ARQUIVO DA EDIÇÃO DE AGOSTO DE 2005.

ARTIGOS
A Sentinela, de Arnaud Desplechin (exibição na TV5)
por Tatiana Monassa (10/02/2005)

Piano Blues, de Clint Eastwood (exibição na GNT)
por Paulo Ricardo de Almeida (07/01/2005)

FILMES DA SEMANA
(agosto de 2005)


Dia 01
Aproveitando o link-Cassavetes, existe sempre uma certa curiosidade em ver como um ator conhecido se sai quando parte para a direção. Alguns, como Paul Newman – por mais que seus filmes sejam praticamente invisíveis hoje, especialmente O Preço da Solidão, considerado obra-prima por muitos – têm carreiras consistentes e uma visão de mundo. Outros, como Robert Redford e Danny DeVito, conseguem uma continuidade com eficiência e algum interesse. Tudo isso para dizer que o primeiro (e até agora único) filme de John Leguizamo, que pode ser visto hoje nos cinemas no belo Terra dos Mortos, estréia nessa segunda-feira na HBO. O Invicto (Undefeated, 2003) é uma produção para a televisão sobre um boxeador que começa a ganhar fama e construir uma carreira. Se algo mais forte há de vir, só o tempo dirá. O filme passa às 21:00.
Dia 02
Na espera pela retrospectiva Japão, o Telecine Classic nos oferece uma pequena homenagem a Vivian Blaine
, atriz não exatamente célebre, morta há dez anos. Cantora e atriz da Broadway passada para o cinema, ela ficou mais famosa por seus filmes nos anos 50, mas a seleção do canal privilegia seus filmes dos anos 40. Nesta terça-feira, ele exibe Serenata Boêmia (Greenwich Village, 1944, dir. Walter Lang), filme estrelado por Carmen Miranda e Don Ameche. Mas se quisermos ver cinema de fato, é melhor pegar o controle remoto e colocar no Film&Arts, que exibe Cerimônia Secreta (Secret Ceremony, 1968), filme de Joseph Losey estrelado por Elizabeth Taylor e Mia Farrow no mesmo ano de O Bebê de Rosemary, além de Robert Mitchum. Losey na Inglaterra sempre teve seu pezinho no empostado e no excessivamente expressionista, mas tem lá seu valor. O filme passa às 20:00.
Dia 03
Num dia particularmente fraco de atrações novas ou raras nos canais a cabo, o Canal Brasil exibe dois filmes que em alguma medida são ou já foram figurinha fácil em sua programação, mas que em todo caso são pilares para qualquer um que quiser pensar cinema a sério no Brasil. Às 20:00, vemos a boemia intelectual carioca retratada com a entrega e a pungência ímpares de Hugo Carvana em Bar Esperança (1983). Logo depois, às 22:40, é a vez de fazer a ponte aérea e acompanhar um percurso de festas, lutas e engajamento com a vida em Alma Corsária (1994), um dos mais belos filmes de Carlos Reichenbach. No Telecine Classic, por desencargo de consciência (e para a informação do leitor apenas), Vivian Blaine e Perry Como em Sonhos de Estrela (Doll Face, 1946) às 21:00
Dia 04
Não é lá de se estourar o champanhe a estréia semanal regular da TV5 esta vez: Brotinho do Outro Mundo (La Mariée est trop belle, 1956), de Pierre Gaspard-Huit. A atração principal, como não poderia deixar de ser, é a beleza e juventude de Brigitte Bardot antes da descoberta em ...E Deus Criou a Mulher. Passa às 21:25. Por sua vez, o Canal Mercosul, oops, Canal Brasil estréia um dos filmes mais famosos de Hector Olivera, No habrá más penas ni olvido (1983). Olivera é um dos cineastas argentinos mais conhecidos, e seu cinema é eminentemente político, com todas as limitações e algumas das qualidades da expressão. Ainda assim, quando todo mundo fala em novo cinema argentino, não custa dar uma olhada no antigo. Passa às 22:40. Por fim, a homenagem a Vivian Blaine continua no Telecine Classic, com Se Eu Fosse Feliz (If I'm Lucky, 1946, dir. Lewis Seiler) às 21:00.
Dia 05
O Telecine Emotion estréia em sua programação No Mundo da Lua (The Man in the Moon, 1991), último filme de Robert Mulligan até a presente data. Como já mencionamos aqui (possivelmente a propósito deste mesmo filme sendo exibido em outro canal), Mulligan é mais conhecido por aqui por ter dirigido O Sol É Para Todos, mas seu cinema merece uma avaliação mais consistente, algo que já vem sendo feito nos EUA mas que ainda não viajou para fora da América do Norte (França incluída). Além do interesse por Mulligan, os fãs de Reese Witherspoon poderão vê-la ainda adolescente em papel de destaque. O horário é o costumeiro das estréias, 21:00.
Dia 06
A grande estréia da semana, porém, é Minha Vingança (Fukushû suruwa wareniari, 1979), um dos filmes mais importantes na carreira de Shohei Imamura, e item de raridade por estas bandas. A história de um assassino pode achar algumas ressonâncias com A Enguia (Unagi), vencedor da Palma de Ouro em Cannes, mas aqui o terreno é ainda mais pantanoso e perturbador. Bela preparação para a enxurrada de vigorosos títulos do cinema japonês que a rede Telecine lança com mais firmeza a partir da próxima semana. O filme passa às 23:10. Preparar para ver e gravar.

