Logo de início, vemos a imagem
de um rosto feminino computadorizado enquanto ouvimos
uma narração em off a nos apontar os sinais de
envelhecimento que vão surgindo pouco a pouco,
numa reproodução do que ocorre na pele
humana com o passar dos anos. Trata-se de uma palestra
do seu protagonista Antonio, cirurgião plástico – e
esses primeiros momentos de Lifting do Coração
deixam claro que o tema do filme é a sensação de envelhecimento
e as consequências disso para a vida de Antonio. A trama
não esconde sua simplicidade: é a estória de um homem
casado de meia-idade que se apaixona por Delia, uma
jovem de vinte e poucos anos – a previsibilidade chega
a ser anunciada pelos próprios personagens, cientes
da confusão que criam para si. Encantadora, prometendo-lhe
uma vida inteiramente diferente da que planejava até
então, Delia confunde a cabeça de Antonio, sujeito feliz
no casamento.
É da paixão entre os dois e da dúvida sincera de Antonio
que o filme se constrói. Ele não sabe o que fazer: ter
mais um filho com a sua jovem paixão ou voltar à segurança
e ao amor da família? Buscar uma nova juventude ou aceitar
e curtir a chegada da idade?
Do primeiro ao último plano do filme, a questão da passagem
do tempo se coloca através dos sentimentos e ações dos
seus personagens principais. Simples como seu enredo,
a forma narrativa de Lifting do Coração nos dá
a chance de rever o talento do seu realizador, Eliseo
Subiela. Se nesse novo filme já não se fazem tão presentes
os arroubos poéticos de suas obras anteriores (Homem
Olhando Para o Sudoeste, As Últimas Imagens do
Naufrágio, O Lado Obscuro do Coração), aqui
ainda está presente o cuidado em delinear os sentimentos
e desejos de viver dos seus personagens, sempre intensos,
além do humor para criar tipos coadjuvantes – aqui há
um taxista com vocação para psicólogo e um psicanalista
metido a Don Juan, ambos impagáveis. Vale lembrar
de um momento de cada um deles: o psicanalista ao transformar
em instantes seu escritório numa garçonière;
o taxista, entre tantos diálogos memoráveis,
protagoniza uma cena em que procura reanimar Delia com
uma canção divertidíssima (a se
guardar o nome: Pizza Conmigo).
Porém, mais do que a beleza da jovem Delia e mais do
que esse humor delicioso, é a oposição que Antonio vive,
entre a vontade de viver (própria dos personagens de
Subiela) e a percepção da passagem do tempo que faz
de Lifting do Coração o filme emocionante que
é, entre seus tangos dançados desajeita e fogosamente
e sua atenção a pequenos detalhes do cotidiano entre
casais. Se o jovem cinema cheio de poesia e humor agora
encontra a maturidade, vale notar que esta maturidade
chega com o sabor dos bons vinhos, da boa vida que se
pode viver. Os personagens de Subiela conseguem unir
o desejo de ter a liberdade da poesia e o prazer de
aproveitar a segurança da prosa cotidiana. Eles partilham
conosco suas emoções e sonhos, suas fragilidades e escolhas.
Desse modo, através da sua forma narrativa e da sua
trama, Lifting do Coração, como seus personagens,
mostra-se cheio de desejos, conjugando o sonho e a estabilidade,
a paixão poética e o amor da maturidade.
Daniel Caetano
|