A EDUCAÇÃO DAS FADAS
José Luis Cuerda, La educación de las hadas, Espanha, 2006

Em A Educação das Fadas, não é difícil reconhecer as boas intenções do diretor José Luis Cuerda ao contar a história de um homem que se relaciona com o filho de sua nova esposa através do compartilhamento de um mundo imaginário infantil. Entre essas boas intenções, ressalta-se a de fazer um filme doce e sereno. Mas todas as decisões tomadas pelo diretor ao moldar o formato do filme parecem ter sido equivocadas, principalmente no que se trata das tentativas de criar emoções em determinadas cenas que a emoção simplesmente não habita. Desde o primeiro momento, a trilha sonora funciona como uma vilã para o filme, pois, ao insistir na tentativa de sublinhar os momentos com algum peso emocional, se torna deslocada e sem propósito devido à inexistência desses momentos. Esse tipo de recurso, ávido por nos forçar alguma migalha de identificação com aquela história, não se repete apenas na trilha sonora, mas em todos os aspectos do filme – nas viradas melodramáticas exageradas do roteiro, na composição do personagem menino-adulto bondoso e inocente ao extremo e na enorme quantidade de close-ups de pessoas chorando –, o que corta pela raiz uma característica essencial para que as possíveis intenções citadas acima se tornem qualidades palpáveis dentro do filme (e essa é a simplicidade).

O problema é que nada é simples em A Educação das Fadas. A trama se complica desnecessariamente através de flashbacks mal encaixados e atuações forçadas e ambíguas, trazendo um clima de suspense tão dissonante com o resto do filme que funciona como uma aberração. À medida que o filme se desenvolve, percebem-se os ingredientes que vão sendo somados com o propósito de engrandecer aquela obra, a exemplo da introdução de questões como diferenças entre culturas e entre os sexos, com a chegada da mulher argelina na trama, e a tentativa de se entender e de dar importância ao universo da imaginação nos dias de hoje (algo que A Dama na Água realiza com um sucesso incomparável). O movimento que se torna constante dentro do filme é o de somar onde já se está cheio, fazer transbordar um recipiente que precisaria ser leve para ser bem recebido. É uma pena que de bom só existam as intenções.


Bernardo Barcellos