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Carl Theodor Dreyer, Coleção Akira Kurosawa,
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É conversando que a gente se entende?


A cada novo ano, o cinema vive esse ritual antigo de fazer o balanço do ano anterior, listar os filmes vistos, criar as hierarquias, retrospectar os momentos fortes. E também é o momento para novas promessas, mudanças e tomadas firmes de decisão. O ano novo de Contracampo tem disso tudo. Primeiro, nos questionamos: a partir do que vemos sobretudo nos festivais, ano a ano, o cinema contemporâneo ao redor do mundo não pára de nos surpreender, de tomar passos ousados e configurar um panorama que não adivinharíamos nem em nossos sonhos mais esperançosos. Um cinema que se comporta no seio do cinema narrativo mas não o é exatamente; um cinema que cria propostas desafiadoras e arma dispositivos novos, e ainda assim conseguem um tipo de recepção muito diferente das obras conceituais do cinema estrutural; por fim, um cinema que parece apontar para terrenos ainda inexplorados do cinema, revigorando esta arte que algum dia alguém profetizou que já tinha esgotado todas as suas potencialidades. Se esse cinema ainda nos espanta e apaixona, nada mais natural do que voltar a ele num fim de ano, já longe das correrias de festivais, e discutir suas impressões e suas paixões. E que tal aproveitar que no começo do ano já temos nossa tradicional conversa sobre os filmes nacionais estreados no ano anterior? Essa edição aposta na mesa-redonda como objeto privilegiado da troca de idéias, apesar de saber que o formato também tem as suas deficiências e, sobretudo, precisa ter um uso moderado para funcionar a contento e não se transformar numa fórmula.

Às duas mesas-redondas, a edição acresce duas pequenas pautas que chegam ligeiramente atrasadas, naturalmente porque Manoel de Oliveira tomou todos os nossos esforços na última edição de 2005. Realizadas em novembro, mais ou menos na mesma época, as retrospectivas dedicadas a Oliveira e Sjöström, em São Paulo, e Rogério Sganzerla, no Rio de Janeiro, nos enchem de curiosidades e de perguntas não só acerca de suas apaixonantes cinematografias (três mundos que funcionam tranqüilamente auto-suficientes como obra), mas também acerca do cinema em geral. Se Sjöström trabalha com a natureza de uma forma que pode remeter ao cinema do fluxo de Apichatpong Weerasethakul, ou se os poderes disjuntivos da montagem de Sganzerla pode ter ressonâncias visto ao lado de um filme como Enigma do Poder de Abel Ferrara, é porque o cinema não se fecha nas tendências de cada época, tecendo uma infinita rede de afinidades eletivas que cabe a nós notar. E, finalmente,com o começo de cada ano temos também o eterno ritual de eleger os dez melhores filmes do ano e apresentá-los a nossos leitores. Façam bom proveito.

Por fim, a nota dissonante: Eduardo Valente não faz mais parte da editoria nem do corpo de redação de Contracampo. A decisão é dele próprio, que não vinha se sentindo inteiramente confortável com as mudanças internas tanto do ponto de vista das escolhas editoriais quanto da organização interna de trabalho da revista. A isso junta-se o crescente número de atividades desenvolvidas, culminando com a filmagem de um longa-metragem a partir do segundo semestre, que acabaria resultando numa participação sensivelmente menor no seio da revista. Se neste mesmo local uma vez demos notícia semelhante, acreditando talvez numa possível reversão, dessa vez a decisão é irrevogável. Nossos votos são para que fora da Contracampo ele continue exercendo sua lucidez e seu gosto pelo cinema, filmando, refletindo sobre o mundo ou sobre os filmes e cineastas de predileção. E, como o mundo não se vive só de idas mas também de chegadas, nesse começo de 2006 chegam a Contracampo cinco novos redatores, um grupo de amigos que se conheceram no curso de cinema da UFF, montaram um coletivo para cobrir o Festival do Rio passado e ir além (o "Plano Sergio Leone") e que vocês verão progressivamente assinando críticas, artigos, reportagens, entrevistas, etc. Como todo mundo, a revista faz promessas de ano novo. Uma delas é revitalizar todas as áreas que funcionam aquém do desejado tanto no terreno da cobertuda quanto da atualização. Tomara que essa chegada, além do gás pronunciado que todo recomeço (de ano, de perspectivas) e toda mudança proporciona, nos faça conseguir atingir nossas metas. O juiz, como não poderia deixar de ser, será o leitor. Então, uma boa leitura e um feliz 2006!

     
  Luiz Carlos Oliveira Jr. e Ruy Gardnier