Dia 07
É nessa semana que a rede Telecine pega fogo exibindo uma série de filmes japoneses bastante raros. O mimo começa com Batalhas no Céu e no Inferno (Ten to Chi to, 1990), de Haruki Kadokawa. Kadokawa é uma figura curiosa. Filho do dono de uma grande editora, Kadokawa Shoten, decidiu em 1975, quando morreu seu pai, diversificar a empresa e produzir filmes adaptados de obras literárias. Vão-se desde então mais de 50 filmes com produção sua, e apenas cinco dirigidos. Batalhas... não foge à regra: baseado numa obra de Naomi Zaizen, produção imponente, drama e aventura misturados, etc. Passa no Telecine Action às 21:00. Em seguida, trocar para o Telecine Emotion e seguir a maratona com Crianças de Nagasaki (Kono ko wo nokoshite, 1983), de Keisuke Kinoshita. Antepenúltimo filme de Kinoshita, prolífico realizador de estúdios, Crianças... é a dramatização da explosão atômica na cidade de Nagasaki, e a conseqüente contaminação radioativa dos sobreviventes. Baseado no livro proibido de Takashi Nagai, Crianças de Nagasaki passa às 23:30 no Telecine Emotion.
Dia 08
Pouquíssimo conhecido filme de Yasujiro Ozu, Dias de Juventude (Gakusei romance: Wakaki hi, 1929) não tem muito a ver com a depuração estética de seus filmes mais famosos e tardios. Trata-se de uma comédia de linguagem bastante mais tradicional, e o mais antigo filme existente de Ozu (seus sete filmes anteriores estão todos perdidos, assim como outros nove que vieram posteriormente). Não é o único filme mudo disponível do diretor, que continuou a fazer filmes silenciosos nos primeiros anos da década de 30, mas a não-exclusividade não faz deste filme um item menos obrigatório. Yasujiro Ozu é um desses grandes do cinema que merece ter qualquer filme visto e revisto. Então, lugar marcado em frente à televisão às 21:00, no Telecine Classic. Antes disso, às 15:30, no quadro de uma bem vinda retrospectiva John Ford, o RetrôTV exibe Ao Rufar dos Tambores (Drums Along the Mohawk, 1939), primeiro filme em cores de Ford, e já um deslumbre visual de um gênio do cinema. Mais tarde na noite, o mesmo canal exibe uma curiosidade. Numa homenagem à atriz Isabel Sarli, o RetroTV exibe Mulher Pecado/Enfeitiçada (Embrujada, 1969), co-produção entre Brasil e Argentina dirigida pelo argentino Armando Bo e pelo patrício Egídio Eccio. Isabel Sarli ficou famosa como uma musa sexy, protagonizando diversas comédias pornosoft e dramas intimistas, também com bastante carne aparecendo. Embrujada é um drama de terror, e passa à meia-noite de segunda para terça-feira, e conta com participação de alguns atores brasileiros, como Terezinha Sodré. Para os cultores de filmes psicotrônicos, uma pérola a descobrir.
Dia 09
Mais conhecido filme silencioso de Yasujiro Ozu, Os Meninos de Tóquio/Eu Nasci, mas... (Otona no miru ehon - Umarete wa mita keredo, 1932)
é um completo deleite. Comédia feelgood absoluta, o filme desenvolve com leveza a intriga de dois meninos que tentam fazer com que seu pai não seja tão submisso a seu patrão. O mesmo que foi dito anteriormente sobre o estilo de Ozu cabe aqui: a câmera fixa a poucos centímetros do chão, a geometrização extrema com linhas verticais e horizontais, os interiores, os corredores pertencem a uma fase posterior de sua carreira, não a um ser-Ozu que paira num céu estético ideal. No entanto, a passagem do tempo e o poder de inscrição dele na vida das pessoas está aqui em toda sua força. Mais uma vez, encontro obrigatório marcado às 21:00 no Telecine Classic.
Dia 10
