FILMES DA SEMANA
(setembro e outubro de 2005)
Dia 01
Cassino (Casino, 1995), filme dos mais
injustiçados de Martin Scorsese, ganha nova estréia
no Telecine Emotion às 21:00. Atenção:
só vale assistir ao filme se ele estiver no formato
largo de tela. Às 22:00, no Film&Arts, passa
Carrie, a Estranha (Carrie, 1976), momento
de ápice de um certo domínio de linguagem
e uso obsessivo dela (que, aliás, não
é tão estranho a Scorsese, pelo contrário),
por aquele que talvez encarna melhor que todos um determinado
processo do cinema comercial nos anos 70: Brian De Palma.
Mas a grande atração do dia não
tem nada a ver com esse momento do cinema. Trata-se
de Boêmio Encantador (Holiday, 1938),
de George Cukor, e com Katharine Hepburn e Cary Grant
(e nesse momento quem já viu Levada da Breca,
filme feito no mesmo ano, saliva), numa comédia
screwball que mais uma vez envolve mudanças de
parceiros no casamento. Considerado o número
de filmes de George Cukor atualmente disponíveis,
esse filme ganha o páreo da atenção
entre os filmes do dia (os outros, mesmo superiores,
podem ser mais facilmente encontrados em versões
melhores nas locadoras).
Dia 02
Mais uma sessão dupla de um diretor de cinema.
No caso, não um importante realizador, mas uma
figura curiosa dentro do cinema paulista. Feroz crítico
idealista defensor de Walter Hugo Khouri e advogado
do diabo do cinema novo, Alfredo Sternheim começou
a fazer filmes na rabeira de seu ídolo, a partir
das facilidades de produção na passagem
dos 60 para os 70 ocasionada pelo fenômeno da
Boca do Lixo. O Canal Brasil exibe dois filmes de Sternheim
em seqüência, dois dos feitos nos anos 70,
antes do cineasta embarcar na canoa do sexo explícito
dos anos 80. À meia-noite e meia, passa Herança
de Devassos, de 1979. Às 02:20, passa Lucíola,
o Anjo Pecador, de 1975, esse último com
duas deusas da Boca: Rossana Ghessa e Helena Ramos.
Dia 03
Por fim, poderemos assistir a O Cérebro de
um Bilhão de Dólares (Billion Dollar
Brain, 1967), de Ken Russell, melhor atração
de um dia não especialmente forte (numa semana
também não especialmente forte
vale lembrar que o RetroTV ainda não disponibilizou
sua programação para setembro). O filme
é a terceira parte de uma trilogia com o espião
Harry Palmer. Não é exatamente o terreno
preferido de Russell naquele momento, mas ainda assim
é um cineasta em seu período mais importante,ainda
que num filme menos decisivo. 21:00 no Telecine Classic.
Dia 04
Depois de ser exibido pela RetroTV há poucos
meses, A Queda do Império Romano (The
Fall of the Roman Empire, 1964) estréia na
programação do Telecine Classic às
21:00. O filme pertence à era das superproduções
pomposas de Hollywood, e o filme serve bastante como
metáfora do encerramento de um período
clássico no cinema americano de estúdios.
Vários diretores dentre os mais importantes rodaram
alguns desses épicos que pouco se assemelham
ao resto de suas carreiras: Stanley Kubrick, Joseph
L. Mankiewicz, Sergio Leone... Mas o filme de Mann,
embora não seja o terreno mais natural do cineasta,
é bastante digno de nota, como se dá com
qualquer realizador deste quilate. Espera-se que a rede
Telecine exiba o filme em seu formato panorâmico.
Já que não dá para fazer jus aos
70mm do original, que pelo menos ele seja exibido no
formato de tela certo.
Dia 05
Mar Aberto (Open Water, 2003), de Chris
Kentis, foi muito visto como uma espécie de novo
A Bruxa de Blair na época de sua exibição
nos cinemas: digital, perigo da morte, câmera
emulando os registros deixados pelos personagens. Nada
que desse muita vontade de assisti-lo em meio a tantos
filmes em cartaz. Porém... depois que Jean Douchet,
um dos melhores e mais longevos críticos do mundo
(produz desde o começo dos 60), fez o elogio
do filme em sua coluna de DVD's nos Cahiers du Cinéma,
fica difícil ignorar esse filme aí. E
quem, como nós, não assistiu ao filme
nas salas, poderá vê-lo no Telecine Premium,
que lança Mar Aberto às 21:00.
