O
diretor turco Ceylan começou a aparecer com algum destaque
no mercado internacional quando seu Distante (Uzak,
2002 – exibido na 27a Mostra de São Paulo)
conquistou o Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes
de 2003. Mas a visão do filme acabava por gerar uma
sensível decepção, pois apesar dos esforços do cineasta
em construir uma forte relação de distanciamento entre
seus protagonistas, dois primos que vivem em universos
diferentes ainda que habitando o mesmo apartamento,
Distante, no fim das contas, acabava não
indo muito além de uma sucessão de clichês presentes
em filmes que abordam a temática da incomunicabilidade.
Climates é seu trabalho seguinte e os defeitos
aparentes em Uzak aqui se agravam: tudo leva
a sugerir que Ceylan parece estar se tornando um especialista
em algo que poderíamos chamar de “cinema de arte genérico”.
Isso fica fortemente constatado ao ver que ao longo
de toda a ação de Climates este tende a reproduzir
uma série de cacoetes presentes em filmes sobre casais
com relacionamentos tumultuados (alguém pensou Bergman?),
calcando-se em personagens egoístas, diálogos longos
alternados por longos silêncios, excesso de tempos mortos,
narrativa e planos alongados, relações sexuais embrutecidas.
Apesar da sugestão em pretender transmitir algo mais
pessoal – o casal protagonista do filme é interpretado
pelo diretor e sua esposa –, Ceylan não demonstra com
Climates qualquer convicção, veracidade ou intimidade
com aquilo que está sendo visto na tela. Tudo não passa
de uma repetição de dogmas canônicos, como se o diretor
tivesse seguido ponto a ponto as instruções de uma manual.
A utilização simbólica das estações do ano para reproduzir
o estado de espírito dos personagens é o mais flagrante
exemplo desse procedimento. Isso acaba por nos levar
a concluir que, com tão pouco tempo de exposição, Nuri
Bilge Ceylan já engrossa a fileira dos cineastas que,
mesmo tendo seu trabalho superestimado por algum tempo,
em breve ficarão relegados à vala comum da mediocridade
e do esquecimento.
Gilberto Silva Jr.
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