CLUBE DA LUA
Juan José Campanella, Luna de Avellaneda, Argentina, 2004
 

Uma breve olhada na filmografia do argentino Juan José Campanella destaca, mais que os títulos que dirigiu para cinema em seu país, sua longa experiência na direção de episódios de séries para a TV americana, em especial Lei e Ordem, Unidade de Vítimas Especiais, para a qual foi até bem pouco tempo um dos diretores-residentes. Essa influência da TV fica bem clara em seus trabalhos para a tela grande. No entanto, a influência televisiva, nesse caso, acaba não funcionando como uma amarra de mera reprodução de linguagem, mas sim conferindo aos seus filmes uma visível agilidade narrativa e uma adesão fácil do espectador a suas tramas e personagens.

Em seu longa-metragem anterior, O Filho da Noiva (2001), a fórmula funcionou quase à perfeição, unindo ingredientes de comédia e drama sentimental, aproveitando-se de situações cotidianas envolvendo a classe média de seu país, afetada pelas conseqüências de uma eterna crise econômica. Clube da Lua parte de uma abordagem similar. A trama base, no caso a luta dos sócios de um clube esportivo decadente e tradicional em manter suas portas abertas, parece render uma gama inesgotável de histórias. Poderia funcionar muito bem como o piloto de um longo seriado de TV, com seu trio de protagonistas carismáticos: o taxista Roman (Ricardo Darín), a recém divorciada Graciela (Mercedes Moran) e o biriteiro gente-boa Amadeo (Eduardo Blanco). Os três, somados às diversas figuras que os cercam no universo do clube, surgem como uma fonte de inúmeras histórias. Como foram anteriormente as figuras que habitavam o roteiro de O Filho da Noiva, lembrando que os personagens interpretados por Darín e Blanco em ambos os filmes guardam muito em comum.

Campanella, com seu longo aprendizado televisivo, revela um correto domínio artesanal, distante de um brilho mais autoral, porém bastante próximo da marca de cineastas americanos vindos da telinha e que fizeram bons exemplares de cinema popular nas décadas de 60, 70 e 80, sendo Richard Donner um belo exemplo dessa estirpe. Partindo dessa chave, Clube da Lua consegue funcionar quase sempre a contento como uma digna peça de entretenimento. Só que, por vezes, o diretor parece empolgar-se demais com aspectos do filme e esquecer a sábia lição das séries de TV que têm em uma narrativa concisa, concentrada e curta (30 ou 60 minutos) um de seus principais trunfos de comunicação com o espectador.

Como já foi dito, há muitas histórias a serem extraídas do cotidiano dos sócios do Clube da Lua. Mas o filme pretende aproveitá-las todas de uma só vez. Com isso, temos uma projeção demasiadamente longa (143 min), onde, apesar da bem estruturada seqüência inicial, que mostra o nascimento de Román em meio a uma festa no clube que viria a ser uma de suas razões de viver, vemos ao longo do filme algumas situações que se resolvem em correria e personagens que poderiam ser melhor desenvolvidos – Graciela, em especial – ao mesmo tempo em que se alternam momentos que se alongam além do desejado. Apesar dessas irregularidades em seu ritmo, Campanella e seu Clube da Lua conseguem preservar um forte grau de envolvimento, ainda que esse se concretize um tanto aquém de suas pretensões e das expectativas geradas pelo êxito de O Filho da Noiva.


Gilberto Silva Jr.