ARTIGOS
A Sentinela, de Arnaud Desplechin
(exibição na TV5)
por Tatiana Monassa (10/02/2005)
Piano Blues, de Clint Eastwood
(exibição na GNT)
por Paulo Ricardo de Almeida
(07/01/2005)
FILMES DA SEMANA
(agosto de 2005)
Dia 01
Aproveitando o link-Cassavetes, existe sempre uma certa
curiosidade em ver como um ator conhecido se sai quando
parte para a direção. Alguns, como Paul
Newman por mais que seus filmes sejam praticamente
invisíveis hoje, especialmente O Preço
da Solidão, considerado obra-prima por muitos
têm carreiras consistentes e uma visão
de mundo. Outros, como Robert Redford e Danny DeVito,
conseguem uma continuidade com eficiência e algum
interesse. Tudo isso para dizer que o primeiro (e até
agora único) filme de John Leguizamo, que pode
ser visto hoje nos cinemas no belo Terra dos Mortos,
estréia nessa segunda-feira na HBO. O Invicto
(Undefeated, 2003) é uma produção
para a televisão sobre um boxeador que começa
a ganhar fama e construir uma carreira. Se algo mais
forte há de vir, só o tempo dirá.
O filme passa às 21:00.
Dia 02
Na espera pela retrospectiva Japão, o Telecine
Classic nos oferece uma pequena homenagem a Vivian Blaine,
atriz não exatamente célebre, morta há
dez anos. Cantora e atriz da Broadway passada para o
cinema, ela ficou mais famosa por seus filmes nos anos
50, mas a seleção do canal privilegia
seus filmes dos anos 40. Nesta terça-feira, ele
exibe Serenata Boêmia (Greenwich Village,
1944, dir. Walter Lang), filme estrelado por Carmen
Miranda e Don Ameche. Mas se quisermos ver cinema de
fato, é melhor pegar o controle remoto e colocar
no Film&Arts, que exibe Cerimônia Secreta
(Secret Ceremony, 1968), filme de Joseph Losey
estrelado por Elizabeth Taylor e Mia Farrow no mesmo
ano de O Bebê de Rosemary, além
de Robert Mitchum. Losey na Inglaterra sempre teve seu
pezinho no empostado e no excessivamente expressionista,
mas tem lá seu valor. O filme passa às
20:00.
Dia 03
Num dia particularmente fraco de atrações
novas ou raras nos canais a cabo, o Canal Brasil exibe
dois filmes que em alguma medida são ou já
foram figurinha fácil em sua programação,
mas que em todo caso são pilares para qualquer
um que quiser pensar cinema a sério no Brasil.
Às 20:00, vemos a boemia intelectual carioca
retratada com a entrega e a pungência ímpares
de Hugo Carvana em Bar Esperança (1983).
Logo depois, às 22:40, é a vez de fazer
a ponte aérea e acompanhar um percurso de festas,
lutas e engajamento com a vida em Alma Corsária
(1994), um dos mais belos filmes de Carlos Reichenbach.
No Telecine Classic, por desencargo de consciência
(e para a informação do leitor apenas),
Vivian Blaine e Perry Como em Sonhos de Estrela
(Doll Face, 1946) às 21:00
Dia 04
Não é lá de se estourar o champanhe
a estréia semanal regular da TV5 esta vez: Brotinho
do Outro Mundo (La Mariée est trop belle, 1956),
de Pierre Gaspard-Huit. A atração principal,
como não poderia deixar de ser, é a beleza
e juventude de Brigitte Bardot antes da descoberta em
...E Deus Criou a Mulher. Passa às 21:25.
Por sua vez, o Canal Mercosul, oops, Canal Brasil estréia
um dos filmes mais famosos de Hector Olivera, No habrá
más penas ni olvido (1983). Olivera é
um dos cineastas argentinos mais conhecidos, e seu cinema
é eminentemente político, com todas as
limitações e algumas das qualidades da
expressão. Ainda assim, quando todo mundo fala
em novo cinema argentino, não custa dar uma olhada
no antigo. Passa às 22:40. Por fim, a homenagem
a Vivian Blaine continua no Telecine Classic, com Se
Eu Fosse Feliz (If I'm Lucky, 1946, dir.
