ARTIGOS
Jose
+ 10 = 0
(sobre um comercial da Adidas)
por Luiz Carlos Oliveira
Jr. (12/06/2006)
Ser ou não ser
(sobre o reality show Made)
por Luiz Carlos Oliveira
Jr. (02/05/2006)
FILMES DA SEMANA
(29 DE MAIO A 16 DE JULHO DE 2006)
Dia 29/5
Monte Hellman está em todos os lugares. Esteve
nesta última edição do Festival
de Cannes, como presidente do júri da mostra
un Certain Regard, e também apresentando seu
mais recente filme, o média-metragem Stanley's
Girlfriend. Ele também está nas promoções
de DVDs de um hipermercado carioac com seu Cavalgada
no Vento (Ride in the Whirlwind, 1965). E,
por fim, também está na programação
de televisão a cabo nesta semana, com O Tiro
Certo (The Shooting, 1967), possivelmente
o western mais abstrato de todos os tempos
inclusive em seu título , com Jack Nicholson,
Warren Oates e Millie Perkins no elenco e uma apropriação
do ritmo e dos temas do faroeste que estão entre
as coisas mais aventurosas já feitas no gênero.
O filme passa às 22:00 no Telecine Cult. À
meia-noite, no Eurochannel, mais Cannes: a atriz Maria
de Medeiros aproveitou sua presença em Cannes
para entrevistar uma série de críticos
e diretores de cinema e fazer Bem me Quer, Mal me
Quer (Je t'aime moi non plus, 2004), sobre
a eterna querela da crítica. Apesar de não
chegar exatamente a lugar nenhum, o filme é bem
interessante de se ver, nem que seja para travar contato
com a opinião dos diretores e com o rosto dessas
figuras sem rosto que são geralmente os críticos
de cinema. Mas essas não são as duas únicas
atrações do dia: às 19:30, no Canal
Brasil, passam dois filmes raros de Ivan Cardoso, Ruínas
de Murutucu (1976) e Sexo, Drogas e Rocn'n'roll
(1999).
Dia 30
Confidências à Meia-Noite (Pillow
Talk, 1959) é possivelmente a comédia
romântica mais completa de Doris Day e Rock Hudson,
conforme um artigo
recente daqui da revista tentou mostrar. O filme,
dirigido por Michaal Gordon, passa no Film & Arts
às 20:00. Mas a atração mais curiosa
da noite é sem dúvida Memória
e História em Utopia e Barbárie (2005),
filme de Sílvio Tendler que é uma espécie
de Chatô do documentário brasileiro
no quesito "produção que só
o diretor parece entender"e no sentido "quantas
regalias, hein". Curiosamente, o filme não
estréia grande num desses festivais da vida,
mas na televisão. Ou então é possível
que essa exibição seja apenas a versão
beta de alguma coisa maior, só para dar satisfação
ou calar algumas vozes que tentam entender por que o
cineasta de Glauber o Filme e Castro Alves
não completa seu filme e precisa ainda viajar
para uns 30 países e mais 5 planetas. Seja o
trabalho completo, seja uma parte do percurso, o filme
será exibido no Canal Brasil, na sessão
É Tudo Verdade, às 22:40. Mas talvez seja
de fato mais proveitoso assistir a outro filme dirigido
por verdadeiros highlights do cinema brasileiro,
Sertão de Acrílico Azul Piscina (2004),
de Karim Aïnouz e Marcelo Gomes, que o mesmo canal
exibe às 19:30.
Dia 31
Numa quarta-feira
sem muito brilho ou destaques, o Eurochannel exibe um
dos primeiros filmes de Pier Paolo Pasolini, Mamma
Roma (1962). O filme é muito famoso pela
estrondosa atuação de Anna Magnani, mas
esse segundo filme de Pasolini é ainda uma etapa
para um estilo que chegará em toda sua força
apenas no longa-metragem seguinte, O Evangelho Segundo
São Mateus (1964). Em todo caso, ainda em
seus primeiros filmes mais próximos à
herança do neo-realismo há talento e lirismo
demais para considerarmos os filmes pré-64 como
um período de aprendizagem. E isso tanto Accatone
Desajuste Social quanto Mamma Roma,
e principalmente o genial curta A Ricota (do
filme RoGoPaG) testemunham muito bem. O Eurochannel
exibe o filme às 23:30.
Dia 01/6
O site do Canal Brasil foi reformulado, ficou mais bonito
e mais prático, mas voltou a repetir uma falha
que não acontecia há tempos: esquecer
de colocar a programação do mês
seguinte no ar. Assim, não temos acesso ao que
o canal exibirá até domingo, e o mesmo
aconteceria com o Film & Arts, que também
não permite ver a programação do
mês seguinte,se não fosse o completíssimo
site "Tudo no ar" da Uol. Nessa quinta-feira
não teremos clássicos estreando na programação
do Telecine Cult, como de praxe, mas alguns filmes recentes
pelos quais não nutrimos uma paixão maior:
primeiro trata-se de Voando Alto (View from
the Top, 2003), dirigido por Bruno Barreto e estrelado
por Gwyneth Paltrow, que passa no Cinemax às
22:00. Naturalmente, o único interesse é
o fato de ser o filme de um brasileiro em Hollywood
e nada mais. No mesmo horário, só que
no Telecine Cult, estréia Oldboy (idem,
2003), filme do diretor coreano Park Chan-wook. Park
na Coréia, como em Hong Kong, em Taiwan
e na China, os nomes dos diretores é o primeiro,
a não ser quando eles ocidentalizam, como no
caso de Edward Yang é um diretor celebrado
por muitos, e tem um inegável talento visual
(como comprova a melhor cena de Oldboy, a pancadaria
num corredor exíguo), mas ao mesmo tempo um senso
de provocação bastante estéril
e malandragens de roteiro que de fato deveriam ter permanecido
escondidas na cartola do mágico. Lady Vingança,
seu mais recente filme, é bem mais atrativo visualmente
estonteante, por momentos , mas é
também mais pueril e vagabundo.
Dia 02
Steve McQueen e James Coburn estão em O Inferno
É para os Heróis (Hell Is for Heroes,
1962), filme de guerra de Don Siegel que recebe algumas
páginas no famoso livro de entrevistas que Peter
Bogdanovich fez com vários diretores americanos,
Afinal, quem faz os filmes?. Produção
conturbada, sobretudo por brigas entre o roteirista
original e o protagonista Steve McQueen, o filme no
entanto apresenta várias soluções
interessantes,tanto visual quanto narrativamente. Curiosamente,
a década de 60 é tanto o período
em que Siegel conseguiu alguns de seus melhores filmes,
como Os Assassinos (1964) e Meu Nome É
Coogan (1968), mas ao mesmo tempo trabalho como
diretor para a televisão, algo bem menos prestigioso
naquele período, fazendo episódios das
séries Além da Imaginação,
Breaking Point e Bus Stop. Don Siegel,
como André de Toth, é puro cinema físico.
O filme passa no Telecine Cult às 22:00. Mais
cedo, às 18:45, o Cinemax exibe Como Nasce
um Bravo (Cowboy, 1958), de Delmer Daves.
Diretor de gênero, famoso por seus faroestes (3:10
to Yuma, The Last Wagon) ou o noir Bogart-Baccal
(Prisioneiro do Passado), Daves tem uma marca
distintiva, mas sua preocupação visual
caminha sempre no sentido de um certo exibicionismo
de movimentos câmera que, se na época era
incomum, hoje tornou-se um vício bastante partilhado
por Hollywood e pelos cinemas mais independentes (Iñarritu,
PT Anderson, entre outros). Mas como é incomum
encontrarmos estréias de filmes antigos de alguma
relevância depois que o TCClassic virou TCCult
e a DirecTV criminosamente desligou seu RetrôTV,
vale mais é assistir mesmo.
Dia 03
Cruzada no Telecine Premium ou Dança
Comigo na HBO? Com uma escolha dessas, Sofia mandava
tranqüilamente as duas para o forno e ia ver Amor
à Flor da Pele (Fa yeung nin wa, 2000),
filme que tirou Wong Kar-wai de um circuito mais alternativo
e levou-o direto ao superestrelato do circuitinho autoral,
como uma espécie de novo Fellini numa estética
plenamente discernível, cheia de uma visualidade
perceptível utilizando um tipo particular de
excessos no artificialismo para construir um universo.
Mergulho na estabilidade e no conforto de autor,
com tudo que a expressão faz meter medo? Não
exatamente. Se Amor à Flor da Pele mostra
uma sedimentação em relação
a uma obra que era inteiramente construída em
torno da instabilidade e do descentramento, é
acima de tudo porque Wong aqui decide trabalhar com
outro tipo de época e, sobretudo, um outro registro
de personagens, no caso mais velhos do que aqueles que
costumeiramente eram seus heróis. 2046 retoma
muito do clima de
desesperança e do caráter heraclitiano
presente nos filmes antigos. Amor à Flor da Pele,
ainda que seja o mais próximo que Wong chegou
do academicismo e de uma aceitação até
de setores mais conservadores, é ainda um puro
deleite. Entra na programação do Telecine
Classic às 22:00. E, só para lembrar,
temos aqui mais Cannes, já que Wong Kar-wai foi
o presidente do júri da competição
oficial esse ano.
Dia 04
Mais um filme de Blake Edwards reestreando nos canais
da Globosat. Dessa vez, é Anáguas a
Bordo (Operation Petticoat, 1959), estrelado
por Cary Grant e Tony Curtis. É um dos primeiros
filmes de Edwards, numa época em que ele ainda
vivia entre a televisão e o cinema, sem um sucesso
que o catapultasse ao "time A" de diretores
de Hollywood, coisa que aconteceria com Bonequinha
de Luxo dois anos depois. Sessão matinée
de domingo no Telecine Cult, às 14:05. Boa maneira
de se passar o último dia do fim-de-semana.
