A
CHANCHADA SEGUNDO GLAUBER
Em 1962, a Atlântida parou de produzir as
suas tradicionais chanchadas. Em 1963, Glauber Rocha
publicava Revisão Crítica do Cinema
Brasileiro. No capítulo introdutório,
o cineasta baiano resume a ausência de um "pensamento
cinematográfico brasileiro" e o clima teórico
de "vale tudo" reinante àquela época com
a seguinte frase: "a partir de 1962, o que não
era chanchada virou ‘cinema novo’." (RCCB, p. 12)
O lugar-comum nos habituou a enxergar um abismo entre
Glauber Rocha (não só seus filmes, mas
também sua vasta obra crítica/teórica)
e as chanchadas. O movimento do cinema novo, gerado
entre os anos 1958-1962, significaria uma espécie
de "ponto zero" no cinema brasileiro, a partir do qual
uma nova tradição se fundaria
paternidade entregue à Humberto Mauro e todo
um passado seria enterrado, com as principais coroas
de flores destinadas à Vera Cruz e à Atlântida.
O que me interessa, aqui, não é mergulhar
na tradição aceita, representada
sem esforço pelo patriarca de Volta Grande, e
sim verificar os laços tradicionais negados
por Glauber Rocha em seu esforço teórico
de definição do cinema novo. Deixando
de lado os estúdios de São Bernardo, me
concentrarei aqui na relação entre a obra
(escrita e filmada) de Glauber Rocha e as comédias
musicais cariocas, ou melhor, as chanchadas.
Não é minha intenção forçar
uma aproximação estética e ideológica
entre os filmes de Glauber e as chanchadas, até
porque as diferenças neste caso são muito
mais definidoras do que as semelhanças. Quero
apenas apontar o quanto a leitura histórica/estética
da chanchada, proposta por Glauber em seus textos teóricos,
obscurece os laços existentes entre o cinema
novo e as comédias musicais dos anos 1950. Ao
longo do artigo me remeterei diversas vezes a dois livros
escritos por Glauber, recentemente republicados: Revisão
Crítica do Cinema Brasileiro (RCCB, 1963)
e Revolução do Cinema Novo (RCN,
1981)1. Os textos citados cobrem um
longo período, a partir do qual será possível
perceber as transformações ocorridas no
pensamento crítico de seu autor e destacar os
momentos em que o próprio Glauber vai passar
a relacionar sua formação como cineasta
e seu entendimento da poética do cinema novo
a uma tradição cinematográfica
brasileira, que tem na chanchada um ponto de inflexão.
A chanchada como inimigo público número
1
Em seu ensaio historiográfico Revisão
Crítica do Cinema Brasileiro, Glauber Rocha
assume uma postura extremamente agressiva em relação
às chanchadas, não ressaltando nelas qualquer
aspecto positivo. É importante sublinhar que
o livro foi publicado em 1963, portanto em pleno processo
de afirmação do cinema novo no contexto
cultural da época, momento em que o radicalismo
ganhava proporções estratégicas.
A chanchada é então vista como principal
entrave no processo de afirmação de um
cinema "independente". Para que o cinema novo pudesse
vingar, seria necessário "intensificar" a união
dos produtores "independentes" em função
de duas batalhas: a primeira, "interna", seria contra
as chanchadas. A segunda, vista como uma batalha "maior",
procuraria atingir o "truste americano" (RCCB, p.146).
As chanchadas são consideradas como "pornografia
a baixo preço" (RCCB, p.142). O acirramento das
posições leva Glauber a defender a mudança
do serviço de censura para o Ministério
da Educação e Cultura, onde seriam tomadas
medidas não só contra filmes estrangeiros,
mas também contra determinadas produções
nacionais. "Uma vez transferida das mãos de policiais
ignorantes e de senhoras puritanas" para as mãos
de "intelectuais, críticos, professores e homens
de comprovada capacidade de compreensão cultural
do cinema", a censura finalmente "não concederia
o atestado de ‘boa qualidade’ às chanchadas imorais
produzidas em nossos estúdios" (RCCB, p.141).
Para Glauber, este tipo de medida, que objetivaria o
desenvolvimento de um cinema "independente", não
necessariamente entraria em conflito com os interesses
dos exibidores, já que o mercado cinematográfico
estaria "em função direta da psicologia
das massas: as massas do mundo inteiro rejeitam os produtos
americanos, como no Brasil rejeitam as chanchadas" (RCCB,
p.143).
Há duas observações a serem feitas.
Em primeiro lugar, é interessante notar como
a postura agressiva de Glauber Rocha em relação
à chanchada o aproxima de uma leitura tipicamente
conservadora do cinema brasileiro, assumida por críticos
como Moniz Vianna e B. J. Duarte, nomes que figuram
em um campo ideológico oposto ao de Glauber.