A Perdição de Ozen (Orizuru Osen, 1935) é um pouquíssimo conhecido filme de Kenji Mizoguchi, outro dos decisivos cineastas japoneses. A obra de Mizoguchi mais conhecida é a seqüencia de obras-primas dos anos 50, mas os anos 30 deram obras-primas como Elegia de Osaka (1936) e Conto dos Crisântemos Tardios (1939). Aqui, temos a oportunidade de travar contato com uma possível outra obra-prima. Como uma chance dessas não se perde, o jeito é novamente ligar no Telecine Classic às 21:00. Mas o dia não se restringe a Mizoguchi: antes disso, bem cedinho, às 06:30, o Cinemax exibe Terra Bruta (Two Rode Together, 1961), western de John Ford e primeira parceria de Ford com James Stewart, com quem no ano seguinte faria O Homem Que Matou o Facínora (The Man Who Shot Liberty Valance). E às 19:45, o Cinemax Prime exibe O Crime Não Compensa (Knock on Any Door, 1949), belíssimo filme de Nicholas Ray com Humphrey Bogart. Inacreditável que três filmes desses, todos raros, passem num único dia. Ainda mais quando geralmente a televisão a cabo nos apresenta muito rame-rame que mais vale a pena evitar. Parece que morremos e fomos pro céu dos cinéfilos.
Dia 11
Fim do banquete japonês, mas com chave de ouro. Dessa vez, é Filho Único (Hitori musuko, 1936), primeiro filme sonoro completamente sincronizado de Yasujiro Ozu. Uma certa mudança de tom em relação aos anteriores: naturalmente, trata-se de um drama, mas isso não dá conta de toda a operação, um tanto mais complexa. Já temos aqui um Ozu mais associado às obras tardias, utilizando o melodrama para colocar seus personagens em relação com a passagem do tempo, e um rigor um tato maior na construção. Choremos tanto com a beleza do filme quanto com o fim de um belo ciclo proposto a nós pelo Telecine Classic. Mais cedo, no entanto, um antídoto contra a melancolia: é Mentira Salvadora (Ladies of the Chorus, 1948), raridade de Phil Karlson – outro desses diretores americanos que vêm sendo (re)descobertos –, um musical com Marilyn Monroe em seu primeiro papel principal (e seu terceiro filme no geral), que o Cinemax exibe às 10:30.
Dia 12
Único longa-metragem dirigido pelo roteirista (Irmãos Inimigos de Raoul Walsh notadamente) e produtor Roy Huggins, O Laço do Carrasco (Hangman's Knot, 1952) é um western protagonizado por Randolph Scott. Quem já viu algum dos decisivos faroestes protagonizados por Scott e dirigidos por Budd Boetticher sabe o que isso significa. Mas o filme conta ainda com Donna Reed e Lee Marvin, este último em um de seus primeiros papéis. Passa no Cinemax às 14:45.
Dia 13
Se nessa grande semana para os espectadores da tv a cabo ainda faltava uma estréia recente, não falta mais. O Canal Brasil apresenta nesse sábado o melhor lançamento do dia, O Prisioneiro da Grade de Ferro (2003), de Paulo Sacramento, às 23:00. Sobre este filme, muito já se falou por aqui, mas nunca é o bastante. Ainda mais porque o filme é taxado por vezes com adjetivos estapafúrdios, "oficialesco" sendo o principal deles, por causa do discurso oficial de Alckmin se gabando de fazer um número recorde de novas prisões em sua gestão. Ora, qualquer um que tenha visto o filme sabe que a questão não é número, mas o sistema presidiário como um todo. O episódio "Uma noite na cadeia" é sozinho uma obra-prima. E o resto do filme não fica para trás. Antes disso, o último quitute da semana: Box por Amor (Battling Butler, 1926), de Buster Keaton, precedido de um de seus melhores curtas, The 'High Sign' (1921). Onde? No RetrôTV, claro, ao meio-dia, na sessão Shhh, dedicada ao cinema silencioso, o mesmo que finalmente será contemplado por outro canal que não este, no caso, o Telecine Classic. Mas não é ocasião de reclamar: quando teremos novamente uma semana como essa?