Mas o melhor do dia fica para uma hora depois. O RetroTV,
disparado o melhor canal da semana, inicia um excelente
ciclo de road movies, em que a seleção
foge completamente do óbvio, misturando títulos
bastante conhecidos e filmes muito pouco vistos. Nesse
primeiro dia, passam Contrastes Humanos (Sullivan's
Travels, 1942), de Preston Sturges, às 22:00,
e O Mundo Odeia-me (The Hitch-hiker, 1953),
de Ida Lupino, dois filmes tão preciosos quanto
rarissimamente exibidos e indisponíveis no país.
Obrigatório.
Dia 06
E terça-feira se revela mais uma vez como o dia
mais monótono da semana, também no que
diz respeito a atrações na televisão
a cabo. A única atração que mistura
algum nível de descoberta com algum possível
interesse nos horários noturnos é Minha
Loira Favorita (My Favorite Blonde, 1942,
dir. Sidney Lanfield), veículo para Bob Hope.
Pano rápido. Próximo dia.
Dia 07
Passemos do dia mais fraco para o mais forte. A RetrôTV
(ultimamente é sempre ela) exibe o raro Cidade
Tenebrosa (Crime Wave, 1954), um dos mais
celebrados filmes de André de Toth, diretor de
origem húngara, mais conhecido por ser o quarto
(e menos conhecido) caolho de Hollywood, mas intensamente
admirado por aqueles que conhecem seus filmes. É
a nossa chance de ser um do grupo. Enquanto isso, no
Telecine Classic, passa uma maratona de adaptações
do romance de Philip Stong State Fair. O primeiro
é também o mais digno de nota: Feira
de Amostras, de 1933, dirigido por Henry King e
indicado a dois dos primeiros Oscars. Passa às
19:15. Em seguida, às 22:00, passa o filme de
1945, estrelado por Dana Andrews e dirigido por Walter
Lang, o cineasta da eficácia (modesta) sem assinatura.
Mas o maior atrativo do filme é a trilha, nas
mãos da dupla Rogers-Hammerstein. Por fim, às
23:55, passa a versão de 1962, dirigida por José
Ferrer e estrelada por Pat Boone (!). É, isso
mesmo.
Dia 08
Os canais, como todo mundo, têm altos e baixos.
E certamente esse período da TV5 é uma
baixa, com o mais esquecível da produção
francesa contemporânea e com uma retrospectiva
de algum valor documental mas nenhum cinematográfico
dedicada aos filmes desconhecidos de Brigitte Bardot.
Às 13:20, passa um filme que pode não
se distanciar muito do padrão de qualidade desses
filmes, mas apresenta uma dupla de progatonistas no
mínimo imprevista. Trata-se de Mariées
mais pas trop (2003), de Catherine Corsini, que faz
contracenar a musa Jane Birkin com a eterna 'Rosetta'
Emilie Dequenne. Gainsbourg misturado com Dardenne?
É conferir. Mais curioso que isso, só
Scared to Death, filme de 1946 dirigido por Christy
Cabanne. O filme é a única produção
a cores estrelada por Bela Lugosi. Admirado por quem
o acha surrealista, odiado por quem o acha tosco e nada
aterrorizante, o filme passa na RetroTV às 22:00
na seção Vade Retro.
Dias 09 e 10
Sexta e sábado um tanto desinteressantes, com
estréias meia-boca Um Show de Vizinha
no Telecine Premium, Cold Mountain na HBO,
ambos começando às 21:00 de sábado
, e o melhor
a destacar é uma um tanto requentada mostra dedicada
aos filmes franceses de Luis Buñuel, que passam
em seqüência de dois na sexta e no sábado.
