua programação
a um especial de carnaval, com documentários
feitos exclusivamente para o canal, além de curtas
e longas-metragens sobre carnaval e samba em geral.
Entre os destaques dessa seleção estão
Quem Roubou Meu Samba? (1959), filme de José
Carlos Burle com Ankito como protagonistas, e números
de Ângela Maria, Marlene e Virginia Lane; e Natal
da Portela (1988), de Paulo Cezar Saraceni, com
Milton Gonçalves, Grande Otelo, Zezé Mota,
Adele Fátima e sambistas como Almir Guineto,
Jamelão, Monarco e João Nogueira. Os filmes
passam respectivamente às 17:30 e 20:00, mas
sarapintados na programação do Canal Brasil
há vários filmes interessantes nessa série,
especialmente um filme feito por marco Altberg sobre
os 90 anos de Jamelão. Para conferir, http://globosat.globo.com/canalbrasil/.
Dia 16/02
Novamente a quinta-feira é o dia das estréias
de filmes clássicos do Telecine Cult. Dessa vez,
o canal propõe Romance Inacabado (Blue
Skies, 1946), de Stuart Heisler, comédia
musical com Fred Astaire e Bing Crosby, às 20:05.
Em seguida, às 22:00, o prato principal: Depois
do Vendaval (The Quiet Man, 1952), um dos
grandes momentos da obra de um diretor cuja obra está
repleta de grandes momentos, John Ford. Enquanto isso,
a TV5 continua atacando de Rohmer, e passa às
21:25 As Noites de Lua Cheia (Les Nuits de
la pleine lune, 1984), quarto filme de sua série
"Comédias e provérbios". Pensa
que acabou? Então saiba que o Eurochannel finalmente
estréia alguma coisa de um mínimo interessa
cinefílico, passando dois filmes de Fatih Akin,
diretor alemão que encantou boa parte da crítica
internacional com Contra a Parede, embora esta
tribuna tenha ficado muito pouco impressionada com algo
além da beleza exótica de Sibel Kekilli.
Às 22:00, passa Em Julho (Im Juli,
2000), e às 23:30 passa Rápido e Indolor
(Kurz und schmerzlos, 1998). Ufa!
Dia 17/02
Se a quinta-feira é um dia cheio em atrações,
chegamos à sexta-feira com nada além da
reprise de O Joelho de Claire (Le Genou de
Claire, 1970), de Rohmer, que a TV5 exibe às
19:15 e às 04:10 da noite de sexta para sábado.
Ou, então, conferir três filmes em seguida
e tentar entender como cada um deles entra no conceito
"cult" de uma maneira muito particular, tão
particular que chega próximo até da falta
de sentido total. Às 19:50, passa A Noite
(La Notte, 1961) de Michelangelo Antonioni, com
Jeanne Moreau, Alain Delon e Monica Vitti. Às
22:00, passa Gatinhas e Gatões (Sixteen
Candles, 1980), de John Hughes, com Molly Ringwald.
Mais tarde, às 23:40, passa Ken Park (idem,
2002), de Larry Clarke. Entre o cultxploitation teen
e a comédia romântica teen, entre a elegância
de Antonioni e a trivialidade poética de John
Hughes, entre o escândalo compartilhado de A
Noite e Ken Park, como inserir os três
numa mesma carapaça cult? Estranho, mas de certa
forma é assim que a economia do cinema funciona.
E, em todo caso, são três filmes que carregam
projetos pessoais importantes e que merecem bastante
atenção.
Dia 18/02
E já que estamos em chave "reprises de Rohmer",
A Mulher do Aviador na TV5 é realmente
a melhor coisa para fazer nessa noite de sábado
em matéria de tv a cabo. Por que, honestamente,
escolher entre Sideways no Telecine Premium (22:00)
e Mar de Fogo na HBO (21:00) é algo inglório
demais até para ironizar. Do filme de Alexander
Payne, a única coisa realmente engraçada
do filme foi o incrível mal gosto do distribuidor
nacional que associou um "Entre umas e Outras"
como subtítulo. Muito mais engraçado,
na verdade, do que qualquer coisa do filme. E mais comovente
também, de certa forma (os múltiplos caminhos
da estupidez humana, saca?). Em todo caso, a Film &
Arts exibe às 22:00 Dançando no Escuro
(Dancer in the Dark, 2000), primeira provocação
de Lars Von Trier à sociedade americana, e primeira
e única participação em longas-metragens
da cantora Björk, que se sentiu tão insultada
nas filmagens que jurou jamais voltar às telas
novamente. Graças ao grande gênio dinamarquês.
De qualquer forma, o filme cria fricções
entre fantasia e realidade que são muito mais
interessantes do que ele repetiu em Dogville.
E eis um filme que não perde muito quando vertido
à telinha de televisão. Ao contrário,
parece até ser pensado para ela.
Dia 19/02
Aproveitando que Munique de Steven Spielberg
está em cartaz, vale muito a pena assistir a
Intervenção Divina (Yadon ilaheyya,
2002), segundo longa-metragem de Elia Suleiman, em que
o conflito entre palestinos e israelenses é tomado
em chave cômica discreta, em metáforas
que são ao mesmo tempo leves e duras, e um grande
vigor de resistência. Esse vigor é substituído
pela desorientação em Munique,
pela falta de projeto. Mas em ambos o desespero é
o mesmo, representado neste filme palestino pela panela
de pressão ao final do filme. Lindo. Uma nota
curiosa é que Elia Suleiman quis inscrever o
filme no Oscar como pertencendo ao Estado da Palestina.
Como os Estados Unidos não reconheciam om país
até aquele momento, o filme foi recusado. Um
verdadeiro ato político de cinema que acaba complementando
o filme. Passa às 20:15 no Telecine Cult. Em
seguida, às 22:00, estréia Henry &
June (idem, 1990), de Phillip Kaufman, a partir
da relação entre Anais Nin e Henry Miller.
