Desde
Sex and Philosophy, seu penúltimo filme, Mohsen
Makhmalbaf utiliza seu cinema para discursar sobre variados
assuntos: no caso de Sex and Philosophy, a relação
entre amor, o sexo e o tempo; no caso de O Grito
das Formigas, a relação entre os homens e a fé (ou,
em outras palavras, entre os homens e Deus). Este ponto-de-partida,
contudo, não é necessariamente negativo. Jean-Luc Godard
e Manoel de Oliveira estão por aí, fazendo belos filmes,
com o intuito de demolir certezas estabelecidas e instaurar
novas dúvidas. Mas, fora o fato de Makhmalbaf ser um
cineasta muito inferior aos dois citados acima (quase
todos os outros também são, na verdade), não é isso
que faz de O Grito das Formigas um filme muito
fraco. Ao se criar um filme-discurso, infelizmente,
é necessário que se tenha algo a dizer. Makhmalbaf,
apesar da verborragia repetitiva, constante e entediante
ao longo de seus 85 minutos de projeção, parece não
saber dessa regra. O Grito das Formigas (igualmente
a Sex and Philosophy) discorre sobre a fé como
um garoto de 12 anos questionando a injustiça de Deus.
Suas imagens “poéticas”, que buscam espaço por entre
as discussões incessantes, nada dizem (e nada, neste
caso, é quase um elogio). Seus personagens são meros
receptáculos para as idéias geniais do diretor (como,
por exemplo, perceber que a inexistência de Deus pode
ser comprovada pela dor das formigas ao serem mortas
por nós a cada pisada no chão). As situações que cria
(pois um filme-discurso precisa existir a partir de
situações) nunca chegam a ter grau algum de profundidade,
pois o pensamento por trás delas é totalmente ralo.
As metáforas presentes durante todo o filme não alcançam
vôos maiores, pois simplesmente não têm substância para
existir.
Makhmalbaf mudou de país para fazer O Grito das Formigas,
mas seu cinema está estacionado. O diretor repete exatamente
os mesmos problemas de seu filme anterior, e isto não
pode ser boa notícia, considerando que seu filme anterior
tinha muitos deles. Em Sex and Philosophy, podíamos
pelo menos dar risadas involuntárias e esperar que o
cineasta corrigisse seu rumo. Quando ele o reafirma,
porém, é caso de se preocupar. O diretor iraniano parece
acreditar que, com suas indagações infantis, conseguirá
mudar as crenças do mundo, e a volta para a Índia (país
profundamente religioso) pertence a essa esperança.
Talvez seja o caso de sugerir a ele que, antes de tornar-se
um novo Manoel de Oliveira, voltasse a ser o velho Mohsen
Makhmalbaf. Ou que, infelizmente, silenciasse seu cinema,
que a cada filme extremamente discursivo e pretensamente
profundo vem se tornando mais e mais irrelevante.
Leonardo Levis
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