No dia 09, os dois últimos longas-metragens:
às 21:00 O Fantasma da Liberdade (Le
Fantôme de la liberté, 1974), e às
22:55 Esse obscuro Objeto do Desejo (Cet obscur
objet du désir, 1977). No dia 10, é
a vez de O Diário de uma Camareira (Le
Journal d'une femme de chambre, 1964) às
21:00, e às 22:40 A Bela da Tarde (Belle
de jour, 1967). Todos são filmes de primeira
linha, e merecem ser vistos e revistos. Mas não
dava também pra mostrar pra variar algum filme
menos conhecido? Aqueles que já viram e reviram
esses filmes de Buñuel podem tranqüilamente
sentar-se em frente à televisão após
o almoço de sábado e sintonizarem no RetroTV
(olha ele aí novamente) e assistirem a O Homem,
O Orgulho, A Vingança (L'Uomo, l'orgoglio,
la vendetta, 1968), uma adaptação
de Carmen para o western italiano, com roteiro de nada
mais nada menos que Suso Cecchi d'Amico, roteirista
preferido de Luchino Visconti (além de ter trabalhado
também com Michelangelo Antonioni e Valerio Zurlini,
entre outros). Na frente da tela, Franco Nero e Klaus
Kinski disputam o amor de Tina Aumont. Atrás
das câmeras, um desconhecido Luigi Bazzoni. Às
14:00.
Dia 11
Mais uma semana de filmes, e até que há
alguma coisa de interesse. Nenhuma pepita do nível
de Crime Wave a ser descoberta, mas ao menos temos retrospectiva
de cineasta (Martin Ritt), noite dedicada a outro (Ishiro
Honda)... Como uma seção que já
esteve em vários lugares diferentes da revista,
temos nesta semana filmes a descobrir e filmes a recuperar.
O primeiro da fila é Tormenta da Carne
(Flesh and Fury, 1952), filme de Joseph Pevney,
faz-tudo da Universal, que aqui assina um drama sobre
um boxeador surdo que vive entre dois amores. O boxeador
é Tony Curtis, num papel que não é
nem o cômico (Quanto Mais Quente Melhor,
A Corrida do Século), nem o aproveitador
amoral (A Embriaguez do Sucesso, O Grande
Impostor) típico do período. Passa
às 21:00 no Telecine Classic. A outra estréia
do dia é de um diretor irregular, a nova fase
de um academicismo francês bem típico que
costumava ser identificado com a figura de Louis Malle.
Em todo caso, Uma Passagem para a Vida (L'Homme du train,
2002) nunca foi lançado nos cinemas, e a estréia
do Telecine Emotion às 21:00 pode ser uma maneira
para os completistas de assistir ao filme, que aliás
é disponível também em dvd.
Dia 12
Segunda-feira, dia de continuação da mostra
que o RetrôTV dedica aos road movies americanos.
Na sessão dupla desta semana, temos às
22:00 Louca Perseguição (Return
to Macon County, 1975), filme de Richard Compton,
diretor que começou no cinema no final dos anos
60 fazendo filmes de juventude perdida, mas logo começou
a dirigir telefilmes e seriados de televisão,
principalmente para a série Jornada nas Estrelas.
O filme tem a curiosidade de ser o primeiro longa feito
para o cinema que teve a participação
de Nick Nolte. Em seguida, às 23:40, passa Sem
Destino (Easy Rider, 1969), primeiro filme
dirigido por Dennis Hopper, e monumento do hippismo
americano. Peter Fonda, Jack Nicholson e o próprio
Hopper se identificaram para sempre com o clima do filme.
Nessa segunda, o Telecine Classic estréia uma
mini-retrospectiva dedicada à obra do diretor
Martin Ritt, uma das principais vozes de um certo cinema
de esquerda americano, com foco em temáticas
sociais, e que teve o privilégio de trabalhar
com Joanne Woodward e Paul Newman em suas épocas
de mais prestígio. Sempre às 21:00, até
o domingo seguinte, o canal passa um filme de Ritt.
O primeiro é seu segundo longa-metragem, A
Mulher do Próximo (No Down Payment,
1957), um drama sobre vida de subúrbio com Joanne
Woodward e Tony Randall.