Dia 14
Nessa semana a gente ainda pega umas rebarbas dos japoneses, e outros canais nos brindam com pérolas asiáticas... É, apesar de não ser tão forte quanto na semana anterior (o que é quase impossível), esta semana até que traz bastante coisa digna de nota. A começar por Guerra e Juventude (Sensô to seishun, 1991), último filme de Tadashi Ishi, realizador desde os anos 30, mas que nunca conseguiu uma voga pronunciada no oeste em nenhum momento de sua carreira. O filme passa no Telecine Emotion às 22:55. Anterior a ele, podemos assistir a Sexta-feira Muito Louca (Freaky Friday, 2003), primeira união do diretor Mark S. Waters com a atriz Lindsay Lohan, que daria no ano seguinte o belo Garotas Malvadas. O filme estréia na HBO às 19:15.
Dia 15
E no RetrôTV, mais filmes de John Ford sendo exibidos na homenagem prestada a um dos maiores realizadores de todos os tempos. O terceiro da vez – o segundo, Sangue de Heróis/Forte Apache, reprisa às 15:30 – é Paixão dos Fortes (My Darling Clementine, 1946), versão fordiana do tiroteio no OK Corral que fez de Wyatt Earp e de Doc Hioliday figuras legendárias do velho oeste. Nos papéis principais, Henry Fonda e Victor Mature, mas tem também Ward Bond, Walter Brennan, Linda Darnell... E passa no RetrôTV às 22:00.
Dia 16
Ainda no terreno do western, mas num momento já completamente diferente, o Telecine Classic estréia em sua programação às 21:00 uma jóia de cinema assinada Monte Hellman: A Vingança de um Pistoleiro (Ride in the Whirlwind, 1965)
. Trata-se de um dos dois faroestes abstratos que Hellman dirigiu nos anos 60 – o outro sendo O Tiro Certo/The Shooting, feito dois anos depois –, antes de realizar o definitivo Two-Lane Blacktop/Corrida Sem Fim. Que dizer de Hellman? Que seus filmes são sobre o tempo. Mais sobre o filme pode ser lido aqui.
Dia 17
Furyo – Em Nome da Honra (Merry Christmas, Mr. Lawrence, 1983) tem um curiosíssimo rol de atores. David Bowie e Ryuichi Sakamoto, músicos pop de um lado, e, entre outros, o então desconhecido Takeshi Kitano de outro. Trata-se de Nagisa Oshima em sua fase provocativa-convencional, na saída do dístico Império dos Sentidos/Império da Paixão, e rumo a Max, mon amour, tipo de filme que Ferreri faria muito melhor. Produção inglesa, o filme acaba entrando no bojo da retrospectiva japonesa. No entanto, é uma pena que ninguém se interesse muito em passar a obra de Oshima nos anos 60. Mas Furyo não tem nada a ver com isso. O filme passa no Telecine Classic às 21:00.
Dia 18
Já tínhamos chamado a atenção para Keith Gordon a partir de seu Crimes de um Detetive. Agora atentamos para o fato de que Noites Calmas (A Midnight Clear, 1992), seu segundo filme, estréia às 21:00 no Telecine Emotion. É um filme sobre soldados americanos na XX Guerra Mundial, interpretado por atores com alguma fama, como Ethan Hawke e Gary Sinise. Quem sabe se descobre um autor?
Dia 19
Sessão dupla involuntária de Hong Kong no Cinemax Prime. Às 19:45, o canal exibe A Revanche do Dragão (She xing diao shou, 1978), filme de Yuen Woo-Ping (famoso no Ocidente por ser coreógrafo da série Matrix) que foi uma da principais catapultas para a explosão de sucesso de Jackie Chan. Mais tarde, o mesmo canal exibe Caçadores de Vampiros de Tsui Hark (The Era of Vampire, 2002), filme que, apesar do título, não é dirigido por Tsui Hark, e sim por Wellson Chin, para produção (bastante incisiva e mandona, isso é certo em se tratando de quem é) de Tsui Hark. O filme, nem de longe um dos melhores exemplares dos filmes em que Tsui joga fé, passa às 23:15.

