TUDO PELA FAMA
Paul Weitz, American Dreamz, EUA, 2006

Weitz vem construindo uma carreira bastante pessoal dentro do cinema americano recente, vivendo sempre anonimamente, como uma figura pouco reconhecida ou comentada, que faz filmes no geral simples, sem nunca chamar atenção demais para si. Mas seria um erro também considerá-lo um artesão, visto que todos os seus filmes são em alguma medida projetos pessoais, mesmo quando parte de trabalhos alheios – não é o caso de um cineasta que trabalhe apenas por contrato a algum estúdio (aliás, figura cada vez mais em extinção na Hollywood atual). E é curioso perceber a figura que ele representa hoje: não se trata de alguém que repita os mesmos temas. Seus filmes são autorais, possuem um tempo em comum; Weitz criou um estilo de fazer comédia, um corte e tom que pertencem ao seu cinema.

Tudo pela Fama marca um passo em falso nesta carreira segura que Weitz vinha desenvolvendo, cheia de comédias de pequenos personagens. E comprova algumas de suas limitações, que já surgiam em diversos momentos de seus filmes anteriores. É a ambição desajeitada de uma sátira tão radical que vai contra a sensibilidade do cineasta. Os tipos extremos que desfilam em cena, o apresentador sem limites, a aspirante a ídolo do pop que faz qualquer coisa pela fama, os árabes afeminados, o presidente americano que mais parece um robô, não fazem parte daquilo que domina, pelo contrário. É um filme arriscado, que busca uma sátira dos EUA, sem medo de pisar fundo em diversos orgulhos americanos, que mostra uma América muita mais interessada na versão ficcionalizada de American Idol do que na sua política de destruição em massa. Mas Weitz não tem timing para um filme destes, para personagens overs, situações-limite – ele simplesmente troca os pés pelas mãos sempre que uma cena mais pesada é encenada.

O que American Dreamz aponta é um cineasta que, embora seja um realizador de comédias, não tem qualquer domínio sobre elas. O que fazia de O Céu Pode Esperar ou Em Boa Companhia filmes fortes era que não eram feitos com um olhar de um comediante, o timing cômico sempre foi dos atores em seus filmes (Chris Rock, Hugh Grant, Topher Grace) – o tom de seus filmes sempre foi de algo mais ameno, mesmo quando trabalhando com uma figura histriônica como Chris Rock. Aqui ele não perde por completo a sua imagem, é plenamente reconhecível a sua forma de estruturar a narrativa, seus altos e baixos dos personagens, sua forma de filmar segue intacta. Ela simplesmente não se encaixa no filme que ele realiza.

Para um filme ambicioso, falta um tanto de estrutura, sua preguiça na construção do que encena retira do filme boa parte de qualquer impacto político que sua trama pudesse realmente conseguir causar. Um exemplo claro é como traça a ida do namorado de Sally ao Iraque – em três cenas ele se alista no exército, chega na guerra e já é um veterano retornante. É claro que o escracho é proposital, mas o filme nunca faz deste ritmo de comédia alucinada um fato, como se temesse que assumi-lo pudesse tirar algum valor do seu conteúdo. Os próprios atores parecem perdidos dentro do que o filme deveria representar – nunca parece certo até onde são caricaturas exageradas, ou quando devem possuir uma vida. O único que não parece alterar de registro é Dennis Quaid, mais seguro como o decadente presidente, justamente o personagem mais óbvio, cuja trajetória não tenta criar nada que não pareça estabelecido já no primeiro plano que é mostrado. O filme ameaça em diversos momentos despertar, é cheio de falsos caminhos – por vezes parece até um elogio do espetáculo desmedido, do circo que se arma em cena, mas no fim revela que a amargura aqui é um sentimento geral. O clímax – quando Hugh Grant coloca sua vida em risco para filmar, ele mesmo, o ápice de seu espetáculo, o namorado traído transformado em homem-bomba – perde todo o apelo interessante que poderia com o epílogo que se segue, reforçando apenas uma rasa crítica à mídia americana, sem maiores vôos. Espero mais de Weitz.


Guilherme Martins

(DVD Universal)

 

 






Dennis Quaid bisbilhota arquivos confidenciais
em Tudo pela Fama