HORST BUCHHOLZ... MEU PAI
Christopher Buchholz e Sandra Hacker, Horst Bucholz... Mein papa, Alemanha, 2005

Este filme começou a ser feito colhendo diversos depoimentos de Horst Buchholz, que morreu antes do projeto terminar; assim, Christopher Buchholz, junto com Sandra Hecker, teve que mudar o enfoque: tratava-se agora de alguém morto e não mais uma pessoa presente no cotidiano de todos que falam no documentário; qual seria o andamento do projeto com Buchholz vivo e quais as mudanças que acabaram sendo feitas é impossível saber, o fato é o filme que temos pronto hoje. E, ao analisar o filme plano a plano, ou seqüência a seqüência, acha-se mais pontos negativos do que positivos. Isso porque o grande mérito desse documentário está no todo, em como se encaminha a “narrativa”.

Ao começar o filme e seus depoimentos vem a ingrata sensação de que será um documentário feito pelo filho para mostrar e legitimar ao mundo como foi grande seu pai; mas o caminho é totalmente outro, a questão é totalmente familiar e não profissional. Não há, também, um objetivo pré-estabelecido, fazendo com o que o filme fosse apenas mero artifício para se comprovar uma idéia; o “objetivo”, o que se está buscando, vai sendo descoberto com o andar do filme, vai se revelando aos poucos, numa clara impressão de que o espectador vai caminhando junto com Christopher, o filho.

É uma grande reunião familiar. O assunto é o pai, o entrevistador é o filho e os entrevistados são: o próprio pai, a mãe, a irmã e o próprio filho. Fica óbvio que o interesse não é o homem público, o ator, e sim a impressão que esse homem causou, e causa, nas pessoas mais próximas a ele. Não há nenhum distanciamento nos depoimentos, em nenhum momento parece que estamos vendo um discurso imparcial e dono de uma verdade: o tom é sempre de uma conversa entre duas pessoas íntimas sobre outra íntima a ambos – idéia que fica clara como imagem na conversa entre os dois irmãos, ambos sentados informalmente num sofá, sem nenhuma preocupação em passar alguma idéia de seriedade inabalável. Também em como a vida profissional é mostrada: trechos de filmes e noticiários surgem na tela do nada – quase paralelo com um cotidiano, onde a convivência familiar é constante, porém entrecortada por acontecimentos inerentes a vida de um ator.

Acaba que vemos um filme menos sobre Horst e muito mais sobre Christopher. Como o próprio começo e fim indicam: abre-se o filme com Christopher entrando na casa do pai vazia de objetos, e durante todo o documentário vemos cenas dele ali perambulando e lembrando do pai; fecha-se o filme com ele saindo da casa. Tudo o que vemos é como o que ele viveu naquele momento, ali dentro: uma forma de Christopher tentar matar um pouco a saudade do pai e, talvez, tentar entendê-lo um pouco mais. Mas, por sorte não é nada que se aproxime de uma lição ou exemplo para quem assiste: é apenas um filme extremamente pessoal sobre uma família conversando a respeito de alguém querido, que morreu.

Francisco Guarnieri