Para ser bastante sincero: não dá para
entender como o sujeito que dirigiu Os Eleitos
e A Insustentável Leveza do Ser pôde
ser capaz de assinar bobagem tamanha, que seria continuada
com o igualmente inpeto Contos Proibidos do Marquês
de Sade alguns anos depois. É incrível
como alguns diretores não se dão ao respeito.
Dia 20/02
Às 22:00, o Telecine Premium exibe o filme Reencarnação.
Mas, alto lá!, não é o filme de
Jonathan Glazer com esplêndida fotografia de Harris
"Gus van Sant" Savides e Nicole Kidman que
vai passar, mas outro filme intitulado Reencarnação
que veio direto para o vídeo e o cabo. Esse é
dirigido por Simon Fellows, chama-se Blessed
no original (o de Glazer é Birth), é
um filme de terror e tem Heather Graham como protagonista.
Mais vale, então, colocar no Cinemax e assistir
à comemoração do 25º aniversário
de Pink Flamingos (idem, 1972), o antológico
filme de John Waters estrelando a igualmente mítica
Divine. Pode até nem ser o melhor filme de John
Waters Desperate Living e Female Trouble
competem em pé de igualdade pelo tútlo
, mas é possivelmente o mais provocador.
Dia 21/02
Para Sempre Lilya (Lilja 4-Ever, 2002),
de Lukas Moodysson, é a estréia da terça-feira
no Telecine Cult, às 22:00. É um filme
que se resolve até muito bem na primeira parte,
mas que começa a obedecer uma lógica meio
miserabilista-lacrimejante quando sai da Rússia
que acaba comprometendo a dramaturgia. O estilo é
o famoso "o personagem vale mais quanto mais o
personagem sofre", muito comum em figuras como
William Wyler e Lars Von Trier. Mais interessante é
Os Saqueadores (Trespass, 1992), de Walter
Hill, que o Telecine Action exibe às 20:10. Hill
é um dos cineastas mais menosprezados de sua
geração, com uma voga discreta, reservada
aos cultores dos westerns ou do badalado Warriors
(que é uma espécie de western urbano).
Seu cinema é para o faroeste um pouco o que o
cinema de John Carpenter é para o cinema fantástico:
um misto de frontalidade clássica, nostalgia
da forma, poesia da abstração e fuga dos
vícios da moda. Na madrugada, o Canal Brasil
propõe uma sessão dupla muito da interessante:
à 00:30, A Super Fêmea (1973), um
filme de Aníbal Massaini Neto estrelado por Perry
Salles e Vera Fischer, com participação
especial de Adoniran Barbosa. Isso, no entanto, não
impede o filme de ter um dos níveis de votação
mais baixos do IMDb:
2,8 de 10. Em seguida, às 02:15, passa Já
Não se Faz Amor como Antigamente (1976),
filme em episódios dirigidos por Anselmo Duarte
("Oh! Dúvida Cruel"), John Herbert
("O Noivo") e Adrian Stuart ("Flor de
Lys"), e baseados em Lygia Fagundes Telles. Mas
talvez a pérola do dia seja no mesmo Canal Brasil,
só que mais cedo, às 20:00, quando, ainda
na chancela da programação especial de
carnaval, vai passar O Vampiro de Copacabana (1976),
filme um tanto raro de Xavier de Oliveira, uma comédia
dramática com Marcos Valli, Ângela Valério
e Rossana Ghessa nos papéis principais.
Dia 22/02
A quarta-feira também terá como destaque
um dos filmes da programação pré-carnavalesca
do Canal Brasil, dessa vez com O Flagrante (1975),
de Reginaldo Faria, em que cinco maridos deixam as mulheres
em casa e vão aproveitar o carnaval, até
que uma das esposas se rebela e decide revidar. O filme
passa às 20:00 e segue a lógica das outras
comédias cariocas mulherengas de Reginaldo Faria,
como Os Paqueras e Os Machões.
À 00:30, no horário designado pelo Canal
Brasil para a produção erótica-soft
dos anos 70, passa As Mulheres Que Fazem Diferente
(1974), filme em episódios dirigidos por Claudio
MacDowell ("Flagrante de Adultério",
com Perry Salles e Vera Fischer em dobradinha na semana),
Lenine Otoni ("A Bela da Tarde", com Sandra
Barsotti no papel título) e Adnor Pitanga ("Flagrante
de Adultério", com Íris Bruzzi e
Palo César Pereio).
Dia 23/02
E eis que a quinta-feira mais uma vez traz atrações
concomitantes que são por vezes mais interessantes
que o resto da semana inteira. Dessa vez a TV5 exibe
seu quarto filme do ciclo dedicado a Eric Rohmer, e
é um de seus melhores filmes: A Árvore,
o Prefeito e a Mediateca (L'Arbre, le maire e
la médiathèque, 1993), um filme que
trabalha com alguns dos temas perpétuos de Rohmer,
como o conflito entre o velho e o novo, o poder do acaso
no destino das pessoas (no que, aliás, dá
de dez a zero no novo Ponto Final de Woody Allen)
e, naturalmente, o culto à naturalidade da vida
que está no cerne de cada um de seus filmes (a
luz como um "banho de vida" na película).
O filme passa às 20:30. Prestem atenção
que a TV5 exibe seus filmes uma hora mais cedo quando
termina o horário de verão. Às
22:00, disputa entre dois filmes. De um lado, a Eurochannel
tira das prateleiras As Amigas (Le Amiche,
1955), de Michelangelo Antonioni, e depois exibe à
meia-noite o filme que é possivelmente sua obra-prima,
O Deserto Vermelho/O Dilema de uma Vida
(Il deserto rosso, 1964), um dos mais impressionantes
usos de cor na história do cinema, e também
o filme que rendeu a Antonioni o Leão de Ouro
em Veneza. Às mesmas 22:00, o Telecine Cult tem
seu dia de Telecine Classic e exibe Hatari! (idem,
1962), que talvez não seja o melhor filme de
Howard Hawks, mas é certamente o filme em que
ele faz sua ars poetica, faz sua declaração
mais direta do que deve ser o cinema para ele. Dá
até dó que filmes tão sensacionais
sejam exibidos quase na mesma hora (e nem dá
pra fazer sessão dupla, pois Hatari! tem
uma duração de duas horas e quarenta).