De acordo com esta leitura, o cinema brasileiro deveria
ser interpretado à luz de um julgamento moral
que separaria o joio do trigo: apenas um tipo de cinema
deveria ser "salvo" e todo o resto (incluindo aí
as chanchadas) definitivamente apagado do mapa.
Em segundo lugar, o uso que Glauber faz do termo "independente"
exclui as relações existentes entre o
chamado cinema "independente" e as chanchadas: de acordo
com o recorte teórico e ideológico proposto
em Revisão Crítica do Cinema Brasileiro,
os produtores independentes Watson Macedo, Herbert
Richers e os irmãos Eurides/Alípio Ramos
simplesmente não poderiam ser considerados como
tais. No Rio de Janeiro, os "independentes" para Glauber
resumem-se a Nelson Pereira dos Santos e Alex Viany.
Ainda assim, as relações entre estes dois
realizadores e a chanchada permanecem obscurecidas:
os pontos de contato entre Rio Quarenta Graus
(NPS) e as produções da Atlântida
não são mencionadas e o diálogo
entre Agulha no Palheiro (AV) e as comédias
musicais não ganham destaque.
No sub-capítulo "Alex Viany e o Realismo Carioca",
Glauber aponta o roteiro inédito de Alex Viany
e Alinor Azevedo, Estouro na Praça, como
"um dos melhores roteiros já escritos no Brasil
[...] a obra-prima deste chamado ‘realismo-carioca’"
(RCCB, p. 80). Novamente, Glauber recusa-se a mencionar
a chanchada. No entanto, Estouro na Praça
é o roteiro de uma comédia musical carioca
que não chegou a ser realizada, mas que, em 1957,
estava sendo pré-produzida por Mário Falaschi,
à época o principal nome da Unida, produtora-distribuidora
de filmes independentes como É Fogo
na Roupa (1952), O Petróleo É Nosso
(1954) e Carnaval em Marte (1926), musicais dirigidos
por Watson Macedo.
É importante determo-nos no conceito de "cinema
independente" como um eixo de compreensão dos
laços históricos entre a chanchada e o
cinema novo. Se num primeiro momento (1963) Glauber
Rocha estabelece uma "batalha" entre os produtores "independentes"
e as chanchadas, alguns anos mais tarde as chanchadas
serão vistas como o modelo prático segundo
o qual o cinema novo se inspirou para criar a Difilm.
No ensaio "Teoria e Prática do Cinema Latino-Americano"
(1967), publicado em Revolução do Cinema
Novo, a preocupação em marcar uma
posição política contra o cinema
norte-americano e a afirmação estratégica
da necessidade de uma indústria de cinema no
Brasil leva Glauber Rocha a minimizar a "batalha interna"
contra as chanchadas: "Os produtores do cinema novo
brasileiro [...] logo que se viram ameaçados
pela não distribuição dos primeiros
filmes, passaram ao ataque, isto é: constituíram
uma distribuição própria. A medida
não é nova no Brasil. A produção
semi-industrial do Rio, especialista em comédias
comerciais, sempre teve distribuição nacional
e própria. O cinema novo imitou o exemplo.
Foi criada assim a Difilm, no Rio, que congrega a maioria
dos produtores e diretores independentes do ponto de
vista cultural e político" (RCN, p. 52. Grifos
do autor).
O trecho acima transcrito revela uma substancial mudança
na interpretação histórica de Glauber
em relação às chanchadas, que de
inimiga pública número 1 passa a ser fonte
de inspiração de um modelo de produção
e distribuição independente, com raízes
fincadas na consciência de um mercado ocupado
pelo produto estrangeiro (consciência que aproxima
a experiência da Atlântida da criação
da Difilm).
Mas mesmo antes, já em 1964, há por parte
de Glauber uma visão mais matizada das chanchadas,
como podemos notar numa conversa gravada entre o cineasta
baiano, Nelson Pereira dos Santos e Alex Viany, publicada
na Revista Civilização Brasileira2.
Se Nelson Pereira destaca o fato de a chanchada ter
realizado um "trabalho de comunicação
cultural", usando o cinema "para divulgar a língua
viva e os tipos populares das grandes cidades", Alex
Viany chama a atenção para a comunicação
existente entre os filmes e o público: com as
chanchadas, "o povo via na tela uma coisa com que podia
se identificar". E Glauber concorda: "Realmente, foi
somente o teatro de nosso século (de 1920 para
cá) e a chanchada que começaram a fazer
isso, e o cinema novo surgiu com sua força cultural
no momento exato em que a chamada cultura popular se
definiu melhor."
O cinema novo em busca do público
Nas constantes reflexões que Glauber
Rocha fará acerca do público (ou da ausência
de público) em relação aos filmes
do cinema novo, a chanchada freqüentemente surge
como modelo a ser problematizado, raramente aceito e
quase sempre negado. Na verdade, esta questão
nunca foi plenamente resolvida por Glauber e, ao longo
de sua trajetória crítica, tomará
a feição de um conflito doloroso.