Dia 05
Força Diabólica (The Tingler,
1959) é um dos mais famosos filmes de William
Castle, diretor de westerns que no final da década
de 50 entrou no filão dos filmes de terror, criando
estratégias de divulgação bastante
incomuns, como colocar poltronas que tremiam nos momentos
de terror (neste filme) ou garantir um seguro de vida
para aqueles que fossem acometidos pela morte de tã
assustados pelo filme (com Macabro, 1957). Embora
não tenha entrado para o panteão de grandes
diretores de cinema fantástico (lugar que pertence
a Tourneur, Bava, Carpenter entre outros), Castle merece
mais atenção do que lhe é dada
hoje. E ainda temos a chance de ver Vincent Price e,
segundo dizem, a primeira viagem de LSD encenada no
cinema. Tudo isso no Cinemax às 17:00. Mais à
noite, o Telecine Emotion estréia em sua programação
o filme Marie-Jo e Seus Dois Amores (Marie-Jo
et seus deux amours, 2002), de Robert Guédiguian.
O ponto alto do filme é que não se trata
simplesmente de uma intriga de troca de casais, mas
de uma mulher que, mesmo amando seu marido, se apaixona
também por outro homem. Guédiguian sustenta
com muito talento a densidade psicológica necessária
a esse tipo de situação limite, e Ariane
Ascaride dá seu costumeiro show de interpretação.
Pode-se preferir outros trabalhos do diretor a este
sobretudo Marius e Jeanette, À
Vida, À Morte e A Cidade Está Tranqüila
, mas ainda assim a saga de Marie-Jo tem sua força.
Passa às 22:00.
Dia 06
Aproveitando que nessa semana só se fala em Copa
do Mundo, a sessão É Tudo Verdade do Canal
Brasil decide exibir Garrincha, Alegria do Povo
(1963), de Joaquim Pedro de Andrade. O filme é
mais do que um simples documentário na história
do cinema brasileiro, pois nele tenta-se dar conta de
uma série de influências que começavam
a pulular ao redor do mundo, sobretudo na França
e nos Estados Unidos. Foi o primeiro filme brasileiro
a deflagrar questionamentos e polêmicas sobre
o "cinema-verdade" (que naquele momento servia
para denominar não só os filmes de Jean
Rouch mas também o do cinema direto americano
de Penebaker, Drew e Leacock) e sobre uma apreensão
mais direta da realidade, fugindo do discurso documental
nacional de então, que, calcado no documentário
clássico, utilizava a figura do narrador onisciente
como elemento organizador da totalidade do discurso.
Problemáticas teóricas à parte
e convenhamos que as polêmicas em torno
da "tomada do real" no documentário
sempre foram um tanto quanto enfadonhas , o filme
é de uma vitalidade impressionante, e interessa
ainda hoje não só a admiradores de futebol
e/ou de documentário, mas qualquer um que gosta
de ver um bom filme. Passa às 22:35.
Dia 07
Num dia sem grandes
estréias e destaques raros ainda não-mencionados
nesta tribuna, temos a chance de voltar sobre alguns
diretores que, apesar de terem trajetórias e
reconhecimento inteiramente diferentes, caíram
hoje num quase esquecimento. Primeiro temos George Stevens,
diretor de filmes pra lá de famosos como Um
Lugar ao Sol, Os Brutos Também Amam
e Assim Caminha a Humanidade. Não são
filmes costumeiramente admirados pelos maiores defensores
do cinema de autor, e isso de certa forma explica por
que fala-se muito desses três filmes (e de alguns
poucos a mais, na verdade), mas quase nada da carreira
dele e dos filmes feitos dos anos 40 para trás.
Filmes que, curiosamente, são considerados mais
contidos e organizados segundo uma lógica bem
melhor construída e matizada. Um desses filmes
é Original Pecado (The More the Merrier,
1943), comédia romântica com Jean Arthur
e Joel McCrea que o Cinemax exibe cedinho, às
09:30. À tarde, às 15:00, temos O Pistoleiro
(The Stranger Wore a Gun, 1953), de André
de Toth, um diretor que nunca dirigiu um grande blockbuster
e que teve uma admiração restrita aos
cinéfilos americanos (nem na França existe
algo mais sólido sobre sua carreira), como gênio
do cinema físico, entre Fuller e Siegel. Já
na madrugada de quarta para quinta-feira, às
04:30, o Cinemax Prime exibe Ratos Humanos (Tight
Spot, 1955), de Phil Karlson, outro diretor americano
que goza de uma fama talvez ainda menor do que a de
de Toth, em grande parte também por ter trabalhado
em produções B de filmes de gênero.
Se os diretores caíram no esquecimento, seus
atores não: Randolph Scott para O Pistoleiro,
Ginger Rogers e Edward G. Robinson para Ratos
Humanos.
Dia 08
Falando em atores, nesta quinta-feira o Telecine Cult
inicia as comemorações dos 80 anos de
nascimento de Marilyn Monroe com duas comédias
de 1953, Os Homens Preferem as Loiras (Gentlemen
Prefer Blondes), às 20:00, e Como Agarrar
um Milionário (How to Marry a Millionaire),
às 22:00. O primeiro não é exatamente
a melhor maneira de começar a ver as comédias
de Howard Hawks, já que o diretor nunca teve
muito boas palavras para falar do filme, que considerava
cafona ("phony") e nem chegou a dirigir inteiro,
deixando a cargo da equipe técnica as filmagens
de alguns dos números musicais, entre os quais
o famoso "Diamonds Are a Girl's Best Friends".
Ainda assim, o filme alcança momentos de graça
possivelmente maiores do que no filme de Jean Negulesco,
certamente mais profissional e focado,mas sem os toques
que tornam as comédias de Hawks tão deliciosas
de assistir. Além desses dois filmes, o Telecine
Cult ainda exibirá mais oito títulos com
MM até o final de julho.
Dia 09
Os dois maiores destaques da semana, no entanto, aparecem
nesta sexta-feira, em horários semelhantes. Às
21:30, o Cinemax Prime finalmente mostra a versão
original de Kung Fu Futebol Clube, ou Shaolin
Soccer (Siu lam juk kau, 2001), de Stephen
Chow, retalhado em 25 minutos pela produtora americana
do filme, Miramax. O filme foi o primeiro grande lançamento
ocidental de um filme de Stephen Chow, mas geralmente
as pessoas que assistiram ao filme viram o "corte
alternativo" da companhia de Harvey Weinstein,
tanto no cinema quanto no dvd. O lançamento nacional
em dvd seguiu o caminho, e agora finalmente teremos
a chance de ver o filme que precedeu o adorável
Kung-Fusão (Kung Fu, 2004) em sua
montagem original, como o filme foi concebido pelo seu
diretor. Já no Telecine Cult às 22:00
passa James Dean, o Mito Sobrevive (Come Back
to the Five and Dime, Jimmy Dean, Jimmy Dean, 1982),
um dos filmes menos conhecidos de Robert Altman, indisponível
em dvd tanto no Brasil quanto nos EUA. O filme, no entanto,
não é uma biografia do astro que morreu
jovem, mas o encontro de um fã-clube de admiradoras
do ator que se reúne para comemorar o aniversário
de sua morte. O filme foi adaptado para o cinema pelo
próprio autor da peça, Ed Graczyk.
Dia 10
Para a grande estréia do sábado, a HBO
oferece Capitão Sky e o Mundo de Amanhã
(Sky Captain and the World of Tomorrow, 2004),
de Kenny Conran.
O filme traz Gwyneth Paltrow e Jude Law entre cenários
inteiramente feitos em computação gráfica
retro-futurista. Ainda que seja uma experiência
interessante, o filme nada mais é do que algo
curioso, um espetáculo que atrai mais pela proeza
do que pela estética, aqui puramente funcional
(ao contrário de Sin City, feito a partir
de procedimentos semelhantes, mas infinitamente mais
interessante). O filme estréia às 21:00.
Já o Telecine Premium traz Alfie O
Sedutor (Alfie, 2004), de Charles Shyer.
Mais uma vez o astro é Jude Law, dessa vez numa
refilmagem do original de 1966 protagonizado por Michael
Caine. O mínimo que se pode dizer é que
é um grande desafio e que Jude Law garantiu-se
muito bem, compondo um personagem talvez ainda mais
dúbio em seu arquétipo de Don Juan estilhaçado.
O filme passa às 22:00, e se quisermos comparar
com o original de Lewis Gilbert (com fenomenal música
de Sonny Rollins), poderemos vê-lo no Telecine
Cult às 19:55, numa dessas tabelinhas costumeiras
remake-original que a Globosat anda fazendo (a última,
se vocês bem lembram, foi com O Vôo da
Fênix). Um detalhe: o Alfie original
chama-se Como Conquistar as Mulheres? Mais uma
boa curiosidade do Telecine, agora o Emotion: A Casa
do Sim (The House of Yes, 1997), primeiro
longa-metragem dirigido por Mark S. Waters, diretor
de duas belas comédias, uma romântica (E
Se Fosse Verdade) e uma ácida (Meninas
Malvadas). A Casa do Sim conta com o então
iniciante Freddie Prinze Jr. em seu primeiro filme como
protagonista. Boa oportunidade de travar contato com
uma parte mais obscura da carreira de um dos diretores
de gênero mais promissores dos últimos
anos no cinema americano.