O jeito é ver apenas um e ir catando o resto
nas repescagens...
Dia 24/02
Se a quinta-feira é o paraíso do cinéfilo,
o fim-de-semana está bem mais morno do que de
costume (e cada vez mais a falta da RetrôTV é
mais sentida). Nessa sexta-feira, na falta de grandes
estréias ou atrações raras, podemos
nos fartar com um filme que vem sendo exibido há
algum tempo pela rede Telecine. Trata-se de Amar
Foi Minha Ruína (Leave Her To Heaven,
1945), clássico do film noir em cores, com Cornel
Wilde e Gene Tierney como atores principais, e John
M. Stahl na direção. Stahl é mais
famoso como um diretor de melodramas em preto e branco,
inclusive tendo feito alguns filmes que 20 anos depois
seriam refeitos, em cores, por Douglas Sirk (Imitação
da Vida, Sublime Obsessão). Mas, como
podemos conferir às 20:00 no Telecine Cult, o
talento dele ia além da chancela em que se tornou
célebre.
Dia 25/02
Um sábado como esse é um grande presente
para o folião, que sai tranqüilo de casa
sem a paranóia de precisar gravar um filme imperdível.
É uma pena que nenhum canal tenha decidido fazer
o que a TVE fazia alguns carnavais atrás, criando
uma programação especial de filmes de
dar água na boca e de entreter completamente
o espectador mais avesso ao carnaval (e criando uma
escolha de Sofia para o folião porque tinha mais
coisa interessante do que uma fita de 6h podia gravar).
Dessa vez, o Telecine Premium estréia Com
as Próprias Mãos (Walking Tall,
2004), estrelado por Chris "The Rock" Vaughn
e Johnny Knoxville, e o Telecine Cult exibe em seqüência
(estreando o segundo) os dois filmes da série
tailandesa As Damas de Ferro sobre um time GLS
de vôlei masculino (OK, nada pode ser mais "cult"
que isso). Já a HBO estréia o que talvez
seja o filme mais interessante do dia, Matadores
de Velhinhas (The Ladykillers, 2004), remake
do famoso filme de Alexander Mackendrick. O filme é
bastante curioso porque, como em toda obra frustrada
de diretores com notório conhecimento do métier,
os autores são colocados a nu, e conseguimos
ver o esqueleto dos artistas e as principais atrações
de suas estéticas. Aqui, enquanto quase nada
parece funcionar, as flexões de fala dos atores,
a maneira de pausar, dar ênfase, os sotaques são
a única coisa que criam uma atmosfera bastante
interessante. O resto é masturbação
perfeccionista, infelizmente, como eles já vem
fazendo desde O Grande Lebowski.
Dia 26/02
Se a grande atração do carnaval carioca
se dá no sábado bem de manhãzinha
(o Cordão da Bola Preta), a grande atração
do domingo de carnaval também passará
de manhã, na Eurochannel, às 10:00. É
Francisco, Arauto de Deus (Francisco, giullare
di Dio, 1950), um dos mais comoventes filmes de
Roberto Rossellini, e uma espécie de estranho
precursor para outra obra-prima, O Evengelho Segundo
São Mateus de Pasolini. Em seguida, o canal
exibe o documentário Roberto Rossellini (idem,
2001), dirigido por Laura e Silvia Pettini, sobre o
cineasta italiano. Às 14:30 o Cinemax Prime exibe
Punhos de Serpente/A Revanche do Dragão
(Se ying diu sau, 1978), primeiro filme dirigido
por Yuen Woo-ping, e um dos filmes que consolidaram
o então emergente talento de Jackie Chan como
rei da comédia de ação. Às
22:00, o Telecine Cult estréia o filme A Seita
(Los sin nombre, 1999), dirigido por Jaume Balagueró,
que com esse filme foi "descoberto" por produtores
americanos e trilhou o caminho de Guillermo del Toro,
indo fazer um filme nos Estados Unidos (Darkness/A
Sétima Vítima, 2002) com Anna Paquin.
O resto é skindô, skindô.
SEMANA DE CARNAVAL
Em semana de carnaval, os cinéfilos se
dividem. Parte junta-se às hordas foliãs
que tomam as ruas, parte enfurna-se numa sala de cinema
ou em sua sala de estar com várias fitas ou anotações
de programação. Para os últimos,
as informações não são boas.
A programação é pífia em
estréias e destaques, e possivelmente constitui
a semana mais fraca do ano até agora o
que é meio inimaginável, porque a televisão
sempre soube aproveitar a chancela "cinema X carnaval".
Como fazer a programação diária
seria uma pequena forçação de barra,
daremos apenas os destaques de cada canal na semana,
isso quando há alguma coisa a se falar...
CANAL BRASIL: as inventivas programações
temáticas das semanas anteriores desaparece aqui
num sem-fim de reprises e filmes conhecidos. Destaque
para a programação da sessão É
Tudo Verdade desta terça-feira, em que passam
três curtas pouco conhecidos (mas alguns de muito
renome) de Vladimir Carvalho. O programa começa
às 22:35 com A Bolandeira (1966) e segue
com Incelências para um Trem de Ferro (1972)
e termina com Brasília Segundo Feldman
(1979)
EUROCHANNEL: Crepúsculo Vermelho
(Dans le rouge du couchant, 2003) é um
filme de Edgardo Cozarinsky com um time transnacional
superstar do cinema de autor: Bruno Putzulu, Marisa
Paredes, Féodor Atkine... E Cozarinsky é
uma figura de respeito, tendo feito o notável
documentário Cidadão Langlois, sobre a
mítica figura da Cinemateca Francesa, pai, junto
com André Bazin, da nouvelle vague. Crepúsculo
Vermelho, que passa às 22:00 do dia 2/3,
quinta-feira, reflete a própria posição
existencial de Cozarinsky como figura de duas pátrias
e de nenhuma, mas é pouco eficiente na criação
de uma dramaturgia para expôr esse sentimento.
