Vamos
aceitar de frente a acusação de machismo-chauvinismo
logo de início, OK? Nenhum filme que tem Ludivine
Sagnier desfilando de biquíni por boa parte de
sua duração (e em outra parte, com menos
do que isso) pode ser completamente descartado. Mas,
fora da dica aos apreciadores, a constatação
inicial é absolutamente importante por um simples
motivo: Ozon sabe bem disso, tanto que todo o marketing
do filme é voltado em torno desta imagem. E,
em se tratando dele, sabemos também que tal utilização
acintosa não vai passar sem uma boa esculhambada
pelo filme, pelo menos no que se refere a brincadeiras
de estilo e linguagem em torno da imagem da "lolita-fatale"
que Sagnier constrói aqui. Sagnier que, aliás,
é também uma boa atriz, o que não
passa desapercebido pelo diretor, que faz da oposição
de sua persona à de Charlotte Rampling o motor
que mantém Swimming pool em movimento.
O único problema de toda essa brincadeira é
que Ozon não consegue em momento nenhum tirar
seu filme desta categoria de bibelô cinematográfico.
Problema, aliás, que já se insinuava em
Oito mulheres, aonde pelo menos o tratamento
da linguagem do cinema pelo diretor, em sua brincadeira
de gêneros (mistura o suspense à la Agatha
Christie com o musical, naquele caso), era cheio de
frescor e empolgação. Aqui, Ozon parece
se divertir ainda, mas consideravelmente menos. Seu
jogo (cuja chave está numa das primeiras frases
ditas pela personagem principal, interpretada por Ramling,
"Eu não sou a pessoa que você pensa
que eu seja") tem eventuais momentos de vitalidade,
e sempre muito clima, pelo domínio narrativo
e de linguagem que já sabemos que Ozon esbanja.
Mas, uma vez entendido seu funcionamento, seu jogo de
identidades e de clichês na mistura de realidade
e ficção, etc, sobra bem pouco que realmente
fique. Ozon precisa com urgência encontrar assuntos
que o movam por algo mais do que o simples exercício
formal, sob risco de perder a poua relevância
que sua obra ainda carrega.
Eduardo Valente
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