O Albergue traz em letras grandes a inscrição
"Quentin Tarantino apresenta". O diretor mais
famoso endossa, assim, o filme de seu colega. Endossar
aqui não significa simplesmente demonstrar apoio,
mas, mais importante, emprestar prestígio. Em
meio ao monte de filmes de terror realizados hoje em
dia, o de Eli Roth brilha mais forte por trazer em seus
créditos o nome de Tarantino. A estratégia
de venda, porém, não terminou aí:
a violência contida no filme foi amplamente alardeada.
Haveria cenas terríveis, de literalmente revirar
o estômago: diversas pessoas teriam vomitado durante
sua exibição no Festival de Toronto. Dessa
maneira, o filme de US$ 4,5 milhões fez US$ 20
milhões apenas no primeiro fim de semana de exibição
e seguiu uma carreira de sucesso. Uma seqüência
está a caminho.
A intriga? Dupla de turistas americanos – e um complementar
alívio cômico islandês – está
na Europa atrás de maconha e garotas. Seduzidos
por fotos de beldades do leste europeu, eles embarcam
em um trem para a Eslováquia. Lá, por
causa "da guerra", não haveria mais
homens.
A descida do trem mostra aos mochileiros uma paisagem
estranha, desolada. A capital da Eslováquia,
Bratislava, parece totalmente desabitada a não
ser por gangues de crianças que pedem chiclete.
Seguindo o endereço que lhes havia sido fornecido,
porém, os rapazes chegam ao albergue/harém.
Lá, para todo lado que olham, vêem garotas
semi ou totalmente nuas. E elas estão cheias
de vontade. Exatamente na primeira noite, depois de
terem passado por sauna, barzinho e boate, cada um dos
amigos termina com uma eurogata na cama. No dia seguinte,
porém, um deles – justamente o engraçado!
– desaparece. O que lhe teria acontecido? Mais vai-e-vem
e menos nudez depois, descobre-se que a cidade abriga
um clube chamado "Elite Hunting", para ricos
que gostam de torturar e matar pessoas. O albergue e
as garotas funcionavam como chamarizes para as vítimas
desavisadas.
O Albergue vai então abandonando a atmosfera
de soft porn e passa a ser um filme gore,
com muito sangue e retalhação. Dois dos
rapazes são brutalmente assassinados – embora
só acompanhemos a execução do segundo.
O terceiro, Paxton (Jay Hernandez), chega a ser capturado
e presencia algumas barbaridades – dentre elas uma aparição
do diretor japonês Takashi Miike e seu inglês
sofrível – mas consegue escapar, garantindo um
final feliz. É nessa segunda metade que está
toda a violência de O Albergue. Menos que
climas – pois não os cria –, Roth está
realmente interessado em chocar seus espectadores. Pouco
preocupado com a forma, simplesmente joga em cena tendões
cortados, olhos arrancados a maçarico e secreções
repugnantes.
Eli Roth chegou a insinuar em algumas entrevistas que
há uma ligação entre a prostituição
e a tortura dos "elite hunters", pois são
ambos comércio do corpo. Em outras, que seu filme
seria uma metáfora para o que os governos fazem
longe dos olhos dos cidadãos – desde a violência
policial até campos de prisioneiros. Em todas,
ele repete a história de que a idéia –
pois O Albergue é "inspirado em fatos
reais" – lhe veio quando viu um website tailandês
que vendia justamente a possibilidade de dar um tiro
na cabeça de alguém. Contudo, seria preciso
suar muito a camisa para encontrar no filme alguma pretensão
política ou motivação estética.
Por detrás de explicações, apresentador
e fama, O Albergue não passa de produto
dos mais ordinários.
Juliana Fausto
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