No ensaio "O Cinema Novo e a Aventura da Criação"
(1968), publicado em Revolução do Cinema
Novo, encontraremos algumas passagens esclarecedoras.
Glauber vê o público brasileiro como uma
massa condicionada pela linguagem dos filmes hollywoodianos.
Esta massa impõe ao produto brasileiro uma "ditadura
artística a priori", e os filmes brasileiros
que fazem sucesso na verdade são aqueles que,
"mesmo abordando temas nacionais, o fazem utilizando
uma técnica e uma arte imitadas do americano".
E cita como exemplo O Cangaceiro, de Lima Barreto
(RCN, p. 96. Grifos do autor).
Em face desta "ditadura artística" o cineasta
brasileiro acaba dividido entre aceitar ou não
as regras do jogo. Glauber toma a trajetória
de Roberto Farias como exemplo de um realizador dividido
em dois: "autor" em Selva Trágica,
"artesão" em Roberto Carlos em Ritmo de Aventura
(RCN, p. 98). Sendo "autor", Roberto Farias realiza
um cinema "original", porque temática e esteticamente
"brasileiro". Como "artesão", Farias adere ao
cinema "de imitação", aliando a um tema
brasileiro uma fórmula tomada dos filmes hollywoodianos.
O sucesso de crítica de Selva Trágica
condena Farias ao circuito "de arte" e o público
dele se afasta; a aposta no filme de iê-iê-iê
condena Farias ao "cinema de imitação",
mas em compensação ele ganha o público
nas bilheterias (RCN, pp. 98-99).
A escolha de Roberto Farias como eixo de análise
não é fortuita. Farias começou
sua carreira nos estúdios da Atlântida
como assistente de Watson Macedo, e seus primeiros filmes
foram as chanchadas Rico Ri À Toa (1957)
e No Mundo da Lua (1958). A incorporação
de Farias ao cânone cinemanovista nunca foi confortável
para Glauber: o diretor de O Assalto ao Trem Pagador
"tem coragem pessoal mas não tem formação
ideológica sólida" (RCCB, p. 111). Somente
quando se "despedir" das "influências americanas",
voltando-se para o "homem e seu meio social", Farias
poderá contribuir para um "novo cinema" (RCCB,
p. 112). A figura híbrida de Farias continuará
a ser objeto de preocupação por parte
de Glauber, por representar a permanência de um
incômodo eco da estratégia comercial das
chanchadas no seio de uma teorização do
cinema de autor proposta por Glauber em termos industriais
(a "indústria de autor" idealizada na Difilm
e pulverizada pelo INC/Embrafilme).
Na raiz desta preocupação com o condicionamento
cultural e estético do público, encontra-se
uma reflexão de viés nacionalista sobre
o conformismo do povo brasileiro. Para Glauber, o "povo
brasileiro critica sempre, de um ponto de vista conformista,
sua própria miséria. Na música
popular são incontáveis os sambas que
dizem ‘não tendo feijão faço sopa
de pedra’, ‘vou morrer na sarjeta, mas com muita alegria’,
‘a favela é o vestíbulo do céu’,
‘prefiro morrer na seca do meu sertão a viver
no sertão de asfalto’... e assim por diante"
(RCN, p. 100). Para Glauber, um cinema que recorresse
a este tipo de crítica conformista, devolvendo-a
sem qualquer interpretação ao povo, deveria
ser classificado como um cinema "populista". Mas tal
cinema "populista" ganha fácil a adesão
do público (entendido por Glauber não
como público, mas como povo, o
que complexifica a argumentação) porque
fala a sua língua sem procurar modificá-la,
contrariamente à tarefa a que os artistas ligados
à vanguarda intelectual dos anos 1950-1960 estavam
imbuídos de cumprir. De acordo com Glauber, o
"povo recebendo na cara a comicidade epidérmica
do subdesenvolvimento acha genial sua própria
desgraça e morre de rir. Daí o sucesso
da chanchada, toda ela fundada sobre o pitoresco
miserabilista do caboclo ou da classe média"
(RCN, p. 100. Grifo do autor).
A solução para o impasse exemplificado
pela figura do cineasta dividido em dois está
em diferenciar a conquista do mercado com filmes
descolonizados e a exploração do
mercado com filmes colonizados. É o que Glauber
irá propor já em 1970, à luz da
experiência de filmes produzidos para dialogarem
com o mercado, tais como Brasil Ano 2000, de
Walter Lima Júnior (1969), O Dragão
da Maldade Contra o Santo Guerreiro, do próprio
Glauber (1969), e principalmente o grande sucesso de
público e de crítica que foi Macunaíma,
de Joaquim Pedro de Andrade (1969). No artigo "Barcelona
70", Glauber estabelece a distinção entre
filmes descolonizados ("aqueles que se recusam a imitar
os modelos americanos e buscam refazer o cinema nacional
a partir de nossas verdadeiras raízes culturais")
e filmes colonizados ("aqueles que utilizam as fórmulas
pornográficas e violentas do cinema estrangeiro").
