Segunda
imersão de Richard Linklater no gênero infanto-juvenil,
é de se lamentar que o filme chegue direto nas locadoras,
tendo em vista a importância do cineasta para o cinema
americano contemporâneo. A lamentar, mas a se compreender
também, tendo em vista que trata-se de um filme de baseball,
esporte do qual a maioria dos brasileiros desconhece
até as regras mais básicas. E Linklater realizou realmente
um filme de baseball: são raras as cenas que
se passam fora dos campos, toda a ação acontece dentro
deles ou nas suas imediações. Forma-se uma quase obsessão
pelo esporte, seus detalhes, movimentos. Mesmo para
um leigo no assunto, o cineasta consegue criar interesse
em se observá-lo. Bears também é consideravelmente
mais adulto que Escola de Rock, o que chega a
ser curioso levando em conta seus temas. A narrativa
mais adulta tem relação direta com Bad Santa,
o filme de Terry Zwygoff de onde vêm os roteiristas
e principalmente a persona reencarnada aqui por Billy
Bob Thornton. Mesmo se tratando de um repeteco de personagem,
Thornton se vira muito bem, dando ainda mais vida a
ele e aos que estão à sua volta.
Se o tom da narrativa é herdado mais de Bad Santa
que de Escola de Rock, o frescor da câmera
de Linklater trás de volta alguns dos grandes momentos
de seu filme. Há até seqüências que se assemelham um
pouco, como a montagem dos treinamentos quando os Bears
finalmente começam a se dedicar, estruturada exatamente
da mesma forma que a montagem onde Jack Black evoluía
nos seus “ensinamentos” aos alunos ao som dos Ramones.
A diferença entre essas seqüências – e num geral – é
a intimidade bem mais explícita com o assunto em Escola
de Rock. Mesmo que tudo seja bastante agradável
de se ver, o filme tem um tom meio confortável de condução,
não chega a ser o caso de piloto automático, mas de
um entusiasmo menor na forma de conduzir as imagens
que o costume de Linklater. Todavia, ele segue sendo
um dos raros cineastas capazes de retirar uma força
única de pequenos momentos, do que o maior expoente
segue sendo uma das seqüências finais dentro de um carro
de Dazed and Confused. A ausência de momentos
mais fortes não diminui a segurança com que tudo é concebido.
E há pelo menos uma seqüência, a final, em que os losers
de Thornton vão à forra (mesmo que continuem losers,
já que não ganham nada), que tem o carimbo usual (e
especial) do cineasta.
Guilherme Martins
(DVD Paramount)
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