Lewis Seiler) às 21:00.
Dia 05
O Telecine Emotion estréia em sua programação
No Mundo da Lua (The Man in the Moon,
1991), último filme de Robert Mulligan até
a presente data. Como já mencionamos aqui (possivelmente
a propósito deste mesmo filme sendo exibido em
outro canal), Mulligan é mais conhecido por aqui
por ter dirigido O Sol É Para Todos, mas
seu cinema merece uma avaliação mais consistente,
algo que já vem sendo feito nos EUA mas que ainda
não viajou para fora da América do Norte
(França incluída). Além do interesse
por Mulligan, os fãs de Reese Witherspoon poderão
vê-la ainda adolescente em papel de destaque.
O horário é o costumeiro das estréias,
21:00.
Dia 06
A grande estréia da semana, porém, é
Minha Vingança (Fukushû suruwa wareniari,
1979), um dos filmes mais importantes na carreira de
Shohei Imamura, e item de raridade por estas bandas.
A história de um assassino pode achar algumas
ressonâncias com A Enguia (Unagi),
vencedor da Palma de Ouro em Cannes, mas aqui o terreno
é ainda mais pantanoso e perturbador. Bela preparação
para a enxurrada de vigorosos títulos do cinema
japonês que a rede Telecine lança com mais
firmeza a partir da próxima semana. O filme passa
às 23:10. Preparar para ver e gravar.
Dia 07
É nessa semana que a rede Telecine pega fogo
exibindo uma série de filmes japoneses bastante
raros. O mimo começa com Batalhas no Céu
e no Inferno (Ten to Chi to, 1990), de Haruki
Kadokawa. Kadokawa é uma figura curiosa. Filho
do dono de uma grande editora, Kadokawa Shoten, decidiu
em 1975, quando morreu seu pai, diversificar a empresa
e produzir filmes adaptados de obras literárias.
Vão-se desde então mais de 50 filmes com
produção sua, e apenas cinco dirigidos.
Batalhas... não foge à regra: baseado
numa obra de Naomi Zaizen, produção imponente,
drama e aventura misturados, etc. Passa no Telecine
Action às 21:00. Em seguida, trocar para o Telecine
Emotion e seguir a maratona com Crianças de
Nagasaki (Kono ko wo nokoshite, 1983), de
Keisuke Kinoshita. Antepenúltimo filme de Kinoshita,
prolífico realizador de estúdios, Crianças...
é a dramatização da explosão
atômica na cidade de Nagasaki, e a conseqüente
contaminação radioativa dos sobreviventes.
Baseado no livro proibido de Takashi Nagai, Crianças
de Nagasaki passa às 23:30 no Telecine Emotion.
Dia 08
Pouquíssimo conhecido filme de Yasujiro Ozu,
Dias de Juventude (Gakusei romance: Wakaki
hi, 1929) não tem muito a ver com a depuração
estética de seus filmes mais famosos e tardios.
Trata-se de uma comédia de linguagem bastante
mais tradicional, e o mais antigo filme existente de
Ozu (seus sete filmes anteriores estão todos
perdidos, assim como outros nove que vieram posteriormente).
Não é o único filme mudo disponível
do diretor, que continuou a fazer filmes silenciosos
nos primeiros anos da década de 30, mas a não-exclusividade
não faz deste filme um item menos obrigatório.
Yasujiro Ozu é um desses grandes do cinema que
merece ter qualquer filme visto e revisto. Então,
lugar marcado em frente à televisão às
21:00, no Telecine Classic. Antes disso, às 15:30,
no quadro de uma bem vinda retrospectiva John Ford,
o RetrôTV exibe Ao Rufar dos Tambores (Drums
Along the Mohawk, 1939), primeiro filme em cores
de Ford, e já um deslumbre visual de um gênio
do cinema. Mais tarde na noite, o mesmo canal exibe
uma curiosidade. Numa homenagem à atriz Isabel
Sarli, o RetroTV exibe Mulher Pecado/Enfeitiçada
(Embrujada, 1969), co-produção
entre Brasil e Argentina dirigida pelo argentino Armando
Bo e pelo patrício Egídio Eccio. Isabel
Sarli ficou famosa como uma musa sexy, protagonizando
diversas comédias pornosoft e dramas intimistas,
também com bastante carne aparecendo. Embrujada
é um drama de terror, e passa à meia-noite
de segunda para terça-feira, e conta com participação
de alguns atores brasileiros, como Terezinha Sodré.