Dia 20
Por fim, uma boa maratona para um sábado cheio de atrações interessantes. Às 11:00, aqueles que ligarem na RetrôTV poderão assistir a Our Hospitality (1923), um dos melhores longas de Buster Keaton, e ainda pegará de lambuja o igualmente notável My Wife's Relations (1922). Quem continuar no canal poderá ver No Assombroso Mundo da Lua (Countdown, 1968), segundo longa de Robert Altman às 17:55, e em seguida Os Viúvos Também Sonham (A Hole in the Head, 1959), penúltimo filme dirigido por Frank Capra, com Frank Sinatra e Edgard G. Robinson no elenco. No fim do dia, dois filmes estréiam na programação às 23:00. No Canal Brasil, é Rua 6, Sem Número (2003), de João Batista d Andrade, que estréia na tv a cabo sem jamais ter sido exibido comercialmente no Rio de Janeiro. No Telecine Emotion, é Adrenalina Máxima, tétrico nome que os nossos geniais distribuidores nacionais acharam para Sonatine (1994), um dos pontos altos da obra de Takeshi Kitano nos anos 90. Resta ao menos a esperança que os gênios das tvs a cabo lancem também seus filmes anteriores, como Boiling Point e Violent Cop. Não deve ser tão difícil nem tão caro assim. Ainda assim, fugir do óbvio é tão complicado...