Ainda assim, é digno de nota.
CINEMAX PRIME: No sábado, às 08:00,
o canal exibe um dos filmes mais belos de John Ford,
A Paixão de uma Vida (The Long Gray
Line, 1955). Não é uma estréia,
mas já que o Telecine Cult abdicou do status
de lançador de clássicos nas quintas-feiras,
vale a pena prestigiar um dos canais que têm mais
pérolas de mais de 40 anos atrás para
nos prestigiar. Pena que ele geralmente use esses filmes
para encher horários menos nobres da programação,
como a manhã e o começo da tarde. Ainda
assim, os prós superam os contras de longe...
TELECINE PREMIUM: Por fim, o que até os
outdoors das cidades já anunciam
e vamos atribuir valor a quem merece, a imagem de fato
está sensacional: Menina de Ouro, de Clint
Eastwood, no sábado, dia 4, às 22:00.
Muito já se falou sobre o filme, a favor e contra,
e as polarizações tornaram a discussão
até um pouco chata, e certamente não se
cristalizaram no estilo do diretor e na expressividade
do filme, preferindo as fanfarronices temáticas
e o "conteúdo" polêmico do ato
final do filme. Ver o filme na televisão compromete,
porque o filme é em formato scope, 1:2,35, e
o Telecine Premium, como sempre, deve passar quadrado.
Mas, na verdade, nem o dvd se esmerou para fazer jus
à elegância do filme, lançando o
filme em 1:1,66 e ainda se dando o direito de dizer
que estava lançando uma edição
de colecionador... Pífio. Em todo caso, assistir
a Menina de Ouro no sábado é muito
melhor do que ver aquela festa cafona, sem-graça
e insuportável que vai acontecer no domingo,
que cativa tanta mídia e significa tão
pouco para o cinema de um ponto de vista artístico...
Dia 06/03
Já é um costume dizer que no Brasil
o ano começa depois do carnaval. Mas, no que
diz respeito à programação de filmes
na tv a cabo, não há muita diferença
de qualidade desta semana para as outras de 2006 até
agora. Ao contrário, ela inclusive é bastante
modestinha, sem o peso de uma estréia forte ou
a raridade de um filme invisível. Alguns destaques,
é certo, mas nada especial. Vamos aos filmes:
O Canal Brasil inicia nesta segunda-feira uma homenagem
a Amácio Mazaroppi, grande figura da comédia
brasileira, eternizado com um personagem recorrente,
o matuto do interior (geralmente chamado Jeca). Ator,
produtor, roteirista e eventualmente diretor, Mazaroppi
fez seu nome e, apesar da irregularidade ou pouca força
da maioria dos filmes, continua presente no imaginário
cinematográfico brasileiro, reconhecido como
a figura que obteve mais sucesso de público no
cinema brasileiro. Às 22:40, passa o documentário
de média-metragem Mazaroppi, o Cineasta das
Platéias (2002), produzido pelo Instituto
Amácio Mazaroppi (ou seja, será retratada
a visão oficial) e dirigido por Luiz Otávio
de Santi. Em seguida, às 23:40, passa Zé
do Periquito (1960), primeira incursão de
Mazaroppi pela direção, aqui dividida
com Ismar Porto. O Festival terá continuidade
na semana que vem com O Lamparina (1964), de
Glauco Mirko Laurelli. Já na TV5, às 22:40,
passa Boda Branca (Noce blanche, 1989),
filme de Jean-Claude Brisseau com muitas referências
a O Último Dia de Tranqüilidade,
de Valerio Zurlini, centrando-se na relação
entre um professor de filosofia e sua aluna prematuramente
adulta e perturbada (e linda, naturalmente). Mas ambos
os filmes têm sensibilidades totalmente diferentes.
Dia 07/03
Enquanto o Festival É Tudo Verdade não
começa (as retrospectivas são de salivar:
Werner Herzog na internacional e Jorge Bodanzky na nacional),
a seção É Tudo Verdade do Canal
Brasil exibe um documento bastante raro e precioso do
ponto de vista da memória da música brasileira:
Saravah (1972), filme de Pierre Barouh, mais
famoso por sua atuação no filme Um
Homem, Uma Mulher (que já contava com o "Samba
da Bênção" e seu famoso saravá...),
de Claude Lelouch. Saravah conta com participações
de Paulinho da Viola, Baden Powell, Maria Bethânia,
João da Baiana e Pixinguinha, este último
em provavelmente seu único registro colorido.
O filme é fotografado por João Carlos
Horta, que fez o inesquecível Pixinguinha
em 1969. O compromisso é obrigatório e
está firmado: 22:35, no Canal Brasil.
Dia 08/03
Na falta de uma atração mais digna
desse nome, chamamos a atenção para Torrente
O Braço Errado da Lei (Torrente,
el brazo tonto de la ley, 1998), grande hit do cinema
espanhol e dirigido por uma das figuras mais curiosas
dos últimos tempos, Santiago Segura. Misto de
Ed Wood, Roger Corman e artista mambembe, Segura vai
em todos os programas da televisão espanhola
para divulgar seus filmes, aparece como ator em uma
série de filmes de gênero (inclusive hollywoodianos)
e cria em torno de si um imenso culto de personalidade
(Torrente 3, por exemplo, não chegou nem
a ter sua sinopse divulgada para fazer frisson).
Como diretor, Santiago Segura não é nada
digno de nota, bebendo na veia de Alex de la Iglesia,
outro que, como diretor, também deixa a desejar.
Mas como o dia está fraco demais e, em todo caso,
trata-se de uma estréia, quem sabe haja tempo
ocioso para se ligar no Telecine Cult às 22:00.
