Cinema falado, parte 4
O fenômeno do ano: Lavoura Arcaica, mais Bicho de Sete Cabeças e Brava Gente Brasileira


EV: Mas chega de mercado, vamos falar esteticamente dos filmes.

RG: Eu sugiro fazer um círculo, passar a palavra para os cinco presentes para falar os filmes que cada um acha os principais do ano e depois a gente começa a discussão toda. Eduardo...

EV: Pra falar qualquer coisa dessa eu acho vital primeiro dizer o seguinte: os que eu não vi. Pra dizer que eu não vou falar deles por causa disso. Eu não vi Tainá, O Chamado de Deus, Senta a Pua!, Tônica Dominante e As Feras. Me arrependo de não ter visto todos eles. Minha opinião sobre esteticamente os filmes lançados em circuito comercial no Rio de Janeiro em 2001: um filme eu realmente gosto, sem fronteira: Babilônia 2000 de Eduardo Coutinho. Não quero nem me alongar nisso, mas discordo até de uma noção que algumas pessoas tem de que é uma espécie... eu acho que não é uma continuação de Santo Forte. Basicamente, é isso, eu acho que é o único filme realmente bem sucedido com as propostas que tinha no cinema brasileiro esse ano. Fora isso, cinco, seis ou sete filmes brasileiros que eu acho muito interessantes, gosto de muitas coisas neles, mas acho que não alcançam o tempo inteiro o que eles querem. Mas eu gosto deles por causa disso, e eu acho que mais filmes têm que ser feitos nesse sentido, imperfeitos. São eles: Brava Gente Brasileira, O Sonho de Rose, Bicho de Sete Cabeças, Memórias Póstumas, O Casamento de Louise, Lavoura Arcaica e o Caramuru, que é um filme que eu gosto. São filmes que eu gosto de muitas coisas, desgosto bastante de tantas outras, mas que eu acho altamente saudáveis.

RG: Acho que tem dois filmes que eu gosto muito, coincidentemente são dois filmes de mulheres-cineastas, e no ano passado o meu filme preferido também foi o Através da Janela da Tata Amaral: Brava Gente Brasileira e Bicho de Sete Cabeças, com uma menção honrosa pra um filme que erra muito mas que quando acerta também acerta certeiro que é o Memórias Póstumas. Tem outros dos quais eu gosto medianamente, ou gosto de algumas coisas, como é o caso de O Casamento de Louise e do Lavoura Arcaica, mas eu prefiro deixar os comentários pra depois.

DC: Eu não vi vários filmes. O Casamento de Louise, Nélson Gonçalves, Tainá, A Hora Marcada, Tônica Dominante, Mater Dei...

EV: Daniel, não é melhor fazer o contrário, dizer quais os filmes que você viu?

DC: Exatamente... O Anésia eu não vi...

EV: Então tá, em termos estatísticos qualquer opinião do Daniel deve ser desconsiderada (risos)

DC: Eu vi metade.

RG: E do que você gostou?

DC: Gostei muito do Babilônia 2000, gostei bastante do Chamado de Deus, e gostei muito do Bicho de Sete Cabeças. E acho que o Lavoura Arcaica é um filme com grandes momentos, mas o melhor filme do ano é um média-metragem, um documentário sobre o Bezerra da Silva, que é o Onde a Coruja Dorme, feito pela Márcia Derraik e pelo Simplício Neto.

RG: Ainda como curta eu queria lembrar do Resgate Cultural, da cooperativa Telephone Colorido, e do fenômeno midiático do ano, que em todas as retrospectivas do anos esteve ausente, agora eu acho que os programas de domingo – não digo o programa inteiro porque não assisti a tudo satisfatoriamente – agora todos os programas de domingo da Casa dos Artistas eu achei de um nível cinematográfico espetacular.

