A
série está de volta com diretor (James Wong) e roteirista
(Glen Morgan) do primeiro – e superior a todos – filme
de 2000. Apenas Jeffrey Reddick, que co-roterizou o
primeiro e é o criador de tudo, ficou de fora. Se no
segundo episódio a reverência ao filme inaugural é marcante,
com direito às mesmas homenagens a diretores – na forma
de sobrenome de diversos personagens – e a vários relatos
do acidente ocorrido anteriormente, o terceiro parece
ignorar que houve um episódio intermediário, já que
não há menção alguma à continuação menos inspirada dirigida
por David R. Ellis (Celular). Há, sim, uma preferência
pelo gore em excesso, nisso ele está em sintonia com
o segundo filme. Premonição 3 capricha nos efeitos
visuais que tornam as mortes ainda mais violentas, como
se a morte ficasse ainda mais feroz, por ter sido enganada
novamente. Outra diferença marcante está no ritmo, mais
compassado novamente em Wong, mais acelerado, ou afobado,
em Ellis.
A idéia original continua sendo o grande trunfo da série:
um personagem tem a premonição de um acidente envolvendo
ele mesmo e alguns outros que o acompanhavam. Ele resolve
desistir do que iria fazer, levando mais alguns consigo.
Mas a morte tinha seu plano, e vai, um a um, na mesma
ordem que morreriam no acidente, buscar os escolhidos.
É um vilão que não vemos, apenas sentimos sua presença.
Wong é um diretor melhor na sugestão de algo não palpável,
da abstração que provoca cenas concretas. Por isso seu
retorno é bem-vindo.
Os cenários onde ocorrem os acidentes são sempre inevitavelmente
tensos. No primeiro é um aeroporto, lugar de saída,
ou de fuga. Há a exploração de nosso medo de voar, do
nervoso pela possibilidade de uma morte instantânea,
mas que pode ser prenunciada. No segundo, o palco é
uma auto-estrada, saída para o bucolismo, ou para outras
cidades. Fuga, novamente. As estradas exigem velocidade,
e geralmente são palcos de acidentes mais graves do
que as vias urbanas. A tensão pré-viagem faz par, mais
uma vez, com nossa tensão de espectador, por não sabermos
a que horas exatamente se dará o golpe fatal. No terceiro
filme há uma mudança. Não é uma saída, mas pode ser
uma fuga: um parque de diversões, mais precisamente,
uma montanha-russa. Lugar de diversão, de liberação
de adrenalina, mas igualmente de tensão, ainda que de
outra ordem. Há, nos parques de diversão, o medo intrínseco
de que algo saia errado, de que algum brinquedo quebre,
ou, mais freqüentemente, e principalmente nos brinquedos
mais radicais, de que algo desande em nosso organismo.
São vários elementos de tensão se somando à tensão de
ver o filme pela primeira vez, de não saber se a experiência
será boa ou indigesta. Esse acúmulo já favorece esse
tipo de filme. Aí é só dirigir direitinho, sem soluções
absurdas – verossímeis ou não – que a diversão está
garantida. James Wong faz o serviço com competência.
Uma brincadeira é acrescentada: os personagens podem
intuir como morrerão observando fotos da data do acidente
original. Assim, o cara que é fotografado na frente
de um ventilador tem, dias depois, a cabeça triturada
por uma pá giratória de um caminhão basculante. E assim
por diante. Parece uma homenagem a Profecia,
de Richard Donner, em que as fotos captavam a aura da
pessoa, com sinais de como ela morreria. Mas no filme
de 1976, os sinais eram menos óbvios, geralmente se
assemelhavam a riscos ou falhas na ampliação, enquanto
no novo filme de Wong os sinais vêm na forma de objetos
reconhecíveis como espadas, revólveres, ventiladores;
ou de alterações de luz, como um clarão no rosto que
sugere uma morte por queimadura.
As mortes de Premonição 3 são ainda mais brutais
que nos filmes anteriores, mas os planos duram menos
desta vez, ainda que, como já dito, o ritmo geral seja
mais cadenciado que no segundo, e um pouco, mas só um
pouco, mais agitado que no primeiro. Para que se possa
ver exatamente como aconteceu cada morte, ou tentar
descobrir como foi feito o truque, será necessário esperar
o DVD. Mas a violência está lá, e pode ser percebida
por todos.
O filme cai, na maioria das vezes, na armadilha da continuação
“mais tudo” que o original. Mais violenta, mais mirabolante,
mais impiedosa, mais cruel. No entanto, a sensibilidade
de Wong para filmar os jovens, e sua atenção ao aspecto
boboca de muitos deles – sem que sejam retratados como
imbecis – faz-se notar, resultando numa agradável sessão.
É muito mais do que nos dão a média das produções de
horror em série que viraram moda a partir de Sexta-feira
13.
Sérgio Alpendre
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