CASSETA & PLANETA – SEUS PROBLEMAS
ACABARAM

José Lavigne, Brasil, 2006

O único motivo cabível de se assistir a Casseta & Planeta – Seus Problemas Acabaram é se despedir do sujeito que, à pergunta "Qual foi o lugar mais estranho onde vocë fez amor?" respondeu: "Sâo Paulo", e à pergunta "A psicanálise cura?" respondeu: "Cura. O dinheiro que a minha mãe ganhou como psicanalista me curou de sarampo, bronquite, etc.". Porque, afora isso, o filme é de uma falta de graça e de uma desnecessidada atrozes. Desnecessidade porque não há em Seus Problemas Acabaram nada que singularize positivamente aquilo que vemos em relação ao programa das terças-feiras na Globo, e falta de graça porque as duas tiradas acima são muito mais inteligentes e engraçadas do que todos os esforços somados na criação e filmagem desse segundo longa-metragem do grupo.

Já diferenças negativas em relação à série original vemos muitas. A maior e mais clara entre elas é a continuidade narrativa que, por preguiça dos que concebem mais do que por exigência do espectador, acaba se tornando uma espécie de obrigação quando se adapta programas de tv, desenhos animados e outros objetos audiovisuais de pouca duração para o formato do longa-metragem. A princípio, essa estrutura é aquilo que serve como desculpa para justificar o longa, mas no fundo é aquilo que, como regra geral, faz com que a maioria dos espectadores saia do cinema preferindo ver seu seriado, desenho ou programa de tv como ele é na tv. Em Seus Problemas Acabaram, vemos uma narrativa fragmentada que não sabe para onde ir, e que por fim acaba não indo muito para lugar nenhum. Poderia ser uma boa estratégia para colocar todos os departamentos da Globo em atividade – temos seqüências de efeitos visuais em CG, desenho animado, e até dubladores! –, mas no fundo acaba sendo apenas uma gambiarra narrativa que não consegue substituir com eficiência a lógica de esquetes com a qual o programa de televisão é construído. A sensação é de um filme terrivelmente lento e longo.

Num dado momento, coube à turma saída da Casseta Popular e do Planeta Diário renovar o humor brasileiro, com toques de Mad e Monty Python e uma pronunciada compreensão dos códigos culturais e sociais brasileiros. Acrescente-se a isso uma grosseria que peitava a censura e você tinha um coquetel ácido, inovador e inventivo dentro do panorama do humor brasileiro. Mas lá se vão mais de vinte anos que testemunharam a mudança de registro da independência para o mainstream, e principalmente um certo assentamento e a simples repetição de padrões, cada vez mais inócuos e empobrecidos. Assim, é com tristeza que ouvimos cada palavra como "acostumar" ser flexionada como "aCUstumar", supondo que o mero falar de um palavrão fosse naturalmente engraçado, ou a banal brincadeira com a composição dos personagens de Murilo Benício – advogado idealista com cabelo desgrenhado e óculos remendado – e de Maria Paula – gostosa que faz stripper por prazer e é secretária por obrigação. No melhor momento do filme, os protagonistas vão à favela e acabam tirando um sarro com Zé Pequeno:
– "Zé Pequeno é o caralho", diz o personagem de Cidade de Deus, interpretado por Helio de la Peña;
– "É disso mesmo que estávamos falando", respondem os protagonistas.
É uma pena que, em matéria de humor, os cassetas tenham tenham andado tão Pequenos quanto o Zé.

Ruy Gardnier