GS: Falando primeiramente do que eu não assisti. Não assisti a Tainá, Senta a Pua, Minha Vida em Suas Mãos, O Grilo Feliz, As Feras, Caramuru, Anésia eu assisti meia-hora e saí fora, porque você vê dez minutos e já viu o filme. Não assisti a Xuxa e os duendes. Pra mim o melhor filme nacional do ano foi um documentário, O Sonho de Rose, foi daqueles que mais me agradou dentro da proposta, gostei muito do Babilônia 2000, e alguns filmes de ficção me agradaram – nenhum perfeitamente – mas eu gostei do Brava Gente Brasileira, gostei do Bicho de Sete Cabeças, gostei do Xangô de Baker Street, gostei do Lavoura Arcaica, agora menos do que estavam obrigando a gente a gostar (risos). E gostei também do Memórias Póstumas.

JMC: Pra começar, eu não acho que esse ano tenha tido um filme que eu possa dizer que é melhor do que os outros. Eu posso falar de um filme que eu não gostei e que eu acho um perigo. Não um perigo, porque é uma exceção mas corre o risco de virar regra que é o Lavoura Arcaica. O filme passa uma falsa imagem de filme cool com interesse diferenciado, e por isso ele acaba sendo muito mal-intencionado e foi bastante mal-lido pelas pessoas, pela crítica. Ele acaba sendo um destaque não por ser o melhor filme, mas pra gente pensar o que a crítica espera do cinema nacional e o que o público procura quando vai ver cinema nacional. Eu acho bom ele ter aparecido não porque ele não é bom, mas porque ele tem um significado muito forte para a nossa produção. Mas filme desse ano que eu ache excepcional, eu não posso citar nenhum.

(trecho parcialmente inaudível. Comenta-se o clamor por artisticidade de Lavoura Arcaica, João Mors Cabral comenta que é o filme mais bem elaborado do ano. Eduardo Valente faz um paralelo em que comenta que tanto AI de Steven Spielber, comparando com Lavoura)

EV: Eu acho ele bem chato. Eu acho ele igual ao Lavoura Arcaica, o filme tem duas horas e meia e cada seqüência parece que tem duas horas e meia. Essa definição que se falou do Lavoura Arcaica eu acho que funciona perfeitamente para o AI. Mas o mais importante mesmo na comparação dos dois é que nos dois filmes são os diretores fazendo autoanálise, são os diretores botando para fora seus medos, suas dúvidas.

DC: O AI de uma forma muito mais consciente do que o Lavoura Arcaica.

RG: Terminado o ciclo e o João tendo pontuado com o Lavoura Arcaica, acho que é o filme do ano, é o acontecimento do ano, uma coisa que transcende a própria importância cinematográfica do filme, é o circuito que o filme fez nos suplementos culturais, nas conversas das pessoas que freqüentam o cinema, nos cinéfilos, é o filme sobre o qual você tem que ter uma opinião e tal.

EV: A capa da revista de Domingo do JB.

RG: Além do passado do Luiz Fernando Carvalho, que é uma pessoa que tem um acesso privilegiado aos jornalistas, e o passado dele na Globo, de ser um diretor de novelas, fez Renascer, que renovou estilisticamente a novela brasileira, fez Os Maias, então é o que eu colocaria entre aspas como a figura social, o "currículo" dele como aquilo que circula na mídia. Acima de tudo, esse efeito de legitimação que o filme criou é muito curioso e é o que eu acho o mais curioso do filme e termina com uma pequena anedota que um amigo me contou, de que finalmente ao fim da sessão fez um comentário erudito e terminou com "que porcaria!". Mas a questão não era essa, não era o que a pessoa falou. A questão era o olhar de condescendência e de alívio com o qual as outras pessoas brindaram o sujeito que falou isso na sessão do Estação Botafogo, porque elas finalmente depois desse depoimento elas ficaram livres para não gostar do filme. Isso eu achei sintomático, bastante preocupante, mas sintomático a respeito de um certo uso da crítica cultural. Tanto por parte dos críticos quanto por parte das pessoas que vão e lêem, porque crítica não é mais aquele texto que dá subsídio para você ir livremente ao cinema e gostar ou não gostar, mas acima de tudo saber que na sua frente existe um filme que faz questão, mas acima de tudo virou uma coisa de você estar junto com, ou seja, você vai para gostar, ou seja, eu gosto dos filmes que o bonequinho aplaude, ou que o JB dá quatro estrelas, então eu vou lá e assisto. Muito mais importante do que o filme – que eu acho que acerta muito no começo e no final, e se prolonga em 700 falsas posturas artísticas, quais sejam, histrionismo do Selton Mello, que consideram como um excelente ator mas eu não acredito, não nesse filme, no do Guel Arraes (Auto da Compadecida) também não, acho que na peça do Zé Celso (Esperando Godot) ele estava bem. Agora, acho que acima de tudo ele tem uma coisa com o histrionismo que não me agrada de forma alguma.