Para os cultores de filmes psicotrônicos, uma
pérola a descobrir.
Dia 09
Mais conhecido filme silencioso de Yasujiro Ozu, Os
Meninos de Tóquio/Eu Nasci, mas... (Otona
no miru ehon - Umarete wa mita keredo, 1932)
é um completo deleite. Comédia feelgood
absoluta, o filme desenvolve com leveza a intriga
de dois meninos que tentam fazer com que seu pai não
seja tão submisso a seu patrão. O mesmo
que foi dito anteriormente sobre o estilo de Ozu cabe
aqui: a câmera fixa a poucos centímetros
do chão, a geometrização extrema
com linhas verticais e horizontais, os interiores, os
corredores pertencem a uma fase posterior de sua carreira,
não a um ser-Ozu que paira num céu estético
ideal. No entanto, a passagem do tempo e o poder de
inscrição dele na vida das pessoas está
aqui em toda sua força. Mais uma vez, encontro
obrigatório marcado às 21:00 no Telecine
Classic.
Dia 10
A Perdição de Ozen (Orizuru
Osen, 1935) é um pouquíssimo conhecido
filme de Kenji Mizoguchi, outro dos decisivos cineastas
japoneses. A obra de Mizoguchi mais conhecida é
a seqüencia de obras-primas dos anos 50, mas os
anos 30 deram obras-primas como Elegia de Osaka
(1936) e Conto dos Crisântemos Tardios
(1939). Aqui, temos a oportunidade de travar contato
com uma possível outra obra-prima. Como uma chance
dessas não se perde, o jeito é novamente
ligar no Telecine Classic às 21:00. Mas o dia
não se restringe a Mizoguchi: antes disso, bem
cedinho, às 06:30, o Cinemax exibe Terra Bruta
(Two Rode Together, 1961), western de
John Ford e primeira parceria de Ford com James Stewart,
com quem no ano seguinte faria O Homem Que Matou
o Facínora (The Man Who Shot Liberty Valance).
E às 19:45, o Cinemax Prime exibe O Crime
Não Compensa (Knock on Any Door, 1949),
belíssimo filme de Nicholas Ray com Humphrey
Bogart. Inacreditável que três filmes desses,
todos raros, passem num único dia. Ainda mais
quando geralmente a televisão a cabo nos apresenta
muito rame-rame que mais vale a pena evitar. Parece
que morremos e fomos pro céu dos cinéfilos.
Dia 11
Fim do banquete japonês, mas com chave de ouro.
Dessa vez, é Filho Único (Hitori
musuko, 1936), primeiro filme sonoro completamente
sincronizado de Yasujiro Ozu. Uma certa mudança
de tom em relação aos anteriores: naturalmente,
trata-se de um drama, mas isso não dá
conta de toda a operação, um tanto mais
complexa. Já temos aqui um Ozu mais associado
às obras tardias, utilizando o melodrama para
colocar seus personagens em relação com
a passagem do tempo, e um rigor um tato maior na construção.
Choremos tanto com a beleza do filme quanto com o fim
de um belo ciclo proposto a nós pelo Telecine
Classic. Mais cedo, no entanto, um antídoto contra
a melancolia: é Mentira Salvadora (Ladies
of the Chorus, 1948), raridade de Phil Karlson
outro desses diretores americanos que vêm sendo
(re)descobertos , um musical com Marilyn Monroe
em seu primeiro papel principal (e seu terceiro filme
no geral), que o Cinemax exibe às 10:30.
Dia 12
Único longa-metragem dirigido pelo roteirista
(Irmãos Inimigos de Raoul Walsh notadamente)
e produtor Roy Huggins, O Laço do Carrasco
(Hangman's Knot, 1952) é um western protagonizado
por Randolph Scott. Quem já viu algum dos decisivos
faroestes protagonizados por Scott e dirigidos por Budd
Boetticher sabe o que isso significa. Mas o filme conta
ainda com Donna Reed e Lee Marvin, este último
em um de seus primeiros papéis. Passa no Cinemax
às 14:45.
