Alguns
filmes podem enganar pela disposição por
trás de quem realiza a obra. Talvez seja o caso
deste longa do argentino Rodrigo Moreno. Pois ele não
nos permite questionar de qualquer modo que exista por
trás dele um conceito, uma idéia de cinema,
algo sendo construído, a cada plano. O diretor
exibe rigor em seus planos, às vezes fixos, às
vezes com sutis movimentos calculados. É um filme
de imersão. Ele está sempre em busca de
encontrar o tempo do protagonista, o modo como sua vida
é conduzida. Seguimos Ruben, o segurança
de um ministro, e sua jornada cotidiana de seguir e
aguardar seu patrão em todos os locais onde vai.
Toda a existência de Ruben é um grande
tempo morto, e é isso que Rodrigo Moreno busca
filmar, 90 minutos de tempos mortos. Só que o
cineasta não parece encontrar uma forma de casar
este rigor conceitual com um modo de permitir ao filme
respirar. O filme nos sufoca no pior dos sentidos. E
não no sentido em que se sente sufocado seu protagonista,
pois se seu cotidiano lhe parece quase banal, Moreno
consegue fazer dele algum interesse ao longo do filme,
motivado pela espera de que em algum momento venha sua
quebra.
Talvez por isso o final pareça tão previsível
e fácil, logo de começo. E o diretor ainda
adiciona uma mão pesada pra lá de estranha
na encenação de certas cenas, sempre que
Ruben está falando ou vivendo algo fora de seu
cotidiano. O cineasta confia demais no conceito da vida
que se confunde com o trabalho, e trata os momentos
mais íntimos de seu protagonista com um tom uniforme,
batendo na mesma tecla a respeito de sua angústia.
São os momentos em que Moreno começa a
se perder de vez, em especial a partir da seqüência
em que vai com a família a um restaurante e termina
por explodir contra os donos do local. É como
se ele pudesse terminar o filme a qualquer momento,
porque tudo já parece pronto: se estabelece instantaneamente
a questão do cotidiano, a figura do ministro,
sua família e a relação com ela,
sua angústia, sua necessidade de explodir. Tudo
chega rápido demais, fácil demais. Por
isso seu rigor nos planos parece funcionar contra a
estrutura do filme em si, abortando aquilo que ele dramatiza.
Sua câmera é feita de planos centrados,
que fazem apenas movimentos calculados, mas não
necessariamente virtuosos. Um bom exemplo de seu funcionamento
calculado é a da seqüência que fecha
os créditos iniciais, focando uma porta no corredor
em que o guardião aguarda seu patrão,
primeiro ele passa numa direção caminhando,
o crédito de direção invade a imagem,
o tempo dele se dissolver é o exato para o retorno
de Ruben na outra direção. É feito
de seqüências assim, algumas vezes fascinantes,
outras tantas simplesmente bobas. Especialmente nos
momentos em que adota a imagem estática que foca
os objetos em primeiro plano e as pessoas em segundo,
desfocadas. Se esse projeto estético alcança
algum resultado, é o de se aproximar do já
mencionado tempo morto constante em que se encontra
a vida do protagonista. Afora isso, é de um rigor
que chega a ser banal, e como mencionado, trabalha contra
a encenação do filme. Pena que Moreno
não consiga fazer mais do que um filme pobre
com um conceito visual.
Guilherme Martins
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