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Fim de um ano, começo
de outro... Época em que os balanços tornam-se
inevitáveis, os olhares para trás se unem às
visadas para o futuro, mede-se o que se ganhou e o que se
perdeu, o que se fez direito e o que restou a fazer, o que
funcionou ou não funcionou. Numa revista de cinema
não teria por que não acontecer o mesmo, tanto
dentro da redação quanto no panorama dos filmes
vistos. Naturalmente ao leitor interessa mais o segundo do
que o primeiro, e é a isso que nos iremos ater.
Toda época pós-festivais envolve muitas coisas.
Envolve, naturalmente, fazer o julgamento après
coup, ver que filmes se correlacionam com outros, observar
tendências, prospectar caminhos e também, claro,
falar das mostras às quais não foi dada muita
atenção no momento da cobertura diária.
Isso está coberto nessa edição. Mas no
fim dos festivais se lamenta sempre aquilo que (ainda) não
veio, aquilo que faltaram trazer dos principais festivais
internacionais, dos destaques de outros países, dos
filmes que estamparam capas e highlights de revistas
importantes e criteriosas mundo afora. Somado a isso, temos
um perfil de filme que raramente chega até nós
em festivais, mesmo que seja assinado por figuras decisivas
do cinema contemporâneo, talvez pela duração
mais ou menos inadequada para padrões de exibição
(a necessidade de "fechar sessões", como
se diz), talvez também pela cobrança de taxa
de exibição, prática inexistente em nossos
festivais, salvo raríssimos casos especiais.
Esse filme, que ultrapassa os quinze minutos e não
chega a uma hora e poucos, pode vir com assinaturas de peso,
como Michelangelo Antonioni, Jean-Luc Godard, Bertrand Bonello,
Danièle Huillet e Jean-Marie Straub, Jia Zhangke, e
ainda assim será difícil que eles consigam algum
tipo de exibição no país. Pior que isso:
em geral, no mundo todo, a crítica internacional parece
dar pouca ou nenhuma importância a esses filmes, e a
busca por fortunas críticas a respeito de alguns desses
filmes termina apenas com um ou dois textos ligeiros, incompatíveis
tanto com a envergadura das obras quanto com o respeito que
os cineastas merecem. Assim, começamos o ano fazendo
um apanhado de alguns dos médias-metragens e curtas
extensos mais importantes feitos nos últimos anos,
filmes que passaram em branco tanto do ponto de vista da exibição
(exceção feita ao filme de Straub/Huillet, exibido
heroicamente para meia-dúzia de pessoas no Recine do
Arquivo Nacional) mas acima de tudo do ponto de vista do pensamento
crítico, que é a tarefa que aqui nos move. São
filmes que, mesmo nada exibidos, mesmo mal conhecidos, fazem
parte do panorama mais vibrante da contemporaneidade cinematográfica.
E é sempre isso que nos pauta.
Mas a virada do ano não nos deu só alegrias.
Ela ocasionou, na verdade, algumas perdas sentidas. Algumas
delas, Robert Altman, Jece Valadão, já foram
devidamente cobertas em homenagens na sessão Plano
Geral no último mês. Mas talvez a mais inesperada
e dolorida, a de Danièle Huillet, ainda não
tivera o devido tributo. A capa então vem naturalmente:
uma das melhores novidades de 2006, a maturidade de Pedro
Costa com o deslumbrante Juventude em Marcha, encontra
o luto pela triste notícia do falecimento de Danièle
Huillet. Esta edição é dedicada a ela.
Mas como mudança de ano é ainda e sempre renascimento,
Contracampo desperta para 2007 com sua tradicional votação
de melhores do ano, público e redação
(já votaram?
O resultado sai em nossa próxima edição),
a retomada de nosso informativo (querem receber nossas atualizações
em seus e-mails? Cliquem aqui
para receberem nossos informativos; pedimos aos já
inscritos que por favor se reinscrevam) e, o mais importante,
a promessa de cobrir fiel e pontualmente nosso compromisso
com o cinema e, claro, com o leitor. Bom novo ano.
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