De
Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu até os dias
de hoje, os filmes de David Zucker foram perdendo o
que tinham de melhor: a arbitrariedade meio onírica/meio
cartunista da montagem, a inventividade de movimentos
de câmera que eram comentários cômicos em si mesmos,
a irreverência de transformar tudo que está no espaço-fora-da-tela
em nada mais que uma piada esperando sua vez na fila...
Sem falar na capacidade de servir de termômetro cômico
dos blockbusters de verão, acusando os seus excessos,
não tendo dó dos momentos em que eles haviam se exposto
ao ridículo. O modelo de comédia de Zucker assimila
das novas tendências apenas o mínimo para sua sobrevivência.
É ele mesmo o mestre da maioria dos seus truques – as
explosões de espaço-tempo, por exemplo, não se devem
a nenhum tipo de efeito-McG. Passadas mais de duas décadas,
porém, a paródia cinematográfica que Zucker realiza
ano sim, ano não esqueceu de se reinventar. Assistir
a Todo Mundo em Pânico 4 é acompanhar uma mesma
fórmula sendo submetida a novo teste de esforço.
Apesar da curta duração do filme, o teste a certa altura
reprova essa fórmula abandonada aos próprios excessos.
O que muda de um Todo Mundo em Pânico para outro
são apenas os filmes-alvos das piadas (além da escatologia
que sempre aumenta um grau em relação ao filme anterior).
Agora, portanto, é a vez de A Vila, Guerra
dos Mundos, O Chamado 2, O Grito...
E a verdade é que os momentos engraçados existem – em
todos os filmes da série, devo dizer. Só não nos levam
para nenhum lugar além daquele que um programa de esquetes
televisivo também poderia oferecer (esse, aliás, sempre
foi o maior risco corrido pelo humor ao estilo Saturday
Night Live, isso desde Kentucky Fried Movie,
de John Landis).
Duas seqüências, contudo, colocam o filme num patamar
acima do desprezível. A primeira é com Leslie Nielsen,
encarregado de interpretar o presidente dos EUA, discursando
nu para uma platéia de membros das Nações Unidas escandalizada,
cena que convence mesmo não chegando no nível do antológico
discurso que o mesmo Nielsen profere quase ao final
de Corra que a Polícia Vem Aí 2½. A outra é a
seqüência que encerra Todo Mundo em Pânico 4,
quando o mocinho do filme está sendo entrevistado por
Oprah e começa a aloprar dentro da mais desvairada noção
de comédia física. As mise en scènes de um discurso
político da era Bush e de um típico programa de auditório
norte-americano possuem o mesmo aspecto de zoológico
que o filme lá no início havia prenunciado (a caixa
cai do guindaste e se abre: os macacos estão à solta).
Enquanto a América souber rir de si mesma, Zucker terá
sempre um lugar ao sol.
Luiz Carlos Oliveira Jr.
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