Se nenhuma leitura substitui
a experiência de se apreender os filmes por suas imagens
e sons, análises sobre as evidências na tela podem expandir
os sentidos, valorizar detalhes passados em branco e
criar um paralelo entre a obra como a vemos e a metodologia
de seu autor. Não é por outra razão que dois livros
recém-editados, paralelamente à retrospectiva parcial
organizada pela 28 Mostra BR de Cinema de São Paulo,
amplificam os detalhes e o programa estético de Abbas
Kiarostami.
Abbas Kiarostami
(Cosac & Naify) é divido em várias linhas de frente.
Além de fotografias do cineasta, há um ensaio do crítico
franco-iraniano Youssef Ishaghpour, seguido de um ensaio
sobre este seu ensaio (de Stella Senra), depois por
um depoimento do próprio Abbas Kiarostami. Encerram
o volume uma seleção de poemas do cineasta e sua crônica
“Uma Boa Boa Cidadã”, escrita durante a passagem de
Kiarostami por São Paulo em 1994 e editada originalmente
na revista iraniana Film (no Brasil, já havia sido publicado
pelo suplemento Mais, da Folha de S. Paulo, edição de
11 de janeiro de 1998).
Já Caminhos de
Kiarostami (Companhia das Letras) é um ensaio do
crítico Jean-Claude Bernadet sobre a relação entre os
filmes, os dispositivos e as declarações do diretor,
no qual o autor especula hipóteses de entendimento da
obra não sem erguer interrogações sobre essa obra e
sobre a própria análise. A leitura dos dois livros aponta
para duas formas de aproximação, que, antes de serem
próximas ou se antagonizarem, complementam-se uma à
outra por conta sobretudo de pontos divergentes.
Abbas
Kiarostami, de Youssef Ishaghpour
Caminhos
de Kiarostami, de Jean-Claude Bernardet
Cléber Eduardo
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