Dia 13
Se nessa grande semana para os espectadores da tv a
cabo ainda faltava uma estréia recente, não
falta mais. O Canal Brasil apresenta nesse sábado
o melhor lançamento do dia, O Prisioneiro
da Grade de Ferro (2003), de Paulo Sacramento, às
23:00. Sobre este filme, muito já se falou por
aqui, mas nunca é o bastante. Ainda mais porque
o filme é taxado por vezes com adjetivos estapafúrdios,
"oficialesco" sendo o principal deles, por
causa do discurso oficial de Alckmin se gabando de fazer
um número recorde de novas prisões em
sua gestão. Ora, qualquer um que tenha visto
o filme sabe que a questão não é
número, mas o sistema presidiário como
um todo. O episódio "Uma noite na cadeia"
é sozinho uma obra-prima. E o resto do filme
não fica para trás. Antes disso, o último
quitute da semana: Box por Amor (Battling
Butler, 1926), de Buster Keaton, precedido de um
de seus melhores curtas, The 'High Sign' (1921).
Onde? No RetrôTV, claro, ao meio-dia, na sessão
Shhh, dedicada ao cinema silencioso, o mesmo que finalmente
será contemplado por outro canal que não
este, no caso, o Telecine Classic. Mas não é
ocasião de reclamar: quando teremos novamente
uma semana como essa?
Dia 14
Nessa semana a gente ainda pega umas rebarbas dos japoneses,
e outros canais nos brindam com pérolas asiáticas...
É, apesar de não ser tão forte
quanto na semana anterior (o que é quase impossível),
esta semana até que traz bastante coisa digna
de nota. A começar por Guerra e Juventude
(Sensô to seishun, 1991), último
filme de Tadashi Ishi, realizador desde os anos 30,
mas que nunca conseguiu uma voga pronunciada no oeste
em nenhum momento de sua carreira. O filme passa no
Telecine Emotion às 22:55. Anterior a ele, podemos
assistir a Sexta-feira Muito Louca (Freaky
Friday, 2003), primeira união do diretor
Mark S. Waters com a atriz Lindsay Lohan, que daria
no ano seguinte o belo Garotas Malvadas. O filme
estréia na HBO às 19:15.
Dia 15
E no RetrôTV, mais filmes de John Ford sendo exibidos
na homenagem prestada a um dos maiores realizadores
de todos os tempos. O terceiro da vez o segundo,
Sangue de Heróis/Forte Apache, reprisa
às 15:30 é Paixão dos
Fortes (My Darling Clementine, 1946), versão
fordiana do tiroteio no OK Corral que fez de Wyatt Earp
e de Doc Hioliday figuras legendárias do velho
oeste. Nos papéis principais, Henry Fonda e Victor
Mature, mas tem também Ward Bond, Walter Brennan,
Linda Darnell... E passa no RetrôTV às
22:00.
Dia 16
Ainda no terreno do western, mas num momento já
completamente diferente, o Telecine Classic estréia
em sua programação às 21:00 uma
jóia de cinema assinada Monte Hellman: A Vingança
de um Pistoleiro (Ride in the Whirlwind,
1965). Trata-se
de um dos dois faroestes abstratos que Hellman dirigiu
nos anos 60 o outro sendo O Tiro Certo/The
Shooting, feito dois anos depois , antes de
realizar o definitivo Two-Lane Blacktop/Corrida Sem
Fim. Que dizer de Hellman? Que seus filmes são
sobre o tempo. Mais sobre o filme pode ser lido aqui.
Dia 17
Furyo Em Nome da Honra (Merry Christmas,
Mr. Lawrence, 1983) tem um curiosíssimo rol
de atores. David Bowie e Ryuichi Sakamoto, músicos
pop de um lado, e, entre outros, o então desconhecido
Takeshi Kitano de outro. Trata-se de Nagisa Oshima em
sua fase provocativa-convencional, na saída do
dístico Império dos Sentidos/Império
da Paixão, e rumo a Max, mon amour,
tipo de filme que Ferreri faria muito melhor. Produção
inglesa, o filme acaba entrando no bojo da retrospectiva
japonesa. No entanto, é uma pena que ninguém
se interesse muito em passar a obra de Oshima nos anos
60. Mas Furyo não tem nada a ver com isso. O
filme passa no Telecine Classic às 21:00.
