PRINCESAS
Fernando León de Aranoa, Espanha, 2005

Após uma estréia com um filme que ambicionava uma veia satírica (Segredos de Família, de 1996), o cineasta Fernando Leon de Aranoa enveredou por um caminho de temas sociais, sempre centrando seu foco em grupos de personagens que sofrem alguma forma de opressão ou excluídos da aparente prosperidade que acompanharia a Espanha de economia globalizada. Assim foi com os adolescentes dos subúrbios de Madri (Barrio, 1998) ou os desempregados (Segunda-Feira ao Sol, 2002). Dessa forma, Aranoa parece vir aos poucos pretendendo se transformar numa espécie de Ken Loach espanhol.

Em Princesas Aranoa se volta para o mundo da prostituição, mostrado através dos olhos da espanhola Caye (Candela Pena) e de Zulema (Micaela Nevárez), que vai da Republica Dominicana fazer a “vida” na Europa. O filme se inicia com interessantes e irônicos comentários sobre a pressão que Caye e suas veteranas colegas do mercado do sexo sofrem com a afluência incessante de prostitutas, como Zulema, imigrantes do terceiro mundo, oferecendo seus serviços a preços menores, o que causaria um aumento na oferta e uma concorrência desleal. Mas, em pouco tempo, esse enfoque crítico vai sendo abandonado em favor da construção de um dramalhão rasgado, que beira o caricato.

Desse modo, Aranoa privilegia uma visão clichê das prostitutas como figuras eternamente infelizes, frustradas e oprimidas pela sociedade, reproduzindo um aspecto marcante – e sempre bastante questionável – do estilo de Ken Loach, que é construir uma dramaturgia em cima de uma incessante seqüência de situações humilhantes vivenciadas pelas personagens. Restaria a elas fugazes momentos de felicidade, advindos somente da amizade e solidariedade mútua, reflexos de uma simplória pieguice que se acentua ainda mais nos momentos em que Caye filosofa sobre a vida, suas penas e frustrações, recitando um texto digno da mais vagabunda literatura de auto-ajuda. Tudo narrado através de uma direção sem a mínima imaginação, que ainda utiliza de forma pouco eficiente na trilha musical um interessante grupo de canções de Manu Chao.

Na verdade toda essa pretensa abordagem paternalista, apresentando as prostitutas como umas coitadinhas, não esconde uma visão preconceituosa que mostra que tais profissionais estariam, numa conseqüência inerente às suas atividades, tragicamente fadadas à infelicidade e à irrealização, que só seriam superadas a partir do momento em que elas mudariam de vida e retornariam, de alguma forma, ao apego do núcleo familiar, como parece sugerir a conclusão de Princesas.


Gilberto Silva Jr.