Dia 09/03
Para variar, o dia mais concorrido da semana
é a quinta-feira. O Telecine Cult vem com sua
dupla de estréias: às 19:20 passa O
Fantástico Dr. Dolittle (Doctor Dolittle,
1967), de Richard Fleischer, e às 22:00 passa
E Sua Mãe Também (Y tu mamá
también, 2001), de Alfonso Cuarón.
Esse último é carregado de sensualidade
e tem seu quinhão de sensibilidade para tratar
de um tema que é em alguma medida tabu, ao passo
que o filme de Fleischer tem o que se imagina dele:
senso visual, uma certa elegância de tom e composição.
Nenhum é exatamente uma atração
imperdível, mas não dá pra dizer
que se perde tempo com algum desses filmes. Às
20:30, a TV5 exibe A Falsa Servente (La Fausse
suivante, 2000), filme de Benoît Jacquot,
adaptado da conhecida peça de Marivaux, intepretado
por Isabelle Huppert, Sandrine Kiberlain e Mathieu Amalric,
entre outros. A obra de Jacquot é bastante celebrada
em certos círculos, mas os filmes exibidos no
Brasil (Sétimo Céu, A Escola
da Carne, Sade e Tosca) são
realmente de amargar. Em todo caso, travar contato com
esse filme não é exatamente fácil
e, no mais, há os atores para compensar. Mas
a verdadeira curiosidade do dia é Há
Motivo (¡Hay motivo!, 2004), filme
dirigido por 32 diretores espanhóis (entre eles
Vicente Aranda, Julio Medem, Isabel Coixet e Imanol
Uribe), aproveitando, em março de 2004, a campanha
eleitoral para refletir sobre a situação
política e social da Espanha naquele momento.
Cada um fez seu filmete de 3 minutos e o epílogo
narra o ataque terrorista de 11 de março. É
o tipo de esforço que, se carregado com seriedade
e fugindo do populismo fácil (coisa que em geral
os filmes coletivos sobre política não
fazem, basta conferir 11 de Setembro), faz de
um filme nota de referência histórica.
Ruim ou bom, um filme a se ver.
Dia 10/03
O Cinemax estréia em sua programação
às 22:00 o filme Stan Lee: Mutantes, Monstros
e Quadrinhos (Stan Lee's Mutants, Monsters, And
Marvels, 2002, dir.: Scott Zakarin), documentário
sobre o criador da Marvel Comics, celeiro de uma infinidade
de super-heróis que hoje estão disseminados
no cinema (X-Men, Homem-Aranha, Hulk,
Demolidor, Elektra), dominando grande
parte do cinema de aventura feito atualmente. O filme
é uma grande entrevista com Kevin Smith, argumentista
de quadrinhos e cineasta sem talento, mas que se revela
uma escolha interessante, justamente por sua procedência.
Dia 11/03
Num sábado meio deserto em atrações
(ou Rei Arthur na HBO é sequer digno de
nota?), o Telecine Premium salva o dia estreando O
Âncora A Lenda de Ron Burgundy (Anchorman:
The Legend of Ron Burgundy, 2004), dirigido por
Adam McKay e interpretado por Will Farrell, Steve Carell,
Paul Rudd e Christina Applegate, entre outros. Apesar
de McKay ser egresso da televisão (dirigiu alguns
dos episódios da série Saturday Night
Live), ele se revela possivelmente como o mais interesssante
diretor a trabalhar com a frat pack que de uns anos
para cá tomou de assalto a comédia americana.
São filmes que parecem se comprazer em suas irregularidades,
e O Âncora não foge da regra. Crítica
do savoir-faire levada ao próprio modo
de construção do filme (o que nem as paródias
do tipo Todo Mundo em Pânico fazem), esses
filmes acabam obrigando a um tipo de postura um tanto
diferente em relação às comédias
comuns. Então, apertem os cintos, o humor reapareceu
(ainda que a turma ainda não tenha conseguido
achar o diretor que vai transformar esses filmes em
obras duradouras mas será essa uma crítica
válida nos termos que esses filmes apresentam?),
e passa às 21:00 no Telecine Premium.
Dia 12/03
Uma Ponte entre Dois Rios (Un Pont entre
deux rives, 1999), direção de Gérard
Depardieu e Frédéric Auburtin. Ambos são
ex-atores de Maurice Pialat e ambos estão entre
os diretores de Paris, je t'aime, filme coletivo
que conta com os nomes de Nobuhiro Suwa, Gus Van Sant,
irmãos Coen, Wes Craven, Olivier Assayas, Bruno
Pdalydès e a duplinha Walter Salles/Daniela Thomas.
Enquanto o filme não fica pronto, a TV5 exibe
Uma Ponte entre Dois Rios às 20:30. Mas
as verdadeiras atrações do dia passam
no Telecine Cult, e são duas estréias
fortes. A primeira é Sem Lei, Sem Alma
(Gunfight at the O.K. Corral, 1957), uma das
melhores adaptações da famosa rixa entre
Wyatt Earp e Doc Holiday contra a turma dos Clanton,
dirigida com elegância e intensidade por John
Sturges. O filme passa às 15:40. Mais à
noite, às 22:00, o mesmo canal estréia
Blackout (The Blackout, 1997), filme de
Abel Ferrara que apresenta um de seus mais altos índices
de desorientação, com o personagem de
Matthew Modine preso entre a imagem de uma morena fatal
(Béatrice Dalle), uma loira vital (Claudia Schiffer)
e uma imagem-fantasma, a memória de uma mulher
de quem ele pode ser o assassino. Vício (todos
os tipos), confusão, incerteza, incapacidade
de se instalar e a "visão moral" instalada
em todas as atitudes: Blackout é um dos
filmes que mais explora o buraco negro que se abre quando
se começa a decifrar o cinema de Ferrara.
Dia 13/03
No Canal Brasil, continua a homenagem a Amácio
Mazaroppi, com a exibição de O Lamparina
(1964), direção de Glauco Mirko Laurelli.
