TODO MUNDO EM PÂNICO 4
David Zucker, Scary Movie 4, EUA, 2006

De Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu até os dias de hoje, os filmes de David Zucker foram perdendo o que tinham de melhor: a arbitrariedade meio onírica/meio cartunista da montagem, a inventividade de movimentos de câmera que eram comentários cômicos em si mesmos, a irreverência de transformar tudo que está no espaço-fora-da-tela em nada mais que uma piada esperando sua vez na fila... Sem falar na capacidade de servir de termômetro cômico dos blockbusters de verão, acusando os seus excessos, não tendo dó dos momentos em que eles haviam se exposto ao ridículo. O modelo de comédia de Zucker assimila das novas tendências apenas o mínimo para sua sobrevivência. É ele mesmo o mestre da maioria dos seus truques – as explosões de espaço-tempo, por exemplo, não se devem a nenhum tipo de efeito-McG. Passadas mais de duas décadas, porém, a paródia cinematográfica que Zucker realiza ano sim, ano não esqueceu de se reinventar. Assistir a Todo Mundo em Pânico 4 é acompanhar uma mesma fórmula sendo submetida a novo teste de esforço.

Apesar da curta duração do filme, o teste a certa altura reprova essa fórmula abandonada aos próprios excessos. O que muda de um Todo Mundo em Pânico para outro são apenas os filmes-alvos das piadas (além da escatologia que sempre aumenta um grau em relação ao filme anterior). Agora, portanto, é a vez de A Vila, Guerra dos Mundos, O Chamado 2, O Grito... E a verdade é que os momentos engraçados existem – em todos os filmes da série, devo dizer. Só não nos levam para nenhum lugar além daquele que um programa de esquetes televisivo também poderia oferecer (esse, aliás, sempre foi o maior risco corrido pelo humor ao estilo Saturday Night Live, isso desde Kentucky Fried Movie, de John Landis).

Duas seqüências, contudo, colocam o filme num patamar acima do desprezível. A primeira é com Leslie Nielsen, encarregado de interpretar o presidente dos EUA, discursando nu para uma platéia de membros das Nações Unidas escandalizada, cena que convence mesmo não chegando no nível do antológico discurso que o mesmo Nielsen profere quase ao final de Corra que a Polícia Vem Aí 2½. A outra é a seqüência que encerra Todo Mundo em Pânico 4, quando o mocinho do filme está sendo entrevistado por Oprah e começa a aloprar dentro da mais desvairada noção de comédia física. As mise en scènes de um discurso político da era Bush e de um típico programa de auditório norte-americano possuem o mesmo aspecto de zoológico que o filme lá no início havia prenunciado (a caixa cai do guindaste e se abre: os macacos estão à solta). Enquanto a América souber rir de si mesma, Zucker terá sempre um lugar ao sol.


Luiz Carlos Oliveira Jr.