GAROTAS, GRITOS E MÚSICA
Chus Gutierrez, El Calentito, Espanha, 2005

Evocação da chamada "movida madrilenha", momento no início da década de 80 quando, respirando ares de liberdade após décadas de ditadura franquista, os jovens espanhóis se atiraram em intensa vida noturna.

Sara, uma garota de família tradicional e repressora, após ser rechaçada pelo namorado em um bar - o Calentito do título original - toma um porre e se junta a uma banda pós-punk composta por outras garotas, conhecendo assim um novo mundo e enfrentando o momento da tão desejada perda da virgindade. O filme centra seu foco temático em uma busca pela liberdade, não só a de Sara frente a sua família, mas também da liberdade de expressão pela banda, prestes a ser contratada por uma gravadora, e também pela liberalização da sociedade espanhola, utilizando-se do pano de fundo verídico de uma tentativa de golpe militar.

Visto assim pode parecer um pouco sério demais. Só que a cineasta opta por uma abordagem bastante próxima das comédias adolescentes de Hollywood, preservando uma série de clichês do gênero e aproveitando um clima nostálgico de evocação da época. Não falta uma homenagem a Pedro Almodóvar, figura de proa no cenário da "movida", com a inclusão de imagens do seu filme Labirinto de Paixões.

A direção de Chus Gutiérrez, no entanto, aproxima-se mais do clima de indigência apregoado pela letra de uma das canções da banda: “Dançamos tão mal, cantamos pior que mal!”. Apesar, ou mesmo por causa disso, o filme guarda um certo encanto naif que pode ajudar a pegar pelo pé espectadores dispostos a embarcar na sua onda, divertindo-se com seu clima de Sessão da Tarde. E fazer de O Inferninho um candidato em potencial a “cult-boboca”.

Gilberto Silva Jr.