PREMONIÇÃO 3
James Wong, Final Destination 3, EUA, 2006

A série está de volta com diretor (James Wong) e roteirista (Glen Morgan) do primeiro – e superior a todos – filme de 2000. Apenas Jeffrey Reddick, que co-roterizou o primeiro e é o criador de tudo, ficou de fora. Se no segundo episódio a reverência ao filme inaugural é marcante, com direito às mesmas homenagens a diretores – na forma de sobrenome de diversos personagens – e a vários relatos do acidente ocorrido anteriormente, o terceiro parece ignorar que houve um episódio intermediário, já que não há menção alguma à continuação menos inspirada dirigida por David R. Ellis (Celular). Há, sim, uma preferência pelo gore em excesso, nisso ele está em sintonia com o segundo filme. Premonição 3 capricha nos efeitos visuais que tornam as mortes ainda mais violentas, como se a morte ficasse ainda mais feroz, por ter sido enganada novamente. Outra diferença marcante está no ritmo, mais compassado novamente em Wong, mais acelerado, ou afobado, em Ellis.

A idéia original continua sendo o grande trunfo da série: um personagem tem a premonição de um acidente envolvendo ele mesmo e alguns outros que o acompanhavam. Ele resolve desistir do que iria fazer, levando mais alguns consigo. Mas a morte tinha seu plano, e vai, um a um, na mesma ordem que morreriam no acidente, buscar os escolhidos. É um vilão que não vemos, apenas sentimos sua presença. Wong é um diretor melhor na sugestão de algo não palpável, da abstração que provoca cenas concretas. Por isso seu retorno é bem-vindo.

Os cenários onde ocorrem os acidentes são sempre inevitavelmente tensos. No primeiro é um aeroporto, lugar de saída, ou de fuga. Há a exploração de nosso medo de voar, do nervoso pela possibilidade de uma morte instantânea, mas que pode ser prenunciada. No segundo, o palco é uma auto-estrada, saída para o bucolismo, ou para outras cidades. Fuga, novamente. As estradas exigem velocidade, e geralmente são palcos de acidentes mais graves do que as vias urbanas. A tensão pré-viagem faz par, mais uma vez, com nossa tensão de espectador, por não sabermos a que horas exatamente se dará o golpe fatal. No terceiro filme há uma mudança. Não é uma saída, mas pode ser uma fuga: um parque de diversões, mais precisamente, uma montanha-russa. Lugar de diversão, de liberação de adrenalina, mas igualmente de tensão, ainda que de outra ordem. Há, nos parques de diversão, o medo intrínseco de que algo saia errado, de que algum brinquedo quebre, ou, mais freqüentemente, e principalmente nos brinquedos mais radicais, de que algo desande em nosso organismo. São vários elementos de tensão se somando à tensão de ver o filme pela primeira vez, de não saber se a experiência será boa ou indigesta. Esse acúmulo já favorece esse tipo de filme. Aí é só dirigir direitinho, sem soluções absurdas – verossímeis ou não – que a diversão está garantida. James Wong faz o serviço com competência.

Uma brincadeira é acrescentada: os personagens podem intuir como morrerão observando fotos da data do acidente original. Assim, o cara que é fotografado na frente de um ventilador tem, dias depois, a cabeça triturada por uma pá giratória de um caminhão basculante. E assim por diante. Parece uma homenagem a Profecia, de Richard Donner, em que as fotos captavam a aura da pessoa, com sinais de como ela morreria. Mas no filme de 1976, os sinais eram menos óbvios, geralmente se assemelhavam a riscos ou falhas na ampliação, enquanto no novo filme de Wong os sinais vêm na forma de objetos reconhecíveis como espadas, revólveres, ventiladores; ou de alterações de luz, como um clarão no rosto que sugere uma morte por queimadura.

As mortes de Premonição 3 são ainda mais brutais que nos filmes anteriores, mas os planos duram menos desta vez, ainda que, como já dito, o ritmo geral seja mais cadenciado que no segundo, e um pouco, mas só um pouco, mais agitado que no primeiro. Para que se possa ver exatamente como aconteceu cada morte, ou tentar descobrir como foi feito o truque, será necessário esperar o DVD. Mas a violência está lá, e pode ser percebida por todos.

O filme cai, na maioria das vezes, na armadilha da continuação “mais tudo” que o original. Mais violenta, mais mirabolante, mais impiedosa, mais cruel. No entanto, a sensibilidade de Wong para filmar os jovens, e sua atenção ao aspecto boboca de muitos deles – sem que sejam retratados como imbecis – faz-se notar, resultando numa agradável sessão. É muito mais do que nos dão a média das produções de horror em série que viraram moda a partir de Sexta-feira 13.


Sérgio Alpendre