Há,
em A Miss e o Dinossauro 2005, curta-metragem
de apenas 17 minutos dirigido por Helena Ignez (a partir
do lendário e invisível filme homônimo
composto de aproximadamente duas horas de rolinhos de
filme Super-8 feitos em 1970), muito mais do que um
mero registro de um dia na Belair somado a frases de
Rogério Sganzerla. Não interessa à
musa de toda essa geração cinematográfica
apenas documentar uma história mas retomar um
estilo, um modo de vida, um fazer cinema que, com a
ditadura militar e suas conseqüências, parece
ter sido esquecido. A Miss e o Dinossauro 2005 é
o making-of do último dia da Belair, antes
de seus protagonistas partirem para o exílio.
Helena Ignez os traz de volta, para os anos 2000.
Em toda a construção do filme, existe
a tentativa de criar uma ponte entre um momento importante
e em parte esquecido de nossa história cinematográfica
e os dias atuais, ainda que essa ponte não seja
feita de forma óbvia. As imagens dos filmes de
Sganzerla e Bressane colocadas na tela, o churrasco
filmado em uma super-8 desorientadora, as músicas
entrando e saindo da narrativa, as sentenças
de um Sganzerla jovem e extremamente lúcido que
acompanham a obra servem não apenas ao início
dos anos 70, mas principalmente ao início do
século 21, momento no qual o terceiro mundo parece
que nunca vai explodir e os sapatos continuam a sobrar.
A Miss e o Dinossauro 2005 serve, sobretudo,
a boa parte do cinema de nossa retomada, que, em busca
de uma perfeição, esqueceu-se de ser livre
ao mesmo tempo.
Se, mesmo em sua curta duração, o filme
de Helena Ignez é irregular, é porque
não se importa com isso. A diretora guardou,
em suas mãos, durante 35 anos, uma jóia,
e, depois de agüentar a ditadura militar e suas
seqüelas, resolveu abri-la para nós. O mundo
talvez não esteja preparado. Melhor assim. As
imagens de Sganzerla e Bressane (tratadas com tanto
amor por Ignez) dizem talvez mais a nós do que
quando feitas. A Miss e o Dinossauro 2005 não
é, dessa forma, saudosista nem nostálgico.
Os olhos da diretora estão voltados para frente,
para a vida que está por ser feita, para o cinema
que está por vir. O filme de Helena Ignez é
uma resposta profetizada em 1970, mas soterrada após
essa época. É a livre e louca resposta
de Rogério e sua trupe que Helena escavou para
nós.
Leonardo Levis
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