XEQUE-MATE
Paul McGuigan, Lucky Number Slevin, EUA, 2006

A seqüência-resumo que abre o filme é confusa e ultra-estilizada: planos rápidos e que mostram as coisas apenas pela metade, mudanças bruscas de cor na passagem entre as imagens, informações jogadas de modo que propositalmente não se completam, edição de som acavalada. Depois, em ritmo mais leve, os personagens vão sendo apresentados e começam a preencher uma historinha que já conhecemos, daquelas com gangsteres que parecem figuras de HQ e diálogos que oscilam entre os pontos centrais da trama e as divagações sobre cultura pop ou sobre coisa nenhuma que há dez anos tinham lá seu charme pós-Pulp Fiction. Em seu dia de azar, Slevin (Josh Hartnett) entra de gaiato numa confusão que envolve a antiga rivalidade entre dois mafiosos. Muito cedo percebemos que ele é o menino da história contada no início por Goodkat (Bruce Willis pouco exigido e, por conseguinte, funcionando no piloto automático), matador profissional frio e infalível. Sua participação nessa confusão, portanto, não é tão por acaso quanto parece, como se revelará gradativamente após o grande ponto de virada do filme.

À exceção das cenas de Slevin com sua extrovertida vizinha Lindsey (Lucy Liu), feitas num tom de comédia romântica que faz o filme respirar minimamente, no restante há uma mão pesada tanto na direção quanto na montagem. É raro ver um plano de Xeque-mate que realmente queira mostrar alguma coisa, ou extrair algo dos atores, ou construir uma relação verdadeira entre eles. Tudo se resume a um jogo com as imagens e com as informações parciais da narrativa. Quando a trama se deflagra um plano de vingança detalhadamente arquitetado por Slevin e Goodkat, a principal influência de McGuigan para realizar este filme vem à tona. O enredo de vingança de Xeque-mate é claramente derivado de filmes como Old Boy e Lady Vingança, do coreano Park Chan-wook. Até os flash-backs cheios de maneirismos fotográficos e os cenários que confundem as dimensões do espaço lá estão, alguns desses cenários sendo quase plágios das locações das cenas clímax de Old Boy. Por mais que os truques do cinema de Park sejam cansativos e se auto-esgotem, ele possui um talento evidente para compor imagens marcantes pelo grafismo e pela iconicidade, e também para algumas gags de humor negro. McGuigan, contudo, não possui nenhum atrativo de estilo para empacotar a trama enfadonha. O tema da filiação, pois tudo passa por uma relação entre pai e filho (biológico ou adotivo), também flutua como algo mais que o filme incorpora a seu tabuleiro de xadrez, mas sem muita convicção, sem achar uma forma, de fato (o que vemos são remendos de plágios e estilizações claudicantes). Bobeira por bobeira, é melhor deixar que esse tipo de filme continue sendo feito por Park Chan-wook mesmo.


Luiz Carlos Oliveira Jr.