É
uma tradição, dentro de uma linha de cinema que se pretende
“político”, traçar perfis e biografias de personagens
que a história registra como heróis ou mártires na luta
contra injustiças sociais e regimes arbitrários. Na
maior parte das vezes, esses filmes acreditam tanto
na força de seus personagens-tema que se esquecem de
cercá-los com um tratamento cinematográfico que caracterize
um mínimo de diversidade ou criatividade. Salvador
não demonstra o menor esforço em fugir a esse padrão.
Retratando um período entre 1968 e 1974, o filme de
Huerga acompanha a trajetória do militante anarquista
catalão Salvador Puig (o ator alemão Daniel Hendler),
executado ao apagar das luzes da ditadura franquista.
Sem um pingo de originalidade, todas as situações retratadas
no filme carregam um ar de dejà vu. Da tomada
de consciência do jovem estudante que se associa a grupo
guerrilheiro de esquerda e parte para a clandestinidade
até sua captura, tudo parece já ter sido visto previamente
em outros filmes igualmente medíocres. A exemplo das
seqüências de assalto a banco, que trazem imediatamente
à memória O Que é Isso, Companheiro?. O diretor
ainda tenta mostrar algum serviço ou imprimir uma pretensa
agilidade ao captar suas imagens em câmera digital e
carregar nas tomadas em close up. Huerga, porém,
não é Michael Mann e suas imagens permanecem carregadas
com o peso do academicismo.
Durante a primeira metade, quando Salvador narra da
prisão sua trajetória ao advogado, o filme ainda consegue
despertar momentos de ligeiro interesse, mesmo que a
experiência do protagonista não difira muito da de qualquer
militante de qualquer outro lugar do mundo. A segunda
parte, que foca a luta de Salvador na prisão para ver
infrutiferamente revogada sua condenação à morte, beira
as raias do insuportável, o que se agrava ainda mais
com os longuíssimos 140 minutos de projeção. Os clichês
se amontoam, com Huerga repetindo de forma extremamente
desagradável o expediente consagrado por Robert Wise
em Quero Viver!, retratando a execução do protagonista
de forma minuciosamente detalhada. Tudo isso só colabora
para fazer de Salvador um filme completamente
esquecível e dispensável.
Gilberto Silva Jr.
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