CLIMATES
Nuri Bilge Ceylan, Iklimler, Turquia/França, 2006

O diretor turco Ceylan começou a aparecer com algum destaque no mercado internacional quando seu Distante (Uzak, 2002 – exibido na 27a Mostra de São Paulo) conquistou o Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes de 2003. Mas a visão do filme acabava por gerar uma sensível decepção, pois apesar dos esforços do cineasta em construir uma forte relação de distanciamento entre seus protagonistas, dois primos que vivem em universos diferentes ainda que habitando o mesmo apartamento, Distante, no fim das contas, acabava não indo muito além de uma sucessão de clichês presentes em filmes que abordam a temática da incomunicabilidade.

Climates é seu trabalho seguinte e os defeitos aparentes em Uzak aqui se agravam: tudo leva a sugerir que Ceylan parece estar se tornando um especialista em algo que poderíamos chamar de “cinema de arte genérico”. Isso fica fortemente constatado ao ver que ao longo de toda a ação de Climates este tende a reproduzir uma série de cacoetes presentes em filmes sobre casais com relacionamentos tumultuados (alguém pensou Bergman?), calcando-se em personagens egoístas, diálogos longos alternados por longos silêncios, excesso de tempos mortos, narrativa e planos alongados, relações sexuais embrutecidas.

Apesar da sugestão em pretender transmitir algo mais pessoal – o casal protagonista do filme é interpretado pelo diretor e sua esposa –, Ceylan não demonstra com Climates qualquer convicção, veracidade ou intimidade com aquilo que está sendo visto na tela. Tudo não passa de uma repetição de dogmas canônicos, como se o diretor tivesse seguido ponto a ponto as instruções de uma manual. A utilização simbólica das estações do ano para reproduzir o estado de espírito dos personagens é o mais flagrante exemplo desse procedimento. Isso acaba por nos levar a concluir que, com tão pouco tempo de exposição, Nuri Bilge Ceylan já engrossa a fileira dos cineastas que, mesmo tendo seu trabalho superestimado por algum tempo, em breve ficarão relegados à vala comum da mediocridade e do esquecimento.


Gilberto Silva Jr.