Dia 11
Por fim, um mistério e uma curiosidade. Esse
mês, o Canal Brasil começa a exibir O
Gato (2004), um média quase longa-metragem
(58min) realizado entre 1986 e 1988 no Rio Grande do
Sul em 16mm e apenas finalizado há dois anos.
Ironicamente, o filme vem se inscrever tardiamente na
história pioneira do cinema gaúcho dos
anos 80, junto a projetos como Deu pra Ti Anos 70
e Verdes Anos. Mais detalhes sobre o filme podem
ser encontrados na página que a Casa
de Cinema dedicou ao filme
quando de sua première numa sala portoalegrense.
O filme passa às 02:50 na madrugada de domingo
para segunda-feira, é dirigido por Saturnino
Rocha e conta na ficha técnica com um monte de
nomes conhecidos do hoje solidificado cinema gaúcho
(Henrique de Freitas Lima, Giba Assis Brasil). O filme
é estrelado por Giuseppe Oristânio.
Dia 12
Com o início da Copa do Mundo, quase todas as
atenções da mídia se dirigem para
o futebol. Mesmo na área cinematográfica,
poucos são os cinéfilos brasileiros que
não se rendem à competição,
às vezes até aproveitando a ocasião
para desovar um ou outro produtos feitos mais ou menos
para capitalizar em cima da atenção que
o esporte bretão tem por parte de um contingente
significativo da população brasileira.
Em Contracampo, uma maioria segue os jogos avidamente,
e as discussões passam a ser mais sobre os jogos
do dia do que sobre as estréias da semana. Mas
quem decidir abdicar inteiramente de assistir a filmes
na televisão a cabo ou, no mínimo, gravar
os filmes para vê-los depois do campeonato, pode
perder uma pérola ou duas. O fato é que
a semana está recheada de estréias e filmes
dignos de interesse, ainda que nada de extraordinariamente
raro e acachapante ganhe espaço na programação.
Ainda assim, boas apostas e opções curiosas
de fruição para um público mais
exigente. por exemplo, pode não ser grandes coisas,
mas Nana (2003), cuja primeira parte passa no
Eurochannel às 18:00, é um telefilme em
dois episódios baseado no mesmo livro de Émile
Zola que Jean Renoir adaptou em 1926, com a mítica
Catherine Hessling. Quem assume essa função
neste novo filme dirigido por Edouard Molinaro é
Lou Doillon, filha do cineasta Jacques Doillon e da
cantora/atriz Jane Birkin. Opção naturalmente
melhor que as duas bombas que o Telecine Cult estréia
para o fim da noite, Dogma do Amor de Thomas
Vinterberg (It's All About Love, 2003) às
22:00 e Um Coração para Sonhar
de Pupi Avati (Il cuore altrove, 2004) às
23:55. Entre os dois, poucas semelhanças além
do fato de terem sido estreados em grande estilo e pompa,
e desabonarem até os admiradores mais fervorosos
de ambos cineastas (ainda que, pensando bem, creio que
Avati não deve ter admiradores fervorosos exceto
seus familiares). Em todo caso, o melhor mesmo é
assistir a Eletrodoméstica (2005), filme
de Kléber Mendonça Filho que passa no
Canal Brasil num prêmio que a emissora dará
a um curta-metragem escolhido entre vários. O
filme passa às 00:15 e fazemos figa para que
nosso colega pois, além de cineasta talentoso,
também milita na crítica e é convidado
do nosso quadro de cotações fature
o prêmio, seja ele qual for.
Dia 13
No dia do primeiro jogo do Brasil, que tal comemorar
assistindo a um desses filmes que são puro tributo
à beleza, à complexidade dos planos, ao
talento da direção em transfigurar o espaço
visual e fazer do cinema uma arte que fala uma linguagem
inteiramente autônoma das outras artes. Falamos
de Orson Welles e de seu A Marca da Maldade (Touch
of Evil, 1958), que passa no Film & Arts às
22:00. O filme não é exatamente raro de
ser exibido aliás, o Film & Arts tem
um grupo seleto de filmes à sua disposição,
mas infelizmente os repete à exaustão
, mas nem sempre de raridades vive a televisão
a cabe. Muito pelo contrário, aliás. No
mesmo horário, há sempre uma aposta a
fazer com Marionetes (Strings, 2004),
filme dirigido pelo dinamarquês Anders Rønnow
Klarlund, que utiliza animação de bonecos
como processo para contar uma historinha mítica
de um filho que vai vingar seu pai. Uma opção
mais interessante, no entanto, é Passe Livre
(1974), documentário de Oswaldo Caldeira
sobre a famosa questão do passe no futebol, que
a seção É Tudo Verdade exibe no
Canal Brasil às 22:35. Até agora, a parasitagem
futebolística ao menos está trazendo filmes
pertinentes e relevantes, que merecem uma atenção
que geralmente não lhes é devida, ou simplesmente,
como é o caso agora, filmes que tem uma visibilidade
quase negativa. Tomara que não tenhamos que descambar
para o filme da Copa feito por Murilo Salles...
Dia 14
Num dia sem destaques,
vale apenas mencionar a estréia na programação
da rede Telecine de Wilbur Quer se Matar (Wilbur
Wants to Kill Himself, 2002), longa-metragem da
diretora Lone Scherfig que segue-se ao "filme dogma"
Italiano para Iniciantes. É o terceiro
destaque dinamarquês da semana quem sabe,
para atenuar a ausência do país na Copa...
, ainda que nenhum desses seja mais do que uma
mera curiosidade, e, no caso do filme de Vinterberg,
de algo a manter distância. Telecine Emotion,
às 22:00.
Dia 15
Mais uma quinta-feira de Marilyn Monroe, desta vez com
O Mundo da Fantasia (There's No Business Like
Show Business, 1954), filme dirigido por Walter
Lang em que a verdadeira protagonista é Ethel
Merman, e la Monroe ocupa apenas um papel secundário.
O filme passa às 20:00 no Telecine Classic. Em
seguida, às 22:00, um verdadeiro clássico:
O Pecado Mora ao Lado (The Seven Year Inch,
1955), grande filme de Billy Wilder que eternizou Monroe
com a cena do vestido subindo e que é muito provavelmente
a primeira obra a aproveitar o máximo de sua
persona entre a total sedução e a plena
vulgaridade. Mas o verdadeiro destaque do dia é
o raríssimo O Pornógrafo (1970),
obra seminal do chamado "cinema marginal"
em sua vertente Boca do Lixo. Amigo de Carlos Reichenbach
(que é ator no filme), João Callegaro
fez este filme e nunca repetiu a dose com outro longa.
Mas O Pornógrafo está aí,
pronto para ser descoberto ou redescoberto e finalmente
atingir a posição que merece dentro do
cinema brasileiro. O filme passa na seção
Brasil Cult, às 22:35.
Dia 16
Julieta dos Espíritos (Giulietta degli
spiriti, 1965), um dos filmes menos conhecidos de
Federico Fellini, passa no Eurochannel às 22:00.
O filme inicia uma densificação da obra
de Fellini, uma saturação de signos já
longe de filmes como Noites de Cabíria
ou A Doce Vida. Como tal, foi muito mal visto
e mal falado na época, e o filme bem mereceria
uma reavaliação levando em conta o papel
do filme dentro da evolução de sua estética.
Já no Cinemax, no mesmo horário, passa
Mondovino (idem, 2003), documentário sobre
como a globalização afeta a produção
mundial de vinho em seus aspectos econômicos,
culturais e pessoais, e como se tende e esse
talvez de fato seja o maior mérito do filme,
que no geral é desigual e meio monótono
de assistir a uma uniformização
do gosto baseada em fontes monopolísticas de
legitimação do bom gosto e forçam
a produção mundial se curvar a um padrão
específico que mata progressivamente a diversidade
de gostos e modos de produção. Bom, e
não é um processo que vemos também
progressivamente no cinema, com as grandes estréias
tomando quase metade do circuito exibidor das grandes
cidades?
Dia 17
O Fantasma da Ópera de Joel Schumacher
às 22:00 no Telecine Premium de um lado,e do
outro Um Presente para Helen de Garry Marshall
às 21:00 na HBO do outro. Isso é uma disputa?
Só se for para saber qual deles é menos
atração principal da semana. Em compensação,
temos boas atrações fora dos destaques
do horário nobre e dos canais de filmes recentes.
Como por exemplo Alice Não Mora Mais Aqui
(Alice Doesn't Live Here Anymore, 1974), filme
de Martin Scorsese que o Cinemax Prime exibe às
21:30, ou a versão de O Fantasma da Ópera
de 1943 dirigida por Arthur Lubin e estrelada por
Nelson Eddy que o Telecine Classic para como antepasto
para o pasto (com trocadilho, claro) de Joel Schumacher.
E, antecipando algo que será tratado mais longamente
na próxima edição de Contracampo,
temos no Canal Brasil dois filmes, um que não
estreou e outro que estreou mal e porcamente num cinema
longínquo e ficou apenas uma semana em cartaz.
Às 23:30, passa Viva Sapato! (2004) de
Luiz Carlos Lacerda, e em seguida, à 01:15, passa
O Circo das Qualidades Humanas (2004), rara produção
de longa-metragem mineira, num filme em episódios
que conta com o louvável nome de Geraldo Veloso
cineasta do ótimo Perdidos e Malditos
, além de Milton Alencar Jr., Jorge Moreno
e PaulO Augusto Nunes. O primeiro filme passa no quadro
"Seleção Brasileira", numa metáfora
não muito feliz em momento de Copa do Mundo.
Afinal, se tivéssemos que exibir nossa proficiência
cinematográfica com o grotesco e risível
filme de Lacerda, provavelmente ficaríamos atrás
até de Papua Nova Guiné, mesmo que lá
nunca tenham feito nenhum filme.