Dia 18
Já tínhamos chamado a atenção
para Keith Gordon a partir de seu Crimes
de um Detetive. Agora atentamos para o fato
de que Noites Calmas (A Midnight Clear,
1992), seu segundo filme, estréia às 21:00
no Telecine Emotion. É um filme sobre soldados
americanos na XX Guerra Mundial, interpretado por atores
com alguma fama, como Ethan Hawke e Gary Sinise. Quem
sabe se descobre um autor?
Dia 19
Sessão dupla involuntária de Hong Kong
no Cinemax Prime. Às 19:45, o canal exibe A
Revanche do Dragão (She xing diao shou,
1978), filme de Yuen Woo-Ping (famoso no Ocidente por
ser coreógrafo da série Matrix)
que foi uma da principais catapultas para a explosão
de sucesso de Jackie Chan. Mais tarde, o mesmo canal
exibe Caçadores de Vampiros de Tsui Hark
(The Era of Vampire, 2002), filme que, apesar
do título, não é dirigido por Tsui
Hark, e sim por Wellson Chin, para produção
(bastante incisiva e mandona, isso é certo em
se tratando de quem é) de Tsui Hark. O filme,
nem de longe um dos melhores exemplares dos filmes em
que Tsui joga fé, passa às 23:15.
Dia 20
Por fim, uma boa maratona para um sábado cheio
de atrações interessantes. Às 11:00,
aqueles que ligarem na RetrôTV poderão
assistir a Our Hospitality (1923), um dos melhores
longas de Buster Keaton, e ainda pegará de lambuja
o igualmente notável My Wife's Relations (1922).
Quem continuar no canal poderá ver No Assombroso
Mundo da Lua (Countdown, 1968), segundo longa
de Robert Altman às 17:55, e em seguida Os
Viúvos Também Sonham (A Hole in
the Head, 1959), penúltimo filme dirigido
por Frank Capra, com Frank Sinatra e Edgard G. Robinson
no elenco. No fim do dia, dois filmes estréiam
na programação às 23:00. No Canal
Brasil, é Rua 6, Sem Número (2003),
de João Batista d Andrade, que estréia
na tv a cabo sem jamais ter sido exibido comercialmente
no Rio de Janeiro. No Telecine Emotion, é Adrenalina
Máxima, tétrico nome que os nossos
geniais distribuidores nacionais acharam para Sonatine
(1994), um dos pontos altos da obra de Takeshi Kitano
nos anos 90. Resta ao menos a esperança que os
gênios das tvs a cabo lancem também seus
filmes anteriores, como Boiling Point e Violent
Cop. Não deve ser tão difícil
nem tão caro assim. Ainda assim, fugir do óbvio
é tão complicado...
Dia 21
Os japoneses voltam com força toda essa semana,
e melhor que isso é só o fato de que não
são as únicas grandes atrações
disponíveis. Além de Ozu, Mizoguchi e
Kurosawa, a trinca mais famosa do cinema japonês,
temos John Ford, Buster Keaton, Cecil B. de Mille, Antonioni,
entre outros. Comecemos então com o crucial O
Tiro Certo (The Shooting, 1967), western
ontológico de Monte Hellman com Millie Perkins,
Warren Oates e Jack Nicholson que o Telecine Classic
estréia em sua programação às
21:00. Mais informações sobre o filme
aqui.
Em seguida, às 23:00, o Telecine Emotion passa
Serenata da Lua Cheia (Setouchi munraito serenade,
1997), de Masahiro Shinoda, decisivo cineasta japonês
do "cinema novo" dos anos 60 que há
anos vem sendo invisível no Brasil. Com o lançamento
em DVD de Duplo Suicídio (Shinjû: Ten
no amijima, de 1969) e essa exibição
na rede Telecine, poderemos voltar a ter uma idéia
de como é o cinema de Shinoda.