Laurelli foi acima de tudo montador, deixando sua assinatura
em mais de 30 longas-metragens, mas também dirigiu
uma meia-dúzia de filmes, e quatro desses para
Mazaroppi. O Lamparina passa às 22:35.
Mais cedo no Canal Brasil passa O Choro Dele
(1975), curta-metragem sobre Jacob do Bandolim dirigido
por Leilany Fernandes, que contém as únicas
imagens em movimento de Jacob, nada mais do que sete
segundos. De madrugada, uma rara dobradinha de curta
e longa-metragem, e dois monumentos do cinema novo.
O primeiro é Arraial do Cabo (1959), curta-metragem
de Mário Carneiro e Paulo Cezar Saraceni que,
segundo várias fontes, inaugura junto com Aruanda,
de Linduarte Noronha, o cinema novo. Em seguida, passa
O Desafio (1965), também de Saraceni,
também deflagrador de um outro momento na história
do movimento, criando o protagonista intelectual interiorizado
tentando se refazer do golpe ditatorial (e assim influenciando
Terra em Transe, O Bravo Guerreiro, entre
outros). A dobradinha passa no nada cristão horário
de 04:00, madrugada de segunda para terça-feira.
Dia 14/03
Electric Shadows (Meng ying tong nian,
2004) é mais um da leva de recentes filmes chineses
que o Cinemax estréia. Primeiro longa de Xiao
Jiang, o filme passa por alguns terrenos já bastante
conhecidos e esgotados ao ponto do clichê: a Revolução
Cultural como pano-de-fundo, o "amor do cinema"
unindo os personagens à Cinema Paradiso,
os destinos diferentes de dois personagens que cresceram
juntos, etc. Tudo anuncia o tipo de filme lacrimejante
e edificante que vem de um lugar longínquo. Mas,
em compensação, é uma maneira de
travar contato com uma cinematografia que só
raramente chega ao país, via lançamento
comercial, festivais e exibições na tv.
Electric Shadows passa às 22:00. Já
no Canal Brasil, a sessão É Tudo Verdade
dessa semana presta uma homenagem a Antônio Carlos
da Fontoura, diretor dos nada prestigiosos Uma Aventura
do Zico e Gatão de Meia-Idade, mas
outrora realizador de documentários vigorosos
em curta-metragem. Esses três filmes, feitos nos
anos 60, passam juntos a partir das 22:35: Ver Ouvir
(1967), Heitor dos Prazeres (1965) e Os Mutantes
(1970). Os dois primeiros são filmes de uma sensibilidade
impressionante, e o terceiro é uma rara oportunidade
de ver um título bastante desconhecido, com filmagens
raras de um dos conjuntos mais importantes da música
brasileira. Mas o grande destaque do dia vai mesmo para
Desejo (Desire, 1936), filme de Frank
Borzage que o Film & Arts exibe às 22:00.
Desejo, como qualquer filme de Borzage exceto seu Adeus
às Armas, é peça de raridade
no país, e merece atenção ultraespecial.
O filme é estrelado por Marlene Dietrich, Gary
Cooper e John Halliday e, como se não bastasse,
Ernst Lubitsch dirigiu algumas cenas antes de Borzage
chegar no set do filme.
Dia 15/03
A um dia cheio de atrações, segue-se
um dia cheio de coisas de pouco interesse. Ocasião,
então, para dedicar dois dedos de prosa a Richard
Linklater, realizador prolífico (já seis
longas lançados nessa década, além
de um curta e um piloto para televisão) e autor
de vários projetos bastante diferentes, mas sempre
tentando entender um determinado tipo de sensibilidade
contemporânea, especialmente a do jovem universitário
americano. Para isso, todos os caminhos são possíveis,
do filme-de-grupo (Suburbia, Dazed and Confused)
ao passa-o-bastão como estratégia narrativa
(Slacker), passando pelo filme romântico
(os dois Antes do...) e chegando à animação,
como o recente A Scanner Darkly (ainda a estrear)
e, mais especialmente Waking Life, espécie
de remake animado de Slacker. Linklater divide
os entusiasmos em Contracampo, com francos admiradores
e iguais detratores. Em todo caso, há de se concordar
ao menos que cada projeto seu vai ter sempre um pouquinho
de imprevisível. E isso já é melhor
do que, digamos, Joel Schumacher ou Woody Allen. Waking
Life passa na Fox às 22:00.
Dia 16/03
Sonho de Valsa (1987) fecha uma ácida
trilogia de Ana Carolina sobre a condição
feminina, iniciada com Mar de Rosas e continuada
com Das Tripas Coração. É
lícito dizer que a acidez vai se atenuando de
filme a filme, embora progressivamente os filmes tendam
mais à loucura e a uma anarquia inicial na imagem,
que vai aos poucos se desfazendo no lugar-comum (o final
"foi tudo um sonho" de Das Tripas Coração
ou a repetição no vazio dos jogos de linguagem
em Sonho de Valsa). Ainda assim, Sonho de Valsa
guarda uma estranheza e uma sensibilidade que não
são as de qualquer filme, uma energia e um inconformismo
que são bem os da índole de Ana Carolina.
Sonho de Valsa é o destaque da sessão
Brasil Cult, e passa às 22:35.
Dia 17/03
Na ausência completa de coisas interessantes
para mencionar (curioso como não há nada
interessante passando nem em canais que costumam aparecer
bastante por aqui, como a TV5), vale a pena dar uma
olhada no que o TCM Classic Hollywood anda exibindo:
duplinha John Huston/Humphrey Bogart com O Falcão
Maltês (22:00) e Garras Amarelas (23:45).
Infelizmente, é praxe do canal exibir os filmes
dublados e colorizados, no caso de filme feito originalmente
em preto e branco. Nesse caso, é de se perguntar
se realmente ficamos tristes ou não com o fato
de nenhuma das grandes redes de tv a cabo ter colocado
o canal na programação. Mal ou bem, já
era alguma coisa. Pelo menos para dias horríveis
como esse...
