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Dois artistas decisivos, duas mortes sentidas. Ao mesmo tempo,
setembro é o mês em que geralmente Contracampo
lança um número duplo, fazendo ao mesmo tempo
uma edição regular e as incansáveis coberturas
dos festivais de final de ano. Dessa vez, temos apenas o número
82 no logo aqui ao lado. Por um motivo simples: dessa vez,
para dar resposta a tudo que nos interessa no cinema neste
momento, fazemos um número agora, dedicado a Shohei
Imamura e Nam June Paik, e no intervalo dos festivais faremos
um outro, enfocando a bela retrospectiva que trouxe a obra
de Agnès Varda e o panorama do cinema americano recente,
que com duas obras decisivas, A Dama na Água
de M. Night Shyamalan e Miami Vice de Michael Mann,
mais uma vez consegue se renovar e trazer questões
que pedem maior dedicação e formas diferentes
de aproximação. Naturalmente, a cobertura dos
festivais acontecerá como sempre, com a costumeira
disposição e algumas novidades para não
cair no marasmo.
Shohei Imamura: morto em maio deste ano, é um dos principais
responsáveis pela renovação do cinema
japonês nos anos 60, e dono de uma das filmografias
mais impressionantes do mundo nos últimos 50 anos.
Sua morte chegou tímida, com alguns obituários
e poucas homenagens ao redor do mundo, numa repercussão
indigna da grandeza de uma obra de um rigor exemplar, dona
de uma visão de mundo que traz uma infinidade de questionamentos
a próposito dessa coisinha pequena que é a existência
humana. Nam June Paik: morto em janeiro, é um artista
multidisciplinar que começa na música, faz intervenções
como artista fluxus e encontra seu meio particular no trabalho
em cima da tecnologia ("I make technology ridiculous",
diria), e especialmente num constante questionamento desse
objeto que mudou a face da Terra a partir dos anos 50: a televisão.
Só que essas imagens, criadas principalmente para a
televisão, sabem à sua maneira indagar sobre
o cinema de formas muito particulares e estimulantes, não
só porque são áreas que se comunicam,
mas sobretudo porque elas dizem respeito ao estatuto da imagem,
sua transmissibilidade plena, e seu papel no mundo contemporâneo.
Dois artistas decisivos dos quais a posteridade, infelizmente,
herda apenas o clichê (nouvelle vague japonesa,
videoarte). Apostamos que eles são muito mais do que
isso.
Mas não é só esta edição
que está assombrada pelo número dois. A própria
Contracampo nesse ano está com uma enorme dificuldade
em voltar ao regime mensal de edições, e de
certa forma essa dupla de edições por vir, ao
contrário da edição dupla, é uma
forma de remediar os atrasos constantes e, ao mesmo tempo,
um estímulo para que a redação volte
a seu ritmo normal de produção. A todos aqueles
que perguntaram sobre os atrasos e cobraram novas edições,
deixamos aqui nosso muito obrigado e nossas promessas de ânimo
revigorado. Entre outras coisas, é o que proporciona
esse estado de plena imersão no mundo do cinema que
temos a partir da terceira quinzena de setembro, para terminar
só no começo de dezembro. Como sempre, convidamos
o leitor para seguir junto conosco nessa viagem.
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