Dia 18
Mais um filme sobre marujos cantantes que passeiam pela
França? Sim, mas desta vez quem dirige é
Richard Quine, que na década de 50 não
era um diretor como os outros, mas o realizador de algumas
das mais charmosas comédias de sua década
(que, convenhamos, não foi modesta em ótimos
diretores de comédia). Trata-se de Três
Marujos em Paris (So This Is Paris, 1955),
um musical com Tony Curtis, Gene Nelson e Paul Gilbert
como os protagonistas do título. O filme passa
às 14:30 no Telecine Classic. À noite,
podemos ficar com qualquer uma de duas estréias
pouco estimulantes. Um é O Milagre de Berna
(Das Wunder von Bern, 2003), de Sönke Wortmann,
sobre a vitória da seleção alemã
na Copa do Mundo de 1954, e o segundo é Viva
Voz (2003), de Paulo Morelli, filme-painel da produtora
O2 sobre a classe média paulista. Elogiados pela
imprensa menos criteriosa, ambos os filmes passam às
22:00. Nesse caso, talvez seja melhor não torcer
nem pelo Brasil nem pela Alemanha...
Dia 19
Quando Team America Detonando o Mundo
(Team America: World Police, 2004) entrou em
cartaz nos Estados Unidos, boa parte da mídia
ficou dividida porque o filme faz deboche tanto do discurso
oficial da mídia quanto dos pilares de um discurso
mais dissonante e crítico da hegemonia americana,
como o presidente norte-coreano kim Jong-Il e o ator
Sean Penn. Realizado por Trey Parker e concebido por
Parker com Matt Stone ou seja, os criadores da
série South Park , Team America
não foi lançado nos cinemas brasileiros,
sabe-se lá por quê. Sabe-se, sim, que essa
dupla realizou um filme que trabalha todo o subconsciente
americano, as certezas, as paranóias e tudo mais
que seja referente ao papel intervencionista dos EUA
no mundo (o título em inglês se refere
ao país como uma "polícia mundial").
Mas o interesse deles não é exatamente
ideológico não se sai exatamente
"torcendo" pró ou contra guerra ,
mas um retrato em forma de achincalhe dos lugares-comuns
da sociedade americana. Pena que eles sejam tão
irregulares em todos os seus projetos, alternando momentos
brilhantes com tiradas inteiramente tediosas, e curiosamente
fazendo do riso uma estratégia não de
perspectivação dos costumes sociais, mas
uma forma de confortável através do riso.
O filme estréia no Telecine Premium às
20:10. Mais tarde, às 22:35, o Canal Brasil exibe
Panca de Valente (1968), possivelmente o longa-metragem
menos conhecido de Luís Sérgio Person,
realizador dos belíssimos São Paulo,
Sociedade Anônima (1965) e O Caso dos Irmãos
Naves (1967). Person foi recentemente homenageado
pelo Festival Brasileiro de Cinema Universitário,
e por sua filha, Marina Person, que lhe dedicou um documentário,
Person, também exibido no FBCU. Mais tarde no
mesmo Canal Brasil, teremos o primeiro filme de um ciclo
dedicado aos filmes de Helena Ramos, mus maior da pornochanchada
paulista. O filme que inicia o ciclo é Crazy,
um Dia Muito Louco (1981), penúltimo filme de
Victor Lima, cineasta mais conhecido por sua produção
entre os anos 50-60 nas comédias da Herbert Richers.
O filme passa às 00:30.
Dia 20
A estréia do dia é Um Vazio no Meu
Coração (Ett Hål i mitt hjärta,
2004, dir. Lukas Moodysson), sensação
negativa do Festival do Rio de 2004, onde o filme chegou
até a ganhar avisos na porta do cinema por seu
conteúdo explícito e por sua linguagem
incomum, tantas eram as reclamações por
parte do público. Mas, ao contrário do
que possa parecer nesse caso, não é que
a estética do filme esteja à frente da
percepção do público. O filme se
desenvolve num registro entre obscenidade e ingenuidade
que é francamente banal, além de fazer
uso de imagens "chocantes" como motivo fácil
de buchicho e escândalo. Aparentemente, Moodysson
funciona mais como contador de histórias certinhas
e algo comoventes que, mesmo estando há milhas
do brilhantismo, mostram alguma eficiência em
narração e construção de
atmosfera, como em Amigas de Colégio e
Bem-Vindos. O filme estréia no Telecine
Cult às 22:00. Mas novamente os destaques do
dia vão para o Canal Brasil, que exibe às
06:00 (isso mesmo, seis da manhã de terça-feira)
o telefilme O Último Dia de Lampião
(1972), raríssima obra de Maurice Capovilla,
e dedica parte de sua programação a curtas-metragens
de temática homossexual, a "Mostra Arco-Íris",
com um filme recente de Luiz Carlos Lacerda, Homossexualidade
e Cinema Brasileiro (2006), e mais alguns filmes
que tocam diretamente no assunto: Parada de Orgulho
Gay (também de Lacerda), Curta Seqüência
Alasca (de José Joffily), Cinco
Naipes e No Coração de Shirley.
Essa série de curtas começa às
20:00
Dia 21
Novamente é
o Canal Brasil que salva um dia muito fraco em atrações,
com um filme quase inédito e um clássico
de Helena Ramos. O primeiro é Rua de Mão
Dupla (2004), documentário de Cao Guimarães
(dos premiados Da Janela do Meu Quarto e A
Alma do Osso) feito a partir da idéia de
"outro", com duas pessoas trocando de casa
por 24 horas e filmando suas percepções
a partir dessa casa provisória que o dispositivo
do filme criou. Montado originalmente como uma instalação
para a Bienal de São Paulo em 2002, as imagens
de Rua de Mão Dupla foram depois reorganizadas
e editadas, e passam no Canal Brasil às 04:30
de quarta para quinta-feira. Antes disso, mas ainda
na madrugada, passa Mulher Objeto (1981), filme
do hoje autor de novelas Sílvio de Abreu. O filme
foi o maior sucesso de público e de crítica
na carreira de Helena Ramos, e utiliza a atriz num imaginário
que ela já tinha encarnado em Mulher, Mulher
(1979) de Jean Garret: a mulher frígida que
precisa descobrir o sexo de maneira fora da usual e
que acaba encontrando o prazer apenas na transgressão.
Nenhum dos filmes, no entanto, é exatamente um
libelo à liberdade sexual feminina, e o tema
"sexo como libertação" vai só
até certo ponto. Em todo caso, tanto pelo talento
quanto pelos temas que o filme encerra, vale bastante
a pena assistir a Mulher Objeto.
Dia 22
Novamente Marilyn Monroe em sessão dupla, mais
uma vez um diretor não muito conhecido fazendo
um filme interessante e um diretor especial fazendo
um filme lendário. Às 20:00, o Telecine
Cult passa Nunca Fui Santa (Bus Stop,
1956), de Joshua Logan. O filme é mais conhecido
por ser o momento na carreira de Marilyn em que ela
queria mais do que ser simplesmente uma starlet,
exigindo um papel que ela pudesse mostrar melhor suas
habilidades de atriz. Logan, que simplesmente terminara
de fazer o mesmo com Kim Novak em Picnic/Férias
de Amor no ano anterior, consegue aqui extrair uma
bela interpretação de MM (apesar de isso
não ser suficiente para fazer de Nunca Fui
Santa um filme tão memorável quanto
Picnic). Às 22:00, passa um desses grandes
clássicos que volta e meia ganha menções
entre os melhores filmes de todos os tempos e é
considerado por muitos a maior comédia de todos
os tempos: Quanto Mais Quente Melhor (Some
Like it Hot, 1959), onde Billy Wilder mostra para
quem quiser ver que ele não é somente
um roteirista que decidiu passar à direção
por ciúme de seu material, mas um cineasta autêntico
que realmente coloca todas as suas fichas na crença
que o humor e a caricatura podem revelar muito sobre
o comportamento humano. Trata-se de um filme que, para
além de suas evidentes qualidades de escrita,
apresenta formidáveis atuações
do trio principal de atores Jack Lemmon, Marilyn
Monroe e Tony Curtis e evidencia o mundo de Billy
Wilder com um jogo de imagens que as pessoas constróem
para si mesmas. Um prazer constante em ver e rever.
Dia 23
Enquanto o Telecine Classic estréia em sua programação
um filme de Sidney Lumet que costumava figurar na programação
do Film & Arts, Mulher Daquela Espécie
(That Kind of Woman, 1959, às 22:00),
a TV5 passa um desses filmes recentes
que os cinéfilos esperam ter a chance de ver
nos festivais mas que acabam sendo preteridos por filmes
de mais apelo de mídia. Le Monde vivant,
de Eugène Green, passou no Festival de Cannes
de 2003 e ganhou diversos elogios da imprensa como um
dos filmes franceses mais interessantes de sua geração.
Por seu filme anterior, Toutes les nuits, Green
recebeu elogios até de Jean-Luc Godard, que não
é exatamente um grande admirador de muita coisa
que anda sendo realizada nos dias de hoje. Ainda assim,
Eugène Green continua um desconhecido para o
espectador brasileiro, jamais tendo qualquer de seus
filmes exibidos sequer em festivais. Apesar do horário
quase proibitivo, 03:10 na madrugada de sexta-feira
para o sábado, Le Monde vivant é o grande
destaque da semana na programação de filmes
na tv a cabo.
