LEMMING - INSTINTO ANIMAL
Dominik Moll, Lemming, França, 2005

Desde o começo de Lemming sabemos do que Dominik Moll quer tratar: o mal-estar de um bem estabelecido casal jovem e burguês na França de hoje. Não se pode dizer que seja tema exatamente novo, mas também não se pode descartá-lo de saída, ainda mais quando entra em cena uma Charlotte Rampling deslumbrante, que rouba cada uma das cenas que tem no filme. Neste começo, Lemming até interessa, enquanto mistura um estranho humor à sua constante malaise. É inegável que, especialmente depois da sequência-choque com Rampling, queremos saber onde Moll quer chegar. Pena que quando descobrimos, não é lá muito longe...

Na verdade, Moll parece querer radicalizar com Lemming a opção de exercitar-se no "filme comercial de autor". Ou seja: um filme que atenda a uma série de pressupostos de identificação do público (clareza narrativa, astros do cinema, jogo com os gêneros), mas ao mesmo tempo queira sempre ter um "quê a mais". Pois é justamente no quê a mais que Moll se embanana o tempo todo, e nos deixa sempre pensando como ele podia ser melhor se simplesmente se contentasse em fazer um filme de gênero. Lemming expele referências e influências de cada fotograma: uma pitada de De Palma aqui, um punhado de Polanski acolá. De fato a melhor maneira de descrever sua narrativa seria numa maneira quase tão ridiculamente clichê quanto aqueles falsos pitches de roteiro que Altman mostrava em O Jogador: trata-se de uma refilmagem da primeira parte de Lost Highway, misturada com o Sitcom de François Ozon, sendo isso tudo escrito por Edward Albee e filmado pelo Stanley Kubrick - de De Olhos Bem Fechados (e aliás, uma das poucas boas coisas do filme é o uso da figura de Laurent Lucas bem parecido com o Tom Cruise do filme de Kubrick). E é especialmente doloroso ver isso na tela, porque Moll transfigura diferentes idéias e obsessões de cada um destes cineastas, sem nunca tornar nenhuma delas suas de fato – filma a quilômetros de distância do seu objeto.

De fato, é muito sintomático que o nome do filme se refira a um roedor parecido com um hamster, porque Moll filma seus personagens como cobaias de algum estranho experimento cinematográfico. Experimento que falha tanto mais pela obsessão que toma o cineasta e faz com que ele queira que cada plano seja "brilhante", cheio de sacadas de luz e som - só que ele não se dá conta que as "sacadas" são as mais óbvias possíveis (um personagem que vai penetrando na escuridão de seu caráter caminha por uma estrada até sumir na escuridão de um túnel – uau!). O filme logo se torna um amontoado interminável, porque claramente Moll acredita que teve tantas boas idéias vendo filmes dos cineastas citados, que quer usar todas num mesmo filme, se possível – o que não é possível, claro. Ainda mais para um filme que deseja apenas chegar num final que obviamente estava desenhado desde os seus primeiros planos.

Eduardo Valente