ROMA
Adolfo Aristarain, Roma, Argentina/Espanha, 2005

Veterano e respeitado nome no cinema argentino, Adolfo Aristarain traçou em seu trabalho imediatamente anterior, Lugares Comuns (2002), um interessante retrato da sobrevivência na velhice, quando submetida aos revezes de uma crise econômica. Bom filme, apesar da sujeição do diretor a um excesso de formalismo acadêmico, superada parcialmente por um roteiro eficiente e por belas atuações.

Já nesse filme mais recente, Roma, a expressão lugares comuns poderia ser igualmente aplicada. Não como título, mas como uma própria definição do resultado final, que apresenta uma infinita sucessão dos tais lugares comuns. A começar pelo argumento base: escritor argentino experiente que fez carreira na Espanha, após longo período de improdutividade, contrata um jovem aspirante a literato para ajudá-lo na digitação de um novo romance autobiográfico. Na medida em que o livro vai sendo escrito, flashbacks acompanham a infância e juventude do escritor em Buenos Aires.

É impressionante como o roteiro alinha clichês: o pai amigo que morre cedo, a mãe batalhadora e compreensiva (a Roma do título) que faz todos os sacrifícios pelo filho, a juventude em meio à efervescência boêmia portenha nos anos 60, os amores frustrados, o exílio, o breve retorno durante a repressão política nos anos 70 que resulta em uma tomada de consciência. Referências culturais – filmes, música clássica e jazz – pontuam todos os momentos da trajetória do protagonista. E quantas vezes isso já foi visto anteriormente?

A direção de Aristarain igualmente nada faz para surpreender, tirar seu filme da rotina, partindo de decisões óbvias, como um simplório jogo de espelhos, tendo o mesmo ator interpretando o assistente no tempo presente e o escritor na juventude. É certo que Aristarain demonstra uma competência artesanal, alinhavando a história de modo a causar algum interesse, e fazendo uma utilização decente dos enquadramentos em cinemascope. Mas se perde numa empolgação demasiada pela história contada, sugerindo um cunho autobiográfico, que renderia, com boa vontade, bem menos que as duas horas e meia de projeção.


Gilberto Silva Jr.