Eijanaika (Por Que Não?)
, de Shohei Imamura

Fritz Lang e Jean Renoir nos Estados Unidos, Lenda Assassina de John Landis e A Proposta de John Hillcoat,

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Dois artistas decisivos, duas mortes sentidas. Ao mesmo tempo, setembro é o mês em que geralmente Contracampo lança um número duplo, fazendo ao mesmo tempo uma edição regular e as incansáveis coberturas dos festivais de final de ano. Dessa vez, temos apenas o número 82 no logo aqui ao lado. Por um motivo simples: dessa vez, para dar resposta a tudo que nos interessa no cinema neste momento, fazemos um número agora, dedicado a Shohei Imamura e Nam June Paik, e no intervalo dos festivais faremos um outro, enfocando a bela retrospectiva que trouxe a obra de Agnès Varda e o panorama do cinema americano recente, que com duas obras decisivas, A Dama na Água de M. Night Shyamalan e Miami Vice de Michael Mann, mais uma vez consegue se renovar e trazer questões que pedem maior dedicação e formas diferentes de aproximação. Naturalmente, a cobertura dos festivais acontecerá como sempre, com a costumeira disposição e algumas novidades para não cair no marasmo.

Shohei Imamura: morto em maio deste ano, é um dos principais responsáveis pela renovação do cinema japonês nos anos 60, e dono de uma das filmografias mais impressionantes do mundo nos últimos 50 anos. Sua morte chegou tímida, com alguns obituários e poucas homenagens ao redor do mundo, numa repercussão indigna da grandeza de uma obra de um rigor exemplar, dona de uma visão de mundo que traz uma infinidade de questionamentos a próposito dessa coisinha pequena que é a existência humana. Nam June Paik: morto em janeiro, é um artista multidisciplinar que começa na música, faz intervenções como artista fluxus e encontra seu meio particular no trabalho em cima da tecnologia ("I make technology ridiculous", diria), e especialmente num constante questionamento desse objeto que mudou a face da Terra a partir dos anos 50: a televisão. Só que essas imagens, criadas principalmente para a televisão, sabem à sua maneira indagar sobre o cinema de formas muito particulares e estimulantes, não só porque são áreas que se comunicam, mas sobretudo porque elas dizem respeito ao estatuto da imagem, sua transmissibilidade plena, e seu papel no mundo contemporâneo. Dois artistas decisivos dos quais a posteridade, infelizmente, herda apenas o clichê (nouvelle vague japonesa, videoarte). Apostamos que eles são muito mais do que isso.

Mas não é só esta edição que está assombrada pelo número dois. A própria Contracampo nesse ano está com uma enorme dificuldade em voltar ao regime mensal de edições, e de certa forma essa dupla de edições por vir, ao contrário da edição dupla, é uma forma de remediar os atrasos constantes e, ao mesmo tempo, um estímulo para que a redação volte a seu ritmo normal de produção. A todos aqueles que perguntaram sobre os atrasos e cobraram novas edições, deixamos aqui nosso muito obrigado e nossas promessas de ânimo revigorado. Entre outras coisas, é o que proporciona esse estado de plena imersão no mundo do cinema que temos a partir da terceira quinzena de setembro, para terminar só no começo de dezembro. Como sempre, convidamos o leitor para seguir junto conosco nessa viagem.

     
  Ruy Gardnier