Dia 18/03
Simpática dobradinha a que a rede Telecine
propõe para este sábado, exibindo a primeira
versão de Sob o Domínio do Mal
(The Manchurian Candidate, 1962), de John Frankenheimer,
estrelado por Frank Sinatra e Janet Leigh, às
19:40 no Telecine Cult, e em seguida, às 22:00,
exibindo a nova versão do filme, dirigida por
Jonathan Demme e estrelada por Denzel Washington, desta
vez no Telecine Premium. Mesmo que o filme de Demme
não seja exatamente uma estréia de peso,
ao menos é melhor do que o bobalhão Celular
Um Grito de Socorro, que a HBO estréia
em seu horário nobre de 21:00. Para os colecionadores
de títulos nacionais recentes, o Canal Brasil
exibe Procuradas (2004), longa-metragem exibido
na Mostra Internacional de São Paulo e lançado
comercialmente apenas no sul do país. Nova oportunidade,
então, para ver o filme, dirigido por Zeca Pires
e José Frazão e estrelado por Larissa
Bracher, Paula Burlamaqui, Rita Guedes e Claudia Liz,
entre outras. Às 23:00, na sessão "Seleção
Brasileira" do Canal Brasil. Sorte nossa que a
escalação da Copa é outra.
Dia 19/03
Fechando a semana, duas curiosidades passando
no Cinemax uma atrás da outra. A primeira é
Atonik Circus (Atomik Circus - Le retour de
James Bataille, 2004), dirigido pelos irmãos
Didier e Thierry Poiraud, e estrelado por Vanessa Paradis,
ex-cantora infantil, modelo e atriz (Boda Branca).
Aparentemente, o filme é um coquetel de ficção
científica com toques de todos os outros gêneros
cinematográficos no mundo, criando um OVNI que
a alguns interessa e a outros enche o saco. Estréia
às 22:00. Em seguida, passa Immortel (Immortel
(ad vitam)), dirigido por Enki Bilal, mais conhecido
como desenhista de histórias em quadrinhos do
que como o eventual diretor de cinema que é (Bunker
Palace Hotel, 1989; Tykho Moon, 1996). Pode-se
dizer de Bilal que seu cinema nunca será além
de uma curiosidade, de uma extravagância interessante.
Em todo caso, isso já é muito mais do
que a maioria da produção de cinema fantástico
contemporânea, chafurdada que está em fórmulas
de apelo fácil, sejam essas fórmulas novas
(Jogos Mortais) ou velhas (A Chave Mestra).
Immortel passa às 23:45.
Dia 20/03
Último musical de Stanley Donen (Cantando
na Chuva, Procura-se uma Estrela, Sete
Noivas para Sete Irmãos, Cinderela em
Paris, entre outros), Movie-Movie, a Dupla
Emoção (Movie Movie, 1978) passa
no Film & Arts à meia-noite de segunda para
terça-feira. É um filme que não
teve lançamento em vídeo e tampouco em
dvd (nem lá nos EUA) e, portanto, depende unicamente
da televisão como oportunidade de exibição.
Como os últimos filmes de Donen, Movie Movie
foi bastante mal-recebido em sua estréia, mas
ganhou acolhida dos fãs do diretor, que se não
colocam o filme em pé de igualdade com sua produção
dos anos 50, ao menos o consideram como um filme vigoroso
e digno do autor. Curioso é que o filme, nos
cinemas, foi exibido com a primeira parte em preto e
branco e a segunda em cores, mas a televisão
costuma colorir tudo. Pela raridade da exibição,
Movie Movie não deve ser perdido. Antes
disso, no Canal Brasil, continua a retrospectiva dedicada
a Amácio Mazaroppi de todas as segundas-feiras.
Às 22:35, passa O Puritano da Rua Augusta
(1965), filme atribuído a Mazaroppi nos créditos,
mas dirigido na verdade por John Doo, que recebeu o
crédito de assistente de direção.
O filme é uma brincadeira com os valores modernos
dos jovens paulistas dos anos 60, e Mazaroppi aqui faz
Pundoroso, um industrial que tenta pregar sua nova religião.
Como curiosidade, a participação de Marly
Marley, hoje jurada de Raul Gil, que no filme interpreta
Carmen, a fogosa segunda esposa de Pundoroso.
Dia 21/03
E o Film & Arts, canal sempre muito criterioso
em sua programação (pena que eles se pautem
quase sempre pela idéia de "filme de bom
gosto" em sua programação), revela-se
como a melhor opção da semana. Neste terça-feira,
eles exibem Duas Semanas de Prazer (Holiday
Inn, 1942), de Mark Sandrich, filme que para o canal
chama-se Holiday Inn Véspera de Natal.
Estrelado por Bing Crosby, Fred Astaire e Marjorie Reynolds,
o filme levou o Oscar de melhor canção
para "White Christmas", de Irving Berlin (que
também é roteirista do filme). Sandrich
sempre foi um fiel artesão, responsável
nos orçamentos e prazos, além de ter se
revelado o diretor por excelência de Fred Astaire
e Ginger Rogers, simplesmente submetendo sua câmera
aos movimentos dos dois. O filme passa às 20:00.
No mesmo dia, o mesmo canal exibe, às 16:00 e
às 23:00, um programa semanal chamado Música
para o Cinema. Para começar, nada menos que Bernard
Herrmann, figura das mais importantes na história
da música para o cinema, compositor para filmes
como Cidadão Kane, Um Corpo Que Cai,
Psicose e diversos outros Hitchcocks, Taxi
Driver e Irmãs Diabólicas,
entre outros. Nas semanas seguintes, o programa continuará
com atrações imperdíveis, como
Joseph Kosma, Toiru Takemitsu e Georges Delerue. Na
falta de filmes franceses interessantes na TV5 essa
semana, o espectador pode ficar com o também
pouco interessante Betty Fischer e Outras Histórias
(Betty Fischer et autres histoires, 2001),
filme de Claude Miller que o Telecine Cult estréia
às 22:00.