Dia 13
À tarde, a TV5 nos propõe uma curiosidade
daquelas. Trata-se de Vynález zkázy (1958, "Aventuras
Fantásticas"), filme tchecoslovaco de aventuras
adaptado de Julio Verne e considerado um clássico
do cinema fantástico. Às 17:30. Para continuar
com os filmes badalados, o Film&Arts traz às
20:00 A Marca da Maldade (Touch of Evil,
1958), filme de Orson Welles com Charlton Heston, Marlene
Dietrich, Janet Leigh e o próprio Welles. O filme
tem uma série de versões, como sempre
nos longas-metragens de ficção de Welles
pós-Cidadão Kane, e até
hoje surgem dados quanto às incorreções
até das cópias que tentam ser mais fiéis
ao projeto original. Ainda assim, seja da forma que
for, é um grande prazer estar diante de um dos
maiores realizadores da história do cinema, falando
sobre aquilo que sempre o interessou: poder e verdade.
No Telecine Classic, o Festival Martin Ritt continua
com A Fúria do Destino (The Sound and
the Fury, 1959), adaptação do romance
de William Faulkner, com Yul Brynner e Joanne Woodward.
Dia 14
O Telecine Emotion estréia às 21:00 a
melhor adaptação de Jane Austen daquela
época de febre de redescoberta da romancista.
Trata-se de uma adaptação de Emma para
os dias de hoje, filmada aos modos de uma comédia
adolescente. Esse é o terreno mais agradável
para Amy Heckerling fazer seu mais belo filme dos últimos
anos, retomando parcialmente o universo que deixara
marcado com a jóia Picardias Estudantis.
As Patricinhas de Beverly Hills (Clueless,
1995), que já ganhou capa da Contracampo, é
um belo registro de classe social e comportamento. Martin
Ritt continua sendo exibido no Telecine Classic, dessa
vez com Paris Vive à Noite (Paris Blues,
1961), em que Joan Woodward e Paul Newman dividem a
tela com Sidney Poitier, Louis Armstrong, num filme
sobre a cena musical parisiense, não sem o típico
toque de exotismo e mistificação em torno
da cidade francesa.
Dia 15
Vamos direto a Martin Ritt, porque as outras atrações
são na madrugada: O Indomado (Hud,
1963), um dos filmes mais famosos de Ritt e uma das
interpretações mais celebradas de Paul
Newman, que aqui contracena com Patricia Neal e Melvyn
Douglas, vencedor do Oscar de ator coadjuvante por este
filme. Mais tarde, no Canal Brasil, às 00:30
passa Bonitas e Gostosas (1978), filme de Carlo
Mossy sobre a lenda de Chapeuzinho Vermelho, tal qual
contada por um locutor de rádio, com três
interpretações muito maliciosas do conto.
Mais tarde, às 04:30, passa Pornô! (1981),
filme em episódios dirigidos por David Cardoso,
o chinês John Doo e Luís Castillini. Apesar
do nome, o filme não é explícito,
"marco" que seria atingido no ano seguinte
por Coisas Eróticas. Entre as estrelas da tela,
Matilde Mastrangi, Liana Duval e a especialíssima
Patrícia Scalvi, uma das grandes atrizes do cinema
brasileiro (Amor Palavra Prostituta e Sonhos
de Vida, ambos de Carlos Reichenbach).
Dia 16
A noite no RetrôTV
é especialíssima, dedicada ao realizador
Ishiro Honda, diretor da Companhia Toho, especialista
em filmes de monstros gigantescos nascidos de mutações
químicas, bomba atômica, etc. É
dele Godzilla, Mothra... E a dose tripla começa
exatamenteo com Mothra (Mosura, 1961),
às 22:00. Em seguida, às 23:40, o canal
passa o duelo de titãs King Kong vs. Godzilla
(Kingukongu tai Gojira, 1962), e, à 01:20,
a raridade The H-Man / Bijo to Ekitainingen
(1958), em que o "homem H" nasce como conseqüência
de bombardeios de hidrogênio. Se os monstros chegaram
ao sucesso cult psicotrônico, esse último
filme resta ainda a ser descoberto por um público
contemporâneo. Na mostrinha Martin Ritt, o Telecine
Classic passa Ver-te-ei no Inferno (The Molly
Maguires, 1970), com Sean Connery, e considerado
um dos melhores filmes de Ritt, sobre um grupo terrorista
irlandês lutando por melhores condições
numa empresa de carvão na Pensilvânia,
em 1876.
