Filmografia:
2005 Um Homem Sem Mulher
2004 Dias em Branco
2004 Performance
2001 Estética da Solidão
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Perguntas:
Inicialmente, gostaria que vocês falassem sobre seus
filmes, sobre os objetivos e as inspirações deles, e
dos meios de produção que vocês utilizam para realizá-los.
Com quatro longas-metragens nessa década, vocês são
recordistas em número de longas entre os cineastas brasileiros.
Ao mesmo tempo, o acesso aos filmes de vocês é muito
restrito, tendo exibição apenas em festivais alternativos,
como a Mostra do Filme Livre. Como vocês vêem essa relação
produção/exibição?
Vocês acreditam que o circuito exibidor brasileiro contempla
a diversidade da produção nacional? Vocês crêem que
o lançamento comercial seria o mais adequado para exibir
filmes produzidos de forma alternativa como os que vocês
fazem?
Fazemos filmes desde que temos 18 anos de idade,
agora estamos com 24. Começamos a fazer filmes
por uma necessidade cinefílica, ou seja, nosso
fascínio e nossa relação com os
filmes que assistimos são de âmbito criativo.
Nosso objetivo é fazer cinema, por isso a escolha
de fazer filmes quase sem custo. Até porque quando
começamos a fazer filmes éramos muito
novos e ninguém ia investir dinheiro num filme
nosso.
Nós acreditamos que se aprende fazendo filmes
e não só assistindo-os e estudando-os,
apesar disso também ser muito importante. No
Brasil o diretor de cinema profissional em média
faz aproximadamente um filme por década, desse
jeito ninguém aprende a realizar filmes. Mesmo
a geração nouvelle vague que começou
com filmes que foram sucessos tiveram que aprender ao
longo dos anos a fazer o cinema que eles desejavam.
Por isso não sentimos um orgulho especial pela
quantidade de filmes que fazemos, pois cremos que isso
é uma necessidade básica. As pessoas sempre
se espantam quando dizemos a quantidade de filmes que
já fizemos, mas ao mesmo tempo, elas não
dão muito valor a isso, pois acreditam que a
nossa forma de produzir é errada. No Brasil o
único cinema levado a sério é o
cinema feito com incentivo fiscal, apesar das bilheterias
serem mínimas com relação ao custo
de produção. No fundo a profissão
de cineasta no Brasil é irreal e fictícia,
além do cinema brasileiro ser em geral uma merda
(mal existem realizadores).
Nosso cinema é feito com amigos que trabalham
de graça e normalmente com o equipamento emprestado.
Filmamos em digital e editamos num macintosh aqui em
casa. Os atores que usamos são normalmente estudantes
de teatro ou não-atores e amigos. Escrevemos
nossos próprios roteiros por uma necessidade
prática, já que nós sabemos o que
vamos conseguir realizar em termos de produção.
Claro que a cada filme que fazemos criamos novos obstáculos
e tentamos superar em todos os sentidos os nossos filmes
anteriores. Mas sabemos que o que torna um filme realmente
difícil de se fazer são as escolhas e
as soluções formais e de conteúdo
que temos que fazer para aquele filme específico.
Sem dúvida a maior dificuldade que temos é
com a exibição dos nossos filmes. E mesmo
nos festivais alternativos no Brasil o comprometimento
com pessoas que querem fazer um cinema mais rigoroso
é inexistente. O que diferencia o cinema "alternativo"
do cinema "mainstream" é o dinheiro. O nosso
cinema não é bem aceito aqui, pois não
se encaixa nos clichês óbvios do que deve
ser cinema brasileiro. O espaço exibidor no Brasil
é muito limitado. Achamos que quase nenhum filme
brasileiro é adequado para ser exibido em circuito
comercial (junto com os filmes americanos que têm
muito mais dinheiro), deve ser criada uma nova maneira
de se exibir filmes (os festivais não dão
conta e são inexpressivos).
Entrevista concedida a Ruy Gardnier, por e-mail
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