Como exemplo do primeiro caso Glauber cita Macunaíma.
No segundo grupo, se encontram "as habituais comédias
de iê-iê-iê ou os filmes de sexo que
infestam o mercado" (RCN, p. 200. Grifos do autor).
O exemplo de Macunaíma permitirá
que Glauber alie cinema de mercado às
"verdadeiras raízes culturais" brasileiras.
Mas nem assim a chanchada será assumida como
fonte de referência nas análises
que Glauber fará do sucesso de público
do filme de Joaquim Pedro. A figura ímpar de
Grande Otelo não terá tanta importância
para Glauber quanto a valorização da Semana
de 22 e do Tropicalismo. Macunaíma-filme
permite a Glauber falar de público e de
mercado sem o constrangimento que Roberto Farias
e suas chanchadas de iê-iê-iê impunham.
O sucesso de público de Macunaíma
não ofende porque sempre se pode minimizar a
figura de Otelo e maximizar Mário de Andrade;
porque, com o auxílio luxuoso da indústria
fonográfica pop de Roberto Carlos/Guilherme
Araújo/Caetano/Gil/Mutantes/Jorge Ben, Macunaíma
responde ao projeto ideal de um "cinema industrial de
vanguarda"; porque em Macunaíma-filme
a cultura popular pode ser consumida
distanciadamente e a chanchada é filtrada pelo
olhar intelectualizante de um dos mais sofisticados
diretores do cinema novo.
Naquele momento de afirmação de um projeto
industrial para o cinema novo, Macunaíma
será o filme desejado, e o Tropicalismo a senha
para a aproximação com o mercado. Depois
de 1969, com a gradual cooptação do cinema
novo pelo Estado, este projeto terá de ser readaptado.
E Glauber continuará a pensar, em termos do embate
público/obra, as heranças de um cinema
brasileiro nunca realizado como indústria.
A chanchada como Política Nacional de Cultura
Sob o controle estatal, o projeto do cinema
novo esfacela-se e o diálogo de seus remanescentes
com o mercado se faz impulsionado pela crescente penetração
da Embrafilme no setor de distribuição
e produção de filmes. No campo estético,
uma nova conjuntura orienta os projetos cinemanovistas
para a estratégia dos sucessos de bilheteria.
Desde 1969, as comédias eróticas (pornochanchadas)
estabelecem focos e linhas de produção
independentes do modelo estatal da Embrafilme, tanto
no Rio (Beco da Cinelândia) quanto em São
Paulo (Boca do Lixo), redefinindo e atualizando a chanchada
como fenômeno de produção vinculado
ao mercado exibidor.
Se para o cânone cinemanovista glauberiano o "autor-artesão"
Roberto Farias é uma figura-problema; se na virada
dos 60 para os 70 Macunaíma surge como
revolução tropicalista irrealizada o
"lado virgem" da utopia "estética revolucionária/popular"
(RCN, p. 200) , os anos da Política Nacional
de Cultura (Médici/Geisel) trazem para Glauber
um novo personagem redentor: Carlos Diegues.
Já em 1970, Glauber construía Diegues
como um realizador dotado de visão totalizante
do próprio cinema brasileiro, autor de uma espécie
de antologia temático-estilística, intitulada
sintomaticamente Os Herdeiros (1969). Para Glauber,
"Os Herdeiros é o primeiro filme brasileiro
que faz um inventário completo do cinema urbano
brasileiro desde aquele, mudo, de Humberto Mauro até
Terra em Transe. As imagens grotescas de Terra
em Transe, mais hispânicas do que portuguesas
[...] são destruídas no lirismo naif
do velho Mauro, na imaginação satírica
dos velhos filmes musicais brasileiros e são
reconhecidas como as imagens concretas, paridas pelo
poder político brasileiro, de Vargas até
a queda de Goulart" (RCN, p. 207). A consciência
aglutinadora presente em Os Herdeiros, que alinha
o filme à proposta tropicalista então
na moda, não deixa de agregar a chanchada (os
"velhos filmes musicais brasileiros") como um traço
estético tradicional.
Em 1969, ano de Os Herdeiros, a chanchada era
uma referência cult de realizadores como
Rogério Sganzerla, Júlio Bressane, Andrea
Tonacci, João Silvério Trevisan, Carlos
Reichenbach. Já em 1976 a situação
era bem diferente: a pornochanchada existia como fenômeno
mercadológico efetivo, da mesma forma como o
Estado respondia pela legitimação "nacional-popular"
dos filmes "cinemanovistas". O diálogo com a
chanchada consubstanciada em sua versão erótica passava pelo aqui-agora das relações
mercadológicas e culturais e não era mais
possível fechar os olhos a esta realidade. É
neste contexto que a trajetória de Carlos Diegues
será construída por Glauber como um triunfal
encontro de um artista com o povo, sendo Xica
da Silva seu troféu maior.
