NA CAMA
MatÍas Bize, En la Cama, Chile, 2005

Um casal, um quarto de motel. Partindo dessa simplória premissa, o chileno Bize constrói um curioso exercício de cinema. Tudo começa ao final de uma relação sexual. O diretor e seu roteirista Julio Rojas vão se inserindo gradativamente no universo do casal, criando uma forte cumplicidade com a platéia, pois vamos conhecendo um pouco dos personagens à medida que eles também vão conhecendo um ao outro, quando se revela que Daniela e Bruno trocaram apenas poucas palavras em uma festa antes de partir para as vias de fato.

Se fica ainda a muitos passos de realizar um filme brilhante, Bize consegue explorar com marcante eficácia um argumento carregado de aparentes limitações. Sua câmera transita inquieta pelos exíguos espaços do quarto, percorrendo ambientes e retratando corpos. O filme foge às tentações de incorrer numa mera ilustração de diálogos inseridos num roteiro que não deixa de carregar um quê de teatral. Ao imprimir a maior parte do tempo uma leveza a suas imagens, leveza essa coerente com tema e ambiente tratados, surge em Na Cama uma feliz reprodução das sensações – paradoxais e ao mesmo tempo complementares – de intimidade e afastamento, vivenciadas por um homem e uma mulher beirando os trinta anos cujas vidas, encerrado o tempo narrativo, muito provavelmente jamais voltarão a se cruzar.

Mesmo que por vezes escorregue numa estrutura um tanto presa à dramaturgia, já que dos diálogos entre o casal vão surgindo periodicamente várias novas revelações num curto espaço de tempo, vemos em Matias Bize e seu Na Cama um profundo desejo de inquietação, de descoberta de algo novo, como a atração que leva Bruno e Daniela ao quarto de motel. Como o casal que tenta, ao menos por um breve tempo, fugir das limitações de sua vida cotidiana e seu futuro de felicidade incerta, Bize vai aqui mergulhando em motivações individuais, busca seguir um rumo diverso dos preceitos de “conteúdo social”, os quais, se obviamente não estão inseridos na totalidade do universo do cinema latino-americano, certamente povoam sobremaneira a sua vertente com a qual temos um maior contato.


Gilberto Silva Jr.