EV: Anedota por anedota eu também falo uma. Vocês ainda não repararam que o André (personagem de Lavoura) é o Chicó (personagem de Auto da Compadecida) com crise de consciência e o Caramuru é tetravô do Xicó? Ele está criando uma grande linha de interpretação da persona dele.

GS: E por que para ser um personagem torturado tem que torcer o pezinho?

EV: É verdade. Por que o pezinho? Na minha opinião, são dois filmes. Um bom filme, que se passa no presente, e um mau filme, que se passa no passado, tem uma narração em off por cima, que são as lembranças do personagem.

RG: E imagens ilustrativas.

EV: Só que aí você mistura um com outro, fica uma coisa esquisita.

DC: Tem o garoto, e a presença sufocante do amor do pai, mas o Selton Mello é apenas um adolescente reclamando do pai, e o pai não faz pressão até o fim do filme. Com isso, parece muito o discurso de um adolescente em crise, não sei o quê, e o espectador não consegue se identificar, porque você não sofre o que ele sofre. O amor do pai como está na tela, não me faz sofrer. Esse é um problema sério, o pai só aparece no final.

EV: Daniel, eu só não entendi até agora como ninguém fez essa ligação, de tão genial. O que você acabou de descrever é perfeito, é uma excelente análise do filme. Mas se você descrever esse filme num debate desse jeito sobre o cinema brasileiro de 2001, eu tenho certeza que todo mundo vai achar que você está falando de Bicho de Sete Cabeças.

DC: Não, mas em Bicho de Sete Cabeças o pai aparece o tempo todo.

EV: Mas é a crítica de Bicho de Sete Cabeças que se aplica a Lavoura Arcaica. Todo mundo chama o filme de adolescente. Se lembra daquela velha discussão que ele é adolescente porque lida com uma revoltinha de um adolescente porque o pai não entende ele.

DC: Isso é verdade, a lógica funciona, mas o que eu queria dizer é o seguinte: no Bicho de Sete Cabeças o amor do pai está presente o tempo todo, e você vê as ações erradas do pai, e você sente o garoto sofrendo. O pai está presente na narrativa. Ele age errado. Enquanto com o Lavoura, você se pergunta "Qual é o problema com o pai?" O pai, o pai... Vai encher o saco de não sei quem! Não agüento mais! Só no final que aí você vê, "realmente, o amor do pai, etc.", mas até aquele momento você pensa, "pô, vai se criar!" No Bicho, o tratamento da relação do garoto com o pai é perfeita. Quando ele vai pro sanatório você sofre, você sente raiva do pai. Em Lavoura Arcaica quando você sente raiva do pai?

EV: O Bicho é feito abraçado com o personagem principal, o mundo é visto a partir do olhar do protagonista. No Lavoura ele é disfarçadamente feito a partir do olhar do protagonista, mas ele está é abraçado com o intelectual que escreveu o livro, o intelectual que está fazendo o filme, não o protagonista. O protagonista é objeto, não é sujeito. Essa me parece a principal diferença.

