Longo é o caminho cheio de percalços
que percorre o Sr. Takata até os confins da China para
filmar Li Jiamin cantando a ópera popular "Um Longo
Caminho". Longos são também a distância que separa Takata
do filho e o percurso interno que ele fará para conquistar
o sentimento de paternidade. Pois no filme de Zhang
Yimou, todos os caminhos se encontram e todas as questões
em jogo se refletem umas nas outras. Trata-se de um
roteiro absolutamente coeso, em que tudo conspira para
um único e esclarecedor sentido e no qual o mundo resume-se
aos limites da história e da trama. Toda a jornada do
Sr. Takata não é apenas uma aventura pessoal, mas uma
espinha dorsal que organiza e centra a narrativa em
torno dos princípios morais que o filme se propõe a
"resgatar".
O trabalho "pedagógico" de Zhang Yimou, desenvolvido
nas mais diversas direções, está em Um Longo Caminho
voltado para a relação pai-e-filho e as reservas emocionais
que podem advir entre eles. Radicado em algum ponto
entre o humanismo e o melodrama, o diretor toma sempre
o partido do sentimentalismo, de forma que a moralidade
nas relações sociais que ele encena está menos ligada
a regras, interditos e tradições, do que a uma ampla
"capacidade de amar" que definiria o humano e salvaria
o mundo de eventuais vilanias e mesquinharias. Assim
sendo, toda a jornada de Takata justifica-se pelo "aprendizado"
do amor paterno e da importância da expressão deste
amor. A morte do seu filho, elemento trágico, é então
sublimada por esta lógica e não se faz sentir dramaticamente:
mais importante do que a relação efetivada (a presentificação
da superação final das desavenças), é a solução moral
do conflito e a celebração dos sentimentos (a grande
aprendizagem em jogo no filme). Os dados do mundo saem
do âmbito da experiência para erigir lições que promovem
a educação dos personagens (e dos espectadores).
É neste sentido que Takata pode encontrar o amor pelo
filho de forma atravessada, no afeto do menino gerado
por Li Jiamin e criado por toda a sua aldeia, garantindo
não apenas a sua redenção como pai frustrado, como a
do cantor. Se onde a distância era factualmente a maior
possível, a afetividade pôde irromper e unir um homem
e uma criança, no campo de uma relação familiar dada,
não há o que justifique a não-expressão de um sentimento.
Esta é a lição que Takata ao mesmo tempo encarna e promove
através de sua campanha, que constitui em si mesma uma
prova de amor, dispensando o contato real entre ele
e seu filho. A simbologia ganha largamente sobre a concretude
dos fatos em toda a extensão do roteiro que sustenta
o filme. O próprio registro da performance de Li Jiamin,
propulsor primeiro da narrativa, revela-se desnecessário
e é levado a cabo apenas pelas significações que passa
a adquirir. Vencer todas as provas que se interpõem
no seu caminho em direção a esta "conquista", para Takata,
é a superação de uma relação fria e complicada e a abertura
para um amor sem contenções.
Esta "descoberta" e este amor estão também transfigurados,
ao longo do caminho percorrido pelo personagem, na relação
estabelecida entre ele e a cultura chinesa com a qual
ele trava contato. Se para seu filho, o refúgio nos
confins deste imenso país correspondia a um reflexo
de sua solidão (e da falta subentendida que para ele
fazia o carinho do pai) – "ele ficava por muito tempo
olhando as montanhas", diz a tradutora –, para Takata,
pisar este mesmo caminho é encontrar seu filho e descobrir
um pouco sobre ele, ao desbravar um mundo desconhecido
que lhe revela um sentido de interação humana e de afetividade
que ele ignorava. Dos tons monocromáticos e frios do
Japão para o colorido das manifestações culturais chinesas.
Da frieza de uma relação distante para o calor de uma
ampla receptividade e uma terna sensibilidade para com
a sua causa.
Este contraste direto e banal explorado por Zhang Yimou,
assim como toda a estrutura óbvia do seu roteiro, anula
qualquer possível força do filme e faz recair sobre
os acontecimentos, pura e simplesmente, toda a emotividade
pressuposta pela narrativa. Um Longo Caminho
sobrevém, pois, como um roteiro estruturado, em que
os acontecimentos são "plantados" para fazer andar a
narrativa e destilar significados, e não como um filme
que se desenvolve. Takata é uma espécie de herói do
afeto, de baluarte do amor paterno entravado pelas complicações
da vida, um estrangeiro em missão nobre, para o qual
todos abrem caminho e cuja "tarefa" é saudada e endossada
sem restrições, além de alguns empecilhos legais rapidamente
superados. Trata-se de um filme-redoma, protegido do
mundo, dos perigos, das dores, dos traumas. As lágrimas
vertidas pelos personagens são doces e estéreis, porque
carregam consigo a certeza de uma conciliação final.
Li Jiamin pode não ter conseguido ver seu menino, mas
assim que cumprir sua pena, irá certamente encontrá-lo
e ele o acolherá, da mesma forma que Takata não foi
capaz de falar uma última vez com seu filho doente,
mas obteve à distância o reconhecimento do seu afeto.
Diante de uma tal disposição narrativa, pergunta-se:
de que vale viver uma vida (ou um filme) da qual já
se sabe o final e da qual já se carrega uma conclusão?
Tatiana Monassa
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