O
último longa de Peyton Reed, Abaixo o Amor
(Down with Love, 2003), pautava-se num diálogo
com um outro modelo de produção. Um procedimento
curioso que buscava homenagear o modelo hollywoodiano
das décadas de 50 e 60, e seu desdobramento televisivo,
e que a própria recriação visual
era impregnada de criatividade e frescor. O resultado
foi um filme atípico, pois não era apenas
um remake ou um trabalho delimitado pelas fronteiras
de seu ponto de partida, era um filme original, sincero,
e sobretudo divertido.
Pouco provável que tenha sido intencional, mas
Separados pelo Casamento parece tentar algo similar,
mas com a sitcom. É simples: Separados
pelo Casamento é um filme sem estrutura,
uma colagem de sitcom mal resolvida. As situações
clichês funcionam, arrancam risadas. Mas a seqüência
seguinte é mais um capítulo de sitcom,
e que, pela lógica interna, exigem uma constância
de seus personagens. Em termos de comédia esta
inconstância funciona, como se vê pelos
coadjuvantes, mas o filme não se pretende apenas
isto. Este é o olhar otimista. Exaltando o filme
pelo seu ponto forte - que é o cômico -
ofusca um pouco da falta de controle sobre as construções
dramáticas do filme. Porém, Separados
pelo Casamento se propõe a um fio narrativo,
a uma trama tradicional. Mas cuja falta de desenvolvimento
dos personagens principais resulta em sua estagnação,
deixando-nos continuamente confrontados com novas situações,
mas sempre dentro da mesmice. Não há novidades
nem para nós, nem para os personagens. O filme
apenas vaga, até o ponto de exaustão em
que nem a comicidade consegue manter o ritmo ou nosso
interesse.
A tag-line promocional do filme exalta: "Pick
a Side", algo que poderia ser traduzido como "De que
lado você fica?". Dentro do universo de filmes
de casais, das comedias românticas, das screwball
comedies, dos dramalhões, Separados pelo
Casamento realmente começa com um bom trunfo.
As primeiras brigas do casal consegue nos manter numa
certa instabilidade positiva de não saber apontar
quem está certo e quem está errado no
conflito. São duas pessoas distintas, com suas
próprias preocupações e desejos,
e apesar de incompativéis, apresentam sua carga
de razão. O filme mantém-se imparcial.
Mas os personagens são tão fixos que a
briga nunca terminará, e para definir seu fim
o filme sacrificará este seu ponto mais forte.
Arbitrariamente. Gary Grobowski (Vince Vaughn) será
como que sacudido por seu amigo, que abrirá seu
olho perante a situação. Simples assim,
desafiando anos de construção dramática
e cinemática, a plot point do filme será
dado direta e abertamente no diálogo, e novas
problematizações o permitirão seguir
seu caminho regenerador.
Se Abaixo o Amor brincava e criava com o estabelecido,
Separados pelo Casamento incorpora e vive nele.
O filme morre sem personalidade, sem coesão,
sem estrutura. Uma colagem de situações
padrões, para apenas veicular a boa atuação
de Vaughn e de seus coadjuvantes, mas sem força
alguma para nos entreter durante 105 minutos. Quem sabe
se fosse apenas meia hora.
Lucas Barbi
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