RG: Eu tinha falado de alguns pressupostos artísticos. Falei antes sobre o Selton Mello, mas eu acho que além disso eu poderia ressaltar a fotografia do Walter Carvalho, que me parece bastante astuta em alguns momentos mas que não consegue ser propriamente reveladora ou nova. Faz inúmeros artifícios de foco, luz, mas acima de tudo ela nunca serve para melhorar uma cena e sim para ser artística em si. Acho que é um vício que o Walter Carvalho vem cometendo e acho que isso devia ser ressaltado. Além de toda aquela questão de aproveitar o acaso, ele comentou diversas vezes que dava livre vazão aos atores e depois marcava claramente todos os passos dessa improvisação.

EV: Ensaiava a improvisação.

RG: Acho que de tanto se basear no ser-artístico, ele acaba sendo um simulacro de artístico. E o fato de a crítica ter caído de quatro nesse simulacro de artístico, eu acho bastante problemático. Podemos passar para o Bicho de Sete Cabeças?

EV: Eu tenho ainda uma última coisa pra falar do Lavoura que é a declaração do Luiz Fernando Carvalho de que só ele pode montar o seu próprio filme (risos). Porque isso já seria um absurdo completo como teoria. Se o cara falasse isso em qualquer lugar, eu já acharia um absurdo. Agora, quando você senta e assiste o filme dele, quando você assiste, pára e pensa, você conclui: "como esse filme seria melhor se ele tivese montador". Como ia ser melhor se alguém chegasse para ele e dissesse "não, aqui você está repetindo, isso aqui você já falou, aqui você está perdendo o ritmo dessa sua cena que era do caralho, aqui você está querendo criar um clima logo atrás de outro e isso não funciona, corta o clima". Mas não, só o cara entende aquela arte que ele está fazendo. Aí ele cria essa lenda do filme dele. E mais uma vez, viva o Apocalypse Now, viva os cabeças da Universal, que chegaram e falaram, "Porra, Coppola, isso aqui é um porre, quarenta minutos de nego discutindo". Aí o Coppola diz que filosoficamente isso explica toda a questão da presença dos colonialistas, etc. E os caras falam "Mas não, está ruim". E o Coppola olha e fala: "É, está ruim mesmo". Alguém tem que chegar para o cara e dizer "Tira, está ruim."

RG: Então, Bicho de Sete Cabeças, já que foi ressaltado o paralelo que não é paralelo entre a questão do amor do pai.

DC: Eu acho legal essa coragem da Laís Bodansky de utilizar logo no primeiro longa uma linguagem visual

RG: Não me parece tão devedor não, ela pegou o quê, o montador do Bertolucci, do Assédio. Acho que algumas das coisas, tipo corte no plano e alguma câmera nervosa, mas a questão dramatúrgica é bastante diferente.

GS: Alguma coisa de câmera nervosa no Bicho de Sete Cabeças me incomodou, umas montagens rapidinhas, principalmente no começo do filme. Mas também no conteúdo, depois que você vai vendo o filme, aquilo passa, se dissolve.

(trecho inaudível: Eduardo Valente discute sobre o fato de o personagem do pai ser muito mal-construído, deixando excessivamente clara a distância que separa pai e filho e deixando a situação muito rasa. Ressalta que não acha que o personagem do pai é demonizado.)

EV: Outro problema é a interpretação e a encenação dos loucos.

RG: Eu acho que o filme só tem dois problemas que prejudicam. Um é dos loucos, principalmente do que interpreta a canção do Genival Lacerda. Como ator ele está muito bem, mas dramaturgicamente atrapalha, porque causa uma identificação e transforma o louco em algo peculiar, pitoresco. mas acho que a cena crucial em que o filme cai é na única cena realmente maniqueísta que é a da conversa no telefone celular, em que o médico discorre, diz que "precisamos mais de verbas, traga mais internos". Aí eu acredito que é você personalizar alguma coisa que é institucional, e isso causa um problema sério.