Dia 24
Depois de alguns filmes que francamente não se
explicam como destaques no horário nobre de sábado,
finalmente temos dessa vez alguns filmes que, se não
se enquadram nos padrões de vigor cinematográfico
dos espectadores mais exigentes, ao menos se justificam
pelo grau de atenção dado pela mídia
e pela afluência do público. As 21:00 a
HBO estréia Constantine (dir. Francis
Lawrence, 2005), adaptação de história
em quadrinhos que se aproveita de um certo tipo de charme
dark concedido a Keanu Reeves por seu personagem
em Matrix, e às 22:00 o Telecine premium
exibe Ray (dir. Taylor Hackford, 2004), cinebiografia
de Ray Charles protagonizada por Jamie Foxx que, apesar
de eficiente e até emocionante em algumas cenas,
não consegue fugir do esquema mais básico
de ascensão-excesso-queda que permeia esses projetos
de filme baseados em personagens talentosos de vida
controversa (Johnny e June é outro exemplo
mais recente). Mais vale então prestar atenção
a um filme muito mais sincero e coerente em sua construção
de mundo como Perdidos na Noite (Midnight
Cowboy, 1969), dirigido por Schlesinger, que o Telecine
Cult estréia em sua programação
às 22:00, ou ao belo Bendito Fruto (2005),
primeira produção de longa-metragem ficcional
do Cecip de Eduardo Coutinho, dirigido com talento e
sutileza por Sergio Goldenberg, que apresenta bastante
talento ao fazer o filme passar do registro de uma comédia
de costumes e evoluir narrativamente como um melodrama,
tratando inicialmente de um único tema
preconceito de classe de um homem que não consegue
admitir seu amor por sua empregada e por fim
ampliando-o num universo social mais amplo de dificuldade
em fazer a convivência com o diferente reinar
sobre os preconceitos adquiridos no convívio
social (como a subtrama de amor gay,que aparece lá
pela segunda metade do filme). Verdadeiro destaque do
dia, o filme estréia como "Filme do mês"
na sessão Seleção Brasileira do
Canal Brasil às 23:00.
Dia 25
Se o sábado é o dia para os canais de
estréias mais chamativas do ponto de vista do
público geral, o domingo vem se revelando como
o dia dos filmes-circuitinho, com o cinemax consolidando
o horário da noite ao trazer sempre estréias
de peso, e o Telecine Cult fazendo volta e meia algo
semelhante. Dessa vez, quem ganha é o canal da
HBO, já que o da Globosat exibe Contra a Parede
(Gegen die Wand, 2004), filme de Fatih Akin que
ganhou o prêmio máximo no Festival de Berlim
em 2004, mas que não consegue escapar de uma
narrativa de redenção final que acaba
culpabilizando um modo de vida desviante e apela para
um "retorno às raízes" como
única forma de vida autêntica. Se a primeira
parte do filme é estimulante e apresenta uma
entrega aparentemente bastante honesta a seus personagens,
a segunda parece querer fazer uma chantagem emocional
com a primeira, nos fazendo rever nossa apreciação
do prazer que sentimos acompanhando a vida turbulenta
inicial do casal de protagonistas. Em todo caso, há
de se admitir que Fatih Akin nesse filme apresenta um
talento um tanto incomum que ultrapassa a mera eficácia
narrativa. O filme passa às 22:00 no Telecine
Cult. Já o Cinemax exibe o bem mais simpático
Steamboy (Suchîmubôi, 2004),
animação japonesa dirigida por Katsuhiro
Otomo sim, o mesmo de Metropolis e Akira
que encanta pela beleza de seu visual preciso
e viajante, mas não se segura totalmente ao longo
de sua duração (126'). Ainda que não
apresente as fantasias vertiginosas e cativantes de
um Miyazaki, Steamboy merece destaque tanto por
suas qualidades quanto pela inexplicável pouca
atenção que as animações
japonesas em longa-metragem têm no circuito brasileiro,
nos cinemas, nos festivais, nos lançamentos em
dvd e na televisão a cabo.
Strip Search (idem, 2004), de Sidney Lumet, foi
objeto de uma verdadeira celeuma nos Estados Unidos.
Tendo como enfoque a restrição das liberdades
individuais concedidas depois do 11 de setembro, o filme
segue diversas narrativas paralelas, entre as quais
uma mulher americana detida pelas autoridades chinesas
e um árabe detido pelas autoridades americanas.
Repleto de atores famosos (Maggie Gyllenhaal, Glenn
Close, Ellen Barkin), o filme foi produzido pela HBO
e exibido apenas uma vez na emissora americana. Depois
disso, todos os horários de reexibição
foram trocados e, tempos depois, o filme foi remontado
e transformou-se num filme de 50 e poucos minutos. O
filme enfureceu os patriotas americanos que defendem
o "ato patriótico", e a censura (interna
ou externa, sabe-se lá) decidiu dar ao filme
a mínima visibilidade possível, e em seu
formato cortado. segundo consta no site brasileiro,
a HBO exibe hoje o filme em seu formato completo, naquilo
que talvez seja uma das raras exibições
que o filme terá até que essa espécie
de embargo branco acabe (ou seja, quando as vagas da
História tornarem esse assunto menos controverso),
às 21:00. E não é só pelo
escândalo que Lumet parece ter voltado com tudo
à atenção dos cinéfilos.
Seu mais recente filme, Find Me Guilty, teve
uma excelente recepção por parte da crítica
mais exigente, e novamente com um filme de temática
fortemente política. Esse só veremos quando
o filme estrear nos cinemas (Vin Diesel como protagonista
parece ser garantia suficiente), mas Strip Search
pode ser visto na noite de segunda-feira na HBO.
Já o Canal Brasil exibe no horário nobre
de 21:30 o mais recente filme de Zelito Viana. Não,
ainda não se trata de JK, podemos ainda nos preparar
para o que vem por aí. É um filme curto,
e, segundo alguns comentários ouvidos, um digno
documentário sobre a pintora naif Aparecida
Azedo Uma Vida em 24 Quadros (2005), vídeo
que acaba de concorrer na competição de
vídeos do Cinesul (sem prêmio, aliás).
Dia 27
Mais uma vez quem salva a terça-feira é
o Canal Brasil. E desta vez com atrações
sarapintadas ao longo da programação.
Bem cedinho, às 09:00, passa A Miss e o Dinossauro
2005, curta recente que aproveita filmagens que
foram recentemente encontradas do projeto A Miss
e o Dinossauro original, com diversos rolos de filme
super-8 registrando o dia-a-dia e o trabalho da turma
envolvida com a mítica produtora Belair, de Rogério
Sganzerla, Julio Bressane e Helena Ignez. Quem assina
essa montagem é esta última, que também
faz uma narração explicando a natureza
das imagens e o espírito da Belair, e adiciona
um emocionante depoimento de Rogério Sganzerla
em discurso mais geral sobre cinema. Enquanto todos
os rolos do Miss original não aparecem,
esta é a única forma mais amplamente veiculável
de travar contato com esse precioso material de registro
e poesia. Mais à noite, na sessão É
Tudo Verdade, passam dois filmes que tratam mais uma
vez de futebol. Dois filmes que, em momentos distintos,
participam de uma das maiores contribuições
(em envergadura do projeto, em foco e em conjunto, ainda
que individualmente poucos filmes se sobressaiam) ao
documentário brasileiro, a assim chamada Caravana
Farkas. O primeiro filme é Subterrâneos
do Futebol (1968), de Maurice Capovilla, produzido
por Thomas Farkas, e o segundo é Todomundo
(1980), dirigido pelo próprio Thomas Farkas.
Dois registros muito diferentes, e que sem querer testemunham
o desgaste de um formato outrora celebrado, o documentário
sociológico. Subterrâneos do Futebol pertence
a Brasil Verdade, coletânea de quatro filmes que
tentam esquadrinhar realidades de contraste social gritante
e jogar uma outra luz sobre aquilo que outrora era controlado
por um discurso paternalista e/ou culturalista que minava
a análise política (ou dialética)
das contradições da sociedade brasileira.
Como o maior esporte popular do Brasil, o futebol é
visto sob o olhar pessimista dos vários jogadores
que não viram craques, dos jogadores que são
dominados pelos empresários de clubes (tornados
escravos por não possuírem o próprio
passe), da desigualdade de um universo do qual em geral
só se vê a face espetacular e emocionante
da atividade. Mas, se o ptojeto tem seu brilho, a condução
e a estrutura carregam um alarmismo tão apocalíptico
que em momentos a veemência torna-se risível,
e o filme parece tão cheio de si, dominado por
certezas absolutas, que nenhuma imagem parece sobreviver
por si mesma, e si apenas como ilustração
parasitária de uma tese prévia. Anos depois,
Farkas focará naquilo que ficou recalcado pelo
discurso politizante do primeiro projeto: a turba, o
torcedor em seu espetáculo de emoção
e sofrimento, aquilo que faz da paixão pelo esporte
uma coisa única. Se a caravana Farkas nasce com
a missão auto-determinada de conhecer o Brasil,
talvez tenha sido ironicamente em seu final que ela
chegou mais perto de realizar seu projeto... num filme
que possivelmente nem se mantinha mais no antigo programa!
A sessão É Tudo Verdade começa
às 22:35. Já às 04:30, o mesmo
canal exibe Anna Terra (2004), recente filme do veterano
artista underground Luiz Rosenberg Filho, autor de filmes
como Crônica de um Industrial e A$$untina
das Amérikas, que tentam trabalhar a crítica
do capitalismo em moldes mais godardianos (o Godard
de Duas ou Três Coisas, mais especificamente).
Nesse novo filme, Rosenberg retrata os trinta anos de
carreira e o talento da letrista Ana Terra, pouco conhecida
artista que escreveu os versos de algumas pérolas
da música brasileira, como "Amor, Meu Grande
Amor", "Meu Menino" e "Essa Mulher".
