WOOD & STOCK - SEXO, ORÉGANO E
ROCK 'N' ROLL

Otto Guerra, Brasil, 2006

Com Wood & Stock – Sexo, orégano e rock’n’roll, Otto Guerra volta a transpor figuras dos quadrinhos para as telas, após ter realizado Rock & Hudson – os cowboys gays, que era inspirado nos personagens de Adão Iturrusgarai. Agora sua fonte foi o desenhista Angeli, mítico criador dos dois personagens que dão nome ao filme, assim como de dezenas de outros, todos ou quase todos ligados à cultura urbana de São Paulo. Ao escolher como figuras centrais a dupla de hippies velhos, Guerra teve que deixar de lado outros tantos personagens antológicos: Bibelô, Meia-Oito, Bob Cuspe, os Skrotinhos... a galeria de Angeli é vasta e divertidíssima. Mesmo entre os personagens escolhidos, não são poucas as piadas boas o bastante para serem incluídas – no entanto, nem tudo pode caber num filme só.

No caminho escolhido, o filme de Guerra acerta em alguns momentos, nem tanto em alguns outros: se o seu Stock é uma figura engraçada, com seu jeito de hippie abusado e seu sotaque carregado de paulistano, o filme comete o pecado de fazer com que todas as cenas de uma personagem memorável como a Rê Bordosa pareçam chatas e perdidas, desnecessárias, como se ela fosse adicionada ao filme apenas por ser “representativa da obra de Angeli”. Apesar da dublagem de Rita Lee, a Rê Bordosa da versão para cinema não tem o charme ou a empatia da alcoólatra detonada dos quadrinhos diários.

Não é por acaso, e talvez este seja justamente um dos motivos: os quadrinhos, por serem feitos para publicação em jornal, são diários e curtíssimos (com as exceções de eventuais estórias longas, publicadas por Angeli na revista Chiclete com Banana, que manteve por mais de uma década). Não é uma tarefa simples manter o ritmo durante todo um longa-metragem a partir da visualização de piadas não-seqüenciais, que na tela duram mínimos segundos. Em certos momentos, o resultado faz jus à genialidade de Angeli – e, curiosamente, alguns desses momentos ocorrem justamente quando o filme foge das piadas do próprio Angeli, como no delírio de um mini-Raul Seixas (dublado por Tom Zé) ou numa calcinha com uma imagem cantante de Elton John. Em outros trechos, Wood & Stock, o filme, parece se arrastar ao longo de uma trama pela qual nem mesmo os personagens dão sinais de interesse.


Daniel Caetano