Lembrando o método crítico de autor, Glauber
procede a uma individualização do conjunto
de filmes dirigidos por Diegues, unificando os temas
em grandes elipses, obra a obra. Assim, "Ganga Zumba,
epopéia da escravidão negra no seiscentos
colonial do açúcar, é a fuga da
senzala pro quilombo, ritual preparatório através
do qual Zumbi ressuscitaria travestido em Xica da
Silva, o filme brasileiro por excelência,
aquele que, em altíssimo grau de abstração,
materializa dialeticamente em Barroco Tropical
a Chanchada, a Vera Cruz e o Cinema
Novo, fertilizantes de nosso específico fílmico"
(RCN, p. 317. Grifos do autor).
A assunção da chanchada como um dos elementos
que compõem o "específico fílmico"
brasileiro é reflexo de uma nova conjuntura cultural.
A partir de Xica da Silva, Glauber enxergará
retrospectivamente, nos outros filmes de Diegues, a
presença dos "velhos filmes musicais brasileiros",
tomando em cada caso uma atitude diferenciada. Em A
Grande Cidade (1966), por exemplo, reconhece um
"chanchada touch carioca [...] amargurado pela
trágica realidade do subdesenvolvimento" (RCN,
pp. 318-319). Quando o Carnaval Chegar (1972)
colocava Chico Buarque de Hollanda "no centro das decisões
ideológicas da arte brasileira", não sendo,
por isso, "um simples filmusical daqueles alienantes
da Atlântida que tanto agradam ao liberalismo
conformista de certos críticos e intelectuais"
(RCN, p. 322). Mais adiante, no mesmo texto, Glauber
se decide: "Quando o Carnaval Chegar é
o único filmusical do cinema novo, o primeiro
depois da Atlântida, a primeira chanchada de esquerda
e, por isso mesmo, violentada pelos preconceitos gerais"
(RCN, p. 323).
Contudo, as honras ficarão mesmo é com
Xica da Silva, filme que, segundo Glauber, dá,
"pela primeira vez, um sentimento brasílico a
nosso cinema". As razões para esta afirmação
se encontram na "originalidade" que vem da combinação
entre os atores e a "cenografia tropicalista, cuja ideologia
expressionista/épica é a marca registrada."
Novamente, o tropicalismo serve como panacéia
para o repúdio à (porno)chanchada. Em
um esforço de síntese, Glauber elabora
uma alegórica visão crítica em
forma de samba-enredo: "a Escola de Samba Alegria de
Viver representa o Enredo de Ganga Zumba dentro do Palácio
de Os Herdeiros de Joana Francesa Quando o Carnaval
Chegar na Grande Cidade..." (RCN, p. 330). No elogio
glauberiano, Diegues não vai ao "povo", apenas.
Ele simplesmente é o próprio "povo".
Através de Carlos Diegues e do sucesso popular
de Xica da Silva, Glauber pode redefinir os termos
com os quais abordará o "nacional-popular" tutelado
pelo Estado (a Política Nacional de Cultura),
buscando recolocar o projeto original do cinema novo
em enfrentamento com os laços da tradição
cinematográfica brasileira. Este processo é
marcado pelas tensões e oscilações:
os fantasmas da Vera Cruz e da Atlântida continuam
assombrando os alicerces teóricos de Glauber,
que, no entanto, não deixa de reafirmar o cinema
novo como marco zero: "A chanchada é o
câncer conformista do subdesenvolvimento. A Vera
Cruz, o apanágio da megalomania. O cinema novo
é a síntese criadora do cinema brasileiro
popular internacional" (RCN, p. 321).
Penetrando no Trem-Fantasma
Vimos, até aqui, as diversas formas pelas
quais Glauber Rocha problematizou a chanchada como um
dos laços de tradição do cinema
brasileiro. No entanto, todas as aproximações
com o gênero foram tangenciais, intermediadas
pelas obras de outros cineastas, notadamente os diretores
ligados ao cinema novo. Examinaremos agora como Glauber
Rocha encarou de frente esta tradição,
abordando diretamente a chanchada e a Atlântida
em alguns artigos datados de 1975 e 1976, publicados
em Revolução do Cinema Novo.
No texto "Atlântyda 76", a forma como Glauber
se referirá a Luiz Severiano Ribeiro Júnior
sinaliza o reconhecimento da necessidade de uma aliança
estratégica: "Personagem secreto, quanta ingenuidade
não saber que Severiano Ribeiro is a great artist,
o único produtor roliudiano do Brasil" (RCN,
p. 285). Glauber segue descrevendo Ribeiro como "o homem
que controla o mercado carioca nordeste norte e algumas
praças sulistas do cinema e dono de estúdio,
de laboratório, de sonoplastia, de distribuição,
de exibição, o maior produtor brasileiro"
(RCN, pp. 286-287).
