ALBERGUE
Eli Roth, Hostel, EUA, 2005

O Albergue traz em letras grandes a inscrição "Quentin Tarantino apresenta". O diretor mais famoso endossa, assim, o filme de seu colega. Endossar aqui não significa simplesmente demonstrar apoio, mas, mais importante, emprestar prestígio. Em meio ao monte de filmes de terror realizados hoje em dia, o de Eli Roth brilha mais forte por trazer em seus créditos o nome de Tarantino. A estratégia de venda, porém, não terminou aí: a violência contida no filme foi amplamente alardeada. Haveria cenas terríveis, de literalmente revirar o estômago: diversas pessoas teriam vomitado durante sua exibição no Festival de Toronto. Dessa maneira, o filme de US$ 4,5 milhões fez US$ 20 milhões apenas no primeiro fim de semana de exibição e seguiu uma carreira de sucesso. Uma seqüência está a caminho.

A intriga? Dupla de turistas americanos – e um complementar alívio cômico islandês – está na Europa atrás de maconha e garotas. Seduzidos por fotos de beldades do leste europeu, eles embarcam em um trem para a Eslováquia. Lá, por causa "da guerra", não haveria mais homens.

A descida do trem mostra aos mochileiros uma paisagem estranha, desolada. A capital da Eslováquia, Bratislava, parece totalmente desabitada a não ser por gangues de crianças que pedem chiclete. Seguindo o endereço que lhes havia sido fornecido, porém, os rapazes chegam ao albergue/harém. Lá, para todo lado que olham, vêem garotas semi ou totalmente nuas. E elas estão cheias de vontade. Exatamente na primeira noite, depois de terem passado por sauna, barzinho e boate, cada um dos amigos termina com uma eurogata na cama. No dia seguinte, porém, um deles – justamente o engraçado! – desaparece. O que lhe teria acontecido? Mais vai-e-vem e menos nudez depois, descobre-se que a cidade abriga um clube chamado "Elite Hunting", para ricos que gostam de torturar e matar pessoas. O albergue e as garotas funcionavam como chamarizes para as vítimas desavisadas.

O Albergue vai então abandonando a atmosfera de soft porn e passa a ser um filme gore, com muito sangue e retalhação. Dois dos rapazes são brutalmente assassinados – embora só acompanhemos a execução do segundo. O terceiro, Paxton (Jay Hernandez), chega a ser capturado e presencia algumas barbaridades – dentre elas uma aparição do diretor japonês Takashi Miike e seu inglês sofrível – mas consegue escapar, garantindo um final feliz. É nessa segunda metade que está toda a violência de O Albergue. Menos que climas – pois não os cria –, Roth está realmente interessado em chocar seus espectadores. Pouco preocupado com a forma, simplesmente joga em cena tendões cortados, olhos arrancados a maçarico e secreções repugnantes.

Eli Roth chegou a insinuar em algumas entrevistas que há uma ligação entre a prostituição e a tortura dos "elite hunters", pois são ambos comércio do corpo. Em outras, que seu filme seria uma metáfora para o que os governos fazem longe dos olhos dos cidadãos – desde a violência policial até campos de prisioneiros. Em todas, ele repete a história de que a idéia – pois O Albergue é "inspirado em fatos reais" – lhe veio quando viu um website tailandês que vendia justamente a possibilidade de dar um tiro na cabeça de alguém. Contudo, seria preciso suar muito a camisa para encontrar no filme alguma pretensão política ou motivação estética. Por detrás de explicações, apresentador e fama, O Albergue não passa de produto dos mais ordinários.


Juliana Fausto