Dia 28
Já que os longas não entusiasmam, ficaremos
com dois destaques em curta-metragem, ambos dirigidos
por Rogério Sganzerla. O primeiro é a
peça de antologia A Linguagem de Orson Welles
(1990), belíssimo filme de ensaio e espécie
de estopim para a grandeza de Tudo É Brasil
(1998), em que Welles é uma espécie
de megapretexto para uma revitalização
da vida de belle époque da metrópole carioca
no começo dos anos 40, em que se tenta analisar
através da passagem de Welles por aqui um pouco
da alma brasileira em seu melhor e seu pior. O filme
passa às 09:00. Já na madrugada de quarta
para quinta-feira, às 04:40, passa Informação:
H. J. Koellreuter (2003), último filme realizado
por Rogério Sganzerla, homenagem ao famoso professor
e músico baiano radicado na Bahia e espécie
de último elogio de Sganzerla à arte rigorosa
e radical que deseja provocar um engrandecimento de
repertório por parte do espectador, realizar
com a arte uma espécie de revolução
permanente que Trótski queria fazer através
da política. Projeto comovente que, mesmo em
seu fracasso, realizou algumas das obras mais significativas
da arte cinematográfica no Brasil.
Dia 29
Última homenagem aos 80 anos de nascimento de
Marilyn Monroe, essa quinta-feira nos apresenta dois
dos últimos filmes em que MM atuou: Adorável
Pecadora (Let's Make Love, 1960), de George
Cukor, e Os Desajustados (The Misfits,
1961), de John Huston. Rodeada de atores célebres,
Yves Montand e Tony Randall no primeiro e Clark Gable
e Montgomery Clift no segundo, la Marilyn faz suas duas
últimas aparições antes de morrer,
num filme de Cukor pouco considerado (talvez justamente)
e num filme de Huston também pouco considerado
(talvez injustamente, por ser um daqueles em que mais
parece transparecer uma sensibilidade distintiva num
cinema que em geral é regido apenas pela eficiência).
O primeiro passa às 20:00, o segundo às
22:00, sempre no Telecine Cult. No mesmo horário,
o Telecine cult exibe Melinda & Melinda (idem,
2004), em que o diretor Woody Allen brinca com a ênfase
dada a certos aspectos de uma história e de como,
a partir dos mesmos dados iniciais, pode-se construir
uma comédia ou uma tragédia. Como toda
essa conversa de processo criativo, intersubjetividade,
teoria da recepção e obra aberta não
são hoje só insuportáveis, mas
terrivelmente caducos e sem sentido, Allen só
consegue fazer o que faz hoje em dia: arremedo de cinema.
E isso é mais trágico que cômico.
Ou não.
Dia 30
Três anos antes de filmar Marilyn em Adorável
Pecadora, George cukor dirigiu Anna Magnani e Anthony
Quinn em A Fúria da Carne (Wild Is
the Wind, 1957), filme que ganhou o Leão
de Prata de melhor atriz para la Magnani (e Cukor, como
se sabe, era especialista em conseguir as melhores atuações
das atrizes com quem trabalhava) e foi indicado a três
Oscars (canção, ator e atriz). Não
é o filme mais reverenciado de George Cukor,
mas também é um dos menos vistos e não
exatamente um triunfo da acessibilidade (não
foi lançado em dvd nem nos EUA ainda, por exemplo).
Razão a mais para assistir ao filme no Telecine
Cult às 20:00.
Dia 01/7
Martin Scorsese sempre dividiu os mais ferrenhos críticos
de cinema, dificilmente atingindo status de unanimidade
entre os mais difíceis de agradar. Sua carreira,
no entanto, atingiu um novo grau de controvérsia
a partir do momento em que ele se alinhou com a Miramax
para fazer superproduções estreladas por
Leonardo DiCaprio. Naturalmente, a escolha de Scorsese
se dá não por uma instituicionalização
de sua carreira, mas por causa da crença
partilhada, aliás, por seus mais ferrenhos detratores
de que a visão de um cineasta pode se
exercer mesmo no filme mais controlado pelos produtores,
desequilibrado por cortes em função de
uma duração mais acessível ao grande
público e com atores que não são
necessariamente a melhor escolha para os papéis,
mas são formas de financiar filmes mais caros.
Assim como Gangues de Nova York, O Aviador
(The Aviator, 2004) foi produto de umna queda
de braço entre Scorsese e Harvey Weinstein, e
de acordo com a avaliação positiva ou
negativa que se faz do filme, todos discutem quem ganhou.
Por mais instável que o filme pareça ser,
no entanto, é difícil tirar-lhe o mérito
por algumas das cenas mais interessantes exibidas em
cinema nos últimos anos. Que em O Aviador
Scorsese criou tanto em temática quanto em
linguagem um filme muito parecido com os filmes que
realizou quando tinha acesso ao corte final, parece
indubitável. O filme mostra Scorsese o tempo
todo. Mas a questão verdadeira é saber
sea forma é a melhor possível. E sobre
isso nem mesmo o titular de coluna que vos escreve consegue
chegar a uma conclusão. Tire-a você mesmo(a)
na HBO às 21:00.
Dia 02
O Cinemax, sempre interessante no modo como amplia o
nosso leque de produções de países
com cinematografias geralmente menos acessíveis,nos
propõe como destaque de domingo o filme Buena
Vida (Delivery) (2004), filme argentino dirigido
pelo estreante Leonardo Di Cesare. O filme rodou mundo
através dos festivais internacionais e ganhou
alguns prêmios (Toulouse, Valladolid, Mar del
Plata) com um retrato entre comédia e drama da
classe baixa argentina, da tensão entre classe
média e baixa, e uma história de amor
que surge disso tudo. O filme passa às 22:00,
mas no mesmo horário o Telecine Cult exibe Os
Incompreendidos (Les 400 coups, 1959), primeiro
longa-metragem de François Truffaut e um dos
filmes deflagradores da nouvelle vague. Primeiro
volume da pentalogia do personagem Antoine Doinel, filme
que lançou Jean-Pierre Léaud para o cinema,
filme de um toque pessoal incrível, etc. etc.,
Os Incompreendidos é curiosamente ainda mais
comentado do que visto, muito em função
do caráter de mito que o filme ocupa, mas naturalmente
muito mais em razão da pouca disponibilidade
que o filme sempre teve no país. Quem sabe agora
o filme realmente comece a ser mais visto.
Dia 03
Estreado no Festival de Cannes de 2004, Vida e Morte
de Peter Sellers (The Life and Death of Peter
Sellers, 2004), de Stephen Hopkins, passou direto
pelo circuito exibidor nacional e foi lançado
direto em DVD. Ainda que haja certa unanimidade a respeito
da pouca capacidade do filme de trabalhar a contento
seu tema, há de se convir que o tema a
biografia do ator Peter Sellers é interessante
o suficiente para garantir um interesse de uma boa parte
do público que vai aos cinemas. Produzido pela
HBO filmes, ele agora estréia "em casa",
na HBO, às 21:00. Mais tarde, três filmes
estréiam no horário das 22:00. Um deles
é Acrobatas (Le acrobate, 1997),
de Silvio Soldini, cineasta com 25 anos de carreira,
mas que só começou a ter mais visibilidade
a partir do grande sucesso que o xaropíssimo
Pão e Tulipas fez no circuitinho carioca.
Ainda que Soldini não seja um exemplo de cineasta
que gostaríamos de ver ter a filmografia completa
retrospectada, o Eurochannel faz seu papel ao trazer
o filme do cineasta e, claro, ampliar seu repertório,
que anda cada vez mais repetitivo e óbvio. Já
nos canais da Globosat, dois filmes: no Telecine Emotion,
passa O Pianista (The Pianist, 2002),
filme que rendeu a Palma de Ouro em Cannes para Roman
Polanski, além dos Oscars de direção
e melhor ator (além de roteiro adaptado); já
no Telecine Cult, passa Os Abutres Têm Fome
(Two Mules for Sister Sara, 1970), filme que
tem em suas credenciais história de Budd Boetticher,
direção de Don Siegel, música de
Ennio Morricone, além de Clint Eastwood e Shirley
MacLaine de protagonistas. Momento de concretização
da obra de Siegel. momento de começo de carreira
na direção para Eastwood, que no ano seguinte
realizaria seu primeiro longa-metragem, Play Misty
for Me (1971).
Dia 04
Falando em filmes premiados em Cannes e com o Oscar
ao mesmo tempo, o Telecine Cult exibe nesta terça-feira
às 22:00 A História Oficial (La
historia oficial, 1985), possivelmente o filme argentino
mais famoso dos anos 80. Oscar de filme estrangeiro,
melhor atuação e prêmio do júri
ecumênico em Cannes, A História Oficial
apresenta a típica ficção política
unanimista ao filmar a passagem de uma pacata mãe
de família alienada dos processos sociais e políticos
da Argentina até a conscientização
que nasce a partir de um fato atrelado a sua existência.
Luiz Puenzo foi muito elogiado pelo trabalho com os
atores, especialmente pela atuação de
Norma Aleandro, mas nenhum de seus filmes seguintes
conseguiu convencer o público internacional de
que se tratava de um cineasta de talento distinto. Às
22:35, na sessão É Tudo Verdade, passa
no Canal Brasil o média-metragem Tinta Fresca
(2004), de Paula Alzugaray e Ricardo Van Steen,
sobre "a iconografia transitória que ocupa muros
e fachadas de espaços públicos", ou seja, sobre
pichações, grafites e todo tipo de arte
gráfica de rua no Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro,
São Paulo e Pernambuco. Às 23:55, no mesmo
Canal Brasil, teremos o curta-metragem Texas Hotel
(1999), de Claudio Assis, espécie de protótipo
para Amarelo Manga, com o mesmo cenário e, sobretudo,
o mesmo espírito do longa-metragem de estréia
do diretor.
