SUJOU... CHEGARAM OS BEARS
Richard Linklater, Bad News Bears, EUA, 2005

Segunda imersão de Richard Linklater no gênero infanto-juvenil, é de se lamentar que o filme chegue direto nas locadoras, tendo em vista a importância do cineasta para o cinema americano contemporâneo. A lamentar, mas a se compreender também, tendo em vista que trata-se de um filme de baseball, esporte do qual a maioria dos brasileiros desconhece até as regras mais básicas. E Linklater realizou realmente um filme de baseball: são raras as cenas que se passam fora dos campos, toda a ação acontece dentro deles ou nas suas imediações. Forma-se uma quase obsessão pelo esporte, seus detalhes, movimentos. Mesmo para um leigo no assunto, o cineasta consegue criar interesse em se observá-lo. Bears também é consideravelmente mais adulto que Escola de Rock, o que chega a ser curioso levando em conta seus temas. A narrativa mais adulta tem relação direta com Bad Santa, o filme de Terry Zwygoff de onde vêm os roteiristas e principalmente a persona reencarnada aqui por Billy Bob Thornton. Mesmo se tratando de um repeteco de personagem, Thornton se vira muito bem, dando ainda mais vida a ele e aos que estão à sua volta.

Se o tom da narrativa é herdado mais de Bad Santa que de Escola de Rock, o frescor da câmera de Linklater trás de volta alguns dos grandes momentos de seu filme. Há até seqüências que se assemelham um pouco, como a montagem dos treinamentos quando os Bears finalmente começam a se dedicar, estruturada exatamente da mesma forma que a montagem onde Jack Black evoluía nos seus “ensinamentos” aos alunos ao som dos Ramones. A diferença entre essas seqüências – e num geral – é a intimidade bem mais explícita com o assunto em Escola de Rock. Mesmo que tudo seja bastante agradável de se ver, o filme tem um tom meio confortável de condução, não chega a ser o caso de piloto automático, mas de um entusiasmo menor na forma de conduzir as imagens que o costume de Linklater. Todavia, ele segue sendo um dos raros cineastas capazes de retirar uma força única de pequenos momentos, do que o maior expoente segue sendo uma das seqüências finais dentro de um carro de Dazed and Confused. A ausência de momentos mais fortes não diminui a segurança com que tudo é concebido. E há pelo menos uma seqüência, a final, em que os losers de Thornton vão à forra (mesmo que continuem losers, já que não ganham nada), que tem o carimbo usual (e especial) do cineasta.


Guilherme Martins

(DVD Paramount)