Dia 17
Sábado fraco de estréias e curiosamente
fraco também na seleção vespertina
da RetrôTV. Mas ficamos com um clássico
imbatível na sessão Shhh, ainda que seja
um filme reprisado muitas vezes. Trata-se de O Lírio
Partido (Broken Blossoms, 1919), possivelmente
o mais belo filme de D. W. Griffith, apesar de todas
as dificuldades que o diretor tinha de caracterizar
culturas estranhas à sua (no caso, um chinês).
O filme passa às 11:00 e é obrigatório
para todos aqueles que nunca tiveram a experiência
de vê-lo. À noite, resta que a única
atração digna desse nome é mesmo
terminar a semana com Martin Ritt novamente, dessa vez
em Conrack (1974), filme em que Jon Voight interpreta
um professor que vai ensinar numa escola no meio de
uma comunidade numa ilha da Carolina do Sul composta
quase que exclusivamente de negros. Até a semana!
Dia 18
E o Telecine Classic chega ao fim de sua mostrinha mais
interessante do mês, dedicada ao diretor Martin
Ritt. Trata-se de Stanley & Íris (idem,
1990), último filme do cineasta, com Robert De
Niro e Jane Fonda vivendo um amor de classe trabalhadora.
Curioso um filme de apenas 15 anos ser apresentado num
canal de filmes "clássicos", mas vá
lá. Como sempre, o filme é exibido às
21:00. Em seguida, às 22:50, o mesmo canal exibe
O Bom Pastor (Going My Way, 1944), um
dos mais bem-sucedidos filmes de Leo McCarey, vencedor
de sete Oscars e estrelado por Bing Crosby, no que é
considerada por muitos sua melhor atuação.
No entanto, a maior atração do dia é
a estréia do programa Brasil Cult, no Canal Brasil.
O programa é dedicado à parte mais aventurosa
e ousada do cinema brasileiro. E, para começar,
um filme que surge como carta de princípios:
Superoutro (1989), obra-prima de Edgard Navarro,
com Bertrand Duarte em estado de graça fazendo
o herói do título, misto de herói
libertário e maluco beleza. O Brasil Cult tem
apresentação de Leona Cavalli e o filme
seguinte, igualmente imperdível, é Câncer
(1972), de Glauber Rocha.
Dia 19
Mais uma segunda-feira dominada pelo RetrôTV e
por sua bacaníssima mostra dedicada a road
movies. Ao invés de requentar os mesmos batidos
títulos, o canal nos traz às 22:00 Terra
de Ninguém (Badlands, 1973), primeiro
longa-metragem de Terence Malick, com Sissy Spacek e
Martin Sheen fazendo um casal de namorados que matam
a família da moça e saem em disparada
pelas estradas de Dakota. Em seguida, passa Curva
do Destino (Detour, 1945), mais conhecido
filme de Edgar G. Ulmer, diretor que ficou estigmatizado
apenas como um sujeito que sabia fazer belos filmes
com migalhas de dinheiro, mas que é muito mais
que isso. Dado que é bem difícil entrar
em contato com grande parte de sua produção,
qualquer exibição é signa de nota
e a possibilidade de conhecer uma sensibilidade única
na história dessa arte tão misteriosa
que é o cinema. Às 23:45 no RetrôTV.
Dia 20
Uma terça-feira sem muitas surpresas, para variar.
Mas alguns belos filmes para fazer valer o dia. O primeiro
é Charity, Meu Amor (Sweet Charity,
1969), primeiro filme de Bob Fosse, adaptação
musical de Neil Simon e Peter Stone para Noites de
Cabíria de Fellini, que o Film&Arts exibe
às 19:00. Dançarino e coreógrafo,
homem de teatro, Fosse sempre foi muito bem reconhecido
por público e crítica, mas nunca teve
seu trabalho esquadrinhado por um trabalho estilístico
mais exaustivo. Em seguida, às 22:00, o Eurochannel
exibe novamente O Dilema de uma Vida/Deserto Vermelho
(Il deserto rosso, 1964), um dos grandes filmes
da carreira de Michelangelo Antonioni, e um dos trabalhos
de cor mais magistrais da história do cinema.
