Vencedor
do último Festival de Sundance, Meus Quinze Anos,
embora trabalhe com subtexto da especulação imobiliária
e da tomada do bairro mexicano de Los Angeles (Echo
Park) pela classe média, naufraga pelo tratamento pueril
que dá tanto à gravidez na adolescência quanto ao homossexualismo.
Magdalena, prestes a completar 15 anos, engravida virgem
do namorado, enquanto Carlos mantém relações homossexuais
com os vizinhos ricos que acabaram de se mudar. Sutileza
não faz parte do dicionário da dupla Glatzer/Westmoreland,
que resolve unir de uma vez dois temas polêmicos, enfocados
de modo banal e simplista: se a adolescente simboliza
a fusão das Marias cristãs, a virgem e a prostituta,
o “garoto latino” é o objeto fetichizado de desejo que
anseia por uma vida melhor.
Os dois jovens são expulsos de casa pelos pais que,
conservadores e presos aos ditames sócio-culturais e
religiosos do ambiente, ou não compreendem a inexplicável
gravidez de Magdalena, ou não aceitam a opção sexual
de Carlos. Desterrados, solitários, ambos encontram
abrigo na casa de tio Tomás, que integra a primeira
leva de imigrantes que chegou a Echo Park. Juntos, eles
formam improvável família, visto que o octogenário senhor
– também só no mundo – não discrimina ou julga os sobrinhos,
recebendo-os de braços abertos. Meus Quinze Anos,
como C.R.A.Z.Y. – Loucos de Amor, de Jean-Marc
Vallée, lida com a idéia de que o diálogo, a diversidade
e a aceitação das diferenças se mostram fundamentais
para que se estabeleçam os circuitos afetivos dentro
da sociedade.
Contudo, o que há de mais interessante em Meus Quinze
Anos são os brevíssimos comentários acerca da ocupação
de Echo Park, reduto pobre de imigrantes mexicanos,
pela classe média. Ascensão social das minorias, transformações
urbanas, deslocamentos dos centros desenvolvidos para
as periferias em busca de menores preços – tudo jogado
fora pela incompetência de Glatzer e de Westmoreland,
incapazes de descrever aquele espaço (os hábitos, os
comportamentos, as linguagens, as festas, os objetos)
e de resolver as tensões sem apelar para a saída mais
cômoda: a morte de Tomás e o retorno das ovelhas negras,
dos filhos pródigos, ao seio de suas verdadeiras famílias.
Paulo Ricardo de Almeida
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