Warner
Channel: quartas, às 20h (2ª temporada),
com reprises às 13h e à 01h de quinta-feira
e 20h de domingo.
SBT: domingos, variável às 10h, 11h, 12h
(1ª temporada)
Tanto admiradores quanto detratores concordam com dois
principais aspectos de The O.C.: é uma
mistura equilibrada de Melrose Place com Dawson's
Creek, e é também a série mais
mal atuada de todos os tempos. Série ao
mesmo tempo cult entre os alternativos graças,
entre outras coisas, aos grupos indie que aparecem
na trilha sonora ou fazem participações,
como The Walkmen e Modest Mouse e sucesso para
o público geral que assiste ao Warner Channel,
The O.C. se sustenta numa esquizofrênica
balança entre o exploit mais descarado (tendência
objetiva) e a elucidação íntima
dos personagens (tendência subjetiva). Não
custa dizer, a balança pende para o lado objetivo:
existe um miserabilismo descompromissado, detached,
que faz com que os personagens tenham que passar pelas
maiores agruras apenas para o olhar ávido do
espectador que os devora.
Tudo começa com a chegada de Ryan Atwood no seio
de The O.C. ou Orange Country, um bolsão multimilionário
da Califórnia rodeado de realidade por todos
os lados. A premissa da série é mostrar
o lado B do paraíso: os milionários são
falidos, as famílias perfeitas são desestruturadas,
a menina mais bonita não é a mais feliz
nem a mais realizada sentimentalmente, etc. Ryan vem
de Chino, uma cidade pobre não muito longe do
"condado laranja", e que por diversos motivos
e peripécias do destino acaba ganhando abrigo
na casa dos Cohen graças aos esforços
do filho Seth que, da mesma idade, vê em Ryan
seu possível primeiro amigo. Adicione uma menina
linda, Marissa, e seus pais presepeiros à beira
do divórcio, uma menina para servir de par para
Seth Summer e uns personagens secundários
Theresa, Caleb, Luke , a receita está
pronta. E como numa receita tudo se mistura, todo mundo
tem relações com todo mundo. E nem sempre
as mais louváveis.
Criada por Josh Schwartz, que atingiu o estrelato das
séries antes de completar 30 anos, The O.C.
não apresenta nada de muito original em sua proposta
ou em sua realização. Uma única
idéia, talvez: fazer um folhetim trash dando
aos ricaços de Newport o tratamento que se daria
ao mais trash dos condados white trash americanos. Mas
Schwartz não é Verhoeven nem Aldrich:
ele ainda precisa dos belos céus de entardecer,
das mansões, do alto poder aquisitivo, das diversas
festas que parecem acontecer diariamente, dos carrões
e de todo estilo de vida que isso implica. O pressuposto
de luta de classes também não se resolve:
Ryan não é o pobre que ao entrar no mundo
dos ricos começa a vê-lo colocar-se nu,
mas alguém que tenta se adequar, reconhecendo
mais suas próprias patologias do que vendo as
dos outros. O próprio Ryan, talvez por ser interpretado
por um Ben McKenzie completamente anódino, deixa
progressivamente de ser o personagem principal e vira
apenas mais um entre o time de protagonistas.
A regra na série é menos a questão
social do que a confortável contemplação
da classe alta vivendo a laia de escândalo após
escândalo: Jimmy é um especulador financeiro
falido, sua esposa Julie é uma completa alpinista
social, o pai de Luke esconde há décadas
seu homossexualismo para manter a fantasia de uma família
perfeita, Marissa vira uma alcoólatra, Seth abandona
a casa da família, Julie tem um caso com o ex-namorado
da filha, mas vai se casar com o avó de Seth,
Caleb, avô este que é apresentado à
série com a namoradinha Gabrielle, que episódios
depois vai entrar em relações carnais
com Ryan. E assim por diante. Caindo pra Melrose.
Mas, em compensação, há os diálogos
entre as crianças, Marissa dizendo a Ryan como
tudo é complicado, Seth descobrindo com Ryan
que o mundo é mais do que videogames,
Ryan em seus dilemas de se adequar à nova realidade
do condado rico, saber se tem ou nãoo filho com
Theresa. Ou os adultos: Sandy que não sabe se
o trabalho está tomando sua alma, Kirsten que
vive às voltas com o fantasma paterno na sua
vida, Jimmy que tenta se reestruturar financeira e emocionalmente
depois do débâcle familiar e profissional.
Caindo pra Dawson's Creek. No final, apenas a
impressão de que alguma coisa cheira mal no reino
dos ricos e famosos do Orange County, mas acompanhar
a evolução de todas aquelas vidas e escândalo
não vale tanto a pena assim.
Ruy Gardnier
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