TUDO ACONTECE EM ELIZABETHTOWN
Cameron Crowe, Elizabethtwon, EUA, 2005

Após um longa impessoal dedicado basicamente a seu ator, não surpreende que Tom Cruise devolva o favor a Cameron Crowe produzindo o trabalho seguinte a Vanilla Sky (além da camaradagem que não é de hoje entre a dupla, parceiros pela primeira vez em 1996). A questão é mesmo como se erguer um trabalho, ou que rumo seguir, após realizar um trabalho como aquele. A saída de Crowe talvez tenha sido a mais fácil, a de recuar e fazer um filme pequeno sem grandes aspirações (vale lembrar também que o antecessor de Vanilla Sky foi Quase Famosos, seu projeto mais pessoal, logo mais passional), o que significa pouco já que a partir deste princípio o resultado poderia tomar muitos rumos, do melhor ao pior. Talvez o mais difícil de observar em Elizabethtown seja justamente que o filme não escolhe um deste rumos, mas abraça todas estas possibilidades, alternando entre o preguiçoso e o elaborado, belos momentos de encenação com momentos horripilantes, dando forma uma projeto um tanto turvo.

Salta aos olhos a opção do absurdo, algo que caminha em todos os sentidos pelo filme. Assim, se força além da conta o sentimento de perdedor do personagem de Orlando Bloom, que causa um desastre bilionário em uma empresa de calçados completamente surreal. Surreal tal qual os tipos dos moradores de Elizabethtown, das ações e do discurso de sua mãe, da fofice de Kirsten Dunst, a conversa pelo celular que dura infinitas horas... Isso pode gerar mesmo algumas cenas e tiques bastante irritantes, mas a opção por fugir por completo da realidade traz também momentos de força ao filme, em especial algumas cenas do casal central – é um fato que Dunst é quem faz com que Elizabethtown tenha vida, mesmo que Bloom seja quem o carregue, com um talento bastante oposto à fama que o persegue – onde mesmo quando tudo parece correr por demais, Crowe encontra um tom.

A jornada vai ganhando contornos interessantes à medida que Bloom é solto nesse novo lugar-título, onde vai conhecendo uma porção de personagens excêntricos que faziam parte da vida de seu falecido pai. Justamente quando se afasta – quase se esquecendo por completo – do constrangedor começo, em que à parte um ou dois planos bons, é uma coleção de equívocos, Crowe parece permitir que seu filme comece aos poucos a respirar, sair dessa bolha, encontrar um caminho que não aquele inicial. Criando o habitual clima crowiano através da escolha das canções – mais um objetivo que um artifício desta vez, outro sinal da preguiça que parece habitar em parte seu trabalho neste filme –, ele vai encontrando aos poucos os momentos prazerosos ao filme, mesmo que tente se auto-sabotar, como quando emenda os rápidos flashbacks da infância e de momentos com o pai e o enorme discurso de Susan Sarandon, que por mais que soe em muitos momentos absolutamente errado, é sem dúvida um passo corajoso dado o fato que cria uma ruptura total no filme.

Disposto a fechar o filme com o momento em que Bloom se resolveria tanto com o fiasco de seu trabalho quanto com a ausência de relação com o pai – e do romance com Dunst de quebra – em uma viagem pela estrada seguindo o planejamento dela, a viagem que há anos ele e o pai programavam e não realizavam. O clímax é quase um pot-pourri de como o filme funciona como um todo, uma constante irregularidade que alterna erros e acertos um sobre o outro. No entanto, talvez como um todo, o filme soe melhor do que o fim isoladamente, com um clima sempre aprazível mas imagens nem sempre tão boas, idéias que não poderiam dar certo mas que de algumas forma descem bem. É tudo muito estranho.


Guilherme Martins