Dia 05
O Canal Brasil continua exibindo os curtas-metragens
de Rogério Sganzerla. Dessa vez é Viagem
e Descrição da Guanabara por Ocasião
da França Antártica (1976), com Paulo
"Bandido da Luz Vermelha" Villaça como
Villegaignon, passando pela geografia virgem do Rio
de Janeiro. O filme passa de manhãzinha, às
06:40. Mais tarde, no mesmo canal, teremos a curiosidade
Os Paspalhões em Pinóquio 2000 (1982),
último filme dirigido pelo veterano Victor Lima,
e estrelado por um grande elenco de comediantes, como
Catalano, Roni Cócegas, os irmãos Older
e Olney Cazarré (mais conhecidos pelo ofício
de dubladores) e o herói do telecatch Ted Boy
Marino. A sinopse é impagável: "Dono
de uma indústria de papel higiênico destrói as fábricas
dos concorrentes e arquiteta o plano de poluir as águas
da cidade para provocar desarranjo na população e aumentar
as vendas do seu produto". Passa às 12:30.
Dia 06
Mais conhecido como diretor teatral na Broadway e como
dançarino, Joseph Anthony também foi diretor
cinematográfico. Entre os poucos filmes que dirigiu,
se destaca Lágrimas do Céu (The
Rainmaker, 1956), estrelado por Burt Lancaster e
Katharine Hepburn, em atuação que lhe
rendeu sua sétima indicação ao
Oscar de melhor atriz. O filme passa no Telecine Cult
às 19:40. Em seguida, às 22:00, para aqueles
que já estavam sentindo saudades de Billy Wilder
e seus filmes com Marilyn Monroe, o TCC passa Sabrina
(idem, 1954), com um ícone feminino diametralmente
oposto a MM: Audrey Hepburn em seu segundo papel num
filme americano, que aqui interpreta ao lado de Humphrey
Bogart e William Holden. Já no Canal Brasil,
poderemos ver Jece Valadão em um dos grandes
papéis cinematográficos de sua carreira,
fazendo o protagonista de Boca de Ouro (1962),
de Nelson Pereira dos Santos, na sessão Brasil
Cult, às 22:35. Por fim, num dia recheado de
belas parcerias entre atores e diretores, o mesmo Canal
Brasil exibe A Reinvenção da Rua
(2003), filme dirigido por uma das maiores atrizes brasileiras,
Helena Ignez, que aqui tem a ajuda de seu marido (na
montagem) para fazer um retrato do artista Vito Acconci,
com ênfase numa obra realizada por ele no viaduto
do Glicério, em São Paulo, em que ele
propunha uma reconfiguração do espaço
público e um espaço de convivência
que beneficiava os moradores de rua. O filme passa na
madrugada de quinta para sexta-feira, às 03:25.
Dia 07
Na manhãzinha desta sexta-feira, o Canal Brasil
exibe o documentário Adolfo Celi: Um Homem
entre Duas Culturas (2006). Dirigido por Leonardo
Celi, filho de Adolfo, o filme traça um registro
entre o teatro e o cinema, entre a atuação
e a direção, entre o Brasil e a Itália.
Para quem não sabe quem foi Adolfo Celi, vale
dizer que trata-se do diretor do primeiro filme da Companhia
Cinematográfica Vera Cruz, Caiçara, e
da biografia do compositor Zequinha de Abreu, Tico-tico
no Fubá, além de ter trabalhado como ator
em incontáveis filmes italianos e americanos.
O documentário, um longa-metragem de 75min de
duração, passa às 05:00, enquanto
o dia amanhece... Passemos à noite. Enquanto
os cinemas exibem uma adaptação de
um autor americano que abençoava um modo de existência
boêmio, John Fante com Pergunte ao Pó,
de Robert Towne, que o coro quase unânime diz
ser o mico dos micos , o Telecine Cult estréia
em sua programação um filme baseado em
outro autor beberrão, grande fã de Fante,
Charles Bukowski. Trata-se de Condenados pelo Vício
(Barfly, 1987), dirigido por Barbet Schroeder
e roteirizado pelo próprio Bukowski, com Mickey
Rourke no papel principal. É comum considerar
Barfly como um "autêntico" Bukowski,
em contraposição a Crônica de
um Amor Louco, dirigido por Marco Ferreri anos antes
não sem adaptações que tornam
o filme mais próximo do universo do cineasta
italiano do que do escritor americano , que seria
a adaptação "falsa". Mas é
também possível dizer que a diferença
entre os filmes é a diferente grandeza dos cineastas,
e nesse caso naturalmente Ferreri toma a ponta. Por
fim, é possível ver os filmes pelo que
são e pelo que propõem ser, e evitar essas
querelas sobre autenticidade que francamente enchem
o saco às vezes. O filme passa às 22:00
no Telecine Cult.
Dia 08
Continuação de O Diário da Princesa
na HBO ou a continuação de O Nome do
Jogo no Telecine Premium? Gary Marshall ou F. Gary
Gray? Se você prefere votar nulo, há sempre
a opção de esperar mais um pouco e assistir
à versão dos diretores de Gosto de Sangue
(Blood Simple, 1984), primeiro longa-metragem de Joel
e Ethan Coen, e uma espécie de breviário
de tudo que eles viriam afazer em suas carreiras, tanto
nos méritos quanto nas deficiências. Desde
o começo, sente-se que o que mais interessa a
esses cineastas é o mecanismo, uma lógica
superior (a mão dos diretores equivalendo à
mão impiedosa e cruel de deus) que desaba sobre
os destinos dos personagens, meras existências
derrisórias com sonhos de papelão. Quando
o mecanismo está azeitado, dá em belas
empreitadas como Ajuste de Contas e Barton
Fink. Quando não, eles parecem se deixar
envolver no mesmo aquário em que enfiaram seus
personagens, caindo num vazio tão risível
quanto os anseios de seus personagens. Às vezes
dá a impressão de que eles herdam, de
alguma forma, o cinema cerebral de Kubrick mas não
sabem muito bem o que fazer com ele a não ser
dar umas boas risadas às expensas do resto do
mundo. Mas às vezes eles acertam. Gosto de Sangue,
versão dos diretores, mais coeso e mais cínico,
passa à meia-noite de sábado para domingo.
Antes disso, à tarde, o Canal Brasil passa às
17:35 o especial Retratos Brasileiros dedicado à
atriz Betty Faria e acerta na mosca ao exibir, em seguida,
às 18:00, o belo Romance da Empregada
(1987), de Bruno Barreto (sim, ele já soube fazer
filme bom). Betty Faria não fez uma grande quantidade
de filmes, mas conseguiu emplacar diversos personagens
fortes, como em A Estrela Sobe, Bye Bye Brazil,
Lili, a Estrela do Crime, Anjos do Arrabalde
e, mais recentemente, o grande Bens Confiscados.
Dia 09
Um Só Pecado (La Peau douce, 1964)
é um dos menos lembrados filmes de François
Truffaut, talvez por não apresentar tanta ternura,
talvez por ser um filme mais diretamente influenciado
pela decupagem hitchcockiana (as entrevistas para o
famoso livro Hitchcock-Truffaut começaram antes
das filmagens e fizeram com que o cineasta de Os
Incompreendidos quisesse testar outras formas de
fazer cinema). Rechaçado no Festival de Cannes,
onde participou da competição oficial,
e rechaçado nas telas parisienses, o filme teve
grande acolhida apenas em países escandinavos,
como a Dinamarca e a Finlândia, onde foi um dos
filmes mais vistos do ano. Além do talento de
Truffaut, o filme ainda conta com a atuação
e a beleza exuberante de Françoise Dorléac,
irmã mais velha de Catherine Deneuve, morta tragicamente
aos 25 anos num acidente automobilístico. O filme
passa no Telecine Cult às 22:00.
Dia 10
Semana esquisita essa, concentrando a maior parte dos
destaques para um único dia, e deixando outros
dias inteiramente despidos de atrações.
Como, por exemplo, essa segunda-feira de ressaca de
Copa do Mundo, em que os canais de que mais se espera
não fornecem nada de muito interessante, e resta
ao Universal Channel exibir Dominados pelo Desejo
(After Dark, My Sweet, 1990), filme de James
Foley adaptado de um romance de Jim Thompson, e exemplo
de um certo renascimento do cinema noir do qual participam
na década de 90 filmes como Los Angeles
Cidade Proibida, Estrada Perdida e Os
Imorais. Se Foley nunca teve uma obra sólida
e consistente a ponto de se fazer um caso mais sério
sobre sua visão artística, ao menos parece
unânime reconhecer-lhe um talento inequívoco
do artesanato, com alguns momentos altos que possivelmente
superam a mera curiosidade. Dominados pelo Desejo
encanta desde críticos de gostos mais convencionais
como Roger Ebert até outros com preferências
mais ousadas, como Bill Krohn (que acaba de ter seu
livro sobre Buñuel lançado no país
pela Taschen). Quanto a nós, podemos conferi-lo
às 23:00, no Universal Channel.
