Nos primeiros 15 minutos de
seu novo filme, Alejandro Agresti já apresenta todas
as suas armas, e comprem-nas quem quiser: num clássico
enredo melodramático, temos a filha que nunca conheceu
o pai, a cidade onde todos que lá habitam guardam
um segredo, a mãe se recuperando de uma doença fatal,
criancinhas amadurecidas... Está tudo posto. A partir
deste começo, não restam dúvidas: quem quiser reclamar
que é mais um dramalhão nem precisa mais continuar na
sala. Os que lá continuam precisam saber apreciar os
momentos de um melodrama autêntico.
Porque, não restem dúvidas: estes momentos há de sobra.
Agresti dá um segundo passo na direção inequívoca do
cinema popular, após Valentin (cujo garoto protagonista
diz presente no elenco deste novo filme), e o faz sem
qualquer trava. Esta sua entrega é parte do interesse
que Um Mundo Menos Pior inegavelmente tem. Porque
Agresti possui mais do que conhecido talento como encenador,
diretor de atores e construtor de personagens, especialmente
feliz naqueles com inclinação cômica (como é o caso,
invariavelmente, da maioria deles). Durante uma hora
no centro narrativo deste filme, ele parece aqui ter
destrinchado completamente o genoma do melodrama clássico,
conseguindo manter em iguais doses o comentário social,
as reviravoltas de enredo e o interesse humano. A cena
que marca o ápice do seu sucesso é a desancada da jovem
sem pai contra a velha dona da casa que ela e a família
alugam, uma autêntica catarse da Argentina dos ex-militantes
anti-ditadura contra um determinado status quo
hipócrita e conservador. Seguida da cena onde a mãe
vai de encontro ao pai num boliche-bingo, onde canta
um autêntico cantor de churrascaria argentino, temos
ali a combinação quase letal da emoção desbragada com
a elegância da realização.
Infelizmente, porém, dali para diante Agresti perde
bastante o rumo da narrativa. Todo o entrecho final
parece forçado, as cenas viram grandes discursos, ao
invés de orgânicos diálogos (a sequência que marca mais
fortemente esta virada é a da conversa no hotel com
o casal de lésbicas, sem dúvida), e ele revela que abriu
mais portas do que dava conta de fechar. É ali que a
música orquestral, anteriormente já incômoda, revela-se
realmente pouco inspirada, e que os atores começam a
desandar também. É uma pena, porque o filme, que num
determinado momento atinge uma quase perfeição no trabalho
do gênero melodramático, fecha numa chave francamente
negativa – inclusive com um plano final só menos óbvio
do que abrupto. Após este, fica realmente a sensação
de uma obra terminada às pressas, para cumprir um orçamento
ou um prazo – o que é um desperdício das suas bases
sólidas num acabamento mal cuidado. Um Mundo Menos
Pior merecia deixar melhor impressão.
Eduardo Valente
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