UM LONGO CAMINHO
Zhang Yimou, Qian li zou dan qi, Hong Kong/China/Japão, 2005

Longo é o caminho cheio de percalços que percorre o Sr. Takata até os confins da China para filmar Li Jiamin cantando a ópera popular "Um Longo Caminho". Longos são também a distância que separa Takata do filho e o percurso interno que ele fará para conquistar o sentimento de paternidade. Pois no filme de Zhang Yimou, todos os caminhos se encontram e todas as questões em jogo se refletem umas nas outras. Trata-se de um roteiro absolutamente coeso, em que tudo conspira para um único e esclarecedor sentido e no qual o mundo resume-se aos limites da história e da trama. Toda a jornada do Sr. Takata não é apenas uma aventura pessoal, mas uma espinha dorsal que organiza e centra a narrativa em torno dos princípios morais que o filme se propõe a "resgatar".

O trabalho "pedagógico" de Zhang Yimou, desenvolvido nas mais diversas direções, está em Um Longo Caminho voltado para a relação pai-e-filho e as reservas emocionais que podem advir entre eles. Radicado em algum ponto entre o humanismo e o melodrama, o diretor toma sempre o partido do sentimentalismo, de forma que a moralidade nas relações sociais que ele encena está menos ligada a regras, interditos e tradições, do que a uma ampla "capacidade de amar" que definiria o humano e salvaria o mundo de eventuais vilanias e mesquinharias. Assim sendo, toda a jornada de Takata justifica-se pelo "aprendizado" do amor paterno e da importância da expressão deste amor. A morte do seu filho, elemento trágico, é então sublimada por esta lógica e não se faz sentir dramaticamente: mais importante do que a relação efetivada (a presentificação da superação final das desavenças), é a solução moral do conflito e a celebração dos sentimentos (a grande aprendizagem em jogo no filme). Os dados do mundo saem do âmbito da experiência para erigir lições que promovem a educação dos personagens (e dos espectadores).

É neste sentido que Takata pode encontrar o amor pelo filho de forma atravessada, no afeto do menino gerado por Li Jiamin e criado por toda a sua aldeia, garantindo não apenas a sua redenção como pai frustrado, como a do cantor. Se onde a distância era factualmente a maior possível, a afetividade pôde irromper e unir um homem e uma criança, no campo de uma relação familiar dada, não há o que justifique a não-expressão de um sentimento. Esta é a lição que Takata ao mesmo tempo encarna e promove através de sua campanha, que constitui em si mesma uma prova de amor, dispensando o contato real entre ele e seu filho. A simbologia ganha largamente sobre a concretude dos fatos em toda a extensão do roteiro que sustenta o filme. O próprio registro da performance de Li Jiamin, propulsor primeiro da narrativa, revela-se desnecessário e é levado a cabo apenas pelas significações que passa a adquirir. Vencer todas as provas que se interpõem no seu caminho em direção a esta "conquista", para Takata, é a superação de uma relação fria e complicada e a abertura para um amor sem contenções.

Esta "descoberta" e este amor estão também transfigurados, ao longo do caminho percorrido pelo personagem, na relação estabelecida entre ele e a cultura chinesa com a qual ele trava contato. Se para seu filho, o refúgio nos confins deste imenso país correspondia a um reflexo de sua solidão (e da falta subentendida que para ele fazia o carinho do pai) – "ele ficava por muito tempo olhando as montanhas", diz a tradutora –, para Takata, pisar este mesmo caminho é encontrar seu filho e descobrir um pouco sobre ele, ao desbravar um mundo desconhecido que lhe revela um sentido de interação humana e de afetividade que ele ignorava. Dos tons monocromáticos e frios do Japão para o colorido das manifestações culturais chinesas. Da frieza de uma relação distante para o calor de uma ampla receptividade e uma terna sensibilidade para com a sua causa.

Este contraste direto e banal explorado por Zhang Yimou, assim como toda a estrutura óbvia do seu roteiro, anula qualquer possível força do filme e faz recair sobre os acontecimentos, pura e simplesmente, toda a emotividade pressuposta pela narrativa. Um Longo Caminho sobrevém, pois, como um roteiro estruturado, em que os acontecimentos são "plantados" para fazer andar a narrativa e destilar significados, e não como um filme que se desenvolve. Takata é uma espécie de herói do afeto, de baluarte do amor paterno entravado pelas complicações da vida, um estrangeiro em missão nobre, para o qual todos abrem caminho e cuja "tarefa" é saudada e endossada sem restrições, além de alguns empecilhos legais rapidamente superados. Trata-se de um filme-redoma, protegido do mundo, dos perigos, das dores, dos traumas. As lágrimas vertidas pelos personagens são doces e estéreis, porque carregam consigo a certeza de uma conciliação final. Li Jiamin pode não ter conseguido ver seu menino, mas assim que cumprir sua pena, irá certamente encontrá-lo e ele o acolherá, da mesma forma que Takata não foi capaz de falar uma última vez com seu filho doente, mas obteve à distância o reconhecimento do seu afeto. Diante de uma tal disposição narrativa, pergunta-se: de que vale viver uma vida (ou um filme) da qual já se sabe o final e da qual já se carrega uma conclusão?

Tatiana Monassa