AMIGO É PRA ESSAS COISAS
Pierre Jolivet, Zim and Co., França, 2005

Amigo é pra essas coisas. O próprio título, sem ironias ou outras figuras de linguagem, explicita o que o filme irá dizer. Focado na amizade, sobretudo entre adolescentes, somos conduzidos, em uma cidade suburbana nos arredores de Paris, a algumas aventuras entre jovens ligados pela proximidade territorial. Todos vizinhos, a princípio não possuem maiores ligações além desta. Um é branco, outro negro, outro árabe. As diferenças raciais são contrastadas, no entanto, com a identificação ideológica. Não que esta última seja determinante a ponto de traçar diretrizes políticas ou pontos de vista consistentes. Muito mais simples: os jovens apenas tentam sobreviver.

Cada um dos personagens retratados tem suas dificuldades e problemas. Mas não há qualquer aprofundamento nas questões particulares ou interiorizações subjetivas. A opção é pelos personagens-tipos. Ainda que exista uma construção de ambiente e características específicas de cada um dos núcleos de personagens, o filme acaba sendo todo construído em situações, sejam elas cotidianas ou não.

O uso de personagens-tipo implica um certo cuidado para não deixar somente um sobrevôo sobre um grupo de estereótipos representativos dos distintos extratos sociais existentes na sociedade. Mas é justamente neste ponto que Amigo é pra essas coisas desliza. Exceto pela relação de Zim e Safia, que aos poucos vai sendo construída e sugerida, com espontaneidade, o restante do filme peca pela falta de interesse e aprofundamento nas questões trabalhadas. Torna-se apenas um filme qualquer, um filme para adolescentes que, ainda que se identifiquem ou, para falarmos das classes mais abastadas que freqüentam os cinemas, se projetam ou contrapõe-se àquele universo, não proporciona indagações críticas ou problematiza as questões sugeridas.

Quando estamos falando em questões raciais, preconceito, e talvez o fio narrativo condutor do filme – o desemprego – estamos falando de elementos que implicitamente têm uma carga de responsabilidade. Amigo é pra essas coisas deixa de lado tudo isso. Se por um lado não acrescenta, por outro não problematiza. O filme abre mão destas questões para traçar um panorama de uma suposta geração de jovens existentes na França contemporânea. Mas o problema de tudo isso é que o filme fica, no mínimo, sem graça. As situações, quase sempre clichês, são tratadas de maneira esperada e com pouco entusiasmo. A figura de Zim, ou Victor Zimbietrovski, não agrada, nem incomoda. As confusões em que ele se mete estão longe de provocar risos ou lágrimas. Talvez Amigo é pra essas coisas peque no uso calculado de emoção, sobretudo quando faz uma apologia da “ajuda ao próximo”.


Raphael Mesquita