Dia 22
Segunda-feira gorda na tv a cabo, e uma escolha de Sofia.
Às 21:00, o Telecine Classic estréia A
Vitória das Mulheres (Josei no shôri,
1946), grande filme de Kenji Mizoguchi estrelado por
sua atriz favorita, Kinuyo Tanaka, e com sua temática
mais recorrente: a objetificação e a submissão
da mulher aos códigos sociais do Japão.
Do outro lado, temos às 22:00 no RetrôTV
um dos filmes mais famosos de John Ford, O Homem
Que Matou o Facínora (The Man Who Shot
Liberty Valance, 1962), em que John Wayne se encontra
com James Stewart pela primeira vez nas telas para questionar
a idéia de mito, e nisso um motivo central na
obra de Ford: a distância entre a casualidade
da vida comum e a memória impressa na história.
Os dois filmes são absolutamente obrigatórios
e os dois diretores possivelmente estão em qualquer
listinha de vinte melhores diretores de todos os tempos
que se preze. Pelo grau de raridade no Brasil, onde
nenhum Mizoguchi jamais foi lançado em vídeo
ou dvd, escolhamos o primeiro.
Dia 23
Às 11:45, o Cinemax exibe No Mato sem Cachorro
(The Lemon Drop Kid, 1951), primeiro filme que Frank
Tashlin dirige com atores reais. Na verdade, Tashlin
é apenas o co-diretor, substituindo Sidney Lanfield,
e o filme não é mais do que um veículo
para Bob Hope. Porém, para aqueles que gostam
de ter uma visão completa da carreira dos cineastas,
a oportunidade é rara e a curiosidade é
grande. Afinal, Tashlin é um belo comediógrafo
e um grande renovador de formatos, com um incrível
talento para esquizofrenizar tudo que toca. À
noite, mais uma vez uma batalha. O Telecine Classic
lança pela primeira vez na tv a cabo um filme
de Mikio Naruse,
injustamente ignorado cineasta japonês, visto
por muitos como um autor do nível de Ozu e Mizoguchi,
e partilhando com eles o gosto pelo melodrama e a situação
da mulher. Batalhas de Rosas (Bara gessen,
1950) não é um de seus filmes mais conhecidos,
mas em se tratando de um Naruse disponível, não
se trata de escolher. Já o Cinemax Prime nos
brinda com A Paixão de uma Vida (The
Long Gray Line, 1955), um não tão
conhecido título de John Ford que figura entre
as melhores obras de sua carreira (e a disputa não
é exatamente fácil). O filme, estrelado
por Tyrone Powell e contando ainda com Maureen O'Hara
e Ward Bond, entre outros, passa às 21:30.
Dia 24
De Keisuke Kinoshita já tínhamos falado
quando seu Crianças de Nagasaki foi exibido
há duas semanas. Agora, o Telecine Classic exibe
às 21:00 A Volta de Carmen (Karumen
kokyo ni kaeru, 1951), mais famoso por ser o primeiro
filme japonês em cores. Outra curiosidade é
o ator fetiche de Ozu, Chishu Ryu, como ator fora do
cinema de Ozu.
Dia 25
O Idiota (Hakuchi, 1951) é um filme
bastante controverso de Akira Kurosawa. Afinal, o filme
tinha uma versão original de mais de quatro horas
e o estúdio picotou até chegar a menos
que três. Em se tratando de Kurosawa, naturalmente
há o interesse, mas é bom saber de antemão
que não é a obra realizada como gostaria
seu autor. Telecine Classic, 21:00. The Most Dangerous
Game é um filme de 1932 dirigido por Irving
Pincher e Ernest Schoedsack (famoso por ser co-diretor
do primeiro King Kong). Estrelado por Joel McCrea
e Faye Wray, o filme é cultuadíssimo entre
os fãs do gênero de cinema fantástico
e de terror, e considerado um dos pilares do gênero.