Dia 21
Os japoneses voltam com força toda essa semana, e melhor que isso é só o fato de que não são as únicas grandes atrações disponíveis. Além de Ozu, Mizoguchi e Kurosawa, a trinca mais famosa do cinema japonês, temos John Ford, Buster Keaton, Cecil B. de Mille, Antonioni, entre outros. Comecemos então com o crucial O Tiro Certo (The Shooting, 1967), western ontológico de Monte Hellman com Millie Perkins, Warren Oates e Jack Nicholson que o Telecine Classic estréia em sua programação às 21:00. Mais informações sobre o filme aqui. Em seguida, às 23:00, o Telecine Emotion passa Serenata da Lua Cheia (Setouchi munraito serenade, 1997), de Masahiro Shinoda, decisivo cineasta japonês do "cinema novo" dos anos 60 que há anos vem sendo invisível no Brasil. Com o lançamento em DVD de Duplo Suicídio (Shinjû: Ten no amijima, de 1969) e essa exibição na rede Telecine, poderemos voltar a ter uma idéia de como é o cinema de Shinoda.
Dia 22
Segunda-feira gorda na tv a cabo, e uma escolha de Sofia. Às 21:00, o Telecine Classic estréia A Vitória das Mulheres (Josei no shôri, 1946), grande filme de Kenji Mizoguchi estrelado por sua atriz favorita, Kinuyo Tanaka, e com sua temática mais recorrente: a objetificação e a submissão da mulher aos códigos sociais do Japão. Do outro lado, temos às 22:00 no RetrôTV um dos filmes mais famosos de John Ford, O Homem Que Matou o Facínora (The Man Who Shot Liberty Valance, 1962), em que John Wayne se encontra com James Stewart pela primeira vez nas telas para questionar a idéia de mito, e nisso um motivo central na obra de Ford: a distância entre a casualidade da vida comum e a memória impressa na história. Os dois filmes são absolutamente obrigatórios e os dois diretores possivelmente estão em qualquer listinha de vinte melhores diretores de todos os tempos que se preze. Pelo grau de raridade no Brasil, onde nenhum Mizoguchi jamais foi lançado em vídeo ou dvd, escolhamos o primeiro.
Dia 23
Às 11:45, o Cinemax exibe No Mato sem Cachorro (The Lemon Drop Kid, 1951), primeiro filme que Frank Tashlin dirige com atores reais. Na verdade, Tashlin é apenas o co-diretor, substituindo Sidney Lanfield, e o filme não é mais do que um veículo para Bob Hope. Porém, para aqueles que gostam de ter uma visão completa da carreira dos cineastas, a oportunidade é rara e a curiosidade é grande. Afinal, Tashlin é um belo comediógrafo e um grande renovador de formatos, com um incrível talento para esquizofrenizar tudo que toca. À noite, mais uma vez uma batalha. O Telecine Classic lança pela primeira vez na tv a cabo um filme de Mikio Naruse
, injustamente ignorado cineasta japonês, visto por muitos como um autor do nível de Ozu e Mizoguchi, e partilhando com eles o gosto pelo melodrama e a situação da mulher. Batalhas de Rosas (Bara gessen, 1950) não é um de seus filmes mais conhecidos, mas em se tratando de um Naruse disponível, não se trata de escolher. Já o Cinemax Prime nos brinda com A Paixão de uma Vida (The Long Gray Line, 1955), um não tão conhecido título de John Ford que figura entre as melhores obras de sua carreira (e a disputa não é exatamente fácil). O filme, estrelado por Tyrone Powell e contando ainda com Maureen O'Hara e Ward Bond, entre outros, passa às 21:30.
Dia 24
De Keisuke Kinoshita já tínhamos falado quando seu Crianças de Nagasaki foi exibido há duas semanas. Agora, o Telecine Classic exibe às 21:00 A Volta de Carmen (Karumen kokyo ni kaeru, 1951), mais famoso por ser o primeiro filme japonês em cores. Outra curiosidade é o ator fetiche de Ozu, Chishu Ryu, como ator fora do cinema de Ozu.
Dia 25
