Veterano
e respeitado nome no cinema argentino, Adolfo Aristarain
traçou em seu trabalho imediatamente anterior, Lugares
Comuns (2002), um interessante retrato da sobrevivência
na velhice, quando submetida aos revezes de uma crise
econômica. Bom filme, apesar da sujeição do diretor
a um excesso de formalismo acadêmico, superada parcialmente
por um roteiro eficiente e por belas atuações.
Já nesse filme mais recente, Roma, a expressão
lugares comuns poderia ser igualmente aplicada. Não
como título, mas como uma própria definição do resultado
final, que apresenta uma infinita sucessão dos tais
lugares comuns. A começar pelo argumento base: escritor
argentino experiente que fez carreira na Espanha, após
longo período de improdutividade, contrata um jovem
aspirante a literato para ajudá-lo na digitação de um
novo romance autobiográfico. Na medida em que o livro
vai sendo escrito, flashbacks acompanham a infância
e juventude do escritor em Buenos Aires.
É impressionante como o roteiro alinha clichês: o pai
amigo que morre cedo, a mãe batalhadora e compreensiva
(a Roma do título) que faz todos os sacrifícios pelo
filho, a juventude em meio à efervescência boêmia portenha
nos anos 60, os amores frustrados, o exílio, o breve
retorno durante a repressão política nos anos 70 que
resulta em uma tomada de consciência. Referências culturais
– filmes, música clássica e jazz – pontuam todos os
momentos da trajetória do protagonista. E quantas vezes
isso já foi visto anteriormente?
A direção de Aristarain igualmente nada faz para surpreender,
tirar seu filme da rotina, partindo de decisões óbvias,
como um simplório jogo de espelhos, tendo o mesmo ator
interpretando o assistente no tempo presente e o escritor
na juventude. É certo que Aristarain demonstra uma competência
artesanal, alinhavando a história de modo a causar algum
interesse, e fazendo uma utilização decente dos enquadramentos
em cinemascope. Mas se perde numa empolgação demasiada
pela história contada, sugerindo um cunho autobiográfico,
que renderia, com boa vontade, bem menos que as duas
horas e meia de projeção.
Gilberto Silva Jr.
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