Como não se depara toda hora com a tv a cabo
exibindo um filme desses, vale a pena sintonizar no
RetrôTV às 22:00. Ou então no Eurochannel
às 23:00, que passa um desses grandes filmes
da história do cinema. Trata-se de O Dilema
de uma Vida/Deserto Vermelho (Deserto rosso,
1964), possivelmente o mais terrível e belo filme
de Michelangelo Antonioni. Cores inacreditáveis
(é desse filme a anedota real de Antonioni mandando
pintar a grama porque não estava verde o suficiente),
Monica Vitti formidável, e um mal-estar sobre
a sociedade industrial de se tirar o chapéu.
Dia 26
Mais um filme de Yasujiro Ozu sendo exibido pelo Telecine
Classic, mas dessa vez um do período posterior
de sua carreira, com a estética mais depurada
e tudo muito mais azeitado e preciso. Trata-se de Também
Fomos Felizes (Bakushu, 1951),
que passa às 21:00, e que conta com os dois atores
mais recorrentes nos filmes de Ozu: o ator Chishu Ryu
e a atriz Setsuko Hara. Como muitos outros, o filme
circula em torno do casamento de uma filha solteira
e dos arranjos que a família faz para que ela
se case bem. Só que, como sempre em Ozu, nas
pequenas diferenças se constrói um mundo
diferente a cada vez.
Dia 27
Para fechar com chave de ouro uma grande semana (possivelmente
a melhor semana que já cobrimos para esta revista),
uma maratona Cecil B. De Mille que o RetrôTV apresenta
com quatro de seus filmes, e em especial O Rei dos
Reis (The King of Kings, 1927), versão
muda da paixão de Cristo considerada uma das
maiores obras de De Mille. O filme passa às 12:00
e em seguida teremos os três últimos longas
do diretor: Sansão e Dalila (Samson
and Delilah, 1949) às 14:50, Os Dez Mandamentos
(The Ten Commandments, 1956) às 17:10
e O Maior Espetáculo da Terra (The
Greatest Show on Earth, 1952) às 21:10. Antes
disso, no entanto, o mesmo canal exibe Sherlock Jr.
(1924), um dos melhores filmes de Buster Keaton, na
sessão "Shhh" de filmes silenciosos,
às 11:00. Mais dois japoneses acrescentam interesse
ao dia: Vinte e Quatro Olhos (Nijushi no hitomi,
1954), mais um filme de Keisuke Kinoshita, que o Telecine
Classic exibe às 21:00, e o primoroso A Enguia
(Unagi, 1997), de Shohei Imamura, vencedor da
Palna de Ouro em Cannes, dividindo o prêmio com
O Gosto de Cereja, de Abbas Kiarostami. O filme,
sobre a volta à vida de um homem que matou a
mulher adúltera e passou anos na prisão,
passa às 23:00 no Telecine Emotion. Por fim,
as estréias de filmes recentes, que curiosamente
são interessantes, e de certa forma associadas:
enquanto o Telecine Premium exibe O Pagamento (Paycheck,
2003), de John Woo, a HBO vai com Peixe Grande
(Big Fish, 2003) de Tim Burton, ambos às
21:00 . Dois filmes menores de diretores importantes
e decisivos no cenário do cinema americano, filmes
nitidamente em crise (caso de Burton) ou mostra de uma
acomodação dentro de um regime cinematográfico
e estético mais convencional (Woo). Burton deu
a volta por cima com seu filme mais recente, agora é
a vez de Woo novamente nos surpreender. Quem sabe?
Dia 28
Fechando o extraordinário ciclo de cinema japonês,
a rede Telecine decide fechar com chave de ouro, exibindo
um clássico e um louvável filme recente.
Às 21:00, o Telecine Classic exibe Harakiri
(Seppuku, 1962), mais famoso filme de Masaki
Kobayashi, e um dos mais importantes filmes japoneses
da década de 60. Pouco mais tarde, às
22:30, o Telecine Emotion exibe Verão Feliz
(Kikujiro, 1999), um dos menos interessantes
filmes de Takeshi Kitano, mas ainda assim um trabalho
bastante forte, no mais perto que Kitano consegue chegar
do cinema infantil. OK, fim do sonho, de volta ao panorama
normal da tv a cabo: poucas estréias e raridades,
o jeito é aproveitar o que passa pouco ou, em
casos extremos, recomendar as únicas coisas que
é possível ver entre todos os canais...
