SALVADOR
Manuel Huerga, Espanha, 2006

É uma tradição, dentro de uma linha de cinema que se pretende “político”, traçar perfis e biografias de personagens que a história registra como heróis ou mártires na luta contra injustiças sociais e regimes arbitrários. Na maior parte das vezes, esses filmes acreditam tanto na força de seus personagens-tema que se esquecem de cercá-los com um tratamento cinematográfico que caracterize um mínimo de diversidade ou criatividade. Salvador não demonstra o menor esforço em fugir a esse padrão.

Retratando um período entre 1968 e 1974, o filme de Huerga acompanha a trajetória do militante anarquista catalão Salvador Puig (o ator alemão Daniel Hendler), executado ao apagar das luzes da ditadura franquista. Sem um pingo de originalidade, todas as situações retratadas no filme carregam um ar de dejà vu. Da tomada de consciência do jovem estudante que se associa a grupo guerrilheiro de esquerda e parte para a clandestinidade até sua captura, tudo parece já ter sido visto previamente em outros filmes igualmente medíocres. A exemplo das seqüências de assalto a banco, que trazem imediatamente à memória O Que é Isso, Companheiro?. O diretor ainda tenta mostrar algum serviço ou imprimir uma pretensa agilidade ao captar suas imagens em câmera digital e carregar nas tomadas em close up. Huerga, porém, não é Michael Mann e suas imagens permanecem carregadas com o peso do academicismo.

Durante a primeira metade, quando Salvador narra da prisão sua trajetória ao advogado, o filme ainda consegue despertar momentos de ligeiro interesse, mesmo que a experiência do protagonista não difira muito da de qualquer militante de qualquer outro lugar do mundo. A segunda parte, que foca a luta de Salvador na prisão para ver infrutiferamente revogada sua condenação à morte, beira as raias do insuportável, o que se agrava ainda mais com os longuíssimos 140 minutos de projeção. Os clichês se amontoam, com Huerga repetindo de forma extremamente desagradável o expediente consagrado por Robert Wise em Quero Viver!, retratando a execução do protagonista de forma minuciosamente detalhada. Tudo isso só colabora para fazer de Salvador um filme completamente esquecível e dispensável.


Gilberto Silva Jr.