DC: Você pensa, é o cara que está se dando bem. É um tipo de coisa muito comum em qualquer organização, mas o cara tem uma maldade. Não sei, não é uma coisa que chegou a me incomodar.

EV: Mas tem coisa boa pra falar do filme. Eu gosto dessa trinca que o filme fez. O público se interessou em ver o filme; segundo, o público foi ver o filme; e terceiro, o público saiu gostando do filme. Quando você consegue essa trinca, é um bem para o cinema brasileiro. Foi pensado para um público, chegou a ele e as pessoas saíram gostando

GS: E eu acho interessante no Bicho de Sete Cabeças, que é um filme que mesmo que todos nós tenhamos uma restrição ou outra, agradou de uma forma geral, é que é um filme sincero. O filme não está querendo ser a salvação do cinema brasileiro, não está querendo ganhar Oscar, não está querendo parecer inteligente...

RG: Brava Gente Brasileira?

EV: Brava Gente Brasileira eu confesso que eu vi há exatamente um ano. Acho que o filme tem duas qualidades maiores. A que eu mais gosto é o fato de desmistificar a velha lógica do cinema mundial, não só do brasileiro, no qual o selvagem está sempre certo, é bonitinho, coitadinho e o colonizador é um bicho mau, horrível e que está sempre errado. Então ao jogar com essa lógica com uma relação intrincada eu já gosto bastante. Em segundo lugar eu gosto da idéia de se fazer um filme de época com pouco dinheiro, é um filme barato. Não tem muito dinheiro, usa o que dá, aproveita o que já está construído, mesmo que seja apenas um forte, reconstrói o que der em estúdio... Eu só acho que o filme tem uma "barriga" enorme, de meia-hora.

GS: O Brava Gente eu acho que ele é o melhor filme histórico recente pelo fato de ele não se prender numa figura. Ou num fato como Canudos, O Barão de Mauá...

RG: Hans Staden...

GS: ...Hans Staden eu gosto, mas gosto mais do Brava Gente. Ao invés de ele pegar uma época ele pega um momento, uma coisa pequena...

RG: Ele pega uma tensão primordial, mas que já dá todas as dimensões da relação do indígena com o branco.

(trecho parcialmente inaudível. Eduardo Valente e Daniel Caetano comentam que o personagem interpretado por Floriano Peixoto é dramaturgicamente pobre e mal atuado, Daniel Caetano afirma que o filme segue a dramaturgia já expressa por Humberto Mauro de que se o personagem é mau, aparece ele chutando um gato, e Eduardo Valente concorda, mas acrescenta que se o português é mau, os índios são tanto quanto ele, não são pobres indefesos que não fazem mal a ninguém, que são espertos.)

DC: E a menina está linda, muito bem (Luciana Rigueira). Aliás, falamos pra caramba Lavoura Arcaica mas ninguém aqui falou que a Simone Spoladore é indiscutivelmente o grande talento revelado pelo cinema brasileiro nesse ano, contando direção, fotografia, elenco, etc.

GS: Eu achei que a Dira Paes no Casamento de Louise, sim, acho a verdadeira atuação do ano.

DC: A Luciana Rigueira no Brava Gente e o Rodrigo Santoro também promete, está muito bem como galã.

 

Parte 5: Xangô e "ser cinematográfico", Caramuru, A Partilha e Globo Filmes

Parte 6: Existe um novo cinema documentário brasileiro?

Parte 7: Copacabana, Memórias Póstumas, Domésticas, Mater Dei

* * *

Voltar à Parte 1: Condições de produção, sucessos, fracassos, Lavoura Arcaica

Voltar à Parte 2: Bufo e Spallanzani, cinema comercial/cinema de autor

Voltar à Parte 3: Distribuição, TV, público