Amigo
é pra essas coisas. O próprio título, sem ironias ou
outras figuras de linguagem, explicita o que o filme
irá dizer. Focado na amizade, sobretudo entre adolescentes,
somos conduzidos, em uma cidade suburbana nos arredores
de Paris, a algumas aventuras entre jovens ligados pela
proximidade territorial. Todos vizinhos, a princípio
não possuem maiores ligações além desta. Um é branco,
outro negro, outro árabe. As diferenças raciais são
contrastadas, no entanto, com a identificação ideológica.
Não que esta última seja determinante a ponto de traçar
diretrizes políticas ou pontos de vista consistentes.
Muito mais simples: os jovens apenas tentam sobreviver.
Cada um dos personagens retratados tem suas dificuldades
e problemas. Mas não há qualquer aprofundamento nas
questões particulares ou interiorizações subjetivas.
A opção é pelos personagens-tipos. Ainda que exista
uma construção de ambiente e características específicas
de cada um dos núcleos de personagens, o filme acaba
sendo todo construído em situações, sejam elas cotidianas
ou não.
O uso de personagens-tipo implica um certo cuidado para
não deixar somente um sobrevôo sobre um grupo de estereótipos
representativos dos distintos extratos sociais existentes
na sociedade. Mas é justamente neste ponto que Amigo
é pra essas coisas desliza. Exceto pela relação
de Zim e Safia, que aos poucos vai sendo construída
e sugerida, com espontaneidade, o restante do filme
peca pela falta de interesse e aprofundamento nas questões
trabalhadas. Torna-se apenas um filme qualquer, um filme
para adolescentes que, ainda que se identifiquem ou,
para falarmos das classes mais abastadas que freqüentam
os cinemas, se projetam ou contrapõe-se àquele universo,
não proporciona indagações críticas ou problematiza
as questões sugeridas.
Quando estamos falando em questões raciais, preconceito,
e talvez o fio narrativo condutor do filme – o desemprego
– estamos falando de elementos que implicitamente têm
uma carga de responsabilidade. Amigo é pra essas
coisas deixa de lado tudo isso. Se por um lado não
acrescenta, por outro não problematiza. O filme abre
mão destas questões para traçar um panorama de uma suposta
geração de jovens existentes na França contemporânea.
Mas o problema de tudo isso é que o filme fica, no mínimo,
sem graça. As situações, quase sempre clichês, são tratadas
de maneira esperada e com pouco entusiasmo. A figura
de Zim, ou Victor Zimbietrovski, não agrada, nem incomoda.
As confusões em que ele se mete estão longe de provocar
risos ou lágrimas. Talvez Amigo é pra essas coisas
peque no uso calculado de emoção, sobretudo quando
faz uma apologia da “ajuda ao próximo”.
Raphael Mesquita
|