O Método representa uma
abertura de novos horizontes na carreira do cineasta
argentino Marcelo Piñeyro. Não somente pelo fato de
Piñeyro estar pela primeira vez no comando de uma produção
majoritariamente espanhola, mas principalmente pelo
fato do diretor abandonar um pouco seu estilo de filmes
de ritmo veloz, com intenso aproveitamento de espaços
externos amplos – Cavalos Selvagens (1995) e
Plata Quemada (2000) talvez sejam os melhores
exemplos desse estilo – em favor de um filme com a ação
confinada a praticamente um único cenário, que explicita
tratar-se de uma adaptação teatral.
Os primeiros cinco minutos de O Método parecem
dirigir-se, entretanto, a uma direção oposta: várias
personagens iniciando seu dia, muita correria, uso de
tela dividida; tudo parece indicar uma narrativa frenética
e picotada. O filme logo se apruma quando se verifica
que todas as personagens se dirigem a uma mesma sala
de reuniões. Temos então sete candidatos disputando
um único cargo de executivo numa grande corporação.
Descobrem que serão submetidos a uma seleção por um
certo “método Grömhold” que irá eliminando um a um sucessivamente.
Definida essa linha, resta saber: quem será o escolhido?
Piñeyro demonstra claramente a intenção de fazer desse
seu novo trabalho uma virulenta crítica à competitividade
e à crueldade nas relações trabalhistas em tempos de
globalização. Tenta acentuar esse ponto de vista situando
a ação num dia em que a cidade Madri estaria paralisada
por uma intensa onda de protestos contra uma reunião
do Banco Mundial. Isso acaba por tornar O Método
um filme demasiado pretensioso. O que poderia vir
a ser um interessante exercício de estilo, acaba querendo
(de forma infrutífera, diga-se) tomar um vulto excessivo
de cinema-denúncia, abraçando uma abertura de universo
temático às vezes pouco coerente com a unidade dramática
que poderia ser mantida, caso Piñeyro tivesse optado
por manter sua narrativa completamente fechada nas personagens.
Enquanto isso ocorre, durante cerca dos primeiros quarenta
minutos, o filme consegue manter-se interessante e coeso,
preservando um formato de embate verbal ao redor de
uma mesa, bem similar a Doze Homens e uma Sentença.
Apesar desses momentos servirem principalmente a um
formato esquemático de apresentação de personagens –
muito bem defendidos, por sinal, por um elenco all
star de intérpretes argentinos e espanhóis – Piñeyro
segue muito bem as linhas definidas por Sidney Lumet
no filme de 1958, que lhe serviu de modelo, e cativa
o espectador que embarca nesse inusitado jogo de gato
e rato, não somente entre os sete candidatos, mas também
entre eles e a empresa todo-poderosa. Mas se esse início
cativa, também deixa delineadas uma série de características
no conjunto atores-personagens que gera uma certa previsibilidade
na trama. Fica, então, definido o embate romântico e
profissional entre o casal protagonista formado pelo
galã Eduardo Noriega e a sensual Najwa Nimri, que se
reencontram após um envolvimento anterior à ação. Edouard
Fernandez repete o tipo antipático e vilanesco que o
consagrou – e isso acaba por definir quem seriam os
reais finalistas na disputa.
A partir do momento em que as personagens param para
o almoço, o filme começa a perder um pouco do seu carisma
inicial. Primeiro pelo fato de que, com a eliminação
dos dois primeiros candidatos, saem de cena os dois
atores mais talentosos do grupo. Segundo porque a ação
vai se tornado mais confusa e perdendo um pouco de credibilidade,
sendo dominada por joguinhos tolos, que tomam maior
amplitude após a revelação de quem seria o avaliador
da empresa infiltrado no grupo. Terceiro pelo fato do
filme passar a querer falar cada vez mais de economia
globalizada, em especial numa disputa entre os três
últimos finalistas, na qual cada um defenderia as vantagens
econômicas de três nações européias: Inglaterra, França,
Espanha. Conclui com momentos que beiram o melodrama
rasteiro e com um plano geral completamente infeliz,
que prima pela falta de sutileza.
Em meio a essa relativa frustração, há que se destacar,
porém, uma certa habilidade na direção de Marcelo Piñeyro.
Se este certamente encontra-se sujeito às limitações,
não somente de um roteiro, mas de todo um conceito inerente
ao filme, não há como negar que o cineasta logra o êxito
de encenar e costurar o filme de forma que esse preserve
seu interesse mesmo nos momentos menos satisfatórios,
o que não é pouca coisa. Com isso, O Método consegue,
mesmo dentro de todas suas limitações, sustentar-se
como um filme no mínimo curioso.
Gilberto Silva Jr.
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