Dia 11
George Pan Cosmatos é um desses nomes que vários
fãs de cinema já leram diversas vezes,
e imagina-se um cineasta de longa carreira. Curiosamente,
GPC realizou apenas dez filmes, e ficou famoso por dois
veículos para Sylvester Stallone em sua fase
"herói violento": Rambo II e
Stallone Cobra. Nascido na Itália, de
origem grega, Cosmatos foi assistente de Preminger em
Exodus, trabalhou em Zorba o Grego de
Cacoyannis e começou a dirigir em 1970. A
Travessia de Cassandra (The Cassandra Crossing,
1976) é seu terceiro longa-metragem, e se não
dá para defender o interesse pelo filme às
custas do talento do diretor, se olharmos para o estelar
elenco a boca começa a salivar: Sophia Loren,
Richar Harris, Ava Gardner, Burt Lancaster, Lou Castel,
Martin Sheen, Ingrid Thulin, Alida Valli, Lee Strassberg
e até o controverso O.J. Simpson, jogador de
futebol americano processado em 1994 pelo assassinato
de sua mulher (e inocentado no ano seguinte). O filme
passa no Film & Arts às 20:00. Já
no A&M às 22:00 passa Superman
O Filme (Superman, 1978), primeira tentativa
de transplantar o sucesso do herói dos quadrinhos
para as telas. No momento em que está prestes
a entrar em cartaz uma nova versão da
qual, aliás, se anda falando muito bem ,
o A&M faz uma mini-retrospectiva, e nesta terça
exibe o primeiro da série, dirigido por Richard
Donner. Já no Canal Brasil, a sessão
É Tudo Verdade passa o filme Cineastas Brasileiros
César Lattes e José Leite Lopes
(2004), filme de José Mariani que surgiu como
uma novidade muito grande no cenário do documentário
nacional, sem muita tradição em retratar
figuras como pesquisadores e teóricos (conta-se
nos dedos as iniciativas desse tipo, como Joaquim Pedro
sobre Gilberto Freyre e Nelson Pereira dos Santos sobre
Sérgio Buarque de Hollanda). Inicialmente exibido
na TVE, sem lançamento fora do circuito comercial
e sem maior destaque nos festivais de documentário,
o filme pede para ser descoberto por um número
maior de espectadores interessados. O filme passa às
22:35.
Dia 12
Trocam-se os Richards. Sai Donner, entra Lester, e o
A&M exibe Superman II A Aventura Continua
(Superman II, 1980) às 22:00. É
isso.
Dia 13
O A&M continua com a saga do Super-Homem exibindo
Superman III (idem, 1983), filme também
dirigido por Richard Donner, às 22:00. Já
a sessão Brasil Cult, destinada a exibir filmes
mais ousados na programação do Canal Brasil,
exibe às 22:35 o filme O Homem de Papel
(1975), policial de Carlos Coimbra rodado em Fortaleza.
Mas os destaques do dia são mesmo outros. Inicialmente,
o documentário Edgar G. Ulmer The Man
Off-Screen (idem, 2004), que passa às 21:00
na HBO e chama a atenção para um cineasta
cada vez menos conhecido pelos admiradores do cinema,
mas que é uma figura ímpar por sua trajetória,
por fazer muito (cinema) com muito pouco (dinheiro),
mas sobretudo por sua criatividade. O filme conta com
depoimentos de cineastas como Joe Dante, john Landis,
Roger Corman, Wim Wenders e Peter Bogdanovich, entre
outros. Antes disso, no Telecine Cult, temos a grande
atração da semana: A Marcha Nupcial
(The Wedding March, 1928), de Erich von Stroheim.
Rara aparição de filme silencioso entre
os canais da tv a cabo desde que, no começo do
ano, a DirecTV parou de transmitir o já saudoso
canal RetrôTV. Stroheim é uma das maiores
figuras do cinema mudo, autor de obras-primas como Maridos
Cegos, Esposas Ingênuas, Queen Kelly
e Ouro e Maldição. Como sempre
em se tratando de Stroheim, as proporções
megalômanas das obras (em termos de duração
dos filmes, principalmente) acabavam causando brigas
com os produtores, e com A Marcha Nupcial não
foi diferente. O projeto foi dividido em dois, cabendo
o nome original do projeto apenas ao primeiro filme.
O segundo, intitulado The Honeymoon e lançado
no mesmo ano, queimou num incêndio na década
de 50 e hoje é considerado perdido. Mas A
Marcha Nupcial está aí, belo, restaurado
e pronto para ser visto no Telecine Cult às 19:55.
Em seguida, no mesmo canal, teremos Cinderela em
Paris (Funny Face, 1958), belo filme de Stanley
Donen com Fred Astaire e Audrey Hepburn, obra que faz
um uso extravagante e delicioso da cor, usando e abusando
dos clichês sobre moda, intelectualidade e cultura
francesa, mas de uma maneira tão leve e doce
que essas pequenas complicações assumem
caráter irrelevante. O filme passa às
22:00. Ufa! E tudo isso num dia só, enquanto
há tantos em que não tem nada...
Dia 14
Momento de consolidação da carreira de
Ettore Scola, Casanova e a Revolução
(La Nuit de Varennes, 1982)
é um filme de produção francesa,
conta com um elenco estelar (Marcello Mastroianni, Jean-Louis
Barrault, Hanna Schygulla, Harvey Keitel, Andréa
Ferreol, Laura Betti, entre outros) e tem uma produção
bastante mais onerosa que seus filmes anteriores. Até
aí, nada demais, não fosse essa época
também o momento em que seus filmes começam
a trabalhar na fórmula fácil da abstração
e da alegoria (O Terraço, O Baile),
em que um espaço físico criava um microuniverso
que reproduzia as tensões e os jogos de papéis
do mundo político macro. Se nos anos 80
Scola era considerado um dos maiores diretores daquele
momento (pelo menos a se julgar pela recepção
que seu cinema tinha no Brasil), hoje é mister
rever essa idéia e admitir que seu cinema envelheceu
impiedosamente. Casanova e a Revolução,
por seu caráter diferenciado de país,
estatura de produção e momento limítrofe,
vale a pena ser revisitado para nova avaliação,
e passa no Telecine Cult às 19:50. Outro filme
dos anos 80, mas de destino bastante diferente, é
Além da Paixão (1984), filme de
Bruno Barreto que é possivelmente o mais invisível
de sua carreira. Nele, Regina Duarte é uma dona-de-casa
burguesa que se apaixona por um jovem bissexual envolvido
num mundo de drogas e promiscuidade. O filme passa no
Canal Brasil às 20:00.
Dia 15
Andrew Niccol e seu Senhor das Armas (The
Lord of War, 2005) no Telecine Premium ou Oliver
Stone e seu Alexandre (idem, 2004) na HBO? Embora
seja possível defender Gattaca, primeiro
filme do neo-zelandês Niccol, não há
muita coisa aceitável em Senhor da Guerra
além das boas intenções em
traçar um panorama do tráfico internacional
de armas e como ele conta com carta branca de poderosas
autoridades do mundo inteiro, inclusive americanas.
Mas, em termos dramáticos e expressivos, o filme
está mais próximo de um moralismo embrulha-estômago
à mode de Crash No Limite do que
de uma tentativa mais séria ainda que
bm-sucedida apenas em parte de ficção
global como é o caso de Syriana. Em todo
caso, vale muito mais a pena ficar com Cidade dos Sonhos
(Mulholland Dr., 2001), longa-metragem mais recente
de David Lynch até agora, e grande motivo de
diversas discussões em mesas de bar e teses de
mestrado sobre a natureza do que se viu, de com o filme
acaba, etc. Poucas vezes um filme acedeu tão
rápido à categoria de clássico,
e no caso é merecido: tudo que é deslumbramento
gratuito é também um misticismo complexo
no poder da imagem, tudo que é joguete de roteiro
é também um mergulho profundo em nossos
pressupostos como espectadores de "filmes de mistério".
Lynch sabe jogar o jogo dos espertinhos, mas ele é
muito mais que isso: trata-se de um autêntico
cineasta. Enquanto esperamos ansiosamente por Inland
Empire, que deve estrear no Festival de Veneza em
setembro, podemos assistir e reassistir a Mulholland
Dr., que estréia na programação
do Telecine Cult à meia-noite de sábado
para domingo.
Dia 16
Já que falávamos de Luis Puenzo na semana
anterior, com A História Oficial, desta
vez teremos exibido pelo Cinemax às 22:00 seu
filme mais recente, A Prostituta e a Baleia (La
puta y la ballena, 2004), co-produção
argentino-espanhola, estrelado por uma das mulheres
mais deslumbrantes do cinema contemporâneo: Aitana
Sánchez-Gijón. Mas o real destaque do
dia é Beijos Proibidos (Baisers volés,
1968), terceiro volume da pentalogia de Antoine Doinel,
seguindo-se ao média-metragem Antoine e Colette,
presente no filme em episódios O Amor aos
20 Anos. Filmado entre as barricadas em defesa de
Henri Langlois, que havia sido retirado da diretoria
da Cinemateca Francesa, e os acontecimentos de Maio
de 1968, o filme parece seguir esses acontecimentos
apenas pela televisão (como de fato aparece em
algumas cenas do filme), enquanto se fixa na vida emocional
e alienada de seus personagens em suas buscas sentimentais.
Principalmente Doinel, que aqui se vê entre o
amor de Claude Jade, sua namorada, e Delphine Seyrig,
mulher do patrão, além de uma prostituta
ou duas. Possivelmente o filme mais terno de Truffaut,
ele consegue atribuir uma sensibilidade e um andamento
ao filme que são todos próprios, ainda
que o filme não se descole muito dos princípios
de armação do cinema ficcional mais costumeiro.
Mas basta vê-lo em comparação com
um filme com Gangsters de Casaca (Mélodie
en sous-sol, 1963), filme de Henri Verneuil com
Jean Gabin e Alain Delon que a TV5 passa às 20:25,
para que se perceba a diferença entre os filmes
e constate-se a pessoalidade do filme de Truffaut. Beijos
Proibidos passa às 22:00 no Telecine Cult.
Ruy Gardnier
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