Dia 22/03
No marasmo costumeiro das quartas-feiras, se
não valem os filmes, vale ao menos uma reflexão
sobre dois filmes interessantes que passam na HBO Plus.
Dois filmes que diferem em tudo, mas se refletem numa
preocupação com o gênero, e uma
preocupação específica: a de tentar
atualizar a forma para restituir no espectador um velho
sentimento de adesão ao gênero. Tarefa
um tanto ingrata, mas que diz respeito ao estado atual
do cinema: a necessidade de conjugar um grau avançado
de técnica e imprimir ao mesmo tempo o tipo de
adesão mágica com o cinema de antigamente.
A seu modo, tanto Tiro e Queda (The Big Hit,
1998) de Che Kirk-Wong (HBO Plus, 12:30) quanto Hellboy
(idem, 2004) de Guillermo del Toro (HBO Plus, 14:20)
tentam equacionar tradição e modernidade,
ambos em países que não são os
seus, mais chamados como artesãos do que como
autores, e daí um interesse a mais: o de como
novamente tentar aprender dos grandes nomes do passado
(Jacques Tourneur, John Ford, Howard Hawks) que mantinham
uma grande autonomia de criação mesmo
quando os produtores exigiam simplesmente um veículo.
Dia 23/03
Henry Levin fez reputação no cinema
como uma figura de estilo totalmente anônimo,
dado aos excessos costumeiros de dramaticidade e à
obedi6encia dos códigos mais desinteressantes
de representação em Hollywood. Mas há
mais de um motivo para se assistir a O Sentenciado
(Convicted, 1950), filme sobre prisões
e reabilitação estrelado por Glenn Ford,
Broderick Crawford e Dorothy Malone, que o Cinemax Prime
exibe às 06:45. Além dos atores, o filme
se presta muito a uma comparação com Fúria,
de Fritz Lang, Crime Verdadeiro, de Clint Eastwood,
e até com o asqueroso À Espera de um
Milagre, de Frank Darabont. À Noite, no Canal
Brasil, passa Parceiros da Aventura (1980), único
longa-metragem dirigido por José Medeiros, prolífico
diretor de fotografia do cinema brasileiro (A Falecida,
Viagem ao Fim do Mundo, Xica da Silva,
Memórias do Cárcere). O filme passa
na seção Brasil Cult, às 22:35.
Dia 24/03
É verdade que o Eurochannel até
tenta arejar sua programação, mas geralmente
é com coisas que não são exatamente
de fazer os olhos darem aquela arregalada. Há
algumas semanas, o destaque foi o diretor Fatih Akin.
Agora, é uma mostra de filmes independentes britânicos,
nenhum exatamente muito bem recomendado pelas fontes
mais confiáveis. A mostrinha abre com Crossmaheart
(idem, 1998), que tem a reputação
de ser o primeiro filme rodado em locação
na Irlanda do Norte em vinte anos, mas cujo interesse
não passa disso. Em todo caso, não é
só de filmes bons que se faz o cinema, e, de
fato, para alguém interessado no "lado B"
da produção britânica, a mostra
é de interesse inestimável. Pena que o
cinema britânico em geral não seja exatamente
estimável...
Dia 25/03
Duas Vezes com Helena (2001), de Mauro
Farias, é o filme do mês (opinião
deles, não nossa) no Canal Brasil e passa no
sábado às 23:00. Adaptação
do romance Três Mulheres de Três PPP,
de Paulo Emílio Salles Gomes. Aproveitando que
o livro/roteiro também teve uma versão
cinematográfica assinada por Paulo Cezar Saraceni
em 1981, Ao Sul do Meu Corpo, o canal passa também
o filme de Saraceni, às 21:00. Nenhum dos filmesé
completamente bem sucedido, mas uma dose dupla dessas
é uma oportunidade interessante para ver que
aspectos da narrativa original cada um dos diretores
deu preferência. No Telecine Premium, a estréia
do sábado às 22:00 é O Amigo
Oculto (Hide and Seek, 2005), filme de John
Polson estrelado por Robert De Niro e a menina Dakota
Fanning. Objeto de críticas devastadoras, sabe-se
lá por quê, o filme tem um artesanato para
lá de cuidadoso, e trabalha a questão
da paranóia contra o outro de uma forma bastante
interessante, com um final passado numa caverna-útero
que utiliza um potencial metafórico muito em
desuso nos dias de hoje. Ainda assim, a estréia
do dia é Hitch Conselheiro Amoroso
(Hitch, 2005), um dos melhores filmes do ano
passado, uma das comédias americanas mais interessantes
dos últimos tempos e um belo questionamento sobre
identidade masculina no mundo contemporâneo (no
que faz uma ótima tabelinha com o recente remake
de Alfie). Andy Tennant na direção
atrapalha em alguns momentos (os atores poderiam ficar
mais controlados, e o fim do filme poderia ser melhor
talhado), mas no geral conduz seu filme com um ritmo
para lá de interessante. Estréia na HBO
às 21:00.
Dia 26/03
Já que os sábados ficam povoados
das grandes estréias, os filmes "cult"
encontram sua plataforma de lançamento nos domingos.
É o caso de A Comunidade (La comunidad,
2000), a comédia meio chinfrim de Álex
de la Iglesia que o Telecine Cult exibe às 22:00,
e de Kung Fu Futebol Clube (Siu lam juk kau/Shaolin
Soccer, 2001), filme que fez a fama internacional
de Stephen Chow e seu uso inteligente e surpreendente
da computação gráfica para criar
humor. É uma pena que a versão lançada
aqui não tenha sido a original, de 110 minutos,
mas a americana, picotada pela Miramax, de 87 apenas.
Em todo caso, para quem se deslumbrou com o também
ótimo Kung Fusão (Kung Fu/Kung
Fu Hustle, 2004), primeiro filme de Chow lançado
nos cinemas do Brasil, o programa é imperdível.
Ruy Gardnier
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