Dia 29
É um horário um pouco atípico para
este tipo de filme, mas em todo caso O Vampiro da
Noite (Dracula/The Horror of Dracula,
1958), de Terence Fisher e estrelando Peter Cushing
e Christopher Lee, passa no Cinemax Prime às
09:45. É um dos mais considerados filmes da produtora
britânica Hammer. Mais tarde, no Canal Brasil,
Zezé Motta escolhe para exibir e apresenta Cassy
Jones, o Magnífico Sedutor (1972), pouquíssimo
visto último longa-metragem de Luís Sérgio
Person, cineasta de trajetória decisiva no cinema
paulista (São Paulo S.A., O Caso dos
Irmãos Naves), estrelando Paulo José,
e com Sandra Bréa, Glauce Rocha e Grande Otelo,
além de Henriqueta Brieba e Carlos Imperial.
O filme passa às 22:35. Um bom esquenta para
a mostra dedicada a Paulo José que o CCBB do
Rio de Janeiro sediará a partir da semana que
vem (mais detalhes no Plano Geral, nos próximos
dias)
Dia 30
Na falta de verdadeiras atrações para
trazer aos assinantes, o Telecine Classic reordena dois
filmes de sua programação e faz um pequeno
evento: exibir em conjunto dois dos mais importantes
filmes do diretor britânico Carol Reed, em seu
momento de pico, na passagem dos anos 40 para os 50.
O primeiro, às 19:05, é O Terceiro
Homem (The Third Man, 1949), baseado em Graham
Greene e considerado um dos grandes clássicos
do cinema. Que é bom, é indiscutível,
mas existe uma grande inflada excessiva de bola acerca
do filme, bastante "inspirado" nos ângulos
de câmera e no uso da profundidade de campo do
cinema de Orson Welles, que aqui é, junto com
Joseph Cotten, protagonista. Em seguida, às 21:00,
vem O Outro Homem (The Man Between, 1953),
estrelando James Mason e Claire Bloom. A semelhança
dos títulos não deve supor uma relação,
pois os filmes não têm nada mais de semelhante
um com o outro. Em todo caso, é uma boa chance
de ver em seguida dois filmes de um mesmo diretor, e
um diretor que hoje é muito pouco visto para
além do filme que o tornou clássico. No
Film&Arts, às 20:00, passa Confidências
à Meia-Noite (Pillow Talk, 1959, dir.
Michael Gordon), uma das comédias românticas
que fez a fama e criou o estigma de "filme de Doris
Day" (um pouco como hoje se fala "filme de
Meg Ryan"), mas ela não é a única
atração num filme com Tony Randall e Rock
Hudson. Mais sobre os highlights dessas comédias
de Doris Day pode ser encontrado num texto
sobre uma caixinha de dvds lançada há
pouco tempo atrás que publicamos em nossa seção
DVD/VHS.
Dia 31
A Doce Vida (La dolce vita, 1960), de
Federico Fellini, passa no Telecine Classic às
21:00. Chamada mais do que automática, uma vez
que o filme sempre foi de bastante fácil acesso
e que tudo que se fala do filme é amplamente
justificado por sua grandeza. O curto-circuito dos happy-few
burgueses até o bas-fonds glamuroso, e de
lá até a pobreza, não necessariamente
nessa ordem, cria uma outra possibilidade para o cinema
italiano de então, um decadentismo que logo depois
será apropriado por Antonioni para fazer A
Noite (1962) com o mesmo ator (nada menos que Marcello
Mastroianni) no mesmo meio social, levemente com o mesmo
tipo de relação com os lugares que freqüenta.
Às 02:30, mais uma raridade passa no Canal Brasil.
Trata-se de Rua Sem Sol (1953), de Alex Viany,
espécie de precursor do tipo de cinema que viria
dominar publicamente o debate cultural nos anos 60.
Viany já tem uma razoável fortuna crítica
como teórico, pesquisador e crítico (o
livro de Arthur Autran, Alex Viany, crítico
e historiador, sendo o mais completo), mas seus
filmes ainda pedem visões, revisões e
discussões. Rua Sem Sol é um deles,
talvez o caso mais forte.
Ruy Gardnier
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