A chanchada continua sendo vista como sintoma de um
subdesenvolvimento cinematográfico e cultural,
mas Glauber ressalta traços "esquerdistas" em
Severiano Ribeiro, quando este produz a chanchada "antiamericana"
O Homem do Sputnik (1959). O que é curioso
nesta operação, é que Glauber fará
a abordagem da Atlântida não pelo viés
dos filmes ou dos diretores, ou ainda dos atores: sua
preocupação é a de caracterizar
a Atlântida através da figura um tanto
misteriosa do poderoso Severiano Ribeiro como um personagem-chave
na tradição de um cinema brasileiro popular.
Esta aproximação é simetricamente
oposta à de Revisão Crítica
do Cinema Brasileiro (1963), no qual o elogio aos
"independentes" e ao projeto inicial da Atlântida
(Moleque Tião), bem como uma natural identificação
entre o mercado exibidor e Hollywood, não permitiriam
a recuperação de um nome como Severiano
Ribeiro.
Bem diferente é o tratamento dado aos atores.
Em um artigo de 1975, Glauber classifica ironicamente
Oscarito e Grande Otelo como bons "cineatores". Contudo,
ambos "interpretavam um cretino de classe média
e um negro pateta ao lado de uma burguezinha Eliana
e de um galã Anselmo Duarte lutando contra uma
gang chefiada por José Lewgoy: o público
ria, os cineatores eram caricaturas de atores roliudianos
e os filmes eram copiados por Macedo, Burle ou Manga
sob ordens de Luiz Severiano Ribeiro Júnior"
(RCN, p. 260). A abordagem da chanchada através
da figura do produtor faz Glauber desenhar uma linha
de continuidade entre Severiano e Herbert Richers, que
criaria uma "neochanchada" (RCN, p. 283).
Um ponto de convergência entre a Atlântida
e a Vera Cruz é notado por Glauber em Absolutamente
Certo, de Anselmo Duarte (1957). Mas Zampari e Severiano
não são os pais desejados por Glauber,
que vê em Nelson Pereira dos Santos o aglutinador/deflagrador
necessário à assimilação
teórica de um neo-realismo carioca, impossível
em Humberto Mauro: "O cinema do Nelson é diferente
da Vera Cruz e da chanchada. Mostra o povo nas ruas,
nas favelas, problemas econômicos, políticos,
sociais, psicológicos de algumas áreas
do Rio de Janeiro." (RCN, p. 281)
Anos mais tarde (1980), a perspectiva de um embate entre
a chanchada e o cinema novo é retomada como uma
briga entre produtores independentes: "Os trusts
dos exibidores, sobretudo Luiz Severiano Ribeiro Júnior,
Florentino/Cia., Paulo Sá Pinto, Lívio
Bruni, etc., estavam consumindo produto euramericano
e o Cinema Novo teve de enfrentá-lo num corpo
a corpo com Roberto [Farias] na linha de frente, Luís
Carlos Barreto contra Osvaldo Massaini, Herbert Richers,
Mazzaropi, Luiz Severiano Ribeiro [...]" (RCN, p. 404).
Glauber enfim se vê diante da necessidade de uma
redefinição dos laços de tradição
entre o "cinema novo" e o "cinema brasileiro". E se
pergunta: "Quais são as raízes nacionais
do Cinema Novo?" Num esforço de síntese
que nos remete a uma segunda revisão crítica,
Glauber condensa desta forma os laços de tradição
da história do cinema brasileiro:
"I. Limite (Carneiro, Pedro, Saraceni, Leon, David...)
II. Mauro (Todos nas idéias e no estilo, sobretudo
David... Walter...)
III. Chanchada (Nelson, Cacá, Glauber...)
IV. Vera Cruz (Roberto, Glauber, Cacá...)
V. Cinema Novo/dele mesmo outras coisas [...]" (RCN,
p. 404)
A chanchada em Glauber Rocha
É possível, numa primeira aproximação,
identificar com facilidade alguns elementos da chanchada
que Glauber conscientemente usa como apenas mais uma
peça para a construção barroca
de seus filmes. Imediatamente nos vêm à
cabeça a figura do Senador (Modesto de Souza)
sambando desengonçadamente na cena do comício
de Vieira no Parque Lage, em Terra em Transe
(1967). Ou mesmo a figura do populista Vieira, encarnada
por José Lewgoy, no mesmo filme. Podemos ainda
relacionar a dupla Hugo Carvana/Antônio Pitanga,
em Câncer (1968-72) como uma espécie
de Oscarito e Grande Otelo udigrudi.