Monica Vitti contrastada com a paisagem destroçada
do lixo industrial é um dos momentos mais emocionantes
de sua carreira, e, por que não, da sétima
arte. Um filme para ver e rever.
Dia 21
Stanley Kramer nunca foi exatamente um diretor especial.
Tornou-se um nome mais pelas temáticas de seus
filmes, entre o polêmico e a relevância
política, do que por sua assinatura, bastante
pesada e/ou pouco reconhecível. O Vento Será
Tua Herança (Inherit the Wind, 1960),
que o RetrôTV exibe às 22:00, não
foge à regra, mas temos aqui um filme de acesso
relativamente difícil e, dada a falta de opções
mais interessantes no mesmo dia, uma atração
pelas interpretações de Spencer Tracy
e Fredric March, além de Gene Kelly num papel
dramático.
Dia 22
Feito entre um documentário sobre a Guerra da
Coréia (This is Korea!, 1951) e Depois
do Vendaval (The Quiet Man, 1952), Sangue
por Glória (What Price Glory, 1952)
não é um dos filmes mais rememorados de
John Ford. Inclusive, em seu raro livro de entrevistas
com Ford, Bogdanovich não pede ao cineasta que
comente especialmente sobre ele. Mas quem conhece dois
ou três filmes de Ford sabe que nesse mundo não
há exatamente Fords "menores" ou pouco
interessantes. Protagonizado por James Cagney, Sangue
por Glória é um remake do filme de Raoul
Walsh realizado em 1926 com Edmund Lowe e Victor McLaglen.
E estréia no Telecine Classic às 21:00.
Dia 23
Na falta de grandes atrações para uma
sexta-feira em que todas as atenções estarão
voltadas para o primeiro dia do Festival do Rio 2005,
reprisemos aqui a dica de alguns meses atrás
e falemos de Shampoo
(idem, 1975), filme de Hal Ashby roteirizado por
Robert Towne e Warren Beatty (em seu primeiro roteiro),
e protagonizado por Beatty, Julie Christie e Goldie
Hawn, além de interpretação que
rendeu a Lee Grant o Oscar de atriz coadjuvante. Uma
comédia com ênfase sexual bastante ousada
para filmes hollywoodianos com grandes estrelas, Shampoo
passa no Cinemax Prime às 17:45, e depois é
exibido no Cinemax Prime 2 às 20:45, um horário
mais nobre.
Dia 24
Na briga das estréias da semana, dessa vez é
o Telecine Premium que vence o round, exibindo
Van Helsing Caçador de Monstros
(Van Helsing, 2004), de Stephen Sommers. Não
que o filme seja tão interessante quanto os dois
volumes da série A Múmia, também
de Sommers, mas Van Helsing está longe
de ser o lixo que parte dos comentários e o fracasso
de público leva a crer. A tentativa de misturar
a magia dos antigos filmes de capa&espada à
produção contemporânea state of
the art não rendeu o esperado, mas o filme tem
momentos muito interessantes, e Sommers não é
um cineasta a ser descartado em seu desejo de cinema.
Trata-se de uma sensibilidade diferenciada (mesmo que
ainda não dê sinais de ser especial) no
meio de um braço da produção americana
que não vem dando grandes relizadores ultimamente
(ou alguém prefere Rob Cohen?). Sommers não
está tão distante assim de Guillermo del
Toro, por exemplo. Mas o destaque do dia vai mesmo para
A Hora da Pistola (Hour of the Gun, 1967),
retomada que John Sturges faz da história de
Wyatt Earp, Doc Holiday e do clã Clanton. Se
o belíssimo Sem Lei e Sem Alma (Gunfight
at the OK Corral, 1957), feito dez anos antes, era
o relato do mito heróico de Earp, A Hora da
Pistola traz uma versão que tenta atenuar
a mitologia e trazer questões acerca da justeza
dos atos de Earp, colocando-o mais numa vendeta do que
representando a transparência da lei. O filme
passa às 17:50 no RetrôTV.
Dia 24/09 a 31/10
A
coluna não foi publicada no perído (a
desculpa é boa: Festival do Rio e Mostra de São
Paulo...).
Ruy
Gardnier
|