O MÉTODO
Marcelo Piñeyro, El metodo, Espanha/Argentina, 2005

O Método representa uma abertura de novos horizontes na carreira do cineasta argentino Marcelo Piñeyro. Não somente pelo fato de Piñeyro estar pela primeira vez no comando de uma produção majoritariamente espanhola, mas principalmente pelo fato do diretor abandonar um pouco seu estilo de filmes de ritmo veloz, com intenso aproveitamento de espaços externos amplos – Cavalos Selvagens (1995) e Plata Quemada (2000) talvez sejam os melhores exemplos desse estilo – em favor de um filme com a ação confinada a praticamente um único cenário, que explicita tratar-se de uma adaptação teatral.

Os primeiros cinco minutos de O Método parecem dirigir-se, entretanto, a uma direção oposta: várias personagens iniciando seu dia, muita correria, uso de tela dividida; tudo parece indicar uma narrativa frenética e picotada. O filme logo se apruma quando se verifica que todas as personagens se dirigem a uma mesma sala de reuniões. Temos então sete candidatos disputando um único cargo de executivo numa grande corporação. Descobrem que serão submetidos a uma seleção por um certo “método Grömhold” que irá eliminando um a um sucessivamente. Definida essa linha, resta saber: quem será o escolhido?

Piñeyro demonstra claramente a intenção de fazer desse seu novo trabalho uma virulenta crítica à competitividade e à crueldade nas relações trabalhistas em tempos de globalização. Tenta acentuar esse ponto de vista situando a ação num dia em que a cidade Madri estaria paralisada por uma intensa onda de protestos contra uma reunião do Banco Mundial. Isso acaba por tornar O Método um filme demasiado pretensioso. O que poderia vir a ser um interessante exercício de estilo, acaba querendo (de forma infrutífera, diga-se) tomar um vulto excessivo de cinema-denúncia, abraçando uma abertura de universo temático às vezes pouco coerente com a unidade dramática que poderia ser mantida, caso Piñeyro tivesse optado por manter sua narrativa completamente fechada nas personagens.

Enquanto isso ocorre, durante cerca dos primeiros quarenta minutos, o filme consegue manter-se interessante e coeso, preservando um formato de embate verbal ao redor de uma mesa, bem similar a Doze Homens e uma Sentença. Apesar desses momentos servirem principalmente a um formato esquemático de apresentação de personagens – muito bem defendidos, por sinal, por um elenco all star de intérpretes argentinos e espanhóis – Piñeyro segue muito bem as linhas definidas por Sidney Lumet no filme de 1958, que lhe serviu de modelo, e cativa o espectador que embarca nesse inusitado jogo de gato e rato, não somente entre os sete candidatos, mas também entre eles e a empresa todo-poderosa. Mas se esse início cativa, também deixa delineadas uma série de características no conjunto atores-personagens que gera uma certa previsibilidade na trama. Fica, então, definido o embate romântico e profissional entre o casal protagonista formado pelo galã Eduardo Noriega e a sensual Najwa Nimri, que se reencontram após um envolvimento anterior à ação. Edouard Fernandez repete o tipo antipático e vilanesco que o consagrou – e isso acaba por definir quem seriam os reais finalistas na disputa.

A partir do momento em que as personagens param para o almoço, o filme começa a perder um pouco do seu carisma inicial. Primeiro pelo fato de que, com a eliminação dos dois primeiros candidatos, saem de cena os dois atores mais talentosos do grupo. Segundo porque a ação vai se tornado mais confusa e perdendo um pouco de credibilidade, sendo dominada por joguinhos tolos, que tomam maior amplitude após a revelação de quem seria o avaliador da empresa infiltrado no grupo. Terceiro pelo fato do filme passar a querer falar cada vez mais de economia globalizada, em especial numa disputa entre os três últimos finalistas, na qual cada um defenderia as vantagens econômicas de três nações européias: Inglaterra, França, Espanha. Conclui com momentos que beiram o melodrama rasteiro e com um plano geral completamente infeliz, que prima pela falta de sutileza.

Em meio a essa relativa frustração, há que se destacar, porém, uma certa habilidade na direção de Marcelo Piñeyro. Se este certamente encontra-se sujeito às limitações, não somente de um roteiro, mas de todo um conceito inerente ao filme, não há como negar que o cineasta logra o êxito de encenar e costurar o filme de forma que esse preserve seu interesse mesmo nos momentos menos satisfatórios, o que não é pouca coisa. Com isso, O Método consegue, mesmo dentro de todas suas limitações, sustentar-se como um filme no mínimo curioso.

Gilberto Silva Jr.