Uma
breve olhada na filmografia do argentino Juan José Campanella
destaca, mais que os títulos que dirigiu para cinema
em seu país, sua longa experiência na direção de episódios
de séries para a TV americana, em especial Lei e
Ordem, Unidade de Vítimas Especiais, para a qual
foi até bem pouco tempo um dos diretores-residentes.
Essa influência da TV fica bem clara em seus trabalhos
para a tela grande. No entanto, a influência televisiva,
nesse caso, acaba não funcionando como uma amarra de
mera reprodução de linguagem, mas sim conferindo aos
seus filmes uma visível agilidade narrativa e uma adesão
fácil do espectador a suas tramas e personagens.
Em seu longa-metragem anterior, O Filho da Noiva
(2001), a fórmula funcionou quase à perfeição, unindo
ingredientes de comédia e drama sentimental, aproveitando-se
de situações cotidianas envolvendo a classe média de
seu país, afetada pelas conseqüências de uma eterna
crise econômica. Clube da Lua parte de uma abordagem
similar. A trama base, no caso a luta dos sócios de
um clube esportivo decadente e tradicional em manter
suas portas abertas, parece render uma gama inesgotável
de histórias. Poderia funcionar muito bem como o piloto
de um longo seriado de TV, com seu trio de protagonistas
carismáticos: o taxista Roman (Ricardo Darín), a recém
divorciada Graciela (Mercedes Moran) e o biriteiro gente-boa
Amadeo (Eduardo Blanco). Os três, somados às diversas
figuras que os cercam no universo do clube, surgem como
uma fonte de inúmeras histórias. Como foram anteriormente
as figuras que habitavam o roteiro de O Filho da
Noiva, lembrando que os personagens interpretados
por Darín e Blanco em ambos os filmes guardam muito
em comum.
Campanella, com seu longo aprendizado televisivo, revela
um correto domínio artesanal, distante de um brilho
mais autoral, porém bastante próximo da marca de cineastas
americanos vindos da telinha e que fizeram bons exemplares
de cinema popular nas décadas de 60, 70 e 80, sendo
Richard Donner um belo exemplo dessa estirpe. Partindo
dessa chave, Clube da Lua consegue funcionar
quase sempre a contento como uma digna peça de entretenimento.
Só que, por vezes, o diretor parece empolgar-se demais
com aspectos do filme e esquecer a sábia lição das séries
de TV que têm em uma narrativa concisa, concentrada
e curta (30 ou 60 minutos) um de seus principais trunfos
de comunicação com o espectador.
Como já foi dito, há muitas histórias a serem extraídas
do cotidiano dos sócios do Clube da Lua. Mas
o filme pretende aproveitá-las todas de uma só vez.
Com isso, temos uma projeção demasiadamente longa (143
min), onde, apesar da bem estruturada seqüência inicial,
que mostra o nascimento de Román em meio a uma festa
no clube que viria a ser uma de suas razões de viver,
vemos ao longo do filme algumas situações que se resolvem
em correria e personagens que poderiam ser melhor desenvolvidos
– Graciela, em especial – ao mesmo tempo em que se alternam
momentos que se alongam além do desejado. Apesar dessas
irregularidades em seu ritmo, Campanella e seu Clube
da Lua conseguem preservar um forte grau de envolvimento,
ainda que esse se concretize um tanto aquém de suas
pretensões e das expectativas geradas pelo êxito de
O Filho da Noiva.
Gilberto Silva Jr.
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