No entanto, a relação entre Glauber e
as chanchadas passa também por uma concepção
de montagem, que tem na música o seu ponto de
partida.
Em um longo depoimento a Michel Ciment (1967), Glauber
afirma que quase todos os cineastas cinemanovistas são
músicos, e que a música tem uma função
preponderante não só em seus filmes como
também no dos outros cineastas. E explica que,
nestes filmes, a música não funciona apenas
como um "comentário", mas é um "elemento
tão importante quanto os diálogos e a
fotografia". Como exemplo, cita Garota de Ipanema
(1968), um musical de Leon Hirszman, em que os personagens
são "compositores e cantores" (RCN, p. 84).
Dois anos depois, numa entrevista aos Cahiers du
Cinéma (1969), Glauber esclarece de que maneira
a música interfere na estrutura narrativa de
seus filmes: "Gostaria de fazer um filme completamente
musical, sem ser cantado mas que tivesse uma estrutura
musical, com uma montagem nas projeções
e nos espaços musicais que ficasse entre a música
clássica de Villa-Lobos e a música bastante
moderna de Marlos Nobre" (RCN, p. 178).
A valorização da música vai muito
além do simples comentário melódico
de fundo ou mesmo da encenação musical/coreográfica
tradicional: para Glauber, a musicalidade é uma
questão de montagem. E, como tal, está
aliada aos processos mentais de ordenação
do espaço e do tempo. É nesse sentido
que Glauber irá valorizar a música como
estrutura narrativa e leitura política
de um tema. A música é, portanto, também
uma mise-en-scène: "Muito mais do que
nos livros, é na música brasileira onde
se encontra a verdadeira história e a verdadeira
sociologia do Brasil. São os negros, os autores
de samba no Rio, aqueles que fazem a história
do Brasil e a crítica de tudo. Podemos até
mesmo encontrar nesta música as estruturas mentais
do povo" (RCN, p. 178).
A música como montagem, a montagem como música:
este duplo entendimento leva Glauber a formular, na
crítica dos filmes de seus colegas, um esboço
teórico de um estilo de montagem. Glauber
refere-se a Quando o Carnaval Chegar, de Diegues,
como um "Samba/Montagem de Cacá e Eduardo Escorel"
(RCN, p. 322). Sobre Macunaíma, dirá
que "é um samba modernista em forma de cinema."
(RCN, p. 207). As metáforas musicais deixam de
ser impressionistas na medida em que Glauber vai depurando
a análise deste estilo musical de fazer
cinema. A novidade dos filmes (Macunaíma,
Brasil Ano 2000, O Dragão da Maldade
Contra o Santo Guerreiro e Azyllo Muito Louco,
entre outros) estaria na "concepção do
espetáculo", já que "tudo se passa no
interior do quadro". Como vimos, em 1969, esta concepção
é chamada por Glauber de "tropicalista". Já
nos anos 1970-80, definem, para ele, um estilo cinemanovista
de filmar, criado pelo próprio cinema novo.
Quando o Carnaval Chegar, por exemplo, "é
a refilmagem de Cantando na Chuva, com um roteiro
cepecista de Brecht e o estilo corte e costura
do cinema novo, quer dizer: enquadração
frontal e montagem sem contra/plano: uma das múltiplas
invenções do cinema novo, graças
à escola fotográfica de Luiz Carlos Barreto
e montagem de Eduardo Escorel" (RCN, p. 323. Grifos
do autor).
Para além do fato de que Macunaíma,
Brasil Ano 2000 e Quando o Carnaval Chegar,
para ficarmos nos exemplos mais evidentes, devem muito
de sua mise-en-scène ao filme musical
e à chanchada, a constatação de
Glauber de que o cinema novo teria "inventado" este
estilo "corte e costura" de enquadramentos frontais
e sem contraplanos simplesmente quer apagar a herança
da própria encenação típica
das chanchadas. A frontalidade, a solução
de situações condensadas em poucos planos,
a exploração do gestual do ator em um
cenário artificial, a denúncia do espaço
cênico, todos estes elementos são fartamente
utilizados pelas chanchadas. E estão presentes
na própria concepção em plano-seqüência
de O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro.
Em um depoimento aos jornalistas Pedro Del Picchia e
Virginia Murano, em 1980, Glauber reafirma que a montagem
foi uma das "maiores contribuições do
cinema novo no terreno da linguagem." Haveria nos filmes
cinemanovistas (Glauber não cita nenhum em especial)
uma "nova noção de ritmo e continuidade".
A matriz brechtiana evitaria o psicologismo do "melodrama
burguês" enquanto a "continuidade clássica"
é substituída por uma "descontinuidade
dramática". O que importa não é
a "exposição desenhada e cronológica
dos acontecimentos", mas a "demonstração
dos momentos mais importantes dos acontecimentos", isto
é, cada plano sintetiza um fato. E Glauber prossegue:
"A conjugação desses planos provocou um
ritmo muito mais próximo do samba do que da valsa.