O Idiota (Hakuchi, 1951) é um filme bastante controverso de Akira Kurosawa. Afinal, o filme tinha uma versão original de mais de quatro horas e o estúdio picotou até chegar a menos que três. Em se tratando de Kurosawa, naturalmente há o interesse, mas é bom saber de antemão que não é a obra realizada como gostaria seu autor. Telecine Classic, 21:00. The Most Dangerous Game é um filme de 1932 dirigido por Irving Pincher e Ernest Schoedsack (famoso por ser co-diretor do primeiro King Kong). Estrelado por Joel McCrea e Faye Wray, o filme é cultuadíssimo entre os fãs do gênero de cinema fantástico e de terror, e considerado um dos pilares do gênero. Como não se depara toda hora com a tv a cabo exibindo um filme desses, vale a pena sintonizar no RetrôTV às 22:00. Ou então no Eurochannel às 23:00, que passa um desses grandes filmes da história do cinema. Trata-se de O Dilema de uma Vida/Deserto Vermelho (Deserto rosso, 1964), possivelmente o mais terrível e belo filme de Michelangelo Antonioni. Cores inacreditáveis (é desse filme a anedota real de Antonioni mandando pintar a grama porque não estava verde o suficiente), Monica Vitti formidável, e um mal-estar sobre a sociedade industrial de se tirar o chapéu.
Dia 26
Mais um filme de Yasujiro Ozu sendo exibido pelo Telecine Classic, mas dessa vez um do período posterior de sua carreira, com a estética mais depurada e tudo muito mais azeitado e preciso. Trata-se de Também Fomos Felizes (Bakushu, 1951)
, que passa às 21:00, e que conta com os dois atores mais recorrentes nos filmes de Ozu: o ator Chishu Ryu e a atriz Setsuko Hara. Como muitos outros, o filme circula em torno do casamento de uma filha solteira e dos arranjos que a família faz para que ela se case bem. Só que, como sempre em Ozu, nas pequenas diferenças se constrói um mundo diferente a cada vez.
Dia 27
Para fechar com chave de ouro uma grande semana (possivelmente a melhor semana que já cobrimos para esta revista), uma maratona Cecil B. De Mille que o RetrôTV apresenta com quatro de seus filmes, e em especial O Rei dos Reis (The King of Kings, 1927), versão muda da paixão de Cristo considerada uma das maiores obras de De Mille. O filme passa às 12:00 e em seguida teremos os três últimos longas do diretor: Sansão e Dalila (Samson and Delilah, 1949) às 14:50, Os Dez Mandamentos (The Ten Commandments, 1956) às 17:10 e O Maior Espetáculo da Terra (The Greatest Show on Earth, 1952) às 21:10. Antes disso, no entanto, o mesmo canal exibe Sherlock Jr. (1924), um dos melhores filmes de Buster Keaton, na sessão "Shhh" de filmes silenciosos, às 11:00. Mais dois japoneses acrescentam interesse ao dia: Vinte e Quatro Olhos (Nijushi no hitomi, 1954), mais um filme de Keisuke Kinoshita, que o Telecine Classic exibe às 21:00, e o primoroso A Enguia (Unagi, 1997), de Shohei Imamura, vencedor da Palna de Ouro em Cannes, dividindo o prêmio com O Gosto de Cereja, de Abbas Kiarostami. O filme, sobre a volta à vida de um homem que matou a mulher adúltera e passou anos na prisão, passa às 23:00 no Telecine Emotion. Por fim, as estréias de filmes recentes, que curiosamente são interessantes, e de certa forma associadas: enquanto o Telecine Premium exibe O Pagamento (Paycheck, 2003), de John Woo, a HBO vai com Peixe Grande (Big Fish, 2003) de Tim Burton, ambos às 21:00 . Dois filmes menores de diretores importantes e decisivos no cenário do cinema americano, filmes nitidamente em crise (caso de Burton) ou mostra de uma acomodação dentro de um regime cinematográfico e estético mais convencional (Woo). Burton deu a volta por cima com seu filme mais recente, agora é a vez de Woo novamente nos surpreender. Quem sabe?

