Em
A Educação das Fadas, não é difícil reconhecer
as boas intenções do diretor José Luis Cuerda ao contar
a história de um homem que se relaciona com o filho
de sua nova esposa através do compartilhamento de um
mundo imaginário infantil. Entre essas boas intenções,
ressalta-se a de fazer um filme doce e sereno. Mas todas
as decisões tomadas pelo diretor ao moldar o formato
do filme parecem ter sido equivocadas, principalmente
no que se trata das tentativas de criar emoções em determinadas
cenas que a emoção simplesmente não habita. Desde o
primeiro momento, a trilha sonora funciona como uma
vilã para o filme, pois, ao insistir na tentativa de
sublinhar os momentos com algum peso emocional, se torna
deslocada e sem propósito devido à inexistência desses
momentos. Esse tipo de recurso, ávido por nos forçar
alguma migalha de identificação com aquela história,
não se repete apenas na trilha sonora, mas em todos
os aspectos do filme – nas viradas melodramáticas exageradas
do roteiro, na composição do personagem menino-adulto
bondoso e inocente ao extremo e na enorme quantidade
de close-ups de pessoas chorando –, o que corta pela
raiz uma característica essencial para que as possíveis
intenções citadas acima se tornem qualidades palpáveis
dentro do filme (e essa é a simplicidade).
O problema é que nada é simples em A Educação das
Fadas. A trama se complica desnecessariamente através
de flashbacks mal encaixados e atuações forçadas
e ambíguas, trazendo um clima de suspense tão dissonante
com o resto do filme que funciona como uma aberração.
À medida que o filme se desenvolve, percebem-se os ingredientes
que vão sendo somados com o propósito de engrandecer
aquela obra, a exemplo da introdução de questões como
diferenças entre culturas e entre os sexos, com a chegada
da mulher argelina na trama, e a tentativa de se entender
e de dar importância ao universo da imaginação nos dias
de hoje (algo que A Dama na Água realiza com
um sucesso incomparável). O movimento que se torna constante
dentro do filme é o de somar onde já se está cheio,
fazer transbordar um recipiente que precisaria ser leve
para ser bem recebido. É uma pena que de bom só existam
as intenções.
Bernardo Barcellos
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