LUIZ E RICARDO PRETTI

Filmografia:
2005 Um Homem Sem Mulher
2004 Dias em Branco
2004 Performance
2001 Estética da Solidão

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Perguntas:

Inicialmente, gostaria que vocês falassem sobre seus filmes, sobre os objetivos e as inspirações deles, e dos meios de produção que vocês utilizam para realizá-los.

Com quatro longas-metragens nessa década, vocês são recordistas em número de longas entre os cineastas brasileiros. Ao mesmo tempo, o acesso aos filmes de vocês é muito restrito, tendo exibição apenas em festivais alternativos, como a Mostra do Filme Livre. Como vocês vêem essa relação produção/exibição?

Vocês acreditam que o circuito exibidor brasileiro contempla a diversidade da produção nacional? Vocês crêem que o lançamento comercial seria o mais adequado para exibir filmes produzidos de forma alternativa como os que vocês fazem?

Fazemos filmes desde que temos 18 anos de idade, agora estamos com 24. Começamos a fazer filmes por uma necessidade cinefílica, ou seja, nosso fascínio e nossa relação com os filmes que assistimos são de âmbito criativo.

Nosso objetivo é fazer cinema, por isso a escolha de fazer filmes quase sem custo. Até porque quando começamos a fazer filmes éramos muito novos e ninguém ia investir dinheiro num filme nosso.

Nós acreditamos que se aprende fazendo filmes e não só assistindo-os e estudando-os, apesar disso também ser muito importante. No Brasil o diretor de cinema profissional em média faz aproximadamente um filme por década, desse jeito ninguém aprende a realizar filmes. Mesmo a geração nouvelle vague que começou com filmes que foram sucessos tiveram que aprender ao longo dos anos a fazer o cinema que eles desejavam. Por isso não sentimos um orgulho especial pela quantidade de filmes que fazemos, pois cremos que isso é uma necessidade básica. As pessoas sempre se espantam quando dizemos a quantidade de filmes que já fizemos, mas ao mesmo tempo, elas não dão muito valor a isso, pois acreditam que a nossa forma de produzir é errada. No Brasil o único cinema levado a sério é o cinema feito com incentivo fiscal, apesar das bilheterias serem mínimas com relação ao custo de produção. No fundo a profissão de cineasta no Brasil é irreal e fictícia, além do cinema brasileiro ser em geral uma merda (mal existem realizadores).

Nosso cinema é feito com amigos que trabalham de graça e normalmente com o equipamento emprestado. Filmamos em digital e editamos num macintosh aqui em casa. Os atores que usamos são normalmente estudantes de teatro ou não-atores e amigos. Escrevemos nossos próprios roteiros por uma necessidade prática, já que nós sabemos o que vamos conseguir realizar em termos de produção. Claro que a cada filme que fazemos criamos novos obstáculos e tentamos superar em todos os sentidos os nossos filmes anteriores. Mas sabemos que o que torna um filme realmente difícil de se fazer são as escolhas e as soluções formais e de conteúdo que temos que fazer para aquele filme específico.

Sem dúvida a maior dificuldade que temos é com a exibição dos nossos filmes. E mesmo nos festivais alternativos no Brasil o comprometimento com pessoas que querem fazer um cinema mais rigoroso é inexistente. O que diferencia o cinema "alternativo" do cinema "mainstream" é o dinheiro. O nosso cinema não é bem aceito aqui, pois não se encaixa nos clichês óbvios do que deve ser cinema brasileiro. O espaço exibidor no Brasil é muito limitado. Achamos que quase nenhum filme brasileiro é adequado para ser exibido em circuito comercial (junto com os filmes americanos que têm muito mais dinheiro), deve ser criada uma nova maneira de se exibir filmes (os festivais não dão conta e são inexpressivos).


Entrevista concedida a Ruy Gardnier, por e-mail

 

 






Dias em Branco