Dia 28

Fechando o extraordinário ciclo de cinema japonês, a rede Telecine decide fechar com chave de ouro, exibindo um clássico e um louvável filme recente. Às 21:00, o Telecine Classic exibe Harakiri (Seppuku, 1962), mais famoso filme de Masaki Kobayashi, e um dos mais importantes filmes japoneses da década de 60. Pouco mais tarde, às 22:30, o Telecine Emotion exibe Verão Feliz (Kikujiro, 1999), um dos menos interessantes filmes de Takeshi Kitano, mas ainda assim um trabalho bastante forte, no mais perto que Kitano consegue chegar do cinema infantil. OK, fim do sonho, de volta ao panorama normal da tv a cabo: poucas estréias e raridades, o jeito é aproveitar o que passa pouco ou, em casos extremos, recomendar as únicas coisas que é possível ver entre todos os canais...
Dia 29
É um horário um pouco atípico para este tipo de filme, mas em todo caso O Vampiro da Noite (Dracula/The Horror of Dracula, 1958), de Terence Fisher e estrelando Peter Cushing e Christopher Lee, passa no Cinemax Prime às 09:45. É um dos mais considerados filmes da produtora britânica Hammer. Mais tarde, no Canal Brasil, Zezé Motta escolhe para exibir e apresenta Cassy Jones, o Magnífico Sedutor (1972), pouquíssimo visto último longa-metragem de Luís Sérgio Person, cineasta de trajetória decisiva no cinema paulista (São Paulo S.A., O Caso dos Irmãos Naves), estrelando Paulo José, e com Sandra Bréa, Glauce Rocha e Grande Otelo, além de Henriqueta Brieba e Carlos Imperial. O filme passa às 22:35. Um bom esquenta para a mostra dedicada a Paulo José que o CCBB do Rio de Janeiro sediará a partir da semana que vem (mais detalhes no Plano Geral, nos próximos dias)
Dia 30
Na falta de verdadeiras atrações para trazer aos assinantes, o Telecine Classic reordena dois filmes de sua programação e faz um pequeno evento: exibir em conjunto dois dos mais importantes filmes do diretor britânico Carol Reed, em seu momento de pico, na passagem dos anos 40 para os 50. O primeiro, às 19:05, é O Terceiro Homem (The Third Man, 1949), baseado em Graham Greene e considerado um dos grandes clássicos do cinema. Que é bom, é indiscutível, mas existe uma grande inflada excessiva de bola acerca do filme, bastante "inspirado" nos ângulos de câmera e no uso da profundidade de campo do cinema de Orson Welles, que aqui é, junto com Joseph Cotten, protagonista. Em seguida, às 21:00, vem O Outro Homem (The Man Between, 1953), estrelando James Mason e Claire Bloom. A semelhança dos títulos não deve supor uma relação, pois os filmes não têm nada mais de semelhante um com o outro. Em todo caso, é uma boa chance de ver em seguida dois filmes de um mesmo diretor, e um diretor que hoje é muito pouco visto para além do filme que o tornou clássico. No Film&Arts, às 20:00, passa Confidências à Meia-Noite (Pillow Talk, 1959, dir. Michael Gordon), uma das comédias românticas que fez a fama e criou o estigma de "filme de Doris Day" (um pouco como hoje se fala "filme de Meg Ryan"), mas ela não é a única atração num filme com Tony Randall e Rock Hudson. Mais sobre os highlights dessas comédias de Doris Day pode ser encontrado num texto sobre uma caixinha de dvds lançada há pouco tempo atrás que publicamos em nossa seção DVD/VHS.
Dia 31
A Doce Vida (La dolce vita, 1960), de Federico Fellini, passa no Telecine Classic às 21:00. Chamada mais do que automática, uma vez que o filme sempre foi de bastante fácil acesso e que tudo que se fala do filme é amplamente justificado por sua grandeza. O curto-circuito dos happy-few burgueses até o bas-fonds glamuroso, e de lá até a pobreza, não necessariamente nessa ordem, cria uma outra possibilidade para o cinema italiano de então, um decadentismo que logo depois será apropriado por Antonioni para fazer A Noite (1962) com o mesmo ator (nada menos que Marcello Mastroianni) no mesmo meio social, levemente com o mesmo tipo de relação com os lugares que freqüenta. Às 02:30, mais uma raridade passa no Canal Brasil. Trata-se de Rua Sem Sol (1953), de Alex Viany, espécie de precursor do tipo de cinema que viria dominar publicamente o debate cultural nos anos 60. Viany já tem uma razoável fortuna crítica como teórico, pesquisador e crítico (o livro de Arthur Autran, Alex Viany, crítico e historiador, sendo o mais completo), mas seus filmes ainda pedem visões, revisões e discussões. Rua Sem Sol é um deles, talvez o caso mais forte.
Ruy Gardnier

 

 
Harakiri (1962) de Masaki Kobayashi fecha o banquete japonês de agosto do Telecine Classic

CONTRA-REGRA

Roberto Jefferson é o assunto nacional. O modo como toda a história do mensalão vem sendo encarada por espectadores, imprensa e os próprios parlamentares varia de novela a programa de auditório; novela quando se tem a expectativa do acontecimento daquele dia (daquele capítulo), a ânsia em saber como reagirá Dirceu ao encarar frente a frente seu arqui-rival, Jefferson; e programa de auditório quando cada depoimento, cada confronto funciona como um show grandiloqüente, em que o objetivo é entreter e convencer o público (...)

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