Filmografia:
2006 Carnaval, Bexiga, Funk e Sombrinha
* * *
Primeiro de tudo, gostaria de saber como nasceu
o projeto de Carnaval, Bexiga, Funk e Sombrinha e
como ele foi realizado.
A idéia de fazer o documentário tem três
eixos principais:
1) O filme é resultado do Reperiferia,
projeto que realizo na periferia da cidade do Rio de
Janeiro, onde através de diversas ações
culturais procuramos criar expressões estéticas,
éticas e econômicas. Em 2005 tivemos mais
de 400 alunos e cerca de 100 mil pessoas passaram por
nossas ações.
2) O filme tem como missão teórica tentar
contribuir numa análise mais sutil das contradições
da cultura popular nos centros urbanos e na observação
de aspectos que demonstram que a periferia tem dinâmicas
subjetivas contemporâneas que a diferenciam da
favela e do que chamamos de subúrbio.
3) Como cresci no bairro de Santa Cruz, berço
das mais de 100 turmas de Clóvis da cidade, sempre
fiquei impressionado com o não-reconhecimento
dado pela mídia e pela academia a esses mascarados
que geralmente freqüentam as páginas policiais
apesar de mobilizarem comunidades inteiras. Queria ver
o que tinha acontecido com esta manifestação
que marcou minha infância.
Ao contrário de muitos filmes brasileiros,
que ficam esperando nas prateleiras por muito tempo
para serem lançados e, em vários casos,
nem chegam ao lançamento comercial, o seu filme
teve uma estréia bem próxima do momento
em que a cópia final do filme ficou pronta. Como
se deu isso?
Desde o início das filmagens decidimos que o
filme teria que ser exibido de qualquer maneira. Sabíamos
do pequeno alcance de nossa empreitada, mas mesmo assim
criamos algumas estratégias através de
constantes análises de como ,onde e para quem
nosso filme seria mostrado. Procuramos parceiros e conseguimos
pequenos apoios da Prefeitura do Rio e das Casa Bahia.
A idéia era mostrar a possibilidade de se realizar
uma produção para além das leis
e dos grandes circuitos. Mandamos uma cópia para
o Adhemar que nos convidou para o circuito Unibanco
Arteplex. Exibimos 3 semanas no Rio e em São
Paulo. Participamos de dois festivais e agora fizemos
um acordo com a TVE que vai exibi-lo nacionalmente.
O filme tem, digamos, um público mais geral,
o dos interessados no carnaval e nas manifestações
culturais cariocas e brasileiras (o público que,
a princípio, vai às salas comerciais)
e um público mais específico, composto
das pessoas que fazem parte dos grupos de clóvis,
e dos bairros em que eles saem para brincar. Houve algum
tipo de esquema de exibição para contemplar
esse público?
Sim, no mês de agosto estamos dando continuidade
ao Caravana Reperiferia, ação que leva
produtos de nosso projeto, inclusive o filme, a várias
comunidades da cidade.
No próximo carnaval negociamos com as Casas Bahia
uma nova parceria para lançar o DVD nas Lojas.
O lançamento comercial se revelou como suficiente
para fazer as pessoas terem acesso ao filme?
Não. Continuamos trabalhando para que isso aconteça.
Filme não é evento, não existe
apenas para ser lançado em circuito e festivais
.Acredito que devemos lutar não só pelo
orçamento de produção de um filme
,mas para que ele tenha uma vida longa em várias
formas de exibição. Minha geração
tem que continuar fazendo filmes e descobrindo novas
dinâmicas comerciais. Os problemas dos grandes
orçamentos e das grandes bilheterias deve ser
resolvido por aqueles que ganharam dinheiro com este
discurso.
Entrevista concedida a Ruy Gardnier, por e-mail
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