ARTIGOS
Quando os canarinhos
se pintam de vermelho
(sobre o Grande Prêmio Brasil de Fórmula-1)
por Raphael Mesquita (25/10/2006)
FILMES DA SEMANA
(18 A 24 DE DEZEMBRO DE 2006)
Dia 18
Se existe um Papai Noel dos cinéfilos que acompanham
a programação da tv a cabo, nós
não fomos boas crianças. Não só
o ano foi afetado por uma sensível queda de interesse
e diversidade das ofertas de filmes. A penúltima
semana do ano não segue lá um curso muito
diferente, apresenta mesmo uma seleção
francamente menos interessante do que de costume. Mas
vamos lá que período de festas é
sempre um momento propício para exercitar a tolerância
e se contentar com as bobagens que nossas programadoras
insistem em passar. Nessa segunda, até sobrou
um espacinho bem lá de madrugada para opções
não muito batidas e verdadeiramente dignas de
interesse. Às quatro da manhã o Canal
Brasil passa um raro curta-metragem de Sergio Santeiro
(dos belos Humor Amargo e Ismail Nery),
Indústria do Solúvel (1971), sobre
café, e em seguida, às 4:30, passa O Pornógrafo
(1970), único longa-metragem de João Callegaro,
belo e pouquíssimo conhecido filme da facção
paulista do cinema marginal, companheirismo com Antonio
Lima, Jairo Ferreira e Carlos Reichenbach circulando
pela Boca do Lixo propondo cinema ágil, entrando
no coração do mau gosto e do cinema de
gênero para dali extrair suas peças finas,
raras e rudes. É tarde mas vale ver. Ou gravar.
Dia 19
Dois filmes independentes americanos que tiveram uma
certa repercussão boa na crítica internacional
e chegaram a entrar por aqui em circuitinho e festivais,
Pacto Maldito (Mean Creek, de Aaron Jacob
Estes) e Prova de Amor (All the Real Girls,
de David Gordon Green) passam respectivamente no Telecine
Premium e no Cinemax, às 23:40 e 20:00. Boa oportunidade
para se familiarizar com o cinema de dois realizadores
algo talentosos, elogiados, que não estão
no primeiro escalão dos fazedores de imagens
contenporâneos mas ainda assim são bem
dignos de atenção. Mas o destaque verdadeiro
do dia vem novamente do Canal Brasil, às 23:40,
com a reprise bem vinda de Talento Demais (1995),
de Edgard Navarro, pegando carona na ótima recepção
que o lindo Eu Me Lembro teve entre o público
dito especializado. Antes disso, às 20:00, passa
Manual de Barros (2006), filme de uma hora do
incansável Joel Pizzini, que quando a gente vê
já tem quinze novos filmes e a gente sempre tenta
se atualizar da melhor maneira. Como o título
sugere, o filme é uma entrada lúdica no
universo de Manoel de Barros.
Dia 20
Aproveitando que o belo Mundo Novo de Emanuele
Crialese acaba de passar numa mostra de filmes italianos
exibidos esse ano em Veneza, que tal aproveitar uma
ocasião para ver seu filme imediatamente anterior,
o exuberante Respiro (2004)? Entrevistamos Crialese
aqui
sobre esse filme, e se de certa forma Mundo Novo
persegue um outro caminho, outros climas, outras
atmosferas, as rusgas entre um universo originário,
"primitivo", fulgurante, e a desafecção
do mundo racionalizado, normal, que inscreve cada um
em seus lugares já assinalados aí permanecem.
Filme de uma sensualidade forte, de uma presença
física da paisagem e da protagonista, interpretada
por Valeria Golino, Respiro faz muito pensar
em Cassavetes e Gena Rowlands. O filme passa no Telecine
Cult, cultíssimo, ahan, sei, às 22:00.
Dia 21
Tentamos, tentamos, mas foi realmente impossível
recomendar algo que fugisse um pouquinho às coisas
mais óbvias ou àquilo que já recomendamos
aqui mesmo nesta seção. Tem Cassi Jones
no Canal Brasil. Já recomendamos ele aqui, provavelmente
mais de uma vez até. Não é top
de linha, mas é dirigido por Luís Sérgio
person e protagonizado por Paulo José. As credenciais
contam.
Dia 22
E não é que o Telecine Cult de vez em
quando nos surpreende e realmente passa filmes que são
ao mesmo tempo de difícil acesso, interessantes
e que fazem jus ao nome do canal? Às 22:00, o
TCC passa Procura Insaciável (Taking
Off, 1971), primeiro longe-metragem americano de
Milos Forman, depois de três longas extremamente
elogiados na Tchecoslováquia, inscrevendo o país
no surto de renovação de linguagem dos
novos cinemas dos anos 60, como bem se sabe. Não
é estréia, já recomendamos antes,
mas tá aí e vale a pena. Antes dele, no
mesmo canal, passa um filme que estava meio sumido desde
a época em que o Cult era Classic, O Homem
Que Quis Matar Hitler (Man Hunt, 1941), sexto
filme de Fritz Lang nos Estados Unidos, estrelado por
Walter Pidgeon. Quando se passa uma coisa dessas, tem
que prestigiar.
Dia 23
As estréias da véspera de véspera
de Natal são tão desanimadoras que não
vale a pena nem ficar listando o que entra na HBO ou
no Telecine Premium. O jeito é se contentar com
a exibição (não estréia)
do filme de Bruno Podalydès Le Mystère
de la chambre jaune (2003). Podalydès merece
atenção nem que seja pelo belo Só
Deus Sabe (Diel seul me voit, 1998), que
nunca entrou em cartaz mas passa de vez em quando nas
mostras organizadas com acervo da Maison de France.
Infelizmente, seus filmes mais recentes não têm
a mesma receptividade deste último, apesar de
serem admirados com algum entusiasmo. Vale a pena considerar.
Antes disso, cabe à Disney passar o filme mais
interessante com temática natalina da semana.
Trata-se de O Estranho Mundo de Jack (Tim
Burton's Nightmare Before Christmas, 1993), que
prefere o minoritário ao unanimista, a visão
parcial ao fascismo de grupo tão comuns nesses
momentos de criação forçada e meio
hipócrita de feelgood e generosidade.
O filme passa às 20:00, e quem não viu
tem que ver. Quem viu sabe que vale a pena rever.
Dia 24
Dia 24 é sempre aquele tédio televisivo.
Ai daqueles que precisam encontrar na tv um refúgio
aos papos familiares meio enfadonhos, porque tudo que
se vê é especial da Xuxa, missa do galo
e outros espetáculos de baixo calão. Como
no terreno dos filmes também não existe
nenhum porto seguro que seja garantia de excelente companhia,
recomendemos este O Expresso Polar (The Polar
Express, 2004), de Robert Zemeckis, que, apesar
da maior parte das reações ter sido negativa,
conseguiu adesão frente a alguns críticos
importantes lá fora, em especial Dave Kehr. Por
aqui não vimos, esnobando o realizador de Forrest
Gump... Será que deveríamos, ao contrário,
ter prestigiado o autor dos belos Back to the Future?
O filme passa na HBO Family às 21:00. Boas festas.
Ruy Gardnier
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