[...] A música popular brasileira foi redescoberta
pelo cinema novo com uma função ideológica
e explicativa. Hoje é raro o filme nacional que
não use naturalmente os recursos da música
popular brasileira [...]".
Muito mais do que Humberto Mauro, são as chanchadas mesmo ou principalmente as mais desleixadas que
trabalharam este estilo de montagem "mais próximo
do samba do que da valsa", na interpolação
de números musicais, na descontinuidade narrativa
que é gerada por essas interpolações.
Resulta que a "montagem nuclear" inventada por Glauber
em Di (1977) e em A Idade da Terra (1981) isto é, o "cinema moderno" , encontra sua
origem não em Humberto Mauro, mas por exemplo em Lulu de Barros. Isto percebiam Rogério Sganzerla
e Júlio Bressane já em 1970, nos filmes
da Belair.
Para abordarmos A Idade da Terra um dos
filmes em que mais diretamente podemos falar em procedimentos
de chanchada filtrados pelo diálogo tropicalista/experimental
gostaria de dar lugar a um outro crítico
e diretor contemporâneo de Glauber: David Neves.
Em um ensaio intitulado "Da Chanchada ao Cinema Novo"3,
David se refere ao primarismo das chanchadas e aos seus
defeitos gritantes. Tomarei a liberdade de utilizar
alguns trechos destes comentários de David Neves
feitos em 1966, para me referir à Idade da
Terra.
Para o crítico, os cineastas brasileiros são
"primitivos e prolixos", sendo que a chanchada "é
especificamente falante e exagerada. Grita, não
fala. Salta aos olhos. Aboliram-se na chanchada os conceitos
de mise-en-scène e de linha narrativa
contínua e pode-se notar com facilidade que o
falar é independente do agir: os personagens
posam para falar e estão sumamente preocupados
com a clareza de suas palavras". Este trecho do texto
de David Neves define de maneira cristalina os procedimentos
de chanchada presentes em A Idade da Terra (e
afirmo aqui que não os tomo pejorativamente).
A Idade da Terra abole os vínculos com o
cinema narrativo e joga para primeiro plano um tipo
de representação em que o falar e o agir
estão, em diversos momentos, em franca dissociação.
E não só os atores gritam: o próprio
Glauber, fora de cena, dá ordens aos berros,
e exige que os atores falem mais e mais alto: "Dez tons
mais alto, Geraldo!!!". Os personagens também
"posam para falar" e não basta que digam a frase
uma vez, mas diversas vezes (basta lembrar a cena de
Tarcísio Meira e Danuza Leão no Amarelinho).
Brahms (Maurício do Valle), com seus "erres"
puxados e guturais, é a própria caricatura
chanchadística do americano/alemão idiota
e canceroso. Em A Idade da Terra a tela como
palco e a dicção em alto volume são
exigências da direção de Glauber.
Em sua análise sobre a chanchada, David Neves
acaba encontrando o estilo cinemanovista de
enquadramentos frontais que Glauber irá formular
a partir de 1969: "O enquadramento tende especificamente
para a estratificação e a rigidez. O personagem
está evidente e explicitamente à disposição
do espectador e, como num palco, sua dicção
tem o volume bastante acentuado".
A Idade da Terra, vista através de seu
diálogo com a chanchada, nos desenha aos poucos
a imagem de seu diálogo com o cinema experimental/Belair.
Pois o que há de comum em Sganzerla/Bressane
e Glauber é a chanchada.
* * *
A forma como Glauber Rocha lê historicamente o
cinema brasileiro se processa, portanto, através
de um discurso que estabelece uma tradição
a ser renegada, incluindo aí as chanchadas e
a Vera Cruz, e uma tradição que deve ser
afirmada, na figura de Humberto Mauro. As brechas abertas
pelo discurso glauberiano em relação às
chanchadas nos ajudam a descobrir pontos de luz sobre
outros laços de tradição até
então pouco valorizados na construção
teórica e prática de um estilo cinemanovista,
empreendida por Glauber em seus textos e filmes.
Luís Alberto Rocha Melo
1. Não utilizo
as reedições, e sim as edições antigas: Revisão Crítica
do Cinema Brasileiro. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
1963, e Revolução do Cinema Novo. Rio de Janeiro: Alhambra/Embrafilme,
1981
2. SANTOS, Nelson
Pereira, ROCHA, Glauber e VIANY, Alex. "Cinema Novo:
Origens, Ambições e Perspectivas". In: Revista Civilização
Brasileira. (1) Rio de Janeiro: mar 1965, pp. 183-196.
3. NEVES, David.
Cinema Novo no Brasil. Petrópolis: Vozes, 1966, pp.
14-16.
|