Weitz
vem construindo uma carreira bastante pessoal dentro
do cinema americano recente, vivendo sempre anonimamente,
como uma figura pouco reconhecida ou comentada, que
faz filmes no geral simples, sem nunca chamar atenção
demais para si. Mas seria um erro também considerá-lo
um artesão, visto que todos os seus filmes são em alguma
medida projetos pessoais, mesmo quando parte de trabalhos
alheios – não é o caso de um cineasta que trabalhe apenas
por contrato a algum estúdio (aliás, figura cada vez
mais em extinção na Hollywood atual). E é curioso perceber
a figura que ele representa hoje: não se trata de alguém
que repita os mesmos temas. Seus filmes são autorais,
possuem um tempo em comum; Weitz criou um estilo de
fazer comédia, um corte e tom que pertencem ao seu cinema.
Tudo pela Fama marca um passo em falso nesta
carreira segura que Weitz vinha desenvolvendo, cheia
de comédias de pequenos personagens. E comprova algumas
de suas limitações, que já surgiam em diversos momentos
de seus filmes anteriores. É a ambição desajeitada de
uma sátira tão radical que vai contra a sensibilidade
do cineasta. Os tipos extremos que desfilam em cena,
o apresentador sem limites, a aspirante a ídolo do pop
que faz qualquer coisa pela fama, os árabes afeminados,
o presidente americano que mais parece um robô, não
fazem parte daquilo que domina, pelo contrário. É um
filme arriscado, que busca uma sátira dos EUA, sem medo
de pisar fundo em diversos orgulhos americanos, que
mostra uma América muita mais interessada na versão
ficcionalizada de American Idol do que na sua política
de destruição em massa. Mas Weitz não tem timing para
um filme destes, para personagens overs, situações-limite
– ele simplesmente troca os pés pelas mãos sempre que
uma cena mais pesada é encenada.
O que American Dreamz aponta é um cineasta que,
embora seja um realizador de comédias, não tem qualquer
domínio sobre elas. O que fazia de O Céu Pode Esperar
ou Em Boa Companhia filmes fortes era que não
eram feitos com um olhar de um comediante, o timing
cômico sempre foi dos atores em seus filmes (Chris Rock,
Hugh Grant, Topher Grace) – o tom de seus filmes sempre
foi de algo mais ameno, mesmo quando trabalhando com
uma figura histriônica como Chris Rock. Aqui ele não
perde por completo a sua imagem, é plenamente reconhecível
a sua forma de estruturar a narrativa, seus altos e
baixos dos personagens, sua forma de filmar segue intacta.
Ela simplesmente não se encaixa no filme que ele realiza.
Para um filme ambicioso, falta um tanto de estrutura,
sua preguiça na construção do que encena retira do filme
boa parte de qualquer impacto político que sua trama
pudesse realmente conseguir causar. Um exemplo claro
é como traça a ida do namorado de Sally ao Iraque –
em três cenas ele se alista no exército, chega na guerra
e já é um veterano retornante. É claro que o escracho
é proposital, mas o filme nunca faz deste ritmo de comédia
alucinada um fato, como se temesse que assumi-lo pudesse
tirar algum valor do seu conteúdo. Os próprios atores
parecem perdidos dentro do que o filme deveria representar
– nunca parece certo até onde são caricaturas exageradas,
ou quando devem possuir uma vida. O único que não parece
alterar de registro é Dennis Quaid, mais seguro como
o decadente presidente, justamente o personagem mais
óbvio, cuja trajetória não tenta criar nada que não
pareça estabelecido já no primeiro plano que é mostrado.
O filme ameaça em diversos momentos despertar, é cheio
de falsos caminhos – por vezes parece até um elogio
do espetáculo desmedido, do circo que se arma em cena,
mas no fim revela que a amargura aqui é um sentimento
geral. O clímax – quando Hugh Grant coloca sua vida
em risco para filmar, ele mesmo, o ápice de seu espetáculo,
o namorado traído transformado em homem-bomba – perde
todo o apelo interessante que poderia com o epílogo
que se segue, reforçando apenas uma rasa crítica à mídia
americana, sem maiores vôos. Espero